cheira a Porto – com o perdão da adaptação da canção popular imortalizada na voz de Amália. Tem o cheiro das sardinhas a assar na rua e dos manjericos nas mãos. Ok, às vezes, o odor é um pouco duvidoso, o do alho-porro, símbolo de fertilidade de épocas muito mais antigas do que a chegada de qualquer santo na Península Ibérica, e que os homens encostam na cabeça de quem passa por pura benfeitoria, mas cuja fragrância nada convidativa o fez ser substituído pelos coloridos martelinhos de plástico. Dizem que as mulheres costumavam levar raminhos de oliveira pelas ruas, significando os pelos púbicos, que punham na cara dos homens que passavam.
A ler
23.06.2025 | por Gabriella Florenzano
Quando acossados por organizações internacionais que denunciam a existência de presos políticos, esses regimes fraudulentos, para a sua propaganda, põem o líder a simular indultos, amnistias e outro tipo de “perdões” com o objectivo de mostrar forjada “magnanimidade e humanismo” do líder. Nesse regime totalmente fraudulento, barões do partido-estado controlam o crime organizado e todos os grandes negócios, sobretudo os escuros com multinacionais da indústria extrativista, peça indispensável nesse complexo e perverso processo.
A ler
22.06.2025 | por Luzia Moniz
Os ataques vis contra os direitos dos imigrantes são ataques contra os direitos de todas e todos nós. E o discurso de ódio e violência com que querem contaminar o país visa todas e todos os que acreditam na Justiça, na Igualdade, na Liberdade. Os desafios do momento presente, e aqueles que se avizinham no horizonte, exigem-nos uma luta feroz e intransigente pelos direitos de todas e de todos.
Cidade
21.06.2025 | por Mariana Carneiro
Muita coisa se alterou, certamente, de há um século para cá. Já não existe nem União Soviética nem uma transformação revolucionária global parece hoje uma ideia minimamente exequível. O que persiste, mesmo que em condições mudadas, é o racismo estrutural como elemento indispensável para o funcionamento do capitalismo, hoje em decomposição acelerada e num devir profundamente violento. Os termos dos debates de há cem anos continuam a ecoar nos debates actuais entre «os que nada temos a perder», e será por certo esse o interesse de os manter presentes.
A ler
20.06.2025 | por Fernando Ramalho
Há uma questão geracional que é a de gostar de muitas coisas e não gostar de nada, ter muitos estímulos e ao mesmo tempo um niilismo existencial de que isto não serve para nada, uma precariedade laboral muito grande, uma infantilidade ou infantilização que leva, de facto, à dificuldade em tomar decisões, a uma superproteção. Não há necessariamente uma questão de género embora, as raparigas (do casting) tenham uma ideia de ser mulher, o que implica uma força e desenvoltura de «isto é a minha voz e quero tê-la», enquanto os rapazes estão mais perdidos.
Afroscreen
19.06.2025 | por Marta Lança e João Rosas
Instalação artístico-política e de caminhadas de ressignificação da paisagem arbórea urbana. Com uma leitura decolonial das árvores centenárias de Lisboa, interrompe-se a narrativa exotizante, reintengrando contextos de deslocamento e exploração das espécies trazidas de diferentes geografias ocupadas. Investiga-se coletivamente a colonialidade urbana, a resistência cultural, assim como a interdependência entre seres humanos e não-humanos e epistemologias ancestrais reparadoras.
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18.06.2025 | por várias
Devia haver alguns que tinham uns arranjinhos, porque a família lhes dava umas coisas, mas no geral era isso. Todos nós tínhamos um salário, era igual para todos. Com aquele salário tínhamos de comer, pagar a água, tínhamos de pagar a luz, só não pagávamos a renda da casa. A renda não era paga pelos funcionários. E aquilo que eu ganhava e aquilo que o meu pai ganhava era entregue ao partido, independentemente de ser muito ou pouco.
A ler
17.06.2025 | por Josina Almeida
Este ciclo procura exibir alguns dos produtos cinematográficos que, desde meados da década de setenta e até hoje, saíram do território. Convocando múltiplas temporalidades e respetiva complexidade histórica – a euforia e a urgência da revolução, a angústia da guerra e a reconstrução nacional, o colapso da promessa socialista e a sua reconfiguração numa chave capitalista e neoliberal –, a programação que aqui incluímos é uma oportunidade para refletir na pluralidade e polissemia do cinema angolano. É também o testemunho da sua fertilidade e resiliência criativas.
Afroscreen
17.06.2025 | por Sofia Afonso Lopes
Se somos feministas negras, se somos até feministas guineenses, aquilo importa, porque nós falamos de um contexto. Não podemos, em nenhuma circunstância, igualar uma mulher, por exemplo, guineense, que nasceu nesse contexto, cresceu, com uma mulher que praticamente fez as suas vivências em Portugal.” – explicou Lizidória.
A ler
16.06.2025 | por Miriane Peregrino
Na tarde do primeiro dia, o grupo promotor da carta - pessoas que fazem livros, tristes pela falta de iniciativas contra o genocídio em curso - montaram uma banca onde trocaram as suas obras pelo montante que as pessoas quisessem dar. Fizeram-se 1000 euros que reverterão integralmente para a Watermelon Relief, uma organização que continua a resistir na Palestina, prestando auxílio humanitário com distribuição de refeições e outros cuidados. Imagine-se o apoio que se poderia recolher em ações continuadas promovidas pela organização da Feira do Livro.
