Chamada de Trabalhos: Neoliberalismo urbano no século XXI: Da exclusão e lutas pelo direito à cidade

Para Henri Lefebvre, autor do conceito de direito à cidade, as margens urbanas são um lugar de observação privilegiado, pois é nesse ponto que a narrativa da cidade se revela. O seu pensamento desenvolve-se a partir do limiar que divide e estilhaça o espaço urbano, separando os grupos mais abastados dos grupos mais vulneráveis.

Manter-se-á esta perspectiva de Lefebvre, chave de leitura dos processos de acumulação e expropriação em sociedades moldadas pelo capitalismo mais maduro, pertinente à luz dos problemas socio-espaciais levantados pelo neoliberalismo urbano ? É esta a questão que queremos abordar no número temático que propomos, a partir de uma atenção específica às margens urbanas das metrópoles contemporâneas tanto no contexto euro-norte-americano tratado por Lefebvre como no contexto pós-colonial do sul global.

Em ambos os contextos, torna-se pertinente a observação de Lefebvre em relação aos traços de um “novo colonialismo interno” (1972, p. 43) ao atender ao modo como o desenvolvimento urbano do pós-guerra separa as áreas hiperdesenvolvidas das áreas abandonadas à miséria e ao subdesenvolvimento. Esta visão aproxima-se assim de Fanon e da sua atenção ao modo como a ideia de raça e os processos de racialização operam em conjunto com a classe e o espaço, produzindo “cidades compartimentadas” (1968, pp. 23-75). Reencontramos esta perspectiva na teorização de uma cartografia moderna dual (Santos, 2007), a que corresponde um sistema de distinções que, tendo a sua génese na expansão e colonialismos europeus, atravessa hoje o cerne das antigas metrópoles. Distinguindo e separando saberes e práticas hegemónicos, que se afirmam como universais, das áreas de não ser (Fanon, 1968), tal compartimentação nega a co-presença de formas diversas de conhecimento, representação e acção sobre o mundo.

Por outro lado, a questão urbana é também uma forma espacial de luta contra a desigualdade, potenciando novas resistências e o ensaio de alternativas. Ela é parte de uma dialética espaço-temporal mais ampla, com o duplo propósito de libertação global e emancipação quotidiana (Fanon, 1968, pp. 105-106). Um conjunto de pesquisadores, ligados a correntes científicas que promovem o engajamento académico nos processos de transformação urbana, vêm abraçando estratégias alternativas que olham a urbanização como um modo, em vez de um modelo : como algo orgânico e coletivamente dinâmico, oposto à visão modernista/colonial/capitalista pré-estabelecida e pré-definida, que toma simultaneamente as cidades como territórios em resistência, em potência e de emancipação, enquadradas na linha de descolonização do território defendida por autores como Zibechi (2015) ou Ela (2013), fomentando uma maior distribuição de recursos públicos e estimulando a especificidade do modo de vida do lugar.

Pretendemos neste volume questionar e documentar a transformação urbana vivida hoje, a partir de pesquisa focada - conceptual e empiricamente - nas margens urbanas das metrópoles contemporâneas e atendendo ao modo como se cruzam, em concreto, três planos que - tal como os elementos de uma experiência química - reagem juntos no espaço urbano : a questão da classe e a questão étnico-racial, já focadas, a que se junta, crucialmente, a questão do género. De que modo complicam e problematizam esses três planos as contradições do novo modelo urbano neoliberal contemporâneo ? Convidamos à apresentação de artigos de abordagem interdisciplinar, cruzando todas as disciplinas com enfoque sobre os estudos urbanos críticos.

Propomos alguns pontos a desenvolver :

Como evoluiu, para o presente contexto, a compartimentação da cidade apontada especificamente por Fanon ?

Num tempo em que os subúrbios das maiores metrópoles do norte e do sul globais são cada vez mais atravessados por populismos que ameaçam a democracia, que resistências emancipatórias podemos identificar ?

O protagonismo das mulheres nas lutas urbanas é cada vez mais importante e muita literatura feminista destaca um papel político do conceito de “cuidado” em novas formas de “produção de espaço”. Que agencialidade é essa e como se como se relaciona, hoje, com a questão urbana ?

