Performando Sentimentos Públicos, Ana Pais

Sentimentos públicos são forças invisíveis que circulam na esfera pública, modelando desejos, informando escolhas e, muitas vezes, determinando comportamentos. No entanto, a dificuldade em reconhecer como eles influenciam, tanto a nossa experiência afectiva individual quanto colectiva, tem implicações profundas na vida pública, em particular, no que respeita à pluralidade da democracia e ao exercício pleno da cidadania.

A minha hipótese de trabalho é a de que as artes performativas frequentemente sintonizam com os sentimentos públicos dominantes num determinado momento e contexto histórico, revelando as suas forças invisíveis durante o encontro com o público. Além das práticas artísticas, darei atenção ainda a outras práticas sociais que recorrem à performance pública de sentimentos que reverberam no colectivo (discursos políticos e institucionais, bem como a respectiva difusão nos media), trabalhando sobre a noção da performatividade dos sentimentos públicos: o que nos fazem, como nos atravessam e o que podem as artes performativas contribuir para o seu discernimento e, consequentemente, para uma vida cívica plural?

29.11.2023 | par martalanca | afeto, Ana Pais, artes performativas

"Quem tem medo das emoções?", novo livro de Ana Pais

No próximo dia 25 de Setembro, o livro será o foco de uma caminhada que integra o programa Caminhadas com Arte, organizado por Lavrar o Mar, em Monchique.

O livro é disponibilizado gratuitamente em todos os eventos promocionais.

As próximas acções de divulgação em que Ana Pais estará presente são:

Teatro Viriato, em Viseu

1 de Outubro 17h

Long Table: conversa aberta com o público a propósito do tema pandemia e afectos.

Teatro Garcia de Resende, em Évora

8 de Outubro 18h

Conversa aberta com o público sobre teatro e afectos.

Festival Temps D’Image, em Lisboa (quiosque da Praça José Fontana) 

15 de Outubro 18h30

Conversa com Eunice Gonçalves Duarte (performer), Graça P. Corrêa (encenadora e investigadora CFCUL) e Jorge Martins Rosa (investigador ICNOVA) sobre emoções e a sua circulação no espaço público (nomeadamente, nos media digitais) e sobre como a arte pode contribuir para uma consciência colectiva dessa circulação.

Materiais Diversos, no Centro Cultural do Cartaxo

22 Outubro 16h

Conversa com Beatriz Cantinho, Túlio Rosa e convidado a confirmar integrada n’O Tempo das Cerejas / Quem tem medo das emoções?

Teatro Municipal do Porto, no Foyer do Teatro Campo Alegre

29 de Outubro, 15h30

Lançamento no Porto Acção integrada no festival Double Trouble #05.

Convidados: Né Barros (coreógrafa) e Gustavo Carona (médico)

*Ana Pais é investigadora em artes performativas, dramaturgista e curadora. Nos últimos anos, tem vindo a trabalhar, no contexto das artes performativas, as atmosferas afectivas geradas no espaço público que condicionam a nossa experiência íntima. Nesse âmbito, destacam-se o seu livro Ritmos Afectivos nas Artes Performativas (Colibri, 2018) e os encontros Em Fluxo: sentimentos públicos e práticas de reconhecimento (2019) que comissariou.*

Mais informações.

21.09.2022 | par Alícia Gaspar | afectos, Ana Pais, corpo, emoções, literatura, pandemia, quem tem medo das emoções?

Lançamento do livro "Quem tem medo das emoções?" de Ana Pais

Escrito, na sua maioria, num lugar sensível, à flor da pele, este livro é uma espécie de abraço. Uma viagem sobre emoções e afectos, que circulam no espaço público, na qual conhecimentos especializados se tornam acessíveis.

Ana Pais é investigadora em artes performativas, dramaturgista e curadora. Nos últimos anos, tem vindo a trabalhar, no contexto das artes performativas, as atmosferas afectivas geradas no espaço público que condicionam a nossa experiência íntima. Nesse âmbito, destacam-se o seu livro Ritmos Afectivos nas Artes Performativas (Colibri, 2018) e os encontros Em Fluxo: sentimentos públicos e práticas de reconhecimento (2019) que comissariou.

