Rap guineense: a Guiné ouvida por todos
Na Guiné os recentes rap/hip hop, reggae, reggaeton, zouk, batida coexistem com estilos anteriores, como o gumbé e as temáticas da “luta” e pós-independência, eternizadas por José Carlos Schwartz, Super Mama Djombo, N’Kassa Cobra, Cobiana Jazz - e que juntos se misturam com estilos ainda mais recuados, a chamada música tradicional que permanece, ainda em largo reportório, nas músicas de fanado1, casamento, de lavoura e colheita. Escusado será referir a importância da música na sociedade guineense - haverá sítio onde assim não seja?
Principalmente através da rádio, esta música está presente na maioria do espaço público, tanto rural como urbano. Colhe-se arroz e o rádio toca, convive-se nas varandas e os rádios estão ligados, nos toca-toca2 e táxis de Bissau o rádio acompanha a viagem, em várias casas seguidas o traquejo de colunas mistura conversas e músicas; nas discotecas de todo o país os hits mil vezes tocados na rádio, mil vezes tomam conta da noite. Os rádios VHF ou de pen drive, as músicas nos telemóveis ou nos mp3, preenchem os silêncios, as ausências, acompanham o trabalho e o ócio - são a ligação mais fácil ao demais. Os rádios coexistem com os leitores digitais e a música faz-se de velhos e recentes estilos. Foi neste mosaico de sonoridades que surgiriam, nos anos 90, as primeiras maquetes de rap. Explica um raperu guineense, As One:
«Havia também hip hop americano que passava já na rádio da Guiné-Bissau… mas nunca se tinha tido coragem de cantar hip hop porque naquele tempo as pessoas que cantavam na rádio eram associadas a banditismo. Muitas pessoas que queriam cantar hip hop escondiam-se. É em meados de 90s que uma das primeiras músicas de hip hop sai. É uma música que canta o governo. Que o critica duro. A música chama-se Colisensa: “Coli colissença, bo pistanu no bandera, Coli colissença, bo danu no terra”. Esta é uma das primeiras músicas. É de Naka-B. Noutras músicas repava com a Luísa, que é conhecida como a rainha do hip hop».
Nos anos 90 estamos em pleno mandato de Nino Vieira3, comandante que em 1980 conduziu o golpe de Estado que acabou com o regime de Luís Cabral. O hip hop escondia-se, mas as bocas enchiam-se do que se temia falar, e o estilo salta para a rádio falando em crioulo – a única língua franca que transforma a multiplicidade linguística da Guiné em comunicação, a diferença em entendimento, em crioulo e só em crioulo se fala com o desconhecido que dobra a esquina. Assim depois da guerra civil de 1997-98, utilizando a língua real do diálogo guineense e desafiando o anterior silêncio do tempo do comandante, surgem Real GX, BMJ, Mário G, Cientistas Realistas, entre outros, ousando temáticas daquela actualidade:
«Não há luz, não há água, o arroz está caro»
MVD Positive
«Não temos medo de insultar o filho da…
os nossos funcionários e o nosso estado,
todos são filhos da…
não temos medo de cobra dívida
vamos, juntemos as mãos,
cobremos a dívida ao governo»
WJ (de BMJ), Master Gaus (de MVD Positive)
Na Guiné-Bissau, estes cantadores de rap cruzam fronteiras étnicas, origens e percursos de vida. Não agarrando uma identidade a priori vão construindo o hip hop a cada música e a cada narrativa. Os velhos dizem que é malcriado, outros velhos dizem que conta a verdade. Os jovens, desafiando a gerontocracia e não se resumindo a julgamentos de veracidade e boas maneiras, lançam-se para as letras e para a poesia. Mesmo assim, segundo As One, os mais velhos começam a reconhecer o hip hop:
«Quando o hip hop começou muitas pessoas tomavam-no como algo que está mal, que conduz a sociedade à delinquência, à marginalidade. Agora, contudo, os mais velhos, a sociedade dos mais velhos, começa a perceber que o hip hop é uma arma sem balas».
Estes eram os nomes desse hip hop menino que resultaria no movimento que hoje é conhecido como Nova Geração. Actualmente, Masta Tito, os Baloberos, FBMJ, Best Friends, Cientistas Realistas, entre outros, continuam a cantar principalmente em crioulo e, juntando o francês e as “línguas maternas”, conectam o rap/hip hop com as raízes e o mundo. Cantados pelos palcos do país, desde o Lenox de Bissau até às várias discotecas onde as pistas de dança se transformam em “palcos”, em concertos play-back com momentos de free style (se os microfones permitirem), a performance tenta preencher o que a falta generalizada de meios técnicos castiga. Ainda assim, o corpo e a boca no microfone mudo comunicam.
