Arte Angolana Contemporânea (2006-2016), é possível falar em revolução artística?
O ritmo com que a arte, a literatura e, em geral, a cultura angolana se transfiguraram na primeira década de paz em Angola poderá abrandar devido à atual crise económica, política e social, mas o certo é que percebemos que, apesar dos constrangimentos, há uma revolução cultural em curso, cujas características, dimensão e profundidade precisam ainda de ser avaliadas.
À falta de um investimento económico e financeiro do Estado na Cultura, num contexto artístico e cultural cada vez mais segmentado e plural, os criadores, coletivos e instituições artísticas privadas – e até mesmo as estatais – têm utilizado diversas estratégias de estímulo à criação, de gestão coparticipada e de financiamento com recurso a patrocínios.
Embora diferente da dos primórdios da Independência Nacional, esta revolução artística e cultural acontece em simultâneo com o fortalecimento da globalização e tem provocado várias consequências. São exemplo disso a possibilidade de distinguir melhor as formas tradicionais e os produtos atrelados às expressões retrógradas do folclore e dos tradicionalismos das representações modernas e contemporâneas, uma tímida despolitização dos processos criativos e a emersão de um processo de internacionalização sem excessivo controlo e dirigismo.
É neste contexto que não nos surpreende que o Relatório Elcano de Presença Global (2016), apresentado no início do passado mês de maio, coloque Angola no 54.º lugar de um ranking de 90 países, com um índice de 29,7%, tendo uma presença económica de 68%, uma presença militar de 0,7% e uma presença «branda» de 3,6%.
Neste estudo, a presença branda refere-se ao Soft Power, uma alusão ao célebre ensaio de Joseph S. Nye intitulado Soft Power: Os meios para o sucesso na política mundial, e mede o impacto do turismo, desporto, informação, tecnologia, produção e publicações científicas, níveis e qualidade da educação e do ensino, cooperação para o desenvolvimento e cultura na conformação do poder dos Estados.
Concretamente, a contribuição cultural para o Soft Power de um país e o impacto que tem no mundo é medida através dos dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) relativamente às exportações dos serviços audiovisuais (produções cinematográficas, programas de rádio e de televisão e gravações musicais).
Na apresentação do Relatório Elcano de Presença Global, os investigadores do Real Instituto Elcano, um think tank espanhol, reconheceram as dificuldades em calcular o Soft Power num mundo que, por um lado, se torna mais complicado, pela importância da componente económica e militar, aferir o poder e a importância internacional de cada país e, por outro, e apesar do abrandamento da globalização que dizem estar a verificar-se, tem-se constatado como as redes sociais, as indústrias criativas e a cultura digital vão adquirindo um dinamismo e uma abrangência cada vez maior.
Os anos entre 2006 e 2016 coincidem com o advento e a consolidação da paz, os anos de prosperidade macroeconómica em Angola, o desenvolvimento de novas tecnologias e a expansão da globalização no mundo, fatores que possibilitaram, por exemplo, fazer emissões internacionais da TPA e da TV Zimbo, e um aproveitamento significativo de canais como Youtube e Vimeo por parte dos criadores das diferentes manifestações da arte. Refira-se também uma inesperada massificação das danças e dos estilos musicais Kuduro e Kizomba, que, de facto, têm propiciado uma maior internacionalização deste segmento da cultura angolana e um grau de exposição e presença global nunca antes visto.
Não surpreende, pois, só para citar alguns exemplos, que depois de A cidade vazia de Maria João Nganga e O Herói de Zézé Gamboa – filmes que, na década passada, deram muito que falar –, agora parece ser o momento de Pocas Pascoal e do seu projeto Menina (Girlie), que acaba de ser selecionado pela Fabrique des Cinémas du Monde, em Cannes 2016.
Por outro lado, temos também estado atentos ao trabalho desenvolvido pela Companhia de Dança Contemporânea e, em especial, pela coreógrafa Ana Clara Guerra Marques que tem realizado espetáculos em Portugal, Espanha ou Brasil, em circuitos mais ou menos profissionais que, como sabemos, são os que realmente decidem sobre a qualidade, a importância ou, dizendo à maneira francesa, a excecionalidade dos produtos artísticos e culturais.
Segmentos polifónicos
Mesmo que quiséssemos, seria muito difícil colocar a arte angolana contemporânea dentro de um só balaio e levá-la, assim, ao mercado de arte e ideias: as múltiplas tendências, as especificidades das diferentes manifestações artísticas, a originalidade de mais de uma dúzia de projetos estéticos, as peculiaridades do colecionismo público e privado, a complexidade das dinâmicas institucionais e as suas carências, a mobilidade e o espírito camaleónico dos criadores talvez façam dela e, em especial, das artes visuais e plásticas o segmento mais revolucionário, polifónico e transgressor da cultura angolana atual.