A pandemia Covid-19 provocou um choque emocional em todo o mundo, convulsionando a vida como a conhecíamos e contaminando a nossa experiência íntima. Ainda não falámos o bastante sobre ela. Ainda não ganhámos uma maior consciência colectiva sobre como a nossa vida privada é determinada por condicionantes políticas, mediáticas, sociais ou culturais. O livro de Ana Pais Quem tem medo das emoções? reúne episódios em que esses condicionamentos são evidentes fazendo uma ponte com abordagens teóricas contemporâneas, numa perspectiva não de um relato do passado, mas de construção de futuro.

“Parece-me cada vez mais fundamental encontrar formas de lidar com os sentimentos públicos de forma ética e socialmente responsável”, afirma Ana Pais. Nos 16 breves capítulos que constituem este livro, viaja por temas de natureza muito diferente: atmosferas de medo, varandas, Marcelo Rebelo de Sousa, 25 de Abril, mãos, transmissão, abraço, espectáculos… Cada tema é abordado a partir de experiências concretas e situadas com que o leitor se pode imediatamente identificar.

Quem tem medo das emoções? procura tornar conhecimentos especializados sobre emoções e afectos acessíveis a todos. Mostrar a relação determinante entre os afectos que circulam no espaço público e a experiência afectiva privada. É um livro que fala de como o vírus nos mostrou que o outro é vital para a nossa sobrevivência.

Excertos

“Escrevi a maior parte destes textos de um lugar que todos, cada um à sua maneira, habitámos durante a pandemia do Covid-19: um lugar sensível, à flor da pele. Limitado o nosso movimento, a nossa pele expandiu, intensificando emoções. A pele é o lugar de manifestação de sensibilidades para com o outro e para connosco em contexto de alta tensão – contacto e fronteira com o exterior e com o interior. À flor da pele, os nossos nervos explodem face ao que nos surpreende a cada momento: o medo de ficarmos (ou de os nossos ficarem) doentes, o pânico do contágio que se infiltra pelos poros na circulação sanguínea, a irrupção súbita de um soluço quando vemos um vídeo, lemos uma notícia ou escrevemos uma mensagem, a saudade de todos os que amamos. Pequenas explosões que rebentam na pele, diariamente. Esta outra casa agigantou-se à medida que fomos sendo privados do nosso quotidiano habitual, destacando reacções e sentimentos contra o pano de fundo do isolamento ou do cumprimento de funções essenciais. Como uma espécie de tela onde se inscrevem as marcas de um processo individual e colectivo, a pele é a caixa preta deste período nas nossas vidas.” (capítulo Pele)

“Acredito que todos consigamos evocar uma situação em que a impressão da atmosfera foi palpável, desde o impacto de multidões, num estádio de futebol cheio de adeptos, num discurso político em plena campanha ou num concerto de música pop ao vivo, em que as forças do entusiasmo competem, o empenho ideológico vibra ou a admiração pelos músicos se expressa em gritos e ondas de aplausos, até situações do quotidiano em que uma subtil tensão ou, pelo contrário, descontração, pode contaminar o tom emocional de uma reunião de trabalho, de uma palestra ou de um jantar de família ou entre amigos. Estamos, pois, sintonizados com o ambiente afectivo que nos envolve e afecta. Sendo mais ou menos claras, mais ou menos palpáveis, as atmosferas exercem o seu poder sobre nós, sobre os corpos individuais. É esse o poder do contágio.” (cap. Atmosferas Afectivas)