Serão aceites propostas originais escritas em português, inglês, francês e espanhol.Todas as propostas originais de artigos, de revisão e empíricas, devem ser enviadas em sua versão completa por e-mail, em formato .docx, para a Forum Sociológico (forum@fcsh.unl.pt) com o título do número especial no campo assunto do e-mail e até 30 de setembro de 2023Antes de submeterem uma proposta à revista no âmbito deste número especial, todos os autores deverão i) ter conhecimento das políticas, procedimentos editoriais e normas para a elaboração e submissão de textos, difundidos em especial nas páginas Normas para Apresentação de Originais e Declaração de Ética e Boas Práticas ; ii) ter participado substancialmente do trabalho ; iii) ter identificado todas as fontes de financiamento da investigação desenvolvida ; iv) obter todas as autorizações e licenças necessárias para a reprodução, publicação e divulgação em acesso aberto (direitos de utilização das imagens ou de outro material de terceiros, etc.), assumindo a responsabilidade da indicação dos respetivos créditos nos trabalhos e dos eventuais encargos associados à sua obtenção e isentando a revista e o CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa de qualquer responsabilidade nesta matéria ; v) ter a responsabilidade final do conteúdo e das afirmações proferidas no texto. Mais informações, aqui.

29.03.2023 | por mariadias | chamada para artigos, cidade, direitos, henri lefebvre, neoliberalismo

CONDOMÍNIO – Propositário Azul

Um espetáculo criado com a comunidade, sobre cidadania, sobre pertença a lugares, sobre consciência política e sobre o conflito endémico entre interesses individuais e coletivos. A aparente austeridade funcional, balofa e monótona, de uma reunião de condomínio tolda uma variedade de acontecimentos e de revelações de natureza intrinsecamente teatral que este projeto propõe desmontar e expor.

As consequências podem ser sérias e provocar o riso ou a lágrima, ou perturbar convicções religiosas e políticas, mais ou menos enraizadas. O divertimento teatral surge dum amargo de boca e encontra reflexos na comédia negra, no thriller psicológico, no romance de faca e alguidar ou “telenovelístico”, e na tragédia. Neste Ágora, com paredes e teto, revela-se o que há de autêntico e de autorrepresentado nos indivíduos, expõem-se contradições, idealizações, a bondade e a rudeza, o cinismo, o desejo, a solidão, o egoísmo, os vazios da alma, os dogmas e os preconceitos. É um espaço para o debate e para a entreajuda, para o conflito aberto e para a resolução de tarefas banais, mas também para os “big statements” épicos.

“Condomínio” é a microescala da ação política e da praxis republicana. É o lugar de confluência da ação de natureza pública e do que é da ordem do privado, o lugar da organização social em que se manifestam, de forma explícita, as relações entre vontade e o dever. Nas reuniões de condomínio podemos observar um conjunto de interações humanas em que interesses individuais se disputam sob o plano da gestão do bem comum. A dimensão cívica e política dessas relações entra em confronto com a familiaridade entre as pessoas, com a banalidade dos hábitos ou a irrelevância dos episódios diários que disputam o protagonismo dessas sessões. A pretexto deste formato, tudo pode acontecer: debates ideológicos, momentos fraternais, confidências, discussões acesas e passionais, defesa da honra, conversas via Skype, interrupções arbitrárias (o mundo que corre em paralelo, lá fora – a vida da casa, o gato de estimação, os filhos, o telefonema do emprego, o atraso por causa do trânsito, etc.), discursos galvanizados, afirmações morais. É uma reunião que radiografa o corpo social expondo uma visão crua das complexas articulações que comandam os comportamentos e as interações humanas.

No Centro Cultural Malaposta, Rua Angola, 262O-492 Olival Basto.

Agenda

JUN 16 a 19

Qui a Sáb – 2OH3O
Dom – 16H3O

Auditório

12€ | Descontos aplicáveis

9O minutos

M/12

Bilhetes 

***

propositário azul, associação artística foi fundada em 2003, reunindo um grupo de criadores nas áreas do teatro, artes plásticas, música e vídeo, com o intuito de se constituir como plataforma dinamizadora de projetos, promovendo a troca de experiências e a autonomia artística e profissional de criadores de sensibilidades diferentes. Os espetáculos teatrais criados até ao momento resultam duma atenção dada ao conhecimento da dramaturgia universal, num compromisso privilegiado com obras de escritores portugueses e lusófonos, ensaiando práticas de trabalho e de pesquisa dramatúrgica, escrita e rescrita de textos, adaptações, recolhas e interpretação de determinados contextos e realidades.