Dos nomes mais sonantes aos vários ainda anónimos, o rap invadiu a Guiné-Bissau, nascendo da própria Guiné. Rap guineense, feito por e sobre guineenses, para quem quiser ouvir. O mais moderno produto di terra. Original e identitário, inspirado no rap do mundo mas enraizado na multiplicidade que é a Guiné-Bissau, o rap guineense não resulta da digestão de influências do exterior simplesmente adaptadas, mas sim de realidades recriadas, inventadas de novo, que transparecem uma terra e um tempo. Longe de ser uma extensão do rap americano o rap guineense está impregnado de criativadade e realidade. Admiram-se e criticam-se as influências, diz As One:
«2Pac admiro-o de certa forma por causa dos seus textos, mas não admiro os seus actos. Nos seus textos canta a sua mãe, a rapariga violada… Eminem, bom… gosto da sua dinâmica, a sua capacidade de produzir grandes textos. Também o admiro pela pessoa simples que é, não é como outros que exibem “eu tenho carros, tenho dinheiro, tenho mulheres, as mulheres não são nada, eu é que sou tudo”»
Desde um passado recente o rap tem crescido rapidamente no contexto africano. Assumindo primeiramente grande importância na identidade da diáspora, deixou de se prender a uma territorialidade expatriada e surge também nos berços africanos. Da mesma forma, o rap que se assume em vários contextos como habitante exclusivo da urbe, na Guiné-Bissau invade o ambiente rural. Aí, em folhas de papel juntas, protegidas e sofridas das chuvas, em letra de máquina, são agrupadas reclamações, descrições e pensamentos. Jovens, muitos deles ao mesmo tempo estudantes e agricultores, alguns que escrevem com dificuldade, outros que pedem a outros para escrever o que lhes dita o sentido, guardam as suas letras de rap.
Amara Djaló, Cubucaré (Tombali):
«O vosso povo esta desmoralizado
por causa da história
é bom reflectir sobre más práticas
porque o que fazem
é o que chega a todos os guineenses.
Onde vocês pensavam que nós acabávamos
é lá que fomos começar
expulsámos o branco para nos libertarmos
afinal não fazemos nada sem eles
acho melhor termos deixado
11 anos de guerra
atrasaram-nos 30 e tal anos
dispararam dizendo que serviam o povo
Cabral cozinhou no mato
deu aos seus dianteiros para que servissem o povo
afinal eles servem o seu futuro
mas nós, o povo que vê
não somos doidos, não somos mudos,
nem somos burros
Quando os calções do velho passam do joelho
Sabe que não é só mijo que ele tem
Quando os governantes entregam a pele
Sabe que a camisa que vestem os aperta
Guineenses no começo da infância
Vamos rumo à organização
Para podermos remar sem atraso
Apesar de termos visto que
a contra-maré nos cansa
Mas se há vontade
Irmãos, o vento ajuda o país à vela
Para atracarmos no porto da verdade»4
[Amara Djaló, jovem de 27 anos, de Cubucaré, zona sul de Guiné-Bissau na região de Tombali, pedindo a outros que escrevam as letras que inventa, carpinteiro, agricultor e raperu sem álbum e sem concertos no curriculum, dita o seu descontentamento aos que, libertando o seu país, hoje o governam. Escolheu esta letra para que a transcrevesse aqui.]
Estes músicos e poetas da ruralidade guineense, criam as suas letras e papagueiam as músicas dos seus raperus preferidos - os que chegam às rádios. Discutem-nos, quais os melhores, quais os que têm mais fama, quais os que cantam melhor, quais os melhor dizentes. E ainda, por esse interior guineense, caminhando para algum lado ou parando à sombra, outro tipo de narrativa surge nesses momentos em que se discute a música actual. São histórias, exageradas ou não, das ameaças que encontraram os músicos depois de terem posto na rua o hip hop político. Daí cresce a admiração por quem ousa contar o que vai nos burburinhos das bocas das pessoas:
«O hip hop actualmente é um meio através do qual muitas pessoas reinvidicam os seus direitos. É um estilo que toca a actualidade, a impunidade, a falta de condições. Produzir textos críticos é produzir textos que criticam o governo e a sociedade em geral».
Sob a forma de pedido de boa governação surge “Conbersa di bardadi” de N’pans, radicado na Rússia:
«Verdade a situação está grave
Campo quente
Amilcar Cabral, herói maior
Ontem mataram-te, hoje os teus filhos
sofrem grande canseira
quem podia imaginar
que hoje abandonaríamos a nossa terra
onde nos levantámos com a arma na mão
ganhámos a guerra,
quando tomámos a independência
pensámos que tudo seria melhor
mas só cansaço
a vida de pessoas é tirada como a de uma flor
o nosso país é pequeno
porque é que não apanha o pé da sua cabeça?
esse é o sentimento que está entre nós
vê, pensa
levámos o país ao choro
encontremos maneira de o calar, de o aquietar
devemos dar-lhe o respeito entre nós
amanhã outros países
podem respeitar-nos mais
paguemos a dívida que nos emprestaram
Filhos de Guiné espalham-se
Isto não está bem
Eles vendem a sua inteligência
Isto não está bem
A terra fica sozinha e chora
Isto não está bem
A Guiné-Bissau deve ser construída
Isto é que está bem
Camarada presidente
A minha voz saiu de longe para vir perto de ti
Levanta a nossa Guiné
para ser a mais bonita deste mundo
Tem paciência, agarra o teu povo
Para que não sinta falta de nada
Hoje tu és o pai da terra
Tu és o nosso guarda
Não queremos que a guerra se repita
nas nossas ruas, nas nossas estradas
de manhã quando acordarmos
queremos ver só paz
Porque os filhos de Guiné carregam o corpo
para irem estudar fora
Façamos força
para construimos escolas na nossa terra
Nós temos bons quadros
que têm mentalidade forte
juntos levantaremos o nosso chão
meu povo, depressa, rápido
não há tempo para nos sentarmos
devemos ver o futuro limpo
a nossa Guiné está em grande cansaço
Isto não está bem
Homem, camarada presidente
tu é que pegas o volante
tu é que és gigante
o teu povo quer que o leves para a frente
o nosso país não pode ser
país de terceiro mundo
não quero ouvir esse tipo de conversa
A Guiné deve ser constrúida
Isso é que está bem»5
Essas músicas cantam o que vai nas entre-bocas, mas contam essencialmente o que “não vai” na Guiné-Bissau. Cantam a Guiné que “chora”, a vidas das famílias guineenses, criticando e caricaturando. Cantam a violência, o abuso de poder. Cantam a ausência e a emigração.
