Terão os direitos humanos um continente ou nacionalidade?

Terão os direitos humanos um continente ou nacionalidade? Seria o continente africano, e particularmente Moçambique, relegado a uma “periferia” da preocupação dos direitos humanos? Será que, inconscientemente, ainda carregamos o peso de um olhar colonial, em que África e as pessoas africanas são vistas como eternamente em crise, como se os problemas no continente fossem normais e, portanto, indignos de atenção urgente? O filósofo Frantz Fanon abordou a desumanização estrutural que condiciona as perceções dos povos africanos, e aqui vejo um eco dessa verdade: o sofrimento em Moçambique, no Congo, Sudão, Somália, entre outros países africanos, não parece evocar a mesma empatia global que crises em outros locais do mundo.

Mukanda

13.11.2024 | por Paula Machava

A liberdade como exclusão (ou o nojo a tudo isto)*

A liberdade como exclusão (ou o nojo a tudo isto)* Então se nos perguntam porque escrevemos, respondemos, desde a nossa povoada e frutífera solidão: escrevemos para darmos um sentido ao fracasso, pois, conhecer o inferno, exige-nos que também o apontemos com sujo dedo indicador (de remexer nas escórias da vida), num idioma tão precário e duradouro como a poesia, que tresanda a sangue e horrores, e existe não para convencer, mas porque é da sua livre natureza existir.

A ler

16.09.2024 | por José Luiz Tavares

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah Apresento a tradução de três cartas/ensaios de Walid Daqqah – que, como todos os seus textos, tiveram de ser libertados da prisão antes de chegarem ao público. Quero, com isso, partilhar um pequeno fragmento da obra do revolucionário palestiniano em português, estando ciente de que o ato de tradução implica transformação. Contudo, como o entendo, essa não é apenas uma transformação do texto, mas também de quem o lê e tem de se libertar das amarras coloniais para o compreender. Se Daqqah imagina e põe em prática a libertação da Palestina nós não podemos apenas ler o texto, mas somos obrigados a imaginar com ele e convidados a agir com ele.

Mukanda

03.08.2024 | por Bruno Costa

Universidades sem algemas

Universidades sem algemas Num momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso. À beira do ano em que nos preparamos para celebrar meio século do 25 de Abril, tudo isto é revoltante.

Mukanda

20.11.2023 | por vários

As histórias de jovens mortas nas manifestações por liberdade e contra o uso do véu no Irão

As histórias de jovens mortas nas manifestações por liberdade e contra o uso do véu no Irão A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial levou à eclosão de uma onda de protestos no Irão. A jovem foi detida pela chamada "polícia da moralidade" por causa da forma como usava o véu islâmico – segundo relatos, teria deixado alguns fios de cabelo visíveis sob o hijab. Segundo testemunhas, Mahsa foi agredida numa viatura. A polícia nega, e diz que ela morreu por causa de um problema cardíaco pré-existente. O uso do véu tornou-se obrigatório no país após a Revolução Islâmica, em 1979, que transformou a vida dos iranianos – principalmente as mulheres, que viram os seus diretos serem bastantes restringidos.

Jogos Sem Fronteiras

12.10.2022 | por Haniya Ali

Quando os diabos dançam

Quando os diabos dançam Num momento indeterminado na costa do Pacífico da Nova Espanha, atual México, escravos africanos disfarçaram-se de diabos e desfilaram pelas ruas de pequenos povoados. Pediam aos deuses ancestrais a liberdade. Com máscaras de seres do inframundo e à cadência de harmónicas e puítas reinventadas, criaram a Dança dos Diabos. O ritual é uma das expressões máximas dos afromexicanos, minoria invisibilizada durante séculos e que só em 2019 foi oficialmente reconhecida com povo originário.

A ler

02.09.2022 | por Pedro Cardoso

Cafés e cinemas da Almirante Reis que contam uma história da resistência

Cafés e cinemas da Almirante Reis que contam uma história da resistência A Liberdade pode ser a avenida-símbolo do 25 de Abril, mas outras vias de Lisboa também tiveram papel importante de resistência nos anos sombrios. A Almirante Reis tem algo a dizer sobre o assunto: sobre os seus teatros, cafés e cinemas que foram refúgios de ativistas, intelectuais e artistas, reunidos em volta de uma chávena a conspirar e, principalmente, a sonhar com outros melhores dias, livres dos tons de cinza do Estado Novo.