06.06.2022 | por Alícia Gaspar | cidade, comunidade, condomínio, consciência política, sociedade, teatro

Decolonising the City

A participação no programa está condicionada a inscrição através do e-mail: miraforum@miragalerias.net
A entrada no debate está limitada à lotação máxima, tendo prioridade os participantes no percurso pedonal.

PROGRAMA:

14h00/ Percurso pedonal tem ponto de encontro na entrada dos Jardins do Palácio de Cristal. Termina no MIRA FORUM onde se realiza o debate “Decolonising the City”. 

Este evento é composto por um percurso pedonal organizado pelo colectivo InterStruct, com duração aproximada de duas horas e meia. O percurso será guiado e animado por Desirée Desmarattes e Natasha Vijay. O percurso antecede o debate no MIRA FORUM. 

Debate organizado e moderado por Ana Jara e Miguel Cardina, com a participação de Desirée Desmarattes, Dori Nigro, Marta Lança e Paulo Moreira.

PERCURSO:

O percurso é da responsabilidade do colletivo InterStruct. Visa unir experiências pessoais, memórias coletivas e relíquias do colonialismo, oferecendo uma nova visão que nos permite examinar as raízes do preconceito individual e dos sistemas de opressão.

Propõe-se uma caminhada performativa como forma de ativismo que aborda a falta de atenção, reconhecimento e revisão das narrativas e ideologias colonialistas que circulam na sociedade portuguesa.

DEBATE:

O debate “DESCOLONIZAR A CIDADE” tem por objetivo problematizar a persistência de estruturas e imaginários coloniais no espaço público em Portugal. Partindo do lugar social e político da arquitetura, o debate pretende analisar de que forma o corpo da(s) cidade(s) mantém lógicas de (re)produção de representações coloniais, modos de segregação socio-espacial e hierarquias - ora vincadas, ora subtis - nas quais ainda reverberam dicotomias como as de centro e periferia, metrópole e colónias, norte e sul.

Essa perspetiva diacrónica sobre a cidade e os desafios de a descolonizar irrompe a partir de um presente onde se torna fundamental aprofundar as discussões sobre o racismo, a violência policial e as desigualdades, ou sobre as pertenças, migrações e diásporas, e que aponta necessariamente para um futuro no qual o Direito à Cidade se assume como um emergente horizonte de cidadania.

Evento integrado na 17ª Representação Oficial Portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza. Comissariado pela Direção-Geral das Artes.

EN
Participation is subject to prior registration by e-mail: miraforum@galerias.net 
Entrance to the debate is limited to a maximum capacity and participants of the walking tour will have priority.

14h00 / Walking tour beginning at the main entrance of Jardins do Palácio de Cristal finishing at MIRA FORUM, for the debate part.

This event consists of a walking tour organised by the InterStruct collective, lasting approximately two and a half hours. The walk will be guided by Desirée Desmarattes and Natasha Vijay. The tour is followed by a debate taking place at MIRA FORUM. 

Debate organised and moderated by Ana Jara and Miguel Cardina, with the participation of Desirée Desmarattes, Dori Nigro, Marta Lança and Paulo Moreira.

Walking tour:
Joining personal contemporaneous experiences, collective memories and relics of colonialism to its wider historical context can offer new insight and enable us to examine the root causes of individual prejudice and systems of oppression. We propose a performative walking tour as a form of activism that addresses the lack of attention, acknowledgement and revision of colonialist narratives and ideologies that circulate Portuguese society.

The ‘Decolonising the City’ debate aims to question the persistence of colonial structures and mentalities in the public sphere in Portugal. Starting from architecture’s social and political place, the debate is intended to analyse how the form of cities continues to (re)produce colonial representations, modes of social and spatial segregation and hierarchies - both clear and subtle - which are still abuzz with dichotomies such as centre and periphery, metropolis and colonies, north and south.

This diachronic view of the city and the challenges of decolonising it arises at a time when it is essential to discuss racism, policy violence and inequality on a deeper level, as well as to consider issues of belonging, migration and diasporas, and which also points to a future in which the Right to the City is an emerging horizon for citizenship.

Event part of the 17th Portuguese Official Representation at the Venice Architecture Biennale. Commissioned by Direção-Geral das Artes.

