Arte contemporânea de África: negociar as condições do seu reconhecimento - conversa de Vivian Paulissen com Achille Mbembe

Arte contemporânea de África: negociar as condições do seu reconhecimento - conversa de Vivian Paulissen com Achille Mbembe Numa altura em que milhões de pobres lutam dia a dia pela sobrevivência, o trabalho da teoria, da arte e da cultura consiste em traçar o caminho para uma prática qualitativa da imaginação, sem a qual não teremos nem nome, nem rosto e nem voz na História. (...) Detesto a ideia que faz da vida em África um simples despojo: um estômago vazio e um corpo nu à espera de ser alimentado, vestido, cuidado ou alojado. A concepção ancorada na ideologia e na prática do “desenvolvimento”, indo contra a experiência pessoal quotidiana das pessoas com o mundo imaterial do espírito, particularmente quando ela se manifesta em condições de precariedade extrema e de incerteza radical. Este género de violência metafísica e ontológica tem sido há muito tempo um aspecto fundamental da ficção do desenvolvimento que o Ocidente procura impor aos que colonizou. Devemos opor-nos a isso e resistir a tais formas sub-reptícias de desumanização.

Mukanda

09.06.2010 | por Achille Mbembe

Yonamine

Yonamine Para um crítico brasileiro não deixa de ser interessante visitar a exposição de um angolano – Yonamine – na galeria 3 + 1 arte contemporânea em Lisboa. Vislumbram-se afinidades poéticas pouco exploradas e recalcadas historicamente. Soma-se a isto, o nome do artista que lembra uma das principais etnias ameríndias que ainda sobrevive no Brasil: a Yanomami. Em um mundo globalizado, onde circulam livremente o capital e as ideias, mas se constrange impiedosamente fluxos migratórios, o contacto entre diferenças culturais se torna um fato político por excelência. Por um lado, há uma tendência a homogeneização, que mede todas as produções artísticas e todas as formações culturais a partir de um mesmo metro poético e social. Em um sentido inverso, na ânsia de se preservar o Outro, acaba-se inviabilizando a tensão das diferenças na defesa de um multiculturalismo sem conflitos e sem trocas. O importante, a contrapelo do politicamente correcto, é fazer com que o heterogéneo se afirme nas suas dissonâncias, revelando o quanto há de convivência e antagonismo neste refluxo pós-colonial da Europa contemporânea.

Cara a cara

12.04.2010 | por Luiz Camillo Osório