Cidade

08.06.2021 | por Álvaro Filho

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo Para desgosto dos mestres-jardineiros da outrora capital do império, a “inconstância da alma indígena” foi e será a autodeterminação de quem se quer recusar a ser talhado pelo poder colonial-racista. Vale lembrar que os cravos de abril não teriam existido sem essa preciosa determinação.

A ler

22.05.2021 | por Bruno Sena Martins

"Explorar o outro continua a estar na base das nossas sociedades", entrevista ao escritor malgaxe Jean Luc Raharimanana

"Explorar o outro continua a estar na base das nossas sociedades", entrevista ao escritor malgaxe Jean Luc Raharimanana Existem leis, creio eu, relativas à violação das liberdades. As palavras alienantes podem influenciar as massas, mas estas palavras sempre existiram na história da humanidade. É o espírito crítico que eu penso ser urgente apoiar e desenvolver. Prefiro pensar em termos de possibilidades do que em termos de limitações. Como podemos fornecer a todos as ferramentas para criar uma palavra criativa, um movimento de tecelagem em vez de uma palavra destrutiva, um gesto para rasgar?

Cara a cara

11.01.2021 | por Alícia Gaspar e Jean Luc Raharimanana

Tânia de Carvalho: “As liberdades não podem ser negociadas”

Tânia de Carvalho: “As liberdades não podem ser negociadas” A actual geração de jovens é muito crítica ao posicionamento da geração de jovens dos anos 80, que fez e viveu uma guerra. Quer comentar? A geração dos anos 80 sabe muito bem as amarguras de uma guerra, de um conflito, não teve uma juventude ou infância condigna, porque nasceu e viveu num país em conflito; teve os seus sonhos vendidos e destruídos. Muitos dos jovens dos anos 80 tiveram de abandonar o país para viver numa terra que nunca os acolheu, olhou para eles como estrangeiros que vieram estragá-la. Portanto, não estão dispostos, hoje, a perder esta estabilidade conseguida desde 1992.

Cara a cara

29.12.2020 | por Tânia de Carvalho

A propósito das Mulheres de Abril

A propósito das Mulheres de Abril Depressa percebi o que era Abril. E hoje percebo ainda mais a sua necessidade e importância. A luta pelos direitos nunca foi nem nunca será garantida. É diária e extremamente instável. Precisa de vozes, de eco, de gritos. Precisa de inquietação. Abril foi e é também uma das razões pelas quais eu posso cá estar hoje. A ocupar este espaço que durante muito tempo não foi meu nem de nenhuma mulher. Um espaço pequenino, confinado, como uma quarentena obrigatória em que não era suposto sair à rua e muito menos reivindicar o que seria meu por direito. Em que não era suposto eu ter uma opinião e muito menos expressá-la num lugar qualquer, fosse ele político ou social, académico…

A ler

03.11.2020 | por Marta Dias

29 de outubro de 1936: chegam ao Tarrafal os primeiros presos políticos

29 de outubro de 1936: chegam ao Tarrafal os primeiros presos políticos Esta prisão chama-se ‘frigideira’. A luz e o ar entram através de três buracos feitos na pesada porta de ferro e por um pequeno rectângulo, aberto junto ao tecto. Durante o dia, o sol quente dos trópicos aquece as portas e as paredes deste pequeno túmulo. O ar aquece lá dentro. O calor torna-se insuportável. Os presos despem-se, mas o calor não deixa de os torturar. Dos seus corpos cansados cai o suor em bica. Se são muitos, condensam-se no tecto gotas de água, e quando caem, longe de serem um alívio, são uma tortura. (…) De noite, os mosquitos vêm. Da picada do mosquito surge a febre, da febre vem a morte pela biliosa e pela perniciosa. Não são raros os casos de presos levados dali em braços ou amparados.

