“Síncopes” é uma sonic fiction composta por 5 episódios, inspirada em mulheres negras que habitaram a cidade de Lisboa no início do século XX. O primeiro episódio terá estreia a 13 de outubro, no Hangar - Centro de Investigação Artística, dia em que se realizará a escuta colectiva do episódio 1, intitulado “Eu mesma, eu própria”, assim como uma conversa entre as autoras, alguns dos intérpretes e o público.
Cristina Roldão (socióloga), XEXA (produtora, sound designer, artista visual) e Zia Soares (encenadora, atriz), são as autoras deste projeto e propõem cinco narrativas interpretadas por nomes como Isabél Zuaa, Binete Undonque, Filipa Bossuet, G FEMA, Piny, Raquel Lima e Vânia Doutel Vaz.
Segundo as autoras “Síncopes” é uma viagem titubeante que atravessa a cidade de Lisboa, Santiago, Cachéu, Salvador, Harlem, São Tomé ou, ainda, talvez de Maputo ou do Bié, uma viagem feita de sons propulsivos de avanços e recuos, de atritos ou de confluências. Do ruído, à música, à palavra,
Todos os episódios serão de livre acesso e serão lançados de forma semanal em diferentes plataformas: Hangar Online, Spotify e Apple Music.
Mais informações em https://hangar.com.pt/online/sincopes/
Cristina Roldão, Zia Soares e XEXA e são as autoras de ‘Síncopes’
Cristina Roldão, Zia Soares e XEXA e são as autoras de ‘Síncopes’.
SÍNCOPES _ ESTREIA
13.10.2024, 16H00 | HANGAR A sessão integrará: escuta imersiva do ep.1 Eu mesma, eu própria; conversa entre as autoras, algumas intérpretes e o público; Cocktail
SÍNCOPES online (Hangar Online, Spotify, Apple Music) 13.10.2024 _ ep.1 _ Eu mesma, eu própria 20.10.2024 _ ep.2 _ Carolina X 27.10.2024 _ ep.3 _ Melik 03.11.2024 _ ep.4 _ K’ aflikana 10.11.2024 _ ep.5 _ Síncopes
Autoria, direção artística: Cristina Roldão, XEXA, Zia Soares Textos: Cristina Roldão, Zia Soares Criação Sonora: XEXA Investigação: Cristina Roldão, José Pereira, Pedro Varela Design gráfico: Denise Santos Assistência técnica: Thiago Gondim Apoio à produção: HANGAR - Centro de Investigação Artística
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ep.1 _ Eu mesma, eu própria interpretação: Zia Soares
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Ela chegou-nos coberta de insultos pela porta enviesada que é o livro “A Preta Fernanda: Recordações d’uma colonial” (1912), que nos diz mais sobre a sociedade branca lisboeta do final do séc. XIX do que sobre quem foi Andresa do Nascimento de Pina, ou seria Andresa de Pina do Nascimento?, aka Fernanda do Vale. Há quem diga que é uma autobiografia, mas não, não é. É, sim, uma sátira racista e machista sobre uma mulher que escapava desmesuradamente ao formatado. Certamente que Andresa, ou Fernanda, terá tentado desaprovar publicamente aquele retrato monstruoso, e certamente terá sido amordaçada. E, outra vez, mais uma vez, a pergunta spivakiana de Carla Fernandes: “Pode a subalternizada recordar”? A resposta: • Pode.
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ep.2 _ Carolina X interpretação: Isabél Zuaa
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Apelido “X”, porque não sobra rastro da linhagem. Apelido “X” para rasurar o prefixo “preta”, que vem sempre primeiro que o nome próprio. Chegamos a ela, na verdade a elas, às centenárias Carolina e Maria Teodora Doutora, através de jornais que davam conta do seu falecimento, 1943 e 1920 respetivamente. Ambas, seriam as “últimas” escravizadas em Lisboa? Quem é ela que pousa de pé, descalça, em plena Av. da Liberdade para o fotógrafo Charles Chusseau-Flavies, com o peito cheio de rosários, como quem usa uma extensa fiada de amuletos? Quem são elas, e tantas outras, que como elas, foram descartadas pelas “senhoras” e pelos “senhores”, depois de velhas, por falta de serventia, e largadas ao abandono nas ruas de Lisboa? “X” de incógnita. “X” de encruzilhada. “X” de marco que não é possível esquecer, apesar do silêncio. “X” de incisão, por onde se precipita o romper das coisas.
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ep. 3 _ Melik interpretação: Binete Undonque
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Não foi para aquilo que veio de tão longe: aquela fila interminável de gente e aquela terra estavam longe de ser o pináculo do progresso e da sofisticação. No Porto como no IndieLisboa 2023, a lente branca, dos olhos dos brancos e da câmera dos brancos, zoomam nos seios desnudos dela e apelidam-na de Rosinha. Entre balantas, a pessoa convidada jamais seria sujeita a tal curiosidade impertinente, doentia e bárbara. Jamais seria exposta, jamais seria tocada, e o seu nome jamais seria esquecido. Seria uma espécie de milagre se aquele povo tivesse uma “influência civilizadora” sobre qualquer outro - diria quem nós sabemos que o disse.
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ep.4 _ K’aflikana co-autoria: G FEMA interpretação: G FEMA, Cristina Roldão
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Não foi para aquilo que veio de tão longe: aquela fila interminável de gente e aquela terra estavam longe de ser o pináculo do progresso e da sofisticação. No Porto como no IndieLisboa 2023, a lente branca, dos olhos dos brancos e da câmera dos brancos, zoomam nos seios desnudos dela e apelidam-na de Rosinha. Entre balantas, a pessoa convidada jamais seria sujeita a tal curiosidade impertinente, doentia e bárbara. Jamais seria exposta, jamais seria tocada, e o seu nome jamais seria esquecido. Seria uma espécie de milagre se aquele povo tivesse uma “influência civilizadora” sobre qualquer outro - diria quem nós sabemos que o disse.
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ep.5 _ Síncopes participação: Binete Undonque, Cristina Roldão, Filipa Bossuet, G FEMA, Isabél Zuaa, Piny, Raquel Lima, Vânia Doutel Vaz, XEXA, Zia Soares
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Um círculo polifónico para uma conversa antiga, cujo fim não se vê. Volta não volta, e a história dá voltas, a “renascença negra” é anunciada. É o Harlem Renaissance, a apoteose de Josephine Baker, o charleston invade os clubes de Lisboa, e ao mesmo tempo os “heróis do mar” fazem as campanhas de ocupação em África. Corre o ano de 2024, a Lisboa Crioula, o prefixo Afro metido à força em tudo e em todo o lado, e a Cláudia Simões é injusta e desavergonhadamente condenada.Ruptura com o racismo? Black face de si mesmo ou uma caricatura crítica da caricatura? Ou então: a fonte criativa da negritude brota abundante e uma legião de tokens, negrófilos e gatekeepers da arte e da academia, ávidos de a extrair, ávidos de dela se apropriarem, salivam e montam armadilhas reluzentes.
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Hangar - Centro de Investigação Artística
Rua Damasceno Monteiro 12
1170-112 Lisboa
Quarta a sábado | 15h – 19h
entrada livre
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