Maputo, Cidade Vibrante
A capital moçambicana tem um circuito de cultura de fazer inveja a qualquer cidade. Uma cena artística alternativa, com grandes talentos na música, teatro, literatura e artes plásticas. Uma agenda intensa com programas para todos os gostos, desde cinema ao ar livre, jazz ao vivo, contadores de histórias, exposições internacionais, lançamentos de livros ou festivais de música. Restaurantes a borbulhar de gente, discotecas abertas até ao raiar do sol, festas privadas com muito glamour… Residentes e turistas, nacionais ou estrangeiros, todos vibram com a movida de Maputo.
QUINTA-FEIRA, 23H30. Há carros parados em segunda fila à porta do Dolce Vita, um concorrido café-com-bar na Avenida Julius Nyerere, no coração de Maputo. Ao lado, a elite intelectual e política da capital troca impressões à saída do cinema Xenon, onde acaba de estrear o O Último Voo do Flamingo, o filme de João Ribeiro baseado na obra homónima de Mia Couto. Mais abaixo, no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), um mix de artistas, estudantes e cooperantes assiste ao espectáculo do coreógrafo suíço Foofwa d’Imobilité. Noutro eixo da cidade, debaixo de uma lua cheia de Setembro, a esplanada do bar Kampfumo, na plataforma da emblemática Estação de Comboios, vibra com música, vinho e gastronomia.
“Em termos de entretenimento cultural, Maputo está a crescer muito”, observa a chefe de redacção da RTP África em Moçambique, Ângela Chin. “Há mais exposições, mais espectáculos, está cada vez mais forte. Podes escolher entre assistir a um bailado no Franco Moçambicano ou tomar um copo num bar qualquer”. Nem os tumultos de 1 e 2 de Setembro foram capazes de travar a movida de Maputo. Assim que o levantamento deu sinais de acalmar, regressou o fervilhar habitual da cidade, com restaurantes, bares e salas de espectáculos a encherem-se de novo. No famoso Mercado do Pau, que todos os sábados preenche a Praça 25 de Junho com a arte e a cor trazida dos bairros para a Baixa da cidade, os turistas compravam as suas lembranças como se nada se tivesse passado.
O roteiro cultural tem uma oferta rica e diversificada, com propostas arrojadas nos mais diversos ramos, da música às artes plásticas passando pela literatura. “Há uma grande aceitação de tudo o que é diferente por parte dos moçambicanos”, considera Filipa Casimiro, uma Relações Públicas portuguesa recém-chegada a Maputo, que se dedica em simultâneo às artes dramáticas. “As pessoas estão abertas para consumir tudo o que vem de novo”. Exemplo disso é a recente instalação Mafalala Blues, de Camila de Sousa, que recriou o ambiente do histórico bairro da Mafalala no átrio principal do CCFM, com chapas de zinco, sacos de cimento, placas com nomes de ruas, retratos dos residentes e uma projecção de vídeo.
Para além das novidades, existem os projectos fixos que, ano após ano, têm destaque obrigatório na agenda: o Festival Dockanema, de cinema documentário, Festival Internacional de Música, Festival de Jazz da Matola e Mozambique Fashion Week. Mais recentemente, o Festival da Mafalala, Festival Tunduru, Mozambique Music Awards e Salão do Livro de Maputo. “A produção cultural passou a ser o refúgio de muita gente que não encontra nenhuma outra alternativa nos sectores clássicos da economia. Por ser um país pobre, oferece poucas oportunidades do ponto de vista material”, reflecte Pedro Pimenta, organizador do Dockanema, que acaba de apresentar a sua quinta edição, com mais de 80 filmes incluindo 16 de produção nacional. Para Ângela Chin, a intensa actividade cultural prende-se com um movimento social mais amplo: “Há um despertar das pessoas, das mentes, de novas formas de ver as coisas, de escrever e de vestir”, conclui.
texto originalmente publicado na revista Africa 21