Esculpir a paisagem com o tempo (e os gestos) em "O movimento das coisas"

Esculpir a paisagem com o tempo (e os gestos) em "O movimento das coisas" Este é um filme de restituição. Um dos legados de António Ferro e da sua “política do espírito” foi a estetização e aportuguesamento do mundo rural – dos gestos, dos modos de vestir e de habitar e mesmo da paisagem, com uma tentativa de definição estrita da “casa portuguesa”. O modelo, nacionalista, eliminou a crónica da pobreza, abstraiu-se dos caminhos de mau piso, alagados; escondeu o estrume e as lenhas, escamoteou que pessoas e animais partilhavam espaços.

Afroscreen

16.06.2021 | por Maria do Carmo Piçarra

A invenção do campo português

A invenção do campo português Embora hoje impere a ideia de que a imagem que se vende de Portugal e, por arrasto, do Portugal rural, é politicamente neutra, é curioso notar as semelhanças desse Portugal com o país promovido pelo Estado Novo. Mas, mesmo que atribuamos a essa retórica uma neutralidade ideológica, continua a ser possível uma leitura política dessa representação apolítica e da forma como nela são tratadas as tradições e as “gentes”, que, tal como os lugares que habitam, supostamente ainda não foram corrompidas pela civilização. (...) Portugal saltou do "orgulhosamente sós" para "o segredo mais bem guardado da Europa", até chegar ao boom turístico. Mas o campo foi sempre uma paisagem ideológica.

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20.07.2018 | por Bruno Vieira Amaral