13.09.2021 | por Alícia Gaspar | Art, cidade, decolonising the city, descolonizar, event, Lisbon, política

Memorializar e descolonizar a cidade (pós)colonial - debates

Por ocasião do lançamento do projeto ReMapping Memories Lisboa e Hamburgo, Lugares de Memória (Pós)Coloniais, levado a cabo pelo Goethe-Institut, têm lugar uma série de discussões abertas sobre a cidade. Iremos debater temas como as marcas coloniais visíveis na cidade e nos corpos de quem a habita; a luta anti-colonial e a inscrição africana e afrodescendente no espaço metropolitano; ou, de um modo mais global, políticas, abordagens e desafios do processo de “descolonização” nas cidades europeias. Os debates contarão com estudiosos, ativistas e artistas e podem ser assistidos pela FB do Goethe, do TBA e do BUALA. 

Curadoria Goethe-Institut e Marta Lança 

5, 6 e 7 de maio das 18h00 às 20h00  

Os encontros decorrem em zoom com streaming, são gravados para material do site.

Língua: dia 5 e 6: português, dia 7: alemão e português, com tradução simultânea.

O site ReMapping Memories Lisboa e Hamburgo, Lugares de Memória (Pós)Coloniais resulta de uma pesquisa, mapeamento e análise de lugares em Lisboa e Hamburgo que contam histórias de colonialidade, de resistência e disputa de memória (material e imaterial) no espaço urbano. Num processo entre várias cidades europeias, pretende-se contribuir para o não apagamento da história e da memória colonial e pós-colonial de Lisboa e Hamburgo, defendendo a igualdade na pertença e acesso à cidade, ainda segregada na sua geografia, vivência e representações. 

#ReMappingMemories

5 de maio de 2021 – 18-20h

As marcas coloniais na cidade e no corpo - Moderação: Marta Lança 


Vídeo 1 de Rui Sérgio Afonso

Isabel Castro Henriques -  Percursos históricos dos Africanos em Lisboa (séculos XV-XX)

Mamadou Ba - A geografia racial estrutura a relação entre estar na cidade e ser da cidade

António Brito Guterres - A forma (pós)colonial da Metrópole

Debate 

6 de maio de 2021 – 18-20h 

Vídeo 2 de Rui Sérgio Afonso

Inscrição de uma AfroLisboa  - Moderação: Marta Lança 

Nádia Yracema - Artista mo(nu)mento

Kalaf  Epalanga - A importância de criar um Museu da Kizomba

José Baessa de Pina (Sinho) - Como construir comunidade nos subúrbios de Lisboa 

Debate 

7 de maio 2021 – 18-20h 


Vídeo 3 de Rui Sérgio Afonso

Estratégias para descolonizar a cidade - Moderação: António Sousa Ribeiro  

Miguel Vale de Almeida - “Como abanar estátuas?” os debates sobre Descolonizar a cidade

Maria Paula Meneses - Lisboa: histórias ocultas e linhas contínuas 

Noa K. Ha - O desafio da memória pós-colonial. Legados de colonialidade na cidade

Debate

Sinopse dos debates e bios dos convidados disponível aqui.

01.05.2021 | por Alícia Gaspar | ativismo, cidade, colonialismo, debates, Descolonização, Goethe institut, Hamburg, história, lisboa, memorializar e descolonizar a cidade pós colonial, Portugal, re-mapping memories, ReMappingMemories, sociedade

Oficina de Imaginação Política

32ª Bienal de São Paulo
uma proposta de Amilcar Packer, com Jota Mombaça, Michelle Mattiuzzi, Rita Natálio, Thiago de Paula, Valentina Desideri

Oficina de Imaginação Política é uma proposta de Amilcar Packer para a 32ª Bienal. Partindo das palavras que dão nome ao projeto - oficina, imaginação e política - e junto a um grupo de colaboradores composto por Diego Ribeiro, Jota Mombança (Monstra Errátika), Michelle Matiuzi, Rita Natálio, Thiago de Paula e Valentina Desideri, Packer programou sessões de trabalho, apresentações públicas e debates ao longo dos três meses de duração da exposição. A Oficina, instalada no pavilhão, reúne pesquisa, produção e aprendizado como um lugar de convívio e elaboração coletiva de ferramentas para intervenção na esfera pública. Ao criar uma zona temporária e autônoma com os participantes, as ações concebidas pela Oficina visam ocupar espaços da cidade, do parque e das mídias, indo contra tentativas de captura e controle macropolíticos. Entendendo que há na imaginação uma potência de reivenção de territórios conceituais e reformulação de perguntas, narrativas e práticas dentro do que compreendemos como política, e diante do atual contexto sociopolítico nacional e internacional, a Oficina busca resgatar a potência de transformar imagens em ação como ferramenta de resistência e atuação política, e como forma de requalificar a experiência com a arte. 
Mais informações, aqui

Programa:

21 outubro, 14h
Palestra com Acácio Augusto / Anarquia no brasil: revolta e antipolítica dos “estrangeiros indesejáveis” para nação
A anarquia chega ao Brasil com os operários vindos de terras europeias, aqui são logo perseguidos como elementos indesejáveis que, em meio suas práticas e experimentações de liberdade, atiçam revoltas e instauram a antipolítica. A cultura libertária se dissemina e segue potente até os dias de hoje, em pesquisas, práticas educativas, estilos de via e inéditas formas de contestação pública. Seguem como indesejáveis às variadas formas da política contemporânea.

