"The Unbalanced Land" de Adrián Balseca
The Unbalanced Land, Adrián Balseca, Galería Madragoa, 14 de Maio - 21 de julho.
Conversa no contexto da exposição The Unbalanced Land por Andrián Balseca patente na Galeria Madragoa, com Adrián Balseca (artista), Ana Balona de Oliveira (investigadora e curadora), Raquel Schefer (investigadora, curadora e realizadora). 23 maio 2019 | quinta-feira | 18h
The Unbalanced Land (2019) parte da crónica Travels Amongst the Great Andes of the Equator (1892), da autoria do cientista e explorador britânico Edward Whymper, para desenvolver uma reflexão sobre as transformações dos sistemas capitalista e colonial e a conquista da natureza. A exposição reúne uma instalação sonora, uma série fotográfica e objectos.
Se a produção artística de Balseca se tem debruçado sobre as dinâmicas extractivistas e os seus impactos ambientais, bem como sobre os processos histórico-económicos associados à consolidação do paradigma da modernidade, The Unbalanced Land conforma uma cartografia histórica e cultural da Ilha de Santay, ao largo de Guayaquil, segunda metrópole do Equador, país natal de Balseca, onde Whymper desembarca em Dezembro de 1879. O título da exposição remete para a teoria do desenvolvimento desigual e combinado de Trotsky e, em particular, para a sua releitura por Harvey através do conceito de “desenvolvimento geográfico desigual”. Se Marx considera que o espaço é aniquilado pelo tempo no sistema capitalista, The Unbalanced Land leva a cabo uma reflexão sobre as modalidades de produção do espaço e as relações espácio-temporais no capitalismo tardio. Essa reflexão é de natureza processual e relacional. A representação dos espaços da Ilha de Santay toma em conta a sua determinação por um conjunto de processos e relações internos e externos, antes de mais sistémicos, mas também de natureza geopolítica e histórica, e aponta para a coexistência entre modelos económico-políticos e epistémicos diversos, o que encontra expressão na concepção formal da exposição.
A expedição de Whymper insere-se numa série de missões científico-coloniais em território equatoriano, a primeira das quais a Missão Geodésica da Academia Francesa de Ciências realizada por Godin, Bouguer e La Condamine na primeira metade do século XVIII, seguida, no século XIX, pelas missões de Humboldt e Darwin. Se tais missões demonstram a estreita imbricação entre os projectos político e epistemológico da modernidade europeia hegemónica, The Unbalanced Land examina não só a sua matriz político-económica e científica, mas também os seus modelos representativos e perceptivos, em particular a narrativa de viagem, a ilustração e a música. O sistema estético de The Unbalanced Land assenta num princípio de fragmentação e tensão e num modelo representativo multitemporal, perscrutando as capas do passado que subsistem no presente e os itinerários materiais, discursivos, culturais e ideológicos dos objectos expostos. O gesto artístico de Balseca inscreve-se, portanto, numa genealogia de práticas poético-políticas descoloniais, apontando, ao mesmo tempo, para a persistência de formações coloniais no Equador contemporâneo. The Unbalanced Land leva a cabo cortes espaciais e temporais e coloca em tensão elementos naturais e culturais heterogéneos. A metodologia artística adoptada questiona o sistema de oposições binárias que estruturou historicamente a modernidade europeia hegemónica. Neste sentido, a démarche visual e sonora de Balseca não só é de natureza artística, mas também de cariz epistemológico e político. Trata-se de deslocar um conjunto de categorias cognitivas, políticas e representativas (“aqui” e “ali”, universal e local, “mesmo” e “outro”, observador e observado) e de afirmar uma ecologia sígnica fundada num sistema de interacções dinâmicas.