De Mindelo para a cidade do Porto: Bilan, a nova voz da música cabo-verdiana
Natural de São Vicente, Bilan encontrou a música na família desde pequeno, já que é sobrinho de Meca, um dos músicos que integrou o grupo “Simentera” e que também tocou com músicos como Voginha. “Já o meu avô tocava cavaquinho”, diz o músico.
O primeiro CD “Ilha” resulta de vários anos de concertos e de uma aprendizagem junto de músicos de várias origens, com destaque para a cidade do Porto onde reside há alguns anos.
Bilan veio para Portugal em 1999 para estudar Gestão Desportiva, na cidade de Maia, no norte do país. Mas, mal terminou o curso viu que a sua vida futura só poderia passar pela música.
“O curso foi uma oportunidade que me surgiu para vir para Portugal e aproveitei-a, mas já tinha ideia de fazer música.”
Primeiro, houve a experiência do grupo de amigos de São Vicente, alguns também estudantes, que formaram os “Refilon”, na capital portuguesa. O grupo deu vários espectáculos em Portugal, como o Festival de Músicas do Mundo de Sines, e em Espanha.
Mas com o início das aulas no Norte acabou por fixar-se no Porto, que apesar de não ser a capital, também tem as suas vantagens. “Gosto muito desta cidade, desta ambiente mais calmo, é importante na minha forma de fazer música, e não é assim tão mau como se poderia pensar.”
Outra das vantagens, explica Bilan, é a própria dimensão da cidade. “Aqui existem bons músicos com um nível muito bom e o facto de ser mais pequeno há maior contacto entre os músicos, conhecemo-nos todos, e tem sido importante no meu próprio crescimento como músico.”
Depois de 2005, e enquanto tocava em diferentes projectos, o músico mindelense começou a montar o seu próprio grupo, tendo chegado a gravar um EP. Ao mesmo tempo surgiam convites para espectáculos, sobretudo na região norte de Portugal, onde iniciou uma tourné com 19 datas.
Um dos momentos altos da sua carreira aconteceu em 2011 quando actuou ao lado do músico maliano Madou Sidiki Yabaté, no espectáculo “Sure le Níger”, na Casa da Música, de onde resultou a gravação ao vivo do espectáculo. Daqui surgiu também a amizade com o maliano e o convite para participar em duas edições de um espectáculo com o mesmo nome, no Mali.
Para este mês de Junho está prevista a saída de “Ilha” o seu primeiro disco - em edição de autor - e que, apesar de não contar com músicos cabo-verdianos, tem a participação de músicos de diferentes estilos. “No disco participam músicos portugueses daqui do Norte, entre eles Manuel Cruz do grupo português “Ornatos Violeta” e ainda do maliano Madou Sidiki Yabaté”, diz Bilan.
Mas, apesar da distância e dos músicos que o rodeiam, Bilan continua a reafirmar a matriz cabo-verdiana da sua música, isto apesar das influências nítidas da música brasileira, do R&B, entre outros estilo.
“A minha forma de estar na músico é 100 por cento cabo-verdiana, musicalmente o meu ponto de partida é Cabo Verde, começa por uma base tradicional de uma coladeira ou uma morna, mesmo se depois o ritmo acaba por soar um pouco diferente.”
Depois de uma passagem como músico dos “Refilon”, Bilan regressa este ano ao Festival de Músicas do Mundo de Sines, onde irá tocar temas do primeiro trabalho de originais. Bilan vive exclusivamente da música, quer através dos espectáculos, quer como baixista e percussionista em outros projectos e ainda como nas aulas de música que dá.
Para já o retorno que tem dos amigos e dos fãs “é muito positivo”, pela forma como está a surgir na música de Cabo Verde, que vai recebendo nos concertos. E com o primeiro disco no mercado as coisas podem mudar. Apesar do seu percurso de espectáculos e participações em programas de televisão de Portugal, Bilan ainda não trabalha com um agente.
“Tenho feito as coisas ainda muito pessoalmente e não estou incluído em agências de promoção.”
Mas as coisas deverão mudar brevemente, pois segundo o músico já existem algumas editoras interessadas em editar o disco, estando na fase dos contactos. E já neste mês de Junho estará disponível uma edição promocional de “Ilha”, que irá acompanhar os espectáculos de apresentação.