AFROTELA na Casa Mocambo

Um projeto da Afrolis - Associação Cultural que olha para afrodescendentes na tela e discute as representações disponíveis das nossas comunidades. As primeiras duas sessões foram no mês de outubro de 2016 com filmes que retravavam afrolisboetas e para as quais foram convidados participantes dos filmes para debater as temáticas tratadas. A partir de novembro de 2016 até março de 2017, criou-se uma parceria com a produtora Nega Filmes Produções que passou a fazer a curadoria das sessões e a dirigir os debates que se seguiam ao visionamento dos filmes. As sessões passaram a ser mensais e feitas em dois locais por mês, uma vez no centro de Lisboa (Casa Mocambo) e outra na Cova da Moura (Tabacaria Tropical). Para a temporada de 2019 , a Afrolis convida o ator e realizador Welket Bungué a retomar o projeto fazendo a curadoria das sessões cinematográficas que serão feitas em ambiente intimista com uma regularidade mensal na Casa Mocambo.

mais infos aqui. 

Carla Fernandes (diretora Afrolis - Associação Cultural)

Afrotela - Lugar de Fala is a project of Afrolis - Cultural Association where we look at Afrodescendants on the screen and discuss the available representations of our communities. The first two sessions were in October 2016 with films retracting afrolisboetas and for which the participants were invited to discuss the themes. From November 2016 until March 2017, a partnership was created with the production company Nega Filmes Produções, which began to curate the sessions and to direct the debates that followed the viewing of the films. The sessions began to be monthly and made in two places per month, once in the center of Lisbon (Casa Mocambo) and another in Cova da Moura (Tabacaria Tropical). For the 2019 season, Afrolis invites the actor and director Welket Bungué to resume the project by curating film sessions that will be done in an intimate and informal way with a monthly programme in the space Lugar de Fala.

Carla Fernandes (CEO of Afrolis - Cultural Association)

A companhia da solidão, notas soltas sobre o artista e a ideia de independência 

É preciso cuidar dos que sonham como se podam as oliveiras, como se regam as figueiras, como se pisam as uvas. O artista tem uma solidão que ama os outros. Estando só, sabe amar. Por isso te escrevo, comentando contigo estas vidas que nos surpreendem - ainda que sendo fruto das nossas vontades. E se me pedes que escreva sobre a independência do artista, penso sobretudo nessa solidão generosa. Uma solidão semente, que germina; e de onde nasce a ilha em que vivemos.

Meu irmão, a ilha é enorme o suficiente para repararmos uns nos outros só quando o assombro arranca gritos e a harmonia surge ou nos escapa. Nessa fração, estamos juntos. De resto, um eco longo e os imensos dias perdidos à procura de companhia na metrópole - compreensão, dinheiro, ambas as coisas? Mas eu sinto o caminho. O caminho leva-nos à fé e a fé ao caminho. É pelo caminho que vamos - e a única forma de independência (posso dizer liberdade?) é irmos por amor. Como a criança entrega a mão ao pai, assim nós a damos à vida.

No fundo, talvez estejamos só a fintar o capitalismo ou a resistir-lhe. Talvez seja essa coisa que não sei traduzir ‘freelancer’ - somos o pára-quedista sem pára-quedas. O treino diário do atleta - pensar, escrever, dizer, franquear o espaço interior - os músculos, os ossos, o sangue - ao trabalho avassalador do sonho, como quem encontra uma língua franca. Da vida, haveremos de levar paisagens interiores e outras que vemos das janelas de casa, do hotel, do comboio, do autocarro, do avião, do barco. Ergueremos a taça. Ainda assim, continuo sem saber quem é o artista. Talvez apenas quando morrer. (Costumo olhar pelo tempo com a beleza de quem não distingue passado de futuro). Se pensar em mim, sei o rio de perguntas e as mãos infinitas para lhes responder; se pensar em ti, sei o ímpeto, a raiz, o construtor.

Somos tão diferentes e apenas dois. Não me atrevo a pensar na humanidade. Prefiro antes regressar à ilha - olho em redor - vejo nítida a palavra cada vez mais pequena para cabermos todos, a menos que nos abracemos (nós, as dúvidas, a resistência, o fio da navalha, o corpo exposto, como se fosse ferida, o sonho a comandar a vida). Eu não sou independente - embora o meu pensamento tantas vezes o deseje e muitas vezes iluda os meus pés. Costumo perdoar para brincarmos nessa ilusão. É essa a coisa que me cativa - sorver a vida e ao mesmo tempo contemplá-la.

por Cátia Terrinca a Welket Bungué - atriz, dir. artística UM COLETIVO 

TERRA AMARELA / YELLOW COUNTRY by Dinis M. Costa


Eng: ‘Yellow Country’ is an uninterrupted and claustrophobic journey that takes us to the underworld of one of the largest criminal organizations of the 21st Century, Human Trafficking. In about 15 minutes, the story captures the chaos through the eyes of the victims, a dance between men and women from different parts of the world, that portrays Europe as no man’s land.