Bio:
Acácio Augusto é doutor em Ciência Sociais pela PUC-SP, professor credenciado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UVV-ES e Programa de Psicologia Institucional da UFES, pesquisador no Nu-Sol (Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Pós Graduação da PUC-SP) e bolsista Pós-Doc CAPES na UVV-ES. Autor de Política e polícia: cuidados, controles e penalizações de jovens, Rio de Janeiro: Lamparina, 2013.


27 e 28 outubro (14h às 18h)
Oficina com Barbara Glowczewski / Cartografar Existências
Nas Nações Unidas, a expressão “povos indígenas” (do francês peuples autochtones) tende apenas a designar os povos colonizados que se identificam e são identificados assim devido a sua economia, baseada em atividades de subsistência como a caça, a coleta, a horticultura e o pastoreio, com uma visão muitas vezes holística e sagrada da terra, e por serem considerados minoria em suas próprias terras. Esses critérios parecem corresponder a milhares de grupos linguísticos espalhados pelo planeta, e que representam pelo menos 6% da população global. O pedido para que recebam o estatuto de povos soberanos já vem sendo discutido na ONU há mais de trinta anos e, enquanto isso, seus modos de vida, quer seja na Amazônia, na Sibéria, na Mongólia ou no deserto de Kalahari, são ameaçados pela violência de Estado, ou pela engenharia florestal e pelas empresas de mineração. Na África, o reconhecimento do estatuto de “povos indígenas” relaciona-se aos povos tuaregues, berberes, bosquímanos, pigmeus, fulas e massais, mas exclui os grupos étnicos que praticam a agricultura ou que foram historicamente deslocados, ou seja, a maioria do continente. Na América do Norte, na Austrália e na Nova Zelândia, muitos povos indígenas vivem hoje em cidades ou reservas antigas que se tornaram comunidades autogeridas. Em uma mesma família, a realização social de alguns – através da arte, da educação, do esporte, da ação social ou da política – contrapõe-se ao desespero e à angústia suicida de outros. Ainda assim, esses que conseguem geralmente exigem sua indianidade e o direito ao reconhecimento cultural e legal de sua diferença como os primeiros australianos; eles lutam politicamente para trazer à luz a especificidade dos problemas que afetam as comunidades de onde vêm. Alguns grupos exploram diversas estratégias discursivas sobre a sua relação com a natureza e aceitam, por exemplo, o papel de guardiães ecológicos a fim de tentar recuperar um modelo público e economicamente justo de governo.” (trecho de “Entre o espetáculo e a política: singularidades indígenas”, de Barbara Glowczewski, publicado em 2011, no nº 13 do Cadernos de Subjetividade. pp. 120-142).

Bio: 
Pesquisadora do Laboratoire d’Anthropologie Sociale (CNRS/ EHESS/ Collège de France) é autora de diversos livros entre os quais “Du rêve à la loi chez les Aborigènes - mythes, rites et organisation sociale en Australie”, (PUF, 1991), “Les rêveurs du désert - peuple warlpiri d’Australie” (Actes SUD, 1996), “Rêves en colère avec les Aborigènes australiens” (Plon, Terre Humaine, 2004) e “Devires totêmicos” (N-1). Trabalhou com Felix Guattari nos ano 1980 e realizou diversas estadas de campo entre diferentes povos indígenas da Austrália. Nesta conferência, ela propõe realizar um percurso crítico a partir de lições extraídas da observação da criatividade da resistência dos Aborígenes australianos, de povos colonizados pela França e de cultos de matriz africana no Brasil.

29 outubro, 14h
Palestra com Barbara Glowczewski / De pé com a Terra
Mais informações em breve.