O músico refere «cantar revolução», acrescenta que cantar política é reclamar contra a impunidade, reclamar contra a corrupção, ansiar por uma nova Guiné onde a caneta empurrará a arma para o fundo da história. Contudo, como sempre e outra vez, apregoar a justiça traz mau agoiro. Rapida ou lentamente, óbvia ou dissimuladamente, surge quem está interessado em calar as palavras que atordoam os culpados, surgem os opressores das canetas e das palavras, surge quem queira calar, silenciar e fazer desaparecer. Desde o tempo pré-colonial são numerosos os registos de assassinatos e desaparecidos. Desde os textos antigos até aos jornais da actualidade, a cada período político, e porque nem tudo pode ser apagado, há registos de eliminação daqueles que por alguma razão se tornaram indesejados. A música Nova Geração leva para rua a reclamação contra o “método” que tem sido utilizado ao longo dos tempos, nomeadamente desde o colon6, depois pelos “dianteiros” do pós-independência e desde então até à actualidade: o de fazer desaparecer.
Canta o “Kaminhu Sukuru” de FBMJ:
«Marca de avião 515
traz medicamentos para todos os guineenses
os guineenses já não adoecem mais
Esta música, antes de a começarmos
fomos já ao hospital nacional simão mendes
onde levantámos a nossa certidão de óbito
deixámos espaço para data e hora
para quem matar assinar
Se o rap fosse pistola nós seriamos a sua bala
Hip hop Guiné-Bissau FBMJ está lá em cima
Cães vierem investigar
Chegaram ordens
Esses nossos militares que se armam em…
Eles são a força de ratazanas
Na retina do sol
O povo na canoa que furou
Não há salva vidas
O destino é para onde?
Mãe Guiné conta
A terra arrancou para trás
O povo fundeia para baixo
Fidalgos viram morto-vivo
Os oportunistas erguem-se
Os Guineenses indignam-se
Hoje dentro da sua casa
Passam a ser cidadãos de segunda linha
As pessoas de bem
vivem penduradas como galinhas
Nós com dor no peito
Nós coçamo-nos, nós gememos
Até hoje não podemos entender
Se foi assim até hoje
Esquecemo-nos que nós é que cozinhámos,
nós servimos
Apodreceu-nos na boca
Ninguém quer mastigar
Porque as coisas podres
multiplicam-se a cada dia
Deixámos a raíz do poilão crescer
O sítio tornou-se escuro
Os ramos cresceram, as flores floriram
A dormência apanhou-nos os joelhos
Perdemos a força para segurar entulho
Doença de frio entrou na terra
Frieza na terra
Quente, verdade, o campo está quente
Guineenses estão enganados desde
o tempo antigo do colonizador
Hoje continuam enganados, credo.
Nós somos os filhos mais cansados
Foi dito, jura jurado
Com a bandeira da pátria amada
Hoje a armada foi bazucada, bombardeada
Governantes da Guiné
Ouvem-me? venham,
Trouxe-vos a certidão de óbito de incapacidade
Terra pequena até hoje não foram capazes
de resolver as nossas necessidades
Cidade escura, governantes burros
Guineenses gritemos
Viva a pobreza!
Viva a pobreza!
Guiné, não vi a tua juventude
nem a meninice, nem os primeiros passos
Masta Tito é que sabe
A Guiné não é uma terra pobre por natureza
Mas seus governantes são burros por natureza
Roubam o povo, olho no olho
Compram casa no estrangeiro
Constroem a terra de outros
Abandonam a mãe Guiné doente
Presilino, Presilino7 ouve-nos
Apesar de ser jovem
A minha cabeça vomita preocupação
A minha terra sem estabilidade
Presidente engole o peixe pelo rabo
É dado à população
atravessado, cansado
Acompanhado por bofetadas
Sem a autorização do estado
o primeiro-ministro disse
“O Presidente pede ordem
Presidente, Presidente”
Campo não é aeroporto
Quando chegou o helicóptero
Aterra ou não aterra
Aterra ou não aterra
Aterrou!
Fulano disse: “leva-se para a marinha
para o lavar”
Fulano e o seu camarada
que agora é seu inimigo
Depois de muitas tentativas
do fulano para fazer golpe de estado
para liquidar
Segundo se diz
O contra-almirante quer agarrar o volante
porque provou e sentiu o bom sabor
Diz que o árbitro arbitra mal
E levou-o a pensar mal
no sistema de queima roupa
Foi contado e denunciado
Por certos comandantes tropa
Contra almirante
Arrumou as botas e fugiu
Agora ouvimos as notícias só por telefone
“Eles estão só a preparar coisas
Querem fazer-me cair
Estamos aqui nós os dois
Temos 4 tomates
Se formos 4 teremos 8 tomates
Se formos 400 teremos 800
Tomates, em cima de tomates maduros”8
Barcafon de feiticeiro abriu-se
Não sabemos o que é que vem aí
Queremos uma terra
onde os governantes sirvam o povo
Não onde o povo é maltratado
para encher saco
Olho de hiena viu, contou para aceitarmos
sacrificar pessoas para salvar a construção
Do que matar a construção e sacrificar pessoas
Mas o problema da Guiné
Todo o dia é lavar e passar
Porque aqueles que sabem calcar o gatilho
não deixam
Avioneta veio, camião basculante
Foi dito medicamentos
para curar muitos sintomas
Tudo será oferecido, nada será vendido
Guiné-Bissau tens certos filhos doidos
Senhor Fulanu doki nhare9
Cheio de carbúnculo
Manda bocas que dizem
é mais inteligente que o Amílcar Cabral
Em que âmbito?!