Quem teve a oportunidade de ver a obra «Pão nosso de cada dia» na exposição «Eu não sou Santo» de Yonamine Miguel, na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa, composta por centenas de torradas com a silhueta do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, num misto de ironia, ousadia, sarcasmo e celebração terá compreendido que, apesar de estar a acontecer em espaços artísticos e à margem dos condicionalismos do politicamente correto, estamos em presença da transformação sociopolítica, artística e simbólico-cultural mais complexa e abrangente que se verifica em Angola depois da Independência Nacional a 11 de Novembro de 1975.
Ao brincar com uma evidência histórica e colocando a figura que, ipso facto, também é a celebrada como um equivalente da hóstia, o pão da liturgia cristã, o artista utiliza com sarcasmo a galeria como espaço de consagração simbólica e lugar que permite ser irreverente com a ilimitada liberdade que só a arte como forma da consciência histórica e social é capaz proporcionar. Mas não fica apenas por aí: o título remete a obra para uma tradição simbólica e expressiva que tem Jesus Cristo como figura central e cujo paradigma moral se não está nas antípodas, pelo menos não tem absolutamente nada a ver com o retratado. A forma da obra faz eco da tradição visual e plástica do azulejo, só que ao invés de ser com ou sobre cerâmica é sobre farinha de trigo.
Na obra «O Pão nosso de cada dia» de Yonamine, a repetição da silhueta/retrato passa a funcionar como um ícone que extravasa os limites máximos de valor até então atribuídos ao homenageado. O cargo que ostenta fixa o retratado no máximo escalão da liturgia política: como o pão, o culto da personalidade passa a ser parte do ritual do dia a dia. Com uma beleza que, tanto pela sua reiteração como pela sua substância, pode resultar indigesta, a silhueta/retrato faz parte de um produto artístico potencialmente transcendental, misto de herói pop com divindade da história política mais recente de Angola.
Aproveito para assinalar que é possível estabelecer um certo paralelismo entre a obra «O Pão nosso de cada dia» de Yonanime e a série de trabalhos que Francisco Vidal faz tendo as catanas como suporte: aproveitando-se deste elemento conotado com o início história da luta de libertação nacional, o artista recria novas dimensões da beleza, transfere este elemento que até faz parte da bandeira de Angola para uma certa ideia do sublime.
A catana, que contribuiu para fazer o corte radical e categórico entre o colonizado e o colonialista, regressa ao imaginário coletivo para se unir às flores de Abril de 1974 e, a partir daí, tentar construir numa operação pendular de fraternidade que, a priori, deveria ser só entre Portugal e Angola, mas que o imaginário do artista transforma numa frase pictórica que grita ao mundo.
Ambos adoram a fragmentação da superfície criativa, mas ali onde Yonamine põe trigo, Vidal coloca ferro. Ali onde Vidal utiliza flores, Yonamine apropria-se da iconografia social e política. Ali onde Yonamine se socorre da reprodutibilidade técnica, Vidal faz culto à aura própria da obra única.
Nástio Mosquito e Vic Pereiró
Antes de tratarmos as questões mais gerais interessa-me comentar a última exposição de um dos mais significativos artistas plásticos angolanos das últimas décadas. «Metanoeo» é o enigmático título da exposição do artista multimédia e performer Nástio Mosquito (Huambo, 1981), em colaboração com Vic Pereiró, inaugurada no Espaço de Arte Contemporânea de Castellón (EACC), na região espanhola de Valência, e que esteve patente ao público até ao dia 15 de maio passado.
O cartaz a anunciar «Metanoeo» convidava-nos a entrar imediatamente e a descobrirmos que o lugar é sui generis: um espaço retangular de uns quinhentos metros quadrados, com um enorme pé-direito, permitindo que no centro, como se fosse uma ilha, haja um mezzanine ao qual podemos aceder por escadas. E o projeto apresentado é impactante: sete obras, em diferentes formatos e suportes, algumas feitas individualmente e outras no âmbito do Coletivo Nastivicious, em colaboração com Vic Pereiró.
Totalmente às escuras, dentro do EACC vimo-nos imersos num ambiente onde a voz ocupava espaço, com gigantescas projeções de imagens sobre as paredes e também sobre um globo aceso como em «So much Trouble» (2016), em que as imagens discorrem como se fossem a retina do mundo.
Não duvidamos que nesta primeira exposição individual de Nástio Mosquito em Espanha o artista nos presenteou com instalações que resultam do seu perfil multifacetado e atípico (youtuber, performer, poeta, cantor e fotógrafo), que fazem dele, repito, um dos mais destacados artistas da sua geração.