Pt: ‘Terra Amarela’ é uma viagem claustrofóbica, ininterrupta, que nos leva até ao submundo de uma das maiores organizações criminais do Séc. XXI, o Tráfico Humano. Em cerca de 15 minutos, no meio do caos composto por homens e mulheres oriundos de várias partes do mundo, o filme apresenta-nos uma coreografia entre o olhar do espectador e o movimento dos corpos, retratando a Europa como terra de ninguém.

short film | thriller | Color 18’ | Portugal, España, 2018

SOULLEIMANE by Paulo Pancadas

Eng: In an impersonal emotional universe, characterized by anonymous experiences where everything is opaque, uncertain and fleeting, Soulleimane is an illegal immigrant cornered who is looking for a solution to his problem, it meets Teresa. The narrative of a slow fading of the expectation lived in the fugacity of a transitory meeting between two marginal characters.

Pt: Num universo emocional impessoal, caracterizado por experiências anónimas onde tudo é opaco, incerto e fugidio, Soulleimane é um emigrante ilegal encurralado que na procura da solução para o seu problema, conhece Teresa. A narrativa de um lento esmorecer da expectativa vivida na fugacidade de um encontro transitório entre duas personagens marginais.

short film | drama | Color 14’ | Portugal, 2013

Eng: Tónia is an extroverted, sensitive and cheerful girl who dreams of being a journalist. His life changes when his mother sends her to his uncles’ home in the city, where he is being mistreated. With so many obstacles will Tonia achieve its great goal?

Pt: Tónia é uma menina extrovertida, sensível e alegre que sonha ser jornalista. A sua vida muda quando a mãe a envia para a casa dos tios na cidade, onde passa a sofrer maus tratos. Com tantos obstáculos será que Tónia vai alcançar o seu grande objectivo?

short film | drama | Color 20’ | São Tomé e Príncipe, 2017

ISA

by Patrícia Vidal Delgado

Eng: Isa is a young outreach worker who uses forum theatre as a tool to promote awareness and discussion of social issues. The gulf between theory and practice widens when her work is mirrored by her reality.

Pt: Isa é uma jovem cabo-verdiana que acredita no teatro fórum para incentivar a discussão sobre problemas do bairro. O fosso entre a teoria e a prática alarga-se quando o seu trabalho é espelhado na sua realidade.

short film | drama | Color 15’ | Portugal, 2014

MINA KIÁ by Kátia Aragão


Eng: Isa is a young outreach worker who uses forum theatre as a tool to promote awareness and discussion of social issues. The gulf between theory and practice widens when her work is mirrored by her reality.

Pt: Isa é uma jovem cabo-verdiana que acredita no teatro fórum para incentivar a discussão sobre problemas do bairro. O fosso entre a teoria e a prática alarga-se quando o seu trabalho é espelhado na sua realidade.

short film | drama | Color 15’ | Portugal, 2014

TRADIÇÃO E IMAGINAÇÃO / TRADITION AND IMAGINATION by Vanessa Fernandes

Eng: In Benin, some still fears the sea, memories of a past of slavery are kept. A memory that resists. It is on the main road of the city of Ouidah, “The Slave Route”, in the heavy monuments of abandonment, in the gestures of the dancing to the sound of the wind and the sea. It is the words of the elders that revitalize the light, and the hope of rediscovering what has been lost.

Pt: No Benim, ainda se tem medo do mar, guardam-se as memórias de um passado de escravatura. Uma memória que resiste. Está na estrada principal da cidade de Ouidah, “A rota dos escravos”, nos pesados monumentos ao abandono, nas pautas dos gestos dançados ao som do vento e do mar. São as palavras dos anciões que revitalizam a luz, e a esperança de reencontrar o que foi perdido.

SOPRO, UIVO E ASSOBIO / BLOW, HOWL, WHISTLE

by Bernard Lessa

Eng: Juan and Djari are foreigners who met in Rio and became best friends. Juan has a bad feeling, something is wrong, the wind whispers. In a conversation with Djari, Juan warns him that he will leave. Something sudden happens before he travels. Djari will have to deal with this.

