O Passado e o Presente
Arise, O compatriots, Nigeria’s call obey
To serve our fatherland
With love and strength and faith
The labour of our heroes past
Shall never be in vain
To serve with heart and might
One nation bound in freedom, peace and
unity.
Hino Nacional da Nigéria (1978)
A exposição Before, Before & Now, Now nasce de uma colaboraçãoentre a galeria Tafeta, em Londres, e o MIRA FORUM, com co-curadoria de Inês Valle e Charles Gore, professor de história da arte africana na SOAS (School of Oriental and African Studies).
São várias as imagens fotográficas que nos permitem reconstituir uma narrativa sobre a história da Nigéria, desde a ocupação colonial britânica, nos finais do século XIX, e a realização da Amalgamation em 1914, até ao momento-chave da conquista da independência nacional em 1960 e o período contemporâneo.
Elabora-se, assim, um extenso percurso visual que cruza o passado e o presente, o trânsito contrastante entre o antes (before) e o agora (now), uma reflexão sobre a memória em registo fotobiográfico que documenta o nascimento, a evolução e a complexidade da nação nigeriana, revelando a arquitectura, as diferentes sociedades, a paisagem rural e urbana e as imagens cinematográficas.
A imagem de Aisha Augie-Kuta retratando três meninas de saia e t-shirt encostadas a uma cabana difere dos trajes típicos envergados pelas mulheres nos inícios do século XX. Repare-se, por exemplo, no fascinante olhar da jovem à soleira da porta.
O autoretrato que surge na fotografia de Adeola Olagunju em que a própria artista segura e lê Excuse me, de Victor Ehikhamenor, ou a imagem de Emeka Okereke mostrando um viajante e uma mala que esperam no metro de Paris, encontram um contraponto na cerimónia que celebrou a Amalgamation em 1914, registada por Alfred Carew.
Ainda a embarcação encalhada nas costas do Atlântico, fotografada por Adolphus Opara, parece responder à construção de um pequeno navio pela administração colonial num passado recente. A ideia de civilização baseada na técnica e no progresso industrial repousa agora no fundo do oceano.
Vejamos igualmente que o rosto iluminado da cantora Nneka, notado pelo fotógrafo Andrew Esiebo, contraria a austeridade solene de um Oba nigeriano sentado num triciclo, captada por J. A. Green.
Na época contemporânea a bravura e a coragem dos bombeiros nigerianos, numa imagem devedora da estética fotojornalística de N. W. Holm, mantém viva a recordação de que, até meados do século anterior, o único veículo existente para extinguir as chamas pertencia às autoridades coloniais que só muito relutantemente o forneciam às populações locais. Os principais recursos técnicos eram controlados e dominados pela elite colonial que, tendo o poder de agir, poderia explorar de forma mais eficaz as fragilidades do povo nigeriano. Esta imagem, no presente século, representa uma reivindicação contra uma injustiça histórica: a negação de uma necessária autodeterminação.
O título desta exposição não é uma repetição inconsequente. Revela que o tempo histórico da Nigéria, através da fotografia dos antigos e dos modernos, é tanto um eco do passado como do presente. Que imagem fixará a Nigéria do futuro?