Entre as sete obras expostas, interessa-me destacar «Demo da Cracia» (2013): um sketch de quase dez minutos, em que Nástio Mosquito faz uma performance na qual simula, alternando, estar ébrio, estar sozinho ou sentir saudades para, fundamentalmente, desconstruir a relação entre realidade e ficção, a relação entre identidade íntima e identidade coletiva, a relação entre os estereótipos de masculinidade e os de exotismo, a relação entre ser ou não ser angolano e, também, a relação entre ebriedade e lucidez.
Entretanto, Nástio Mosquito e Vic Pereiró conheceram a raiz do projeto Africalls (2008) comissariado por Elvira Ndyangani Ose e desde então têm trabalhado estreitamente. Visitando a página www.vicpereiro.com pode-se ter uma ideia mais completa sobre este artista multimédia com uma formação específica no domínio da imagem, o que lhe permite não só assegurar a parte técnica da obra de Nástio Mosquito, como, aproveitando a cumplicidade que têm desde há seis anos, desenvolverem um trabalho conjunto, bem ao estilo da ideia pós-moderna da descentralização do sujeito criador.
Com efeito e em rigor devemos assinalar que «So much trouble» (2016), a obra que recebia os espectadores logo na sala principal, à entrada do Espaço de Arte Contemporânea de Castellón, e à qual nos referimos como globo iluminado sobre o qual as imagens discorrem como se fosse a retina do mundo, foi concebida para este espaço e é a mais recente obra do Coletivo Nastivicious.
De uma maneira divertida, irónica e séria, a exposição «Metanoeo» foi também a escenificação do caos, da diversão e da esperança vista tal como nos acostumámos a ver através da televisão e da internet, lugares onde desfilam as realidades mais cruas e as mais belas, a sina do mundo aqui e agora.
Tendências da atualidade
Há diversas questões que nos interessa colocar na abordagem deste tema: quais são as múltiplas tendências da arte angolana contemporânea atual?; quem são os artistas plásticos mais originais e representativos e quais os circuitos a que pertencem?; qual a importância e as implicações sociopolíticas e artístico-culturais da existência e das práticas curatoriais da Fundação Sindika Dokolo?; quais são as principais carências do sistema institucional das Artes Visuais e Plásticas em Angola?; quais são os tipos de colecionismo público e privado que estão a ser praticados?; quais são e quem são os que, neste momento, estão a produzir um discurso crítico sobre a arte angolana contemporânea e desde onde é que falam?; o que poderíamos fazer ainda pela internacionalização da arte angolana contemporânea?
Devo sublinhar que, entre finais de 1999 e princípios de 2000, no ensaio intitulado «O regresso do Pan-africanismo», incluído no livro de ensaios Made in Angola: Arte contemporânea, artistas e debates (L’Harmattan. Paris, 2006), defini cinco das principais tendências da sensibilidade e da razão africana contemporânea, a saber: Tendência pela sublimação da guerra e dos mortos; Tendência pela fabulação da História, dos Mitos e dos Cosmos; Tendência pelo retrato (do indivíduo, da sociedade, dos costumes ou da natureza); Tendência pela representação de totalidades espaciais e temporais como reformulação de noções ancestrais e/ou da livre imaginação; Tendência pelo uso de tecnologias de ponta: o ciberespaço.
Apesar das mudanças de atores, das peculiaridades dos projetos artísticos e tanto das características das obras como dos meios de expressão artística (pintura, escultura, instalação, fotografia e ou vídeo, entre outros), creio que estas continuam a ser as principais tendências. Poderíamos, por exemplo, dizer que a obra de Yonamine Miguel se inscreve na tendência pelo retrato (do individuo, da sociedade, dos costumes ou da natureza) e a obra de Nástio Mosquito situar-se-ia na tendência pela representação de totalidades espaciais e temporais fruto da sua livre e atípica imaginação.
Porém, há dois artistas plásticos sobre os quais me interessa aqui tecer alguns comentários, nomeadamente, Nzuji de Magalhães e Franck Lundangi.
Ambos de origem bakongo: Nzuji formou-se na Califórnia e Luandangi é um autodidata que vai-se projetando nos circuitos de pintura e tradição naïf, com um público cativo em França desde a época do Aduaneiro Russeau. Estes dois pertenceriam à tendência pela efabulação da história, dos mitos e do cosmos e têm um estilo e uma maneira muito próprios, sempre delicados e surpreendentes, para abordar figuras e temas que evocam tradições ancestrais.
Nzuji acaba de decorar uma Estação de Metro e Lundangi, que agora está a ser representado nos Estados Unidos pela Galeria Cavin Morris, tem obtido uma projeção internacional cada vez maior.
Assumindo que são apenas as minhas escolhas e, por isso, valem o que valem, creio que, atualmente, os artistas angolanos mais interessantes – e nem sempre unicamente devido à sua obra artística – são António Ole, Van, Kiluanji Kia Henda, Francisco Vidal, Yonamine, Nástio Mosquito, Januário Jano, Edson Chagas, Binelde Hyrcam, António Gonga, Paulo Kussy e Franck Lundangi.