Bio:
Pesquisadora do Laboratoire d’Anthropologie Sociale (CNRS/ EHESS/ Collège de France) é autora de diversos livros entre os quais “Du rêve à la loi chez les Aborigènes - mythes, rites et organisation sociale en Australie”, (PUF, 1991), “Les rêveurs du désert - peuple warlpiri d’Australie” (Actes SUD, 1996), “Rêves en colère avec les Aborigènes australiens” (Plon, Terre Humaine, 2004) e “Devires totêmicos” (N-1). Trabalhou com Felix Guattari nos ano 1980 e realizou diversas estadas de campo entre diferentes povos indígenas da Austrália. Nesta conferência, ela propõe realizar um percurso crítico a partir de lições extraídas da observação da criatividade da resistência dos Aborígenes australianos, de povos colonizados pela França e de cultos de matriz africana no Brasil.

19 de Novembro
Palestra com Wallidah Imarisha  / Sonhando novos futuros: Ficção científica e mudança social
Como o co-editora da antologia “Octavia’s Brood: Science Fiction Stories From Social Justice Movementsl”, Walidah Imarisha se conecta à ideia de mudança social. A premissa básica de “Octavia’s Brood” é que toda organização é ficção científica. Para construir novos futuros apenas, é precisamos primeiro ser capazes de imaginá-los coletivamente. Nós também temos que ser capazes de imaginar diferentes maneiras de nos envolver uns com os outros, de partilhar o poder, de construir instituições, de estar em comunidade, que pode ser tão estranho para nós como viver em Marte. Para construir, como diz o Black Lives Matter, movimentos líderes que são visionário, devemos criar espaços onde todos nós compartilhemos ideias coletivamente, liderança, e trabalho, para trazer nossos sonhos de libertação para fora do éter para a realidade.

Bio:
Walidah Imarisha é educadora, escritora, professoea e poeta. É editora de duas antologias incluíndo “Octavia’s Brood: Science Fiction Stories From Social Justice Movements”. Imarisha escreveu o livro de não-ficção “Angels with Dirty Faces: Three Stories of Crime, Prison and Redemption” e da coleção de poesias “Scars/Stars”. É professora do programa de Escrita e retórica da Universidade de Standford, E.U.A.

3 de Dezembro
Palestra e lançamento do livro “Homo Modernus” com Denise Ferreira da Silva
Mais informações em breve.

Bio:
Denise Ferreira da Silva ensina no Instituto de Gênero, Raça, Sexualidade e Justiça Social (GRSJ) da Universidade de British Columbia, no Canadá. Sua escrita aborda os desafios conceituais, éticos e políticos do presente global, por meio de uma perspectiva radical feminista e negra. Ela intervém nas áreas de teoria política, teoria crítica legal, estudos de crítica racial e étnica, estudos pós-coloniais e globais, e estudos culturais. Publicou “Toward a Global Idea of Race” (University of Minnesota Press, 2007) e como coeditora, ” Race, Empire, and the Subprime Crisis ” (Johns Hopkins 2013) e Notes Towards the End of time (Living Commons Collective, 2016). Dentre seus artigos recentes, destacamos “To Be Announced: Radical Praxis of Knowing at/the Limits of Justice” (Social Text, 2013), “Transversing the Circuit of Dispossession.”, (The Eighteenth Century: Theory and Interpretation, 2014) e “Toward a Black Feminist Poethics: The Quest(ion) of Blackness Towards the End of the World” (The Black Scholar, 2014). Ela também coedita a série de livros da eitora Routledge Law and the “Postcolonial: Ethics, Politics, and Economy” e “Indigenous Peoples and the Law”.

18.10.2016 | por marianapinho | arte, cidade, Convívio, Elaboração Coletiva, Imaginação, Intervenção, oficina, política, Potência

Quem vai poder morar em Lisboa?

Da gentrificação e do turismo à subida no preço da habitação: causas, consequências e propostas.
Um grupo informal de Lisboetas juntou-se à volta de uma preocupação comum: a percepção de uma abrupta alteração das dinâmicas da cidade de Lisboa e sobretudo da grande subida do preço da habitação. Começaram por conversar casualmente sobre o que os preocupava. Essas conversas tornaram-se mais regulares. As inquietações comuns tornaram-se mote para a organização de um debate à volta do tema. Convidaram-se alguns especialistas para discutir connosco este tema a partir de um texto de trabalho redigido colectivamente e de algumas questões-chave. O texto realizado pelo grupo organizador que aqui publicamos é um texto de trabalho, aberto e em formulação. Para mais informações consulte a página do evento no facebook.
Debate: Manuel Graça Dias, José Manuel Henriques, Pedro Bingre do Amaral, João Seixas, Joana Gorjão Henriques I Trienal de Arquitectura Campo Santa Clara, 145,Segunda-feira, 6 de Junho, às 18h30.
Ler texto de apoio à discussão na revista PUNKTO.