Pt: Juan e Djari são estrangeiros que se conheceram no Rio e se tornaram melhores amigos. Juan tem um mal pressentimento, algo está errado, o vento sussura. Numa conversa com Djari, Juan o avisa que ele vai partir. Algo repentino acontece antes que ele viaje. Djari terá que lidar com isso.

short film | drama | Color 21’ | Brasil, 2015

PELE DE PÁSSARO / BIRD SKIN

by Clara Peltier

Eng: Tuane wears a costume to face reality.
Pt: Tuane veste uma fantasia para enfrentar a realidade.

short film | documentary | Color 16’ | Brasil, 2016

 

Welket Bungué Welket Bungué WELKET BUNGUÉ | CURADOR

Eng: Balanta and Luso-Guinean, Welket Bungué born in Xitole (Guinea-Bissau) on February 7, 1988. He is son of Paulo T. Bungué, a Forest Engineer an expert in Guinean forest territory, specialized in cashew tree cultivation, and son of Segunda N ‘cabna, an ex-military and retired Guinean National Guard. He had as maternal reference Maria de Fátima B. Alatrache, his father’s last wife. Son of emigrants, Welket began his artistic training in 2005. He holds a degree in theater from the Actors branch (ESTC / Lisbon) and a postgraduate degree in Performance (UniRio / Brazil). He is a Permanent Member of the Portuguese Academy of Cinema since 2015. In 2012, he was awarded as “Best Actor” for his performance in MÜTTER, also directed the short films MESSAGE, WOODGREEN, AGINAL, ARRIAGA(2018) and BASTIEN in which he was distinguished with the “Best Actor Award” and “Best First Film’ by Shortcutz Awards 2017 in Ovar and Viseu (Portugal). Welket integrated the cast of JOAQUIM, by Marcelo Gomes (premier in Berlinale 2017), BODY ELECTRIC (IFFR 2017), KAMINEY, by Vishaal Bahardwaj, LETTERS FROM WAR, by Ivo M. Ferreira and stars in ‘Berlin Alexanderplatz ‘the new film by German-born director Burhan Qurbani (’ We Are You, We Are Strong ‘). Since 2016 he has been working regularly with the Mala Voadora theater company (Portugal). He is also a speaker for international brands, he develops Dramatic Writing, Scriptwriting, Performances and Theater. He currently living between Rio de Janeiro and Berlin. Photo by KRISTIN BETHGE

Pt: Balanta e luso-guineense, Welket Bungué, nasce em Xitole (Guiné-Bissau) a 7 de Fevereiro de 1988. Welket iniciou a sua formação artística em 2005. É licenciado em Teatro no ramo de Atores (ESTC/Lisboa) e pós-graduado em Performance (UniRio/RJ). É Membro Permanente da Academia Portuguesa de Cinema desde 2015, Em 2012 foi distinguido com “Prémio de Melhor Ator” pela sua interpretação em MÜTTER, realizou as curtas-metragens MENSAGEM,WOODGREEN e BASTIEN no qual foi distinguido pelo ‘Prémio de Melhor Ator’ nos prémios Shortcutz 2017. É também locutor para entidades internacionais, desenvolve Escrita Dramática, Argumento de Cinema, Performances e Teatro. Atualmente vive entre o Rio de Janeiro e Berlim.

 

CARLOS KANGOMA | HOST

Eng: Carlos Kangoma aka Lucy is a musician and executive producer of the Ecos Urbanos program. Born in Angola on October 29, 1984. Moved to Portugal in 1987 due to the scourge of war. At the age 12 he goes to Odivelas and knows rap. He formed the group Mentes Criminosas and edited the first album in 2009 titled ‘Cara o Coroa’, at that time conciliate the concerts with the course of Languages, Literatures and Cultures of the faculty of Letters of the University of Lisbon. After the release of the album, it decides to embark on the production of a cultural program (urban echoes), with the intention of promoting artists and organizations. Photo by KRISTIN BETHGE

Pt: Carlos Kangoma aka Lucy é músico e produtor executivo do programa Ecos Urbanos. Natural de Angola, nascido a 29 de Outubro de 1984. Mudou-se para Portugal em 1987 devido ao flagelo da guerra. Vive a sua infância na região da Venda do Pinheiro e aos 12 anos vai para Odivelas e conhece o rap. Formou o grupo Mentes Criminosas e editou o primeiro álbum em 2009 intitulado ‘Cara ou Coroa’, nessa altura concilia os concertos com o curso de Línguas, Literaturas e Culturas da faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Passados 3 anos de digressão, forma juntamente com alguns músicos de Odivelas um novo colectivo intitulado Odc Gang e lança o seu segundo trabalho colectivo intitulado ‘Escumalha’, nessa altura concilia a segunda digressão com o curso profissional de Microbiologia Alimentar no CFPSA. Em 2016 finalmente lança o seu primeiro trabalho a solo intitulado ‘Uma História Para Contar’. Após o lançamento do álbum, decide embarcar na produção de um programa cultural ( ecos urbanos) , com o intuito de divulgar artistas e organizações num cenário mais intimista e formato casual. Neste momento já vai lançar o seu 2 álbum a solo intitulado ‘Primeiro Capítulo’ enquanto vai dando espetáculos a nível nacional e internacional.

 

 

 

 

por vários
Afroscreen | 13 Dezembro 2018 | Afrolis, Afrotela, Nega Produções