Festival Imaterial — Património Pensado e Vivido

18—26 Junho 2021 | Évora, Portugal

Festival Imaterial

Em 2014, a Unesco acolheu o cante alentejano na sua rigorosa e preciosa listagem de expressões locais elevadas a Património Imaterial da Humanidade. Ao fazê-lo, colocava a música mais profundamente enraizada no Alentejo na companhia do fado, do flamenco e de vários outros géneros musicais planetários que devem ser protegidos e valorizados. Músicas, afinal, que fazem parte da História dos povos, que os definem e identificam, que ajudam a contar as suas vidas e a fixá-las naquilo que têm de único. Músicas que sobrevivem através da transmissão directa entre gerações e fornecem a novas gerações uma cartografia que sinaliza de onde vêm a herança identitária que lhes é passada. No caso do cante alentejano encontramos, com facilidade, a representação da vida comunitária e social da região, a relação com o trabalho, o imenso respeito pela terra e pela Natureza, a partilha dos afectos, a celebração dos costumes ou o temor à morte. E este é um exemplo flagrante de como a música acontece, na sua expressão popular, em directa relação com o espaço. Espelha-o, imita-o, prolonga-o.

O IMATERIAL, integrado no desenho da candidatura de Évora 2027 – Capital Europeia da
Cultura, parte dessa noção aguda de que a música existe no espaço e dialoga com ele. De que as culturas se relacionam mesmo quando podem ignorá-lo. A pretexto deste lugar, que é Évora, em que o Património Imaterial se encontra de forma tão clara com o Património Material que a UNESCO também reconheceu em 1986, a cidade, a sua envolvência e toda a região do Alentejo Central tornam-se o palco perfeito para que as músicas que são património da humanidade se apresentem em lugares carregados de História e possam com cada um deles encetar um diálogo único que nos será dado a escutar. Um diálogo entre culturas distintas, entre passado e presente, entre património edificado e património que só existe dentro dos seus intérpretes, em busca de um reconhecimento do outro e de valorização das diferenças.
Como se com o Imaterial fôssemos recordados de que a paisagem é o lugar que temos diante de nós, mas também o som que o acompanha a cada instante.

Residência Artística 

Quando são frutuosas, as residências artísticas criam novos caminhos. Não se limitam a oferecer meios para que os seus protagonistas continuem a fazer aquilo que já antes faziam. Não se limitam a ser uma mera mudança de cenário. No Imaterial, a ideia de base foi simples: a de criar encontros entre tradições de canto polifónico, partindo, como é evidente, do cante alentejano.
Olhar a cultura local e partir em busca de expressões semelhantes e com as quais a proximidade de linguagens possa promover esta ideia de que, por mais quilómetros que se intrometam entre os povos, haverá sempre mais a unir-nos do que a separar-nos.
Ao longo de alguns dias, a residência proporcionará um encontro e um diálogo que ultrapassa quaisquer dificuldades de comunicação através da linguagem falada. A música, bem o sabemos, atalha entendimentos e proporciona uma profundidade de trocas e de conversas quando, por vezes, as palavras só atrapalham e pouco dizem de cada um. Através da música, o vocabulário torna-se rapidamente comum e as pontes estabelecem-se de forma intuitiva e emocional,
destapando lugares novos e antigos em simultâneo – a partir de tradições seculares, há uma viagem empreendida por todos, até um lugar de compromisso e deconstrução de uma nova geografia sonora. Após a realização da residência, os trabalhos conjuntos darão frutos públicos através de um concerto ao ar livre, aberto a todo o público que se quiser tornar testemunha da música resultante desta escuta mútua. Porque é sempre a ouvirmos os outros que conhecemos mais sobre nós.

Conferência Sobre Património Imaterial Da Humanidade

O IMATERIAL nasce de um contexto específico local, desse lugar de encontro entre o património edificado e o património imaterial, animado por um desejo de colocar os dois em diálogo, mas também pelo compromisso em agitar o pensamento em torno destes legados. Para alimentar a discussão e a reflexão, o Imaterial conta, a partir da sua primeira edição, com uma Conferência sobre Património Imaterial da Humanidade que juntará vários dos maiores especialistas mundiais nesta matéria, acolhendo ainda uma série de conferências paralelas que debaterá o património tanto imaterial quanto edificado, e a relaçãocontemporânea com as heranças regionais. Assim, na presença de figuras destacadas comtrabalho na área e de um extenso número de convidados internacionais (jornalistas, progra-madores e influencers), terá lugar uma troca de experiências e de conhecimentos sobre asresponsabilidades e os desafios que pendemsobre tradições e expressões vivas. Porque estes patrimónios nem sempre podem ser guardados e preservados num museu; a sua preservação exige que sejam criadas condições para que se mantenha vivo e relevante para as gerações que nos sucedam.
Só ao entregarmo-nos a um pensamento colectivo e ao escutarmos as vozes daqueles que investigaram e trabalharam de perto com estas manifestações locais únicas e irrepetíveis podemos compreender melhor o nosso papel enquanto peças de uma longa cadeia que importa saber projectar sempre para lá dos curtos horizontes do presente.

Apresentação do Laboratório de investigação IN2PAST

Da paisagem às artes, dos monumentos aos museus e arquivos, passando pelas políticas públicas de memória, o património cultural vai ter um laboratório associado financiado pela Fundação para a Ciência eTecnologia. É uma primeira conversa sobre este novo laboratório que terá como sede a Universidade de Évora, e que envolve também, entre outras, a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade do Minho.

Iberian Music Meeting

Numa época em que se fala, mais do que nunca, de muros a serem erguidos, de fronteiras
a serem reerguidas e de uma generalizada desconfiança do “outro” – o outro que somos nós, mas nascidos noutra circunstância –, é vital que o Imaterial se posicione também como plataforma de contactos entre os vários do mercado da música a nível planetário. Até porque também a pandemia de covid-19 veio lembrar-nos o quanto nos é essencial o pulsar da música ao vivo, assim como quão diferente e marcante é a experiência colectiva de nos reunirmos em torno de sons que vemos ganhar vida à nossa frente. A plataforma profissional associada ao Imaterial remete-nos também para uma das características notáveis do património imaterial – a faculdade de transportar uma identidade local e levá-la a correr mundo, apresentá-la num outro lugar, estabelecer diálogos e promover encontros entre povos. E visa, em específico, a promoção de artistas ibéricos cuja criação esteja ancorada nas raízes populares, nas músicas
tradicionais e na tradição oral, incluindo todos aqueles que tomam essas raízes como pretexto
para reequacionar, desconstruir ou actualizar essas pistas passadas. Ao longo de três dias, preenchidos por conferências, mesas redondas, oficinas, speedmeetings e show-cases, as músicas de raiz e expressão ibérica mostrar-se-ão a um amplo conjunto de pro-gramadores, agentes, promotores, produtores, editoras, técnicos e jornalistas de todo o mun-do, potenciando o alcance internacional da sua expressão e assumindo um compromisso de
celebrar as músicas ligadas ao passado garantindo-lhes também a viabilidade de um futuro.
Porque se há um movimento interior na essência do Imaterial, associado à celebra-ção e à vivência do património imaterial a partir da realidade local alentejana, existe um outro movimento, simultâneo, dirigidopara o exterior, impelido