O que dignifica?

O que dignifica? Porque são eles invisíveis?, perguntaria a criança a seguir. Porque sempre existiram mas ninguém deu conta deles, não vestem adequado, não cheiram aos aromas de Paris, nem à moda milanesa, antes à contrafação chinesa ou nigeriana; sempre andaram aos gritos que só os arrepiava a si mesmos, porque quem os devia escutar cercou-se de vozes semelhantes, de igual poder e cheiros, cantando todos em uníssono as canções de embalar os saciados. O que ficou para estes, resquícios de uma solidão e angústia só sufocada nas promessas e nos sonhos vistos em ecrãs de smartphones de segunda mão, tal como as roupas, vindas de contentores para o descarte. Os pensamentos da mãe podiam continuar a escalar, não fosse a criança ir-se tornando incómoda, impaciente, um tormento para quem também tem os seus porquês da vida. Está na hora de responder à criança que não se cala, em coro com os inaudíveis.

Vou lá visitar

27.12.2024 | por Eduardo Quive

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes Eu que vou ter de comer umas duas colheres desta papa antes de ir dormir, porque conheço a fome. A fome vence o sono. Lá pela madrugada, depois da fome instalar o seu governo dentro de nós, é um inferno total. Só quem já experimentou esta situação sabe do que estou à falar. A fome é implacável, a fome não perdoa, causa uma dor de cabeça que só Deus sabe, algo rói o estômago como uma gadanha arrastando o capim, a cabeça fica uôlo uôlô, as pernas ficam bambas, os olhos ficam viano, viano. É o fim! Vemos cada coisa estranhas. Parece que nos encontramos com a morte.

Palcos

24.06.2024 | por Pedro Sequeira de Carvalho

O holocausto do arquipélago da fome

O holocausto do arquipélago da fome O que fizemos ao certo, nós que não iniciamos nenhuma revolução industrial, nem explodimos a bomba atómica? Nós que não distribuímos o agente laranja e muito menos o chlordécone? Nós os habitantes de um país cuja única guerra foi exatamente para recuperar um bioma, preservar vidas e o direito à respiração? O que fizemos nós, os resistentes da terra, para que ela nos condenasse? De facto, como dizia alguém, um dos crimes do colonialismo foi alienar-nos de tal modo a ponto de acreditarmos que a nossa simples existência constituía/constitui em si, uma aberração.

Mukanda

21.02.2024 | por Apolo de Carvalho

Translucidez

Translucidez Há uma guerra não declarada entre os habitantes do bairro residencial e os que vivem nos blocos de habitação social. É uma guerra silenciosa, mas, como em todas as guerras, assenta num ódio que não conhece excepções.

Mukanda

16.05.2012 | por Ana Cássia Rebelo

Os porquês da fome em África

Os porquês da fome em África A emergência alimentar que afecta mais de 10 milhões de pessoas no Corno de África voltou a colocar na actualidade a fatalidade de uma catástrofe que não tem nada de natural. Secas, inundações, conflitos bélicos… contribuem para agudizar uma situação de extrema vulnerabilidade alimentar, mas não são os únicos factores que a explicam.

A ler

16.09.2011 | por Esther Vivas