A lógica da expansão contínua do capital, através da construção de um espaço abstrato e global para o seu livre movimento, colide com as divisões das jurisdições soberanas. Como argumentaremos ao longo do livro, o processo de inscrição do poder político metropolitano de Lisboa no território colonial angolano traduz esta tensão, observável a partir das distintas e não coincidentes temporalidades entre a expansão da malha administrativa e burocrática imperial na colónia, da dominação militar e da penetração dos investimentos extrativistas na colonia.
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14.02.2025 | por Franco Tomassoni
O corpo negro é um dos termos aborrecidos, limitantes e desgastantes que abundam no discurso decolonial. O facto de ser um termo desconhecido, ou quase desconhecido, na Guiné-Bissau, faz-me perguntar: como é que se decoloniza a África sem os africanos estarem envolvidos?
A ler
12.02.2025 | por Marinho de Pina
A pedagogia de palmatória reforça a violência simbólica na sociedade e sobretudo no que tange à violência doméstica tendo em conta a divisão de tarefa e responsabilidade de uma forma machista, colocando o marido como o absoluto e resto da família sob suas ordens e perspectivas, negando toda a possibilidade de diálogo e visões opostas sobre os problemas no seio da família. Essa violência simbólica encontra-se nas escolas através de subordinação dos usos e costumes dos outros grupos sociais.
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12.02.2025 | por Kumpaku Bua Pogha
Ana Bigotte esclareceu como o processo curatorial se definiu enquanto exercício contínuo e fluido. Uma vez que a equipa admitiu ser tão impossível como incorrecto e indesejável propor uma história unificada e conclusiva da dança, afastou de imediato afastado qualquer desígnio de elaborar uma narrativa absolutizante e categórica. Em contrapartida, adoptou que nas narrativas da dança estão comportadas múltiplas facetas, muitas histórias entrelaçadas e compostas por uma série de fragmentos e questões.
Palcos
11.02.2025 | por Vanda Gorjão
A realidade, que não gosta de boas intenções, deixou de obedecê-la, e ela sentiu-se livre. Mas não feliz. Libertou-se aparentemente da maldição por cantar o Amor, mas um amor apócrifo. Não se sentia verdadeira apesar de aliviada. Não se sentia inteira. Voltou então à realidade, à violência, de forma ainda mais radical, mais excessiva, mais ruidosa, mas sem cálculos, sem conveniências. Com a consciência das suas causas, e à prova das suas consequências.
Palcos
10.02.2025 | por Brassalano Graça
Apesar de ser autónoma financeiramente e não se sentir pessoalmente descriminada, Maria Eugénia da Cruz era sensível à «condição colonial» inspirada pela sua consciência política, motivando-a a tomar ação perante as circunstâncias do seu tempo, facto que a torna uma mulher invulgar, não só naquela época específica, mas em qualquer época que exija rejeição da convenção e conformismo perante uma ordem social injusta. Maria Eugénia não foi guerrilheira, nem enfermeira, nem conselheira política do movimento nacionalista. Juntou-se aqueles que queriam mudar o destino de Angola. Foi camarada, foi companheira e esposa de um nacionalista angolano.
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06.02.2025 | por Aida Gomes
Há um vazio gritante no continente de vozes inspiradoras e contagiantes. O colonialismo eliminou parte das lideranças históricas de África, mas, paradoxalmente, a maior parte dos líderes que seriam imperiosos no devir pós-colonial de África foram eliminados, assassinados, pelos próprios africanos. A História não se faz sem líderes visionários, sem génios. Foi esse o segredo da revolução europeia – foram os seus génios, religiosos, científicos, políticos e humanistas.
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02.02.2025 | por Brassalano Graça
Gentil vinha da China e tinha percebido que havia uma certa desmobilização por parte de alguns quadros do MPLA. E quando ele lança o “Movimento de Reajustamento”, ele é o homem do Reajustamento, ele mais o Gika, ele queria transformar aquele facto do Movimento de Reajustamento, num estímulo para a participação dos quadros na luta. Mas isso seria feito de forma faseada e cuidada. O Neto, do meu ponto de vista com “todos para o interior”, levaria a… Porque a PIDE sabia de tudo, de todas as rotas de passagens. E nós sabíamos.
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02.02.2025 | por Elisa Scaraggi
Todas as correntes e sensibilidades político-ideológicas, salvo quiçá a nacionalista moderada representada por Manuel (Lela) Rodrigues, parecem ter esquecido e ignorado (e/ou, talvez, até ter desconhecido) completamente o plano constante do Memorando do PAIGC apresentado ao Governo português, em Dezembro de 1960, e que, afinal, se aplicou em vários casos similares ao da ambiência democrática existente em Cabo Verde do período imediatamente posterior ao 25 de Abril de 1974 até aos inícios do mês de Dezembro de 1974. Perderam sobremaneira Cabo Verde e o povo caboverdiano, sobretudo em ganhos históricos de execução política de experiências em democracia pluralista. Não por causa de Amílcar Cabral, mas apesar de Amílcar Cabral e do seu plano de transição plenamente democrática para a nossa independência política, de matriz indubitavelmente democrático-liberal, hoje tão justamente incensada e festejada!
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02.02.2025 | por José Luís Hopffer Almada
O protesto, que começou com a ocupação da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em Belém, a capital do estado, já reúne mais de cinquenta etnias, professores, ativistas sociais e o apoio de entidades nacionais e internacionais. A cidade será sede, em novembro de 2025, da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que reunirá líderes mundiais, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil para discutir e negociar políticas climáticas globais, com foco no combate às mudanças climáticas e na implementação do Acordo de Paris.
