O assassinato de Amílcar Cabral
Em 20 Janeiro de 1973 ocorre o assassinato de Amílcar Cabral, um acontecimento que mobilizou toda a comunidade portuguesa na Suécia, particularmente em Malmö e em Lund, tal como toda a comunidade portuguesa exilada pelo mundo. Vivíamos precisamente em Lund, onde havia sido criado um Comité de Desertores Portugueses que, além do trabalho que era necessário desenvolver na ajuda aos recém-chegados desertores ou refractários, exercia uma actividade política de edição e de distribuição de publicações centradas na luta contra a guerra colonial e contra o regime salazarista.
O assassinato de Amílcar Cabral desencadeou a imediata iniciativa dos Comités de Desertores no sentido de realizar manifestações públicas de protesto nas principais cidades suecas. Juntamente com outros responsáveis do Comité de Malmö-Lund, estabelecemos de imediato os contactos necessários para a realização de manifestações, muito bem sucedidas, tanto em Malmö no dia 26, como em Lund, no dia seguinte. Antes disso já havia distribuído panfletos um pouco por todo o lado, logo no dia seguinte ao crime.
No seu testemunho para o livro “Exílios.2, Testemunhos de Exilados e Desertores Portugueses, 1961-1974”, a Maria da Conceição, minha esposa, recorda assim estes tempos: “A nossa casa tornou-se o “porto de abrigo” para os desertores e refractários que à chegada precisavam de alojamento e apoio junto das entidades suecas… Recordo o que se passou em nossa casa quando do assassinato de Amílcar Cabral no Inverno de 1973. O Comité de Desertores organizou e preparou manifestações de protesto em Malmö e em Lund. Como não existiam (à venda) bandeiras dos Movimentos de Libertação das colónias, foi na nossa casa que foram costuradas essas bandeiras. Essas bandeiras são visíveis nas fotos da manifestação realizada em Lund”.
Nunca será demais salientar o nosso trabalho de apoio à luta dos Movimentos de Libertação de que aqui deixo o exemplo da visita a Malmö e Lund do dirigente do MPLA Saidy Mingas. Juntamente com a Biblioteca do Rosengård, o CDP organizou uma sessão de propaganda com a projecção dos filmes A Vitória é Certa (Angola) e A nossa terra (Guiné-Bissau), comentados por Saidy Mingas. A fotografia que fiz de Saidy, em 1973, na sede do Comité de Desertores em Malmö permite-me recordar o corajoso militante do MPLA que viria tragicamente a ser morto em Luanda poucos anos depois, nos massacres do 27 de maio de 1977.