Isso tudo no âmbito da conversão ao islão,
ou de dokunharendade10
Velho sem vergonha
Só diz barbaridades”
Mãe Guiné conta
Mãe Guiné conta
Mãe Guiné conta
Para onde é o nosso rumo?
Mãe Guiné conta
É verdade, acredito, é verdade acredito!
Guiné é terra onde alguém cresce quando quer
Como entender, tudo depende.
É verdade, acredito, é verdade acredito!
Guiné terra onde a árvore
sobe para cima do macaco
em vez do macaco subir à árvore
Mas não é segredo
o que a minha cabeça vomita
Nem é de preocupação.
Sabe-se que há pessoas na Guiné
Quando querem que chova, chove
Quando querem que o sol arda, o sol racha
Foi dito eleições,
onde nos recenciámos na confusão
Com os nossos irmãos
Nanias, Laguiniensis, Senegalensis11
Venham votar na confusão
Para a CNE12
escolher quem quer na djancandindade13
Cumprimentos ao funeral
de qualquer tropa que morrer
Que Deus descanse a sua alma,
para a Guiné ficar em paz
Alá é grande
Não há salva vidas
Ministra de justiça ameaçada
para não pronunciar a questão da coca
Mãe Guiné conta
Pilotos que trouxeram medicamentos
que foram presos, estão já soltos
Jornalistas em Bissau são impedidos
de fazer o seu trabalho
Para onde é o nosso rumo?
Mãe Guiné conta»14
O confronto entre o rap e os empoderados do país começa nas suas próprias casas, onde os seus filhos ouvem e gostam das músicas que criticam o trabalho dos seus pais – é assim que o rap inunda a cidade e a cada um de todos, nos transportes públicos, nas rádios, nas bocas dos jovens, na boca dos meninos:
«Os filhos deles gostam da nossa música.»
Juntamente com a crítica surge a censura. A condição necessária para que a censura apareça é a crítica realizar-se em comunicação. São as pessoas, os ouvintes, que decidem eternizar ou esquecer o que é cantado, e na Guiné o que se canta e o que se fala nas ruas parecem andar a par e passo.
«Bissau é pequenino, todas as pessoas falam, quando acontece alguma coisa todas as pessoas falam. Há sempre alguém do Estado que conta a um civil, aquele civil que conta a outro civil e tudo se espalha na boca das pessoas. Também muitas declarações deles mesmos, dos responsáveis das coisas, passam na rádio, através delas tomamos as informações e cantamos.»
As bocas das pessoas e os boatos são uma coisa. A rádio ou os palcos são outra coisa. Assim pensam os que não gostam do que é dito ou cantado. E assim tentam encontrar maneiras de fechar os palcos, de calar os rádios. FLOW é uma organização que deu apoio a dois grupos de rap guineense, os Baloberos e FBMJ, depois de um episódio de censura e abuso de poder em 2009. Hassan Salam, músico de Nova Iorque, divulga a music you’re not supposed to hear e faz em inglês a sua tradução para que o hip hop indesejado, e os “7 minutos”, transbordem a fronteira:
Baloberos:
«Não sei se me ouves
Aqui estou, fechado na prisão
Quero só pedir-te que cuides
Dos nossos dois filhos em casa
Acusam-me de crime que não cometi
Condenaram-me sem me julgarem
No tribunal as leis são camufladas
Foi um artigo de mentira que me apanhou
O seu desejo é manchar a minha imagem
Mudar a vossa mente
Com uma falsa mensagem
Não quero nem advogado
A minha inocência, eu é que a vou provar
Eu sou um homem de bem… confia»15
O rap é, ao mesmo tempo, performance, história vivida e arquivo histórico, registando formas, visões, perspectivas sobre o que acontece. Alguns nomes tornam-se muito sonantes no panorama da música nacional - Masta Tito foi apelidado de régulo, e escreveu esta música para os “tropas maus” da Guiné:
«De que tens medo presidente?
De que tens medo general?
De que tens medo presidente?
De que tens medo general?