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29.01.2025 | por Gabriella Florenzano
“O didgeridoo é como um iceberg: as pessoas só veem a ponta, que é o instrumento em si, mas por detrás ou por baixo existe uma cultura imensa, uma das mais antigas do mundo. Na cultura aborígene australiana, o didgeridoo é apenas um pequeno elemento, e há muito mais de significativo para explorar.”
Cara a cara
28.01.2025 | por Maria Prata
Apenas tinha consigo uma fotografia da mulher quando era ainda uma rapariga, retrato em que ela lhe parecia da Indochina, muito segura, numa gola em bordado inglês. Dava conta de ir se esquecendo a pouco e pouco da cara dela. Só restava a sua voz do outro lado da linha como lembrança, a cada mês mais estrangeira e recomposta, à medida que a saúde ia melhorando.
A ler
27.01.2025 | por Luciana Martinez
Numa conversa extensa, o académico e ativista guineense Sumaila Jaló ajuda a entender mais uma crise complexa, que adia novamente o futuro da Guiné-Bissau. Neste xadrez, Sissoco Embaló é peão, é rei e dita as regras. Os oponentes acusam-no de instaurar uma ditadura no país, perseguir os opositores, cooptar as instituições do país e de alinhar-se com militares envolvidos no tráfico internacional de droga.
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21.01.2025 | por Pedro Cardoso
moribundo mundo imperial português do seu
privilegiado estatuto da sua subversiva condição
de suboficiais e de estudantes ilhéus
da Casa dos Estudantes do Império
para a sua futura transmutação
em responsáveis e dirigentes políticos
em comandantes da luta armada
de libertação bi-nacional dos povos
irmanados da Guiné e de Cabo Verde
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20.01.2025 | por José Luís Hopffer Almada
Durante muito tempo, aterrorizava-me a cena final de Kids, o filme de Larry Clark, que estreou há 30 anos (1995). Vomitei internamente mas também externamente, tenho quase a certeza, naquela cena cruzada de contaminação: Telly, personagem interpretada por Leo Fitzpatrick, que mais tarde veríamos como Johnny Weeks no The Wire), viola Darcy (Yakira Peguero), adormecida e abandonada no final de uma festa, já depois de sabermos que Jennie, interpretada pela icónica Chloë Sevigny, foi contaminada por Telly e tem HIV. Jennie acaba por colapsar também nessa festa e é violada por Casper, Justin Pierce (skatista e arruaceiro, que morreu em 2000), amigo de Telly, e assim contaminando-o. “What just happened?” é a frase que fecha o filme e que me assombrou durante mesmo muito tempo.
A ler
18.01.2025 | por Patrícia Azevedo da Silva
Walter Salles, o terceiro cineasta mais rico do mundo, que “perde” apenas para George Lucas e Steven Spielberg, com um patrimônio herdado de origem bem controversa, reunindo o Unibanco, fruto de uma expansão beneficiada pela política de centralização bancária da ditadura brasileira, com a metalurgia e mineração que dominam 80% do mercado mundial de metal, sabe perfeitamente disso.
Afroscreen
18.01.2025 | por Gabriella Florenzano
A violência e a opressão manifestam-se desde o início da narrativa no cenário infernal do trabalho desumanizado, na inclemência do sol, no sofrimento silencioso de um velho, atinge o auge na hora do almoço (na violação de Maria), mas avança ainda, sem decrescer, até uma explosão, no espancamento brutal (e morte?) de um jovem trabalhador, para depois se atenuar no retorno ao trabalho (e à cena inicial), em obediência às ordens do capataz – e também às palavras firmes de Djimo. No fim, já nada é o mesmo; algo indefinível está em movimento e o leitor pode continuar a história como melhor lhe aprouver.
A ler
16.01.2025 | por Maria de Lurdes Sampaio
O amor – e quando falo de amor também estou a falar de amizade – é político muito para lá desta ideia negociada das contrapartidas, de uma gestão do que se ganha e se perde numa relação de amor, apesar de não haver nada errado com as expectativas de que se ganham coisas numa relação de amor (e se perdem), ou das escolhas que fazemos, conscientes, sobre quem queremos manter na nossa vida. Porque aquela primeira efervescência que nos empurra para o sujeito da nossa admiração pode ou não ser desenvolvida. Pode ou não ser trabalhada: à semelhança das festas do divino, como propõe João Leal, o amor dá muito trabalho.
Mukanda
15.01.2025 | por Patrícia Azevedo da Silva
subsistem ainda em vários Estados da CPLP fortes resquícios do Estado policial e autoritário, sendo, por um lado, corriqueiras e sistemáticas as violações dos direitos humanos e dos direitos, liberdades e garantias dos seus cidadãos, e, por outro lado, a quase totalmente descredibilização das eleições periodicamente realizadas (mas nem sempre e com regularidade em todos os países da CPLP) para os diversos órgãos de soberania e os vários níveis do poder político. Isso mesmo atestam os mais recentes acontecimentos em vários países afro-lusófonos.
Jogos Sem Fronteiras
15.01.2025 | por José Luís Hopffer Almada
O meu adultecer foi uma transição triste: de um lado a rapariga punk que lutava para nunca ser igual (nem a si, nem aos outros), de outro lado a rapariga frágil e aflita que só queria ser acolhida. Já não confrontativa mas em conformidade. Como fazer isto sem ser cúmplice de tudo aquilo contra o que antes me tinha revoltado? Constituí-me num processo contra as instituições e contra um tempo heterossexual, apenas para perceber que o meu ódio à família só seria equiparado à minha necessidade absurda de família. Estudar, trabalhar, viajar, fazer amigas: tudo isto fazia parte de um projecto maior e mais abrangente que era ser mãe.
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14.01.2025 | por Patrícia Azevedo da Silva