A ler

30.10.2020 | por Mariana Carneiro

“sou esparsa, e a liquidez maciça”: Gestos de Liberdade, ciclo BUALA no maat

“sou esparsa, e a liquidez maciça”: Gestos de Liberdade, ciclo BUALA no maat Numa sociedade ainda marcada por profundas desigualdades de género, entendemos a emancipação e liberdade como processos assentes em contínuas e escorregadias disputas no quotidiano. Nestes dias, partilhamos abordagens de cineastas, artistas, curadoras, investigadoras para avançarmos com perspectivas de mundo onde as práticas de liberdade se inscrevem em cada gesto ou situação propostos.

Vou lá visitar

15.09.2020 | por Marta Lança

Liberdade /diáspora a cronologia universal da descolonização da História

Liberdade /diáspora a cronologia universal da descolonização da História A presença assertiva, quase arrogante, e o dandismo performado pelos/as personagens retratados/as, demarcam as fotografias de Diop de uma qualquer humilde dignidade, expressão imagética da subjetividade colonizada que o racismo consente. Trata-se, sim, da mimese (mimicry) de que nos falava Homi Bhabha, aquela em que o fracasso na identificação narcísica com os modos de representação do colonizador, o carácter sempre inapropriado dos sujeitos coloniais, cria uma ambivalência que, num espelho cómico e trocista, perturba a autoridade encenada pelo discurso colonial.

A ler

04.11.2018 | por Bruno Sena Martins

Somos todos uma singularidade qualquer

Somos todos uma singularidade qualquer É a possibilidade de descobrir que todos somos uma singularidade qualquer, igualmente amável e terrível, prisioneira das malhas do poder, à espera de uma insurreição que nos permita mudar a nós mesmos.Que amemos o comunismo quer dizer que acreditamos que as nossas vidas, empobrecidas pelo comércio e pela informação, estão prontas a elevarem-se como uma onda e a reapropriarem-se dos meios de produção do presente.

A ler

17.01.2017 | por Claire Fontaine

Terra Prometida

Terra Prometida Conscientes ou não da sua condição de “escravos”, relacionavam-se entre si como membros da mesma comunidade. Fossem essas relações de entreajuda, dependência ou poder; fossem violentas ou pacíficas; fossem práticas voluntárias ou involuntárias, existiam e tinham lugar dentro de uma prisão colectiva. Dado que não se estava perante a terra prometida, a possibilidade desse mito ser alcançado só podia ter lugar fora dessa jaula; um pouco como o escravo de outrora só poderia alcançar a verdadeira terra de origem deslocando-se para fora da comunidade em que estava enjaulado.

Vou lá visitar

15.04.2015 | por Ana Rita Canhão

Rap guineense: a Guiné ouvida por todos

Rap guineense: a Guiné ouvida por todos Nova Geração. Masta Tito, os Baloberos, FBMJ, Best Friends, Cientistas Realistas, entre outros, continuam a cantar principalmente em crioulo e, juntando o francês e as “línguas maternas”, conectam o rap/hip hop com as raízes e o mundo. Cantados pelos palcos do país, desde o Lenox de Bissau até às várias discotecas onde as pistas de dança se transformam em “palcos”, em concertos play-back com momentos de free style (se os microfones permitirem), a performance tenta preencher o que a falta generalizada de meios técnicos castiga. Ainda assim, o corpo e a boca no microfone mudo comunicam.

Palcos

23.03.2012 | por Joana Sousa

Fadaiat

Fadaiat Os encontros Fadaiat duram, regra geral, 3-5 dias e são compostos por debates, ateliers, projecções de vídeos, apresentação de trabalhos de investigação de longo curso, streaming de rádio e de televisão (em directo das mais variadas partes do mundo), e acções concretas sobre os temas da Liberdade da Informação/Liberdade de Movimentos.

Jogos Sem Fronteiras

05.01.2012 | por Ana Bigotte Vieira

"Lembro-me que ele saiu da prisão com um sorriso"

"Lembro-me que ele saiu da prisão com um sorriso" Durante os anos em que Nelson Mandela esteve preso, a sua imagem estava interdita ou tinha sido diabolizada. Da prisão, surge um homem alto, de expressão digna, andar lento e sorriso sereno. Um gigante mas não no sentido que o apartheid lhe tinha querido dar.

Cara a cara

11.11.2011 | por Ana Dias Cordeiro

Os sete sapatos sujos

Os sete sapatos sujos A força de superarmos a nossa condição histórica reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva.

Mukanda

25.08.2010 | por Mia Couto