A meu ver, de modo geral, as paredes são o fio condutor mais consistente e renovador da arte angolana contemporânea: a sequência artística e histórica começaria, então, da pintura mural Cokwé, ao mural de Albano Neves e Sousa que está no Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, os murais de parede da propaganda revolucionária, e daí às paredes que António Ole foi fazendo a partir da sua exposição «Margem da Zona Limite», passando pela parede de pau a pique de Van, as paredes de papel ou de catanas de Francisco Vidal, a parede de torradas de Yonamine até à parede/contorno/limites ausentes do video Cambeck de Binelde Hyrcam.
Entretanto, as práticas curatoriais e os procedimentos de internacionalização da Fundação Sindika Dokolo – apesar de estar a contribuir para dar maior visibilidade a diferentes criadores, pela sua proximidade ao poder político, e até mesmo apesar de ser extremamente importante no que à dinamização da arte e da cultura angolana se refere e a alguns segmentos da arte africana contemporânea – colocam os artistas que integram a coleção num estado de permanente (e injusta) suspeição.
Por outro lado, apesar da Fundação Sindika Dokolo parecer estar a ir numa boa direção, ainda está por ver quais os efeitos reais e as consequências para as práticas e a criação artística local. Ao gerir o Palácio de Ferro como o tem feito, tendo-o transformado no maior centro cultural angolano, algo que, admitamos, vem preencher um espaço de consumo de arte e de lazer há muito negligenciado, mas, também, por exemplo, evitando entregar ao Museu Nacional de Antropologia as peças antigas recuperadas, na verdade, em ambos casos, atua, em parte, como se substituísse certas instituições do Ministério da Cultura, uma postura hegemónica que interessa acompanhar.
Mesmo que não o aprofundemos aqui, não podemos deixar de sublinhar que, sem dúvida, a formação artística, as fragilidades do colecionismo de arte público e privado, a falta de revistas especializadas de arte e, por conseguinte, de uma crítica de arte ajustada às especificidades do panorama da arte angolana contemporânea são as principais carências do sistema institucional das artes visuais e plásticas em Angola.
Por uma internacionalização da arte angolana
Para terminar, interessa-me responder às duas últimas perguntas que coloquei anteriormente: quais são e quem são os que, neste momento, estão a produzir um discurso crítico sobre a arte angolana contemporânea e a partir de onde o fazem?; e o que poderíamos ainda fazer pela internacionalização da arte angolana contemporânea?
Apesar do trabalho de José Redinha, Victor Manuel Teixeira (Viteix), Sony Kambol Cipriano, João Cruz, Jorge Gumbe e, mais recentemente, Suzana Sousa e Paula Nascimento, a história e a crítica de arte e da cultura não são disciplinas que conseguiram ocupar, em Angola, o espaço social e académico que lhes é devido.
Assim, face ao aumento exponencial de artistas e criadores das várias manifestações das artes e, em particular, das artes visuais e plásticas, são instituições e especialistas estrangeiros, de várias origens (portugueses, brasileiros, guineenses, alemães, nigerianos, marfinenses, franceses e norte-americanos) os que se têm encarregado de analisar tanto as obras como as suas trajetórias artísticas e produzir um discurso crítico para a audiência internacional. Iniciativa que, desde já, é de agradecer, mas também exige analisar com muito cuidado, uma vez que são produzidos fora dos espaços culturais de origem para serem legitimados nos mesmos âmbitos em que são produzidos ou, assim os veremos, de fora para dentro, uma vez que as escolas de arte e os investigadores angolanos não podem nem devem ignorá-los.
O esbatimento das fronteiras entre, como diria Ruy Duarte de Carvalho, o olhar do observado e o olhar do observador não é razão suficiente para anular a vigilância, uma vez que é sobre a construção da identidade, do imaginário coletivo e da história que se trata. A lista é enorme: Claude Laurent, Gavin Younge, Ulf Vierke, José António Fernandes Dias, Ana Balona de Oliveira, Elvira Diangani Ose, Christine Eyene, Delinda Collier e Nadine Siegert são alguns dos nomes mais destacados.
Noutra ordem de ideias, repito, mas o que é que ainda podemos fazer a favor da internacionalização da arte angolana contemporânea? Promover/estimular a formação e capacitação em escolas de arte, a criação de revistas especializadas de arte e, na hora da promoção dos artistas, tentar dar primazia aos circuitos profissionais, alternativos e/ou comerciais de arte.
E aí, então, teremos sim uma revolução artística e cultural mais sólida e com maior impacto nos circuitos da arte nacional e internacional.
Publicado originalmente na revista África 21.