Os tropas não são burros
Os tropas não são doidos
não são doidos para vos matarem mais
Não! Não são burros
Não! Não são burros
Dancei tchintchin16 em cima de água
até poeira saiu
Joguei à bola, campo quente
até a bola queimou
DJ Ibra
Obrigado por me teres lembrado
Quando o Nino chegou, aterrou no 2417
També no campo 24 o Mambas18 foi empossado
Colegas militares
Da forma que foi com o Nino
Não quero que seja com o Mambas
Cruzes, credo
Ntembembe19 na vossa boca
Funcionários de aeroporto
São todos ratazanas
Roubam roubam às escondidas
É manha de ratazana
Mas vou arranjar-vos cana msumsum20
Para vos desmascarar
Tipo bulufu21 velho
Manequins de estrada
Manequins de moda
Polícias de trânsito roubam dinheiro
da mão dos condutores
E ficam-se a comentar
“Os conductores que se lixem
Roubamos dinheiro como quisermos
a estrada é do nosso pai”
Com seus óculos escuros de operadores de bunda
Meu irmão se tiveres um filho
não lhe ponhas nome de professor
Professor passa sempre mal
Apanha a parte do rabo
Finanças dizem o dinheiro se perdeu
O dinheiro perdeu-se em Bambadinca
Polícia esqueceu-se que a sua mãe engravidou
para que assim nascesse
Bater em mulher grávida com cassetete
na barriga até o menino morrer
Verdade, acredito
Desde que há burros
Polícias burros, cegos
Antes dizia-se
Uatcha Cacheu
Agora tomei e mudei
Para uatcha Bissau, vou insultar-te
Vou romper-te até na tua uatcha uatcha
Dia que tiver medo de algum tropa
Nesse dia morrerei
Eu sou tropa completo
Farda, armas, bombas, tenho tudo
Um tiro, um morto
Tipo “ramoncota”22
Sobra um único general
Os novos são todos falsos
Pau, catana, nenhum pode matar-me
Tu próprio que és tropa de domingo a domingo
Qual é que é o teu trabalho?
Senegaleses roubam-nos a fronteira com abuso
Presidente foi morto ao vosso colo
Bomba para general posta nas vossas barbas
Vocês sentam-se só
Desde manhã até outra manhã
Só a coçar os tomates
Djucu djucu djucu23 de Bande
Djucu de fama
Golpe foi inventado à tua frente
Dizes não saber
Pessoas morreram à tua frente
Tagme, Nino, Helder e Baciro
Dizes não saber
Quando é que vais saber?
Quando é que vais estar presente?
Quando o cabelo nascer na tua careca
Quando for posta coroa no cemitério
Djucu de bande na mão dos militares
Como passarinho na mão de menino
Assamo-lo? Não
Despenamo-lo? Não
Matamo-lo? Melhor largá-lo
Cada pessoa sua vez
A vez muda
Ontem é de Djon
Hoje ne Ntony
Amanhã de Djokim
O presidente adoeceu
Foi doente e voltou doente
Qual é a novidade?
Bobo24 vai, Bobo vem
Como foi, assim veio
Espantam-se de quê?
O primeiro-ministro foi preso
Da forma que prendia outros
Assim também foi preso
Qual é a novidade?
O chefe dos militares foi preso e fechado
Foi preso e fechado
como também prendia outros
Como essas mentiras»25
Inevitavelmente os nomes sonantes do rap apropriam-se do poder de comunicar, de fazer representar. Não podendo calá-los é mais fácil instrumentalizar. Assim, também os políticos e os chefes militares começam a englobar a música da nova geração nas suas estratégias políticas e de campanha. Como já aconteceu com outros músicos, também os da nova geração começam a ser contratados por partidos políticos para divulgação de promessas eleitorais, ou convidados a estabelecer alianças e amizades. Contratos de apoio a campanhas eleitorais transformará a música da nova geração numa arma sem balas ao serviço de outros, para propósito de outros? Ou faz simplesmente parte da estratégia de sobrevivência de músicos que são também eles parte do sistema que cantam? É assim que este rap “enraizado na multiplicidade que é a Guiné-Bissau” e que “transparece uma terra e um tempo” – se tornou já e sem dúvida, um rap protagonista.
Entre o risco e a fama, entre os dilemas da verdade e da mentira, assim vive o rap e assim vive quem vive do rap. Uma realidade que se faz de realidades contadas, vividas e sonhadas, desafiando e recriando fronteiras, criando-se e recriando-se, dialogando o que é, e o que deveria ser. Conta As One:
«Imagina a União Europeia, por exemplo, fala de sanção para a Guiné-Bissau… Porque é que não dá sanção aos Estados Unidos, que foi matar para o Iraque? Porque que é que veio para a Guiné? Guiné-Bissau não é um país soberano? De toda a forma que não gosto dos nossos dirigentes, que não compactuo com a mesma linha de ideias, é importante que se mostre às Nações Unidas, à União Europeia que somos livres, livres de fazer o que queremos desde que seja de bem. Quando falam de financiamento de 1 milhão de dólares recebem em volta 10 milhões. Quero uma Guiné-Bissau livre, porque até agora a Guiné-Bissau não é livre, as pessoas dizem que é livre mas não é livre, porque muitas terras fazem pressão à Guiné-Bissau. Quero uma Guiné-Bissau exemplo de uma terra que passou pela guerra mas que conseguiu reconstruir-se. Uma Guiné-Bissau de quadros, de recursos humanos e naturais. Outros países estão a levar os nossos recursos… Quero a Guiné-Bissau um autêntico paraíso…»
O hip hop político afirma-se na voz dos muitos raperus da Guiné-Bissau e no público da rádio e das performances. Cada um tem o seu estilo, o seu beat e a sua linha. São ouvidos nos cultivos de amendoim, nas discotecas apinhadas de rímel e perfume, e diz-se que até nas casas dos ministros. Relatam a Guiné que está “doente”, a Guiné que “chora”, e codificam várias personalidades nos seus poemas – os que fazem o país chorar – e contam-lhes, porque o rap é ouvido em todo o lado, o que se sabe e se ouve da boca das pessoas. O rap guineense é comunicação, exercício de cidadania, arena política; e transparece as oportunidades, ambições e constrangimentos da juventude que o constrói.
