Luanda's dream e a desfiguração da realidade
Com a intenção de fazer-nos ver o lado mais belo da cidade, das coisas e dos seus habitantes, Benjamin Sabby (pintor angolano) reúne em Luanda’s Dreams, uma série de telas e artefactos que desfiguram a realidade. Sonho e pesadelo, cor e movimento, plano e volume, caos e esperança articulam-se numa exposição, que acontece num momento em que as dinâmicas sociais, políticas, económicas e culturais em Angola andam, de um modo geral, entaladas entre a gerontocracia dos poderes estabelecidos e as múltiplas expressões do poder de criatividade e de sobrevivência do cidadão comum.
Benjamin Sabby escolheu como tema desta exposição uma série de novos heróis urbanos: kinguilas, kandongueiros, engraxadores, roboteiros e zungueiras, confundem o sonho da cidade com os seus próprios sonhos. No entanto, mais além do colorido que predomina na sua aparência, Luanda’s Dreams é uma exposição situada na encruzilhada entre o que mostra e o que oculta, entre o que é visível e o que desfigura, entre o que apresenta e o que pode significar, entre o que diz e o que dissimula, entre a intenção de originalidade e o fim/destino decorativo das imagens.
Aquilo que vemos hoje na amostra é o resultado de todo um processo criativo que Benjamim Sabby descrevia assim em 2008: “…Quanto às obras mais recentes, estou numa fase complicada (…). Sinto-me tentado a pintar em superfícies menos convencionais”.
E durante quase dois anos e meio, Benjamim Sabby foi trabalhando e reflectindo sobre a necessidade de não ficar só pelos acrílicos sobre tela, optando por outros suportes. Nessa sua intenção surge, então, Luanda’s Dreams que é uma desfiguração do universo de alguns dos “novos heróis urbanos” caluandas, através de vários procedimentos plásticos, utilizando livremente as manchas de cor, as figuras geométricas, as linhas, muitas vezes, sobrepondo um quadro e ou rectângulo que, algumas vezes, funciona como uma janela que permite “(re)tratar” o tema das obras optando diversas perspectivas.
Na tentativa de estetizar o banal e de pintar aquelas que ele denomina de “superfícies menos convencionais”, o artista apropria-se de um conjunto de “acessórios” (instrumentos de trabalho) que são necessários para que os “novos heróis urbanos” evitem as agruras da vida do dia-a-dia, em Luanda: o banco da kinguila, a caixa do engraxador e o carro do roboteiro, por exemplo, são (re)decorados à sua maneira, alterando as suas funções de origem e dando-lhes uma roupagem diferente, sendo que aparecem sobre elas, de maneiras repetidas, as silhuetas deformadas dos habitantes, dos prédios e dos carros que pululam pela cidade.
Luanda’s Dreams é, então, uma tentativa de captar as velocidades e o dinamismo de uma cidade que se desfigura dia após dia, ao afunilar-se nos seus engarrafamentos e ao espreguiçar-se nas novas estradas e novos bairros que surgem com a instauração da paz, em Angola, que é também a catalisadora do sonho de uma renovação estética, muito mais vasta.
Luanda’s Dream, de Benjamin Sabby, exposição de 14 e 26 de Outubro, no Centro Cultural Português - Instituto Camões de Luanda