Vídeo Rasura
O vídeo RASURA, que concebi em Agosto em São Tomé, com a realização do Lubanzadyo Mpemba e a edição de som da Sara Morais. O convite do investigador Álvaro Seiça para o projeto ERASE! tinha como ponto de partida a exploração da dimensão de apagamento no meu trabalho literário, académico e pessoal. Além do apagamento, decidi explorar a dimensão da rasura, por considerá-la mais adequada às metáforas, analogias e ideias que quis explorar.
Parto da rasura para além do sentido gráfico e computacional, mas no sentido ontológico e identitário, com a oratura lida como ferramenta de reconfiguração da história e geradora de tensões face à materialização de fronteiras literárias e identitárias (a partir de cânones, normas, paradigmas, etc.).
Penso na rasura lida desde a efemeridade do meu percurso de poesia oral e performativa, uma poética do corpo presente que vive dessa passagem do corpo/voz por diferentes palcos, desde a ideia de corpo enquanto arquivo.
Reflito sobre a rasura enquanto repressão e censura, lido à luz do decreto do teclado de modelo português da máquina de escrever HCESAR, publicado em pleno Estado Novo, e a forma como essas indicações políticas traduzem formas de repressão desde o próprio ato de escrever.
Deambulo sobre a rasura onírica. Sobre escrever o que fica desde uma dimensão subconsciente que apaga tensões, interpretações e sinapses, mas que ao mesmo tempo transporta a base do nosso icebergue poético.
No vídeo, tudo isto dialoga com o apagamento e a rasura do próprio espaço, atendendo as ruínas coloniais que ocupam parte da paisagem (arquitectónica, histórica, sociopolítica e emocional) de São Tomé e Príncipe.
Todos estes pressupostos e assim como as paisagens do vídeo transportam para a materialização de impossíveis, seja pela estética literária, seja pela procura de outras formas de existência apesar das variadas formas de apagamento e rasura.
Ver o vídeo aqui: https://erase.artdel.net/rasura/