06.06.2016 | por martalanca | cidade, gentrificação, habitação, lisboa, turismo

Verão Eterno, de André Trindade e Filipa Cordeiro, Maumaus / Lumiar Cite, Lisboa

19.09|19h00, estreia mundial do filme Verão Eterno de André Trindade e Filipa Cordeiro  (20h15, conversa com os artistas)

23.09|18h00, conferência Migração, a Cidade como Constelação e a Eminência das Pequenas Escalas por Tobi Maier

10.10|18h00, visita guiada por Bruno Leitão

André Trindade e Filipa Cordeiro, Verão Eterno, 2013, still de vídeoAndré Trindade e Filipa Cordeiro, Verão Eterno, 2013, still de vídeo

Verão Eterno é um projeto de Trindade e Cordeiro realizado ao longo de uma estadia de seis meses em Santa Cruz da Cabrália, uma pequena cidade brasileira localizada perto de Porto Seguro, no estado da Bahia. A exposição no espaço Lumiar Cité consiste numa instalação vídeo, numa escultura e numa cassete com a banda sonora desse mesmo vídeo.

O vídeo narra uma história inspirada pela recente migração europeia para o Brasil, ao mesmo tempo que referencia a ideia de viagem para o paraíso. É acerca do escapismo e da vida no limite do capitalismo. É um conto de ficção científica lo-fi sobre a vida e a procura da felicidade, entre o exílio e a utopia.

MAUMAUS Lumiar Cité, Rua Tomás del Negro, 8A, 1750-105 Lisbon, Portugal

18.09.2013 | por franciscabagulho | arte contemporânea, Brasil, cidade, migração

A Cidade entre Bairros

A cidade entre bairros é o mote proposto para os artigos aqui apresentados, possibilitando um olhar cruzado e interdisciplinar entre arquitectos, sociólogos, antropólogos e geógrafos. As contribuições que agora se dão à estampa organizam-se em torno de dois eixos temáticos principais e que se entrecruzam e intersectam: um, que reflecte sobretudo as práticas, mas também os paradigmas de intervenção sócio espacial na micro escala do bairro, nomeadamente sobre o Plano Director de Lisboa, Planos Regionais, Planos de estratégia; Programa Nacional Iniciativas Bairros Críticos e sobre operaçõesde renovação/requalificação urbana. O outro eixo de discussão trespassa a vida quotidiana dos habitantes da cidade e envolve uma espécie de reinvenção da cidade e do bairro, implicando as sociabilidades e as vizinhanças, a percepção do espaço, a importância das Tecnologias da Informação e da Comunicação e as formas de organização e de participação social.


A apresentação da obra “A cidade entre bairros” publicada pela Editora Caleisdoscópio ficará a cargo da Professora Isabel Guerra (ISCTE-IUL e UCP) e do ProfessorÁlvaro Domingues (FAUP). No evento, estarão ainda presentes o Professor José Pinto Duarte (Presidente da FAUTL), o Professor Fernando Moreira da Silva (Presidente do CIAUD) e o Dr. Jorge Ferreira (Caleidoscópio).

A sessão terá lugar no próximo dia 11 de Outubro pelas 18,30 na Casa do Alentejo (convite electrónico).

Pedimos, ainda, que tragam um livro antigo ou que já não precisem para oferecer à biblioteca da Casa do Alentejo (que precisa de renovar o seu acervo), sendo que esta é uma forma de mostrarmos a nossa gratidão e apreço à Casa do Alentejo.

 

Graça Cordeiro e Tiago Figueiredo - Intersecções de um bairro online. Reflexões partilhadas em torno do blogue Viver Lisboa

Teresa Sá - Ainda há bairros na cidade?