N’pans - Nau Guiné ka pobri
N’pans - Ami i de ki pais
Baloberos (live)
Baloberos - Bo obi mas
Best Friends - Ghetto
Cientistas Realistas - Toka toka
NOTA DA AUTORA: A tradução do Kriol para Português foi feita pela autora do artigo e revista por um guineense que tem o Kriol como primeira língua, mas não o Português; de modo que poderão existir inconsistências e/ou ambiguidades. O artigo não decorreu de uma pesquisa dedicada, mas antes de uma entrevista a um raperu, As One, que decorreu em Janeiro de 2011, e de visões pessoais da autora como público do rap guineense. Agradecimentos são devidos a Manuel Bivar, Aida Gomes, Miguel Barros, Marina Temudo pelos comentários e correcções.
- 1. cerimónia de iniciação.
- 2. Transporte público de Bissau
- 3. João Bernardo Vieira, comandante da “Luta de Independência” da Guiné-Bissau; desencadeou o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, derrubando a governação de Luís Cabral. A guerra civil de 7 de Junho de 1998 vem pôr fim ao seu mandato, quando é derrutado pela Junta Militar liderada pelo brigadeiro Ansumane Mané. Recandidatou-se às eleições da Guiné-Bissau tornando-se presidente em 2005 e sendo depois assassinado em 2009.
- 4. tradução da autora de: «Bo povo esta desmoralizado / pabia di istoria / i bom pensar mau prática / pabia ke ku bo faci / es i ke ki fartanda Guineensis tudu / Nunde ki bo pensaba no na ultima / La ki no bai kumsa / No cerca branco pa no liberta / Afinal no ka pudi faci nada sin elis / Ami ta odja i mas midjor pa no dixaba / 11 ano di guerra / I atrasano 30 e tal anos / Bo foguea kuma bu na sirvi povo / Cabral cuzinha na matu / I dal si dianteros pa e sirvi povo / Afinal e ta sirvi pa se futuru / Mas anos pubis ku na odja / No ka dudu, no ka mudu / I nim no ka burru / Nunde ki calçon di garandi i passa joelhu / Sibi di kuma i ka son missa ku tenel / Nunde ki governentis na entrega curu / Sibi camisa ke e bisti e perta elis / Guineensis entrada di infancia / No sai ku rumu di organizaçon / Pa pudi rema sin atrasu / Apesar ki no bim odja di kuma / Contra-maré na cansanu / Ma si vontadi tem / Ermons bento bali país à vela / Pa ntranca na portu di bardadi»
- 5. “Conbersa di bardadi” de N’pans: «Bardadi situaçon sta gravi / Campo kinti Amilcal Cabral / heroi ma garandi / Aonti bu matado / aos bu fidjus na sufre cansera garandi / Kim ki pubiba imagina kuma / anos no na abandona no terra / nunde ki no firma ku arma na mon no ganha ki guerra / contra no toma independência / no pensa tudo na seduba midjor / ma son cansera / vida di djintis na tirado suma flor / no país pikinu / ke ku pul pa i ka panha pé di se cabeça? / ese i no sentimento ki esta na no mitadi / djubi, pensa / no pui no pais na tchora / no djubi manera di kalantal, no ketandal / Rispitu entre nós no didi dal / Amanha utrus país pudi mas rispitanu / Pa no paga no divida ki e pistano / Fidjos di Guine na espadja / Es i ka diritu / E bindi si inteligencia / Es i ka diritu / Terra fica el son i na tchora / Es i ka diritu / Guiné-Bissau didi kumpudu / Es ki diritu / Camarada presidente / Nha voz sai di lundju pa i bim pertu bo / Lantandano no Guiné pa i sedo ma bonito na e mundu / Tem paciencia pega bu povo / Pa i ka sinti falta di nada / Aos abo ki pape di terra / Abo ki no guarda / No ka misti pa guerra ripiti mas / Na no ruas, na no estradas / Par manha ora ki no corda / no misti ba ta odja son paz / Pabia fidjo di Guiné ta carga corpo pa bai estuda fora / No faci força no cumpu bom escola na no terra / No tene bons kuadrus ke tene mentalidade forti / Djuntu no na lantanda no tchon / Nha pubis, no djanti, kinti kinti / Tempu ka tem pa sinta / No didi odja futuru limpu / No Guiné esta na garandi cansera / Es i ka diritu / Homi, camarada presidente / Abo ki pega voltanti / Abo ki giganti / Bu povo misti pa bu leval dianti / No pais ka pudi sedo pais di tercero mundo / M ka misti ubi es tipo di conversa / Guine didi kumpudu / Es ki diritu»
- 6. colonialista
- 7. Refere-se ao presidente Nino Vieira
- 8. Citando parte de um discurso de Tagme na Waie, foi major-general do exército da Guiné-Bissau desde 2004 até ao seu assassínio em 2009
- 9. Referindo-se a Kumba Yala, presidente da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003
- 10. Referindo-se à “maneira de Kumba Yala”
- 11. Mauritanos, guineense da Guiné Conakry (La Guiné), Senegaleses
- 12. Comissão Nacional de Eleições
- 13. Sem ordem, sem método certo, como quiser fazer