“Ontem o Marcelo falou, mas não percebi nada”, dizia um trabalhador na esplanada do café da esquina, no último dia em que esteve aberto, ou seja, o dia após o anúncio do Estado de Emergência (iniciado a 18 de Março de 2020). E acrescentou: “Só percebi que temos um inimigo e que ele é invisível”. Muito provavelmente, esta foi a ideia que a maior parte da população fixou do discurso do Presidente da República. A outra ideia foi, seguramente, a de estarmos a viver uma guerra, metáfora amplamente utilizada pelos governos para mobilizar as populações, o que, aos olhos da Europa dos nossos dias, parece uma profecia ou uma piada de mau gosto.” (cap. Marcelo)

“Um pensamento é suficiente para envenenar o sangue. É como um pacotinho de chá mergulhado na água a ferver. Inerte e aparentemente inofensivo, o seu conteúdo contamina o ambiente onde submerge. O aroma das plantas vai-se diluindo, serpenteando suavemente em pequenas ondas até que toda a água fica tingida. Em apenas alguns minutos todo o bule fica da mesma cor. O mesmo acontece com os pensamentos, que transformam o tom emocional do nosso corpo. Imaginemos que um pensamento negativo pipoca na nossa mente, dilui-se silenciosamente e mergulha no nosso sistema sanguíneo, sem nos darmos conta. De repente, todo o organismo fica tingido pelas cargas afectivas que esse pensamento transporta e, como um filtro, permeiam todos os nossos comportamentos e acções dali em diante. Adquirimos o tom emocional desse pensamento, mesmo que não estejamos conscientes dele. De que cor está o nosso sangue depois de meses de pensamentos sobre a morte, a doença ou o contágio em infusão constante na mente? E, mais recentemente, em que cor se transmutou ele depois de semanas de exposição a imagens de guerra non-stop? Será que a nossa inquietação vem não só do facto de o conflito estar a acontecer na Europa, mas também da repetição incessante das mesmas imagens, uma e outra vez?” (cap. Varandas)

© Vitorino Coragem© Vitorino Coragem

Ana Pais (Lisboa, 1974) é investigadora em artes performativas (Centro Estudos de Teatro, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), dramaturgista e curadora. É autora do livro O Discurso da Cumplicidade. Dramaturgias Contemporâneas (Colibri, 2004) e de Ritmos Afectivos nas Artes Performativas (Colibri, 2018). Organizou ainda a antologia Performance na Esfera Pública (Orfeu Negro, 2017) e a sua versão em inglês disponível para download gratuito em www.performativa.pt. Foi crítica de teatro no Público (2003) e no Expresso (2004). Como dramaturgista, colaborou com criadores de teatro e dança em Portugal (João Brites, Tiago Rodrigues, Sara de Castro, Rui Horta e Miguel Pereira) e, como curadora, concebeu, coordenou e produziu vários eventos de curadoria discursiva, dos quais destaca o Projecto P! Performance na Esfera Pública (Lisboa, 10 > 14 Abril de 2017) e Em Fluxo: sentimentos públicos e práticas de reconhecimento (Lisboa, 3 > 5 Abril de 2019).

Ação de divulgação

TBA – Teatro do Bairro Alto Lisboa, Rua Tenente Raul Cascais, 1A 4 de Junho

16h

Lançamento em Lisboa precedido de workshop das 10h às 13h.

Conversa dinamizada por Sílvia Pinto Coelho e Manuel Loff.

24.05.2022 | par Alícia Gaspar | Ana Pais, lançamento de livro, literatura, quem tem medo das emoções?

Em Fluxo - 3 a 5 de abril

3 de Abril, 18h30 Biblioteca de Marvila 

PRÁTICAS DE ATENÇÃO EM PROCESSOS DE CRIAÇÃO NA CENA EXPANDIDA CASSIANO SYDOW QUILICI Professor de teatro e performance, Instituto de Artes da UNICAMP, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo

Apresentação de práticas de atenção enquanto dispositivos de interrupção e transformação de hábitos perceptivos e existenciais, abrindo-se espaço para a emergência de processos criativos configurados de diferentes maneiras. Discussão das dimensões micro-políticas de tais exercícios. 