Jorge Nicolau - Narrativas de Bairro numa Cidade em Mudança: o Bairro como catalisador de urbanidade da cidade

Carlos Henrique Ferreira - Projectar a cidade entre bairros: Lisboa, um Projecto de Cidade em Mudança

José Luís Crespo - Algumas complexidades do bairro no contexto da cidade: o caso do bairro da Bela Vista

António Guterres - Uma política cultural e artística para o desenvolvimento territorial  

Maria Manuela Mendes - A demolição do bairro do Aleixo e a acção da população local ista pela imprensa diária e nas notícias online

Isabel Raposo - Bairros de génese ilegal: metamorfoses dos modelos de intervenção

 

03.10.2012 | por martalanca | bairros, cidade

Devir mundo da favela e devir favela do mundo

As favelas criam continuamente novas formas de vida, mesmo no seio desse novo ciclo de acumulação do capitalismo globalizado – que é financeiro, mas também fundiário e cognitivo-criativo-cultural. E, nessa criação contínua, entram em conflito com as atuais transformações urbanas em direção aos megaeventos.

Com a aproximação da Copa e das Olimpíadas nos próximos anos e a atual realização da Rio+20, faz-se necessário pensar não apenas o conceito de cidade, como também perguntar: em que Rio de Janeiro desejamos morar e viver? Se existe uma característica urbana tipicamente carioca, esta é a favela: ela está presente tanto no imaginário do morador quanto na visão estrangeira da cidade. E é quase sempre lembrada apenas pelos aspectos negativos. Os tecnocratas a chamam de “assentamento subnormal” ou “área degradada”. A ONU adota uma concepção física e legal, definindo-a como “área superpovoada e com residências informais”. Seu correlato em inglês é slum, entendido como o local de residência de uma população pobre e viciada: uma verdadeira “patologia social”. Mesmo o meio acadêmico não escapa da percepção da “favelização” em suas dimensões negativas quando a percebe como segregação espacial que leva à fragmentação social, à violência civil e ao enfraquecimento da proteção social.

ler + no Le Monde Diplomatique, BRASIL de Giuseppe Cocco, Alexandre Mendes, Barbara Szaniecki

06.07.2012 | por franciscabagulho | Brasil, cidade, favela, Rio de Janeiro, Rio+20

Outro Olhar sobre a Cidade- PORTO

DEBATE LE MONDE DIPLOMATIQUE, Porto, 15 Julho, 21h30 na livraria GATO VADIO                  

15.07.2011 | por martalanca | cidade

MINDELO… temos cultura? - 4ª Sessão dos Encontros

A oferta cultural da cidade. Que balanço?

Dia 8 de Fevereiro, 3ª feira às 18h00 no M_EIA (ex-Liceu Velho)


A cidade de Mindelo está em constante transformação. Nos últimos anos têm surgido novos espaços e agentes culturais e o desenvolvimento do ensino superior povoou a cidade com estudantes universitários. Para uns, a identidade cultural da cidade tem-se reforçado enquanto que, para outros, a cidade está a definhar tanto do ponto de vista económico como cultural. Mindelo ainda é capital da cultura ou a cidade perdeu o seu mais importante capital?



04.02.2011 | por martalanca | cidade, cultura, Mindelo

Mónica de Miranda apresenta "Military Road" na INIVA, Londres, 8 de Julho.

Talk: the content and the meaning of the spaces we encounter

With Paul Goodwin and Alex Vasudevan

at INIVA

Paul Goodwin, curator and geographer, and Alex Vasudevan, University of Nottingham, will discuss their current research projects and collaborations.

Paul Goodwin has collaborated with Monica de Miranda on  Military Road, a video tracing the path of a road surrounding Lisbon. The remains of this 45km long road have now been occupied by makeshift homes built by recent immigrants. Thus, the area is considered the city’s ghetto.  Historically the army used the road to protect against English and French invaders - today it still acts as a fortress against ‘invading foreigners’, keeping immigrant populations on the margins.

Developed collaboratively with local communities, Military Road is a reminder of how cities function and continue to function in their engagement with immigrant populations.   The work highlights the impact of globalization in the creation of multi- directional migrations of people, cultures and ideas.  Impacting on geographic and cultural transformations in the spatial organisation of the world and the city, from a place of localities into a space of  fluxus and multiple movements of people.

Military Road was part of the Underconstruction research project developed in Lisbon by Monica de Miranda and curator Paul Godwin in 2009.

Alex Vasudevan is a lecturer in Cultural and Historical Geography in the School  of Geography at the University of Nottingham. He will discuss his current work on a book-length project examining the history of the squatting movement in Germany from the late 1960s to the present.

In the Whose Map is it? exhibition nine contemporary international artists question the underlying structures and hierarchies that inform traditional mapmaking. They provide individual insights that inscribe new, often omitted perspectives onto the map. From 2 June until 24 July 2010.

24.06.2010 | por martamestre | cidade, lisboa, migrações, Monica de Miranda, Paul Goodwin