- 14. “Kaminhu Sukuro” de FBMJ: «Marca di avion 515 / Tissi medicamento pa tudu guineenses / Guineensses ka na doensi mas / Es musica antes ki na kumsa / No pantiba dja hospital nacional simon mendes / Nunde ki no levanta no certidon di óbitu / No sobra so espaço di data ku hora / pa kim ku na mata pa i assina / Si rap i pistola no na sedoba si bala / Hip hop Guiné-Bissau FBMJ no sta la riba / Catchurs bim pa investiga / Ordens parci / Ki no militares ku ta arma di kuma… / Elis ki força delta de djikindurs / Na retina de sol / Pubis na canoa ki fura / Salva vida ka tem / Distino i pa nunde? / Mama Guine papia / Terra ranca pa tras / Povo fundia pa bass / Fidalgos bida cassissa / Ndaures na rississa / Guineenses bida e’stranha / Aos dentro di se casa / E passa sedu cidadons di segunda linha / Kilis ki tchumado pa kim di diritu / Na bibi prindado tipu galinha / Anos ku dur na pitu / No na cossa no na nhinhi / Te aos no ka pude intindi / Si sedo sim aos / No diskici kuma anos ki kusinhal, no sirvil / I nhabino na boca / Ninguem ka misti mastiga / Pabia cusas podre cada dia e na multiplica / No dixa raiz di polon maduru / Kau bida sukuru / Ramos kirsi flores flura / Caiambra bafanu djudju / No pirdi ku força d’sugura ntudjo / Duença de friu ku entranu terra / Frieza na terra / Kinti, bardadi, campo kinti / Guinensis nganado disna de tempo de cenquiem colon / Aos e continua na enganado kredu / Anos i fidju mas cansadu / Falado kuma jura juradu / Ku bandera di patria amada / Aos armada bazucada / Governantes di Guiné / Bo na ubin? bo bim / Ali m tissi bo certidon di obito di incapacidade / Terra pikinino te gos bo ka capaz de resolvi no necessidadi / Cidadi sukuro, governantis bo burro / Guineensis no grita / Viva probreza! Viva pobreza! / Guiné, n ka mati si badjudessa / Nin n ka mati si mininessa ku si iandessa / Masta Tito ku sibi… / Guiné i ka terra ku pobre pa natureza / Ma sim se governantis ku burru pa natureza / Furta povo, udju ku udju / Kumpra casa na estrangero / Kumpu terra di djintis / dixa mama Guine mandinti / Presilino Presilino kudinu / Embora ami mininu / Nha cabeça na ramassa cudadi / nha terra sin estabilidadi / Presi na inguli pis pa rabu / Pupulaçon na nhucunido el /Trebessadu, cansadu / Kumpanhadu ku bufetada /Sim autoridadi de stadu prumero ministro fala / “Presi na pide ordem Presi presi” / Campu i ka eroportu / Otcha elicoptru tchiga / I na ria i ka na ria / I na ria i ka na ria / I ria! / Estim kuma i na lebal marinha / Pa ba laval / Flano ku si camarada / gos i passa sedo si mangaflanu / Depus di manga di tentativas / Di flano di golpi di estadu pa likida / Sigundo e fala / Contra-almiranti misti pega vulanti / Pabia i purbal i sinti i mela tchut / Kuma arbitro na arbitra mal / Ku tissil na pensa mal / Na sistema di quema ropa / I contadu i denunciadu / Pa certos comandantes tropa / Contra almirante / Ruma si bota i larcil / Gos no ta obi noticias son pa telefoni yao / “Ena i na fazi cusas son / E misti batin / No esta li anos 2 No tene 4 cucus / Si anós 4 no na tene 8 cucus / Si anós 400 no na tene 800 / Cucus, riba di cucus maduros” / Barcafon de futucero iabrido / no ka sibi ke ku na bim / No misti terra / nunde ki governantis na sirvi povo / I ka nunde ku povos na iaradu pa intchi saco / Udjo di lubu odja, i conta pa no ceta / Sacrifica pecadores pa construçon salva / Di ki no mata construçon pa pecadures sacrifica / Ma prublema di Guine / Tudu dia i laba ku lissa / Pabia kilis ku sibi calca gatilha ka ta dissa / Avioneta bim, camioneta na vascula / Faladu medicamentus pa cura manga di efeitus / Es tudo na patidu, nada ka na bindidu / Guiné-Bissau, teneu certos fidjos dudu / Anhu ntoni ki doki nhare / Tcheio de doença carbunkulu / Ta manda boka di kuma / Bu mas Amilcar Cabral djiro / Na kal quadro?! / “Es tudu na quadro de tubindade u di dokunharendade / Alguin garandi ka ta burgunho / So papia barbaridadi” / Mama Guiné papia / Mama Guiné papia / Mama Guiné papia / No destino i pa nunde? / Mama Guiné papia / Barbadi n’fia, bardadi n’fia! / Guiné terra nunde ki pecadur ta garandi ora ki i misti / Di manera ki intindi, tudu ta dipindi / Barbadi n’fia, bardadi n’fia! / Guiné terra nunde ki pó ta sibi riba di santchu / Em vez di santcho sibi na pó / Ma i ka sigridu kil ki nha cabeça na ramassa / Nin i ka cuidadi / I sibidu kuma i tem guintis na Guine / Ora ki e misti pa tchuba tchubi, tchuba ta tchubi / Ora ki e misti pa sol iardi, sol ta ratcha / Falado eleiçon nundi ki no recencia dja na tchucul tchomar / ku no irmon Nanias, Laguiniensis, Senegalensis / bo bim ba vota na Tuful tafal / Pa CNE culhi kim k’e misti na djancandindadi / Mantenha di tchur pa qualquer tropa ki na bim mure / Pa Deus diskansa si alma pa Guiné fica em paz / Alah uakebar / Salva vida ka tem / Ministra di justiça ameaçadu pa tira boca na problema di coca / Mama Guiné papia / Pilotos ku tissi medicamentu ku prindidu tudu largadu / Jornalista na Bissau e ka ta dixadu faci se tarbadjo / Destino i pa nunde? Mama Guiné papia»
- 15. M ka sibi, si bu na obim / Ali m esta fitchadu na prison / Misti so pidiu pa bu cuida / Di no dus fidjo na casa / Di crime ki m ka cometi ki e acusam / Ali e condenan sin é julgan / Na tribunal di leis camufladu / Artigo di mintida ku panhan / Se disiju mantcha nha imagem / bida bo menti / Ku se falso mensagem / M ka misti nin adivogadu / Nha inocencia, ami ki na prubal / Ami homi di bem… confia
- 16. Dança de fanado, cerimónia de iniciação
- 17. Estádio 24 de Setembro
- 18. Malam Bacai Sanha foi presidente da Guiné-Bissau entre 1999 e 2000 e depois entre 2009 e 2012, ano em que faleceu.