Mukanda
15.06.2025 | por várias
Domicilia, os nomes são destinos, entra na clandestinidade aos 7 anos de idade para dela sair aos 20, quando parte para França em rutura com o Partido. Na história das estruturas clandestinas que o PCP montou, no decurso da luta contra a ditadura fascista, foi um raro caso: desde tão tenra idade até à maioridade, viver uma vida paralela, não isenta de riscos e dificuldades. Normalmente, os pais de crianças pequenas que escolheram esta vida, mais livremente ou condicionados com a perspetiva de já serem alvo de vigilância pela polícia política, separavam-se dos filhos na altura de frequentar a escola ou quando começavam a falar, por ameaçar a segurança da Casa.
Cara a cara
15.06.2025 | por Josina Almeida
Como é mais fácil bater no mais fraco… parece que os tugas não querem ter um dedo de testa. A direita diz que não gosta dos imigrantes, mas explora-os. A esquerda põe as costas da mão esquerda na testa e a direita no peito e exclama, com suspiros profundos e lânguidos: “ah!, se não fossem os imigrantes.” Mas conseguem ficar ambas unidas em torno dos imigrantes, porque olham para eles não de forma humanista, mas utilitarista: “olha que têm bons dentes…” ou “a cavalo dado…”.
A ler
15.06.2025 | por Marinho de Pina
Por isso sim, se acreditas num mundo mais justo e queres ser activo nessa transformação, és uma ameaça a este Estado. Quase que basta apenas seres um cidadão preocupado. Elencos, músicos, imigrantes, negros, assistentes sociais, mulheres, anti-fascistas, transeuntes, trabalhadores, jornalistas, queers, militantes, artistas; somos todos ameaças a este Estado; e é também aí que entra a impunidade à extrema-direita: ela é instrumental e o braço armado deste Estado de coisas, para nos impor o medo e meter-nos na ordem.
Mukanda
15.06.2025 | por António Brito Guterres
Nós, mulheres negras, quase nunca somos primeira escolha. E, quando somos, é porque alguém — geralmente branco — demonstrou interesse em nós. Por vezes, aceitamo-lo. Não porque é o que realmente queremos, mas porque finalmente alguém nos viu. Mas essa aceitação vem cheia de dúvidas: “Será que estou a ser objetificada?” “Será que essa pessoa realmente me ama?”
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15.06.2025 | por Valdeth Dala
Sempre haverá, é certo, quem entenda que não precisávamos de saber tanto sobre Herberto Helder. E não me refiro aos aspectos amorosos ou sexuais, falo de pormenores como os cereais do pequeno-almoço ou afins. Simplesmente, tudo isso é próprio das grandes biografias, podendo eu, se quisesse, dar dezenas de exemplos de dezenas de biografias que utilizam esta mesma técnica para seduzir o leitor (sim, para além de um encontro de obsessivos, este livro é também um encontro de sedutores, de sedutores que usam ou usaram o verbo como a arma principal do seu arsenal erótico).
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14.06.2025 | por António Araújo
Baldwin tinha então tudo – e bastante legitimidade – para escrever com raiva e revolta sobre a crueldade da discriminação racial, sobre a destruição que um sistema como o racismo causa e espalha na vida daqueles que dele são alvos. No entanto, oferece-nos o romance Se esta rua falasse, de onde faz renascer beleza no meio da adversidade, mais do que tudo: onde se resiste ao endurecimento.
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13.06.2025 | por Leopoldina Fekayamãle
Quanto aos humoristas, todos os restantes humanos se riram com as opiniões deles sobre o que eles achavam sobre o assunto, uns por terem percebido o que estava em causa, outros antes pelo contrário. Com a quase extinção da ironia e sempre levados a sério, renderam-se quase todos à confortável extinção a que tinham sido votados. Talvez o riso tivesse sido sempre sobrevalorizado.
E depois no final de contas, do de que se queixavam? Não tinham eles afirmado tantas vezes “it’s funny ‘cause it’s true?”
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09.06.2025 | por Pedro Goulão
Um momento em que Israel já não se preocupa em esconder as suas ações por detrás de fachadas humanitárias, mas despreza abertamente a própria linguagem que outrora mascarava a sua violência. E o mundo está a ser desafiado –a intervir, a confrontar o facto de que as suas intervenções e discursos sempre fizeram parte do problema, sempre vazios e desprovidos de substância. Poderíamos perguntar aos liberais o que resta deste idioma, não apenas em Gaza, mas nos futuros que se avizinham?
A ler
05.06.2025 | por Bruno Costa
A filha quer saber como foi que aconteceram as coisas, e a mãe responde-lhe com uma receita. Ou seja, com instruções. A filha quer uma descrição e a mãe dá-lhe uma prescrição. Esta frase resume o processo todo do teatro. Começa com uma interrogação: «Como é que foi?» Em vez de se responder, cria-se um conjunto de prescrições sobre como se deve formular a pergunta: «Numa taça, juntas a manteiga amolecida.» E no fim tem-se o crumble de maçã, que é As Castro.
Palcos
05.06.2025 | por Miguel Castro Caldas
África não é um “mercado” não explorado, mas um “produto” exageradamente explorado. No plano cultural mais inócuo, ativistas ‘afro’-brasileiros também levam as suas lutas e os seus discursos para iluminar a nossa população obscurecida e acordá-la contra a opressão do homem branco, apesar de os nossos opressores diretos sejam tão africanos e tão pretos quanto nós, e acabamos colonizados por um discurso desconexo das nossas realidades.
A ler
04.06.2025 | por Marinho de Pina