SUSPENSÃO E EQUILÍBRIO. RITUAIS DE PERFORMATIVIDADE NA HISTÓRIA DO BALOIÇO JAVIER MOSCOSO Professor de história e filosofia da ciência, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Madrid.

Esta conferência explora a utilização do baloiço e da dança através da história. Da Antiguidade grega à China pré-imperial até ao mundo contemporâneo, baloiçar tem sido uma forma notável de subverter a ordem social e natural. Abordarei a correlação entre oscilação, suspensão e sexo como parte de uma teoria performativa das emoções. Apesar de ser considerado hoje uma brincadeira de crianças, as origens e usos do baloiço têm raízes mais profundas. 

4 de Abril, 18h30, Museu da Água

PAUSA E(M) EBULIÇÃO: A REATIVAÇÃO DAS FLUTUAÇÕES DE FLUXO EM PROCESSOS SOMÁTICO-PERFORMATIVOS CIANE FERNANDES Performer e professora titular da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Salvador

Apresentação de processos, procedimentos e criação de sentidos a partir do Movimento Autêntico, em conjunção com sistemas de análise movimento advindas de Rudolf Laban, em especial a Análise Laban/Bartenieff de Movimento e o Perfil de Movimento de Kestenberg. Processos de criação coreográfica baseados em princípios como reativação de fluxos e ritmos, ao invés de fragmentos e montagens, enfatizam a coerência interna e transformam congelamento pós-traumático em cena pulsante, conectando realização e análise, arte e vida.

CENÁRIOS EMARANHADOS: CORPOS IMATERIAIS, AFECTOS E PERFORMANCE* LISA BLACKMAN
Professora de estudos de corpo, media e teoria da cultura, Goldsmiths – Universidade de Londres 
*conferência em inglês, sem tradução

Discutirei a distinção entre “empoderamento” (empowerment) e “desempoderamento” (disempowerment), central no trabalho de Lauren Berlant para pensar sentimentos públicos e afectos, a partir de noções de fluxo usadas pela psicologia positiva, frequentemente ligadas ao desenvolvimento pessoal e ao empoderamento, à criatividade e aos afectos positivos. Contrastarei esta ênfase na positividade com o conceito de desempoderamento como estratégia de reconfiguração dessas noções. Esta conferência incidirá sobre o arquivo de experiências que são consideradas estranhas, desconcertantes ou invulgares e que, de diferentes modos, resituam fronteiras e limites entre o self e o outro, o interior e o exterior, o material e o imaterial, o público e o privado, o humano e o tecnológico. 

5 de abril - 18h às 20h - Teatro D. Maria II 

O Jogo da Glória – Flow  Sentimentos Públicos, Cidadania e Europa

Com: Anabela Rodrigues (coordenadora do Grupo de Teatro do Oprimido), Daniel Tércio (professor e crítico de dança), Raquel Freire (cineasta), Rui Pina Coelho (professor e dramaturgo), Rui Tavares (historiador/candidato ao PE pelo LIVRE).
O Jogo da Glória – Flow é um dispositivo para debate, com o objectivo de chegar mais rápido a novas questões sobre sentimentos públicos e o modo como o fluxo, determinado por forças culturais e políticas, molda e condiciona o nosso contacto com o mundo. Qual o nosso posicionamento nesse fluxo? Como identificar a construção cultural do medo e da raiva em conflitos sociais? Como ultrapassar a vergonha como legado histórico? Como actuar perante situações de desigualdade de género? Como reconhecer as intenções escondidas num mar de afectos?  O conjunto de perguntas a que os jogadores terão de responder a cada lance de dados será elaborado ao longo dos encontros e incluirá a participação do público (presente e online).
O KIT do Jogo da Glória – Flow (tabuleiro, regras e perguntas) estará disponível para download gratuito em www.performativa.com

ENTRADA GRATUITA MEDIANTE INSCRIÇÃO PARA: FLUXOSENTIMENTOSPUBLICOS@GMAIL.COM

31.03.2019 | par martalanca | Ana Pais, Em Fluxo