- 19. Doença que faz a zona atrás dos maxilares inchar
- 20. Aguardente de caju
- 21. Alguém que ainda não foi inciado
- 22. Chefe de bandidos
- 23. Referindo-se a alguém careca
- 24. Referindo-se a Bubo na Tchuto, Chefe do Estado-Maior da Armada
- 25. Masta Tito, o régulo: «Ke ku na medi presidente ke ku na medi? / Ke ku na medi general ke ku na medi? / Ke ku na medi presidente ke ku na medi? / Ke ku na medi general ke ku na medi? / Tropas ka buru / Tropas ka dudu, e ka dudu pa mata abos mas / Não! E ka burru / Não! E ka burru / M badja tchintchin riba di iagu / Tok puera sai / M djuga bola campo kinti / Tok bola kema / DJ Ibra Obrigadu manera ki bu lembrantam / Otcha ku Nino bim na 24 ki ria / Na campo 24 la ki Mambas tam impossadu / Nha colegas militares / Manera ki i sedu ku Ninu / m ka misti pa i sedu ku Mambas / Cruz camarosca / Ntembembe na bo boca / Funcionários di aeroportu / Tudu i djikindor / Furta furta sucunde sucunde / I manha de djinkindur / Ma na randja cana msumsum pa bos / Pa bo burgonha sai / Tipu bulufu garandi / Manekins di estrada / Manikins di moda / Policias transito ta roba dinheru di fera / Na mon di condutoris / E ta fica gora e na ndjata / “Condutor ku misti i mure / No na roba dinheru manera ki no misti / Ma estrada i di no papé” / Ku se oculos sukurus suma operadores de bunda / Nha ermon si bu padi fidju ka bu pul nomi di pursor / Pursor sempri ta passa mal, / Parte de rabada ke ta panha / Financeru kuma dinheru pirdi / Dinheru pirdi na Bambadinca / Policia diskici kuma se mame prenha nan elis / Pa e kumsa bim padidu Suta midjer prenhada ku kassekete / Na barriga tok mininu mure / Bardadi ami m fia / Disna ki burrus ta tem / Policias burru, tapa nulus / Antigamente i ta faladu ba Uatcha Cacheu / Gos m tomal m mudal / Pa uatcha Bissau, ami na cobau / Na ratchau te na bu uatcha uatcha / Dia kum medi di cualker tropa / Kil dia ku’m na mure / Ami i tropa completu / Fardas, armas, bumbas, tudu m tene / Um tiru, um murtu / Tipu ramoncota / Únicu general ki sobra / E novos tudu i falso / Manducu ku tarçadu nim um son ka pudi matam / Abo propi ki tropa di domingu a domingu / Kal ki bu tarbadju? / Senegalensis na robanu frontera na abusu / Presidenti matadu riba di bo ragace / General pudu bumbas bas di bo barbas / Bo ta sinta sinta so / Di par manhã te par manhã / So na cossa obo / Djucu djucu djucu di Bande / Djucu di fama / Golpe inventadu bu dianti / Bu fala bu ka sibi / Djintis matadu bu dianti / Tagme, Nino, Helder ku Baciro / Bu fala bu ka sibi / Kal tempu ki bu na bim sibil? / Kal tempu ki bu na bim mati? / Ora ki bu careca nanci cabelu / Ora ku pudu crua na cimenteru / Djucu di bande na mon di militares / Tipu catchu na mon di meninu / No iassal? Não / No penal? Não / No matal? Midjor no largal /Tem ta tem / Ma na bardadi tem ta camba / Aonti i di Djon / Aos i de Ntony / Amanhã i de Djokim / Presidenti doenci i bai doenti i riba doenti / Kal ki novidade? / Bobo bai, bobo bim / Manera ki bai assim ki bim / Ke ku bo na panta? / Prumeru ministru prindidu / Manera ki prindiba utrus assim tam ki prindidu / Kal ki novidadi? / Chefe de militares prindidu i fitchadu / Manera ki prindidu i fitchadu / Assim tambe ki prindiba utrus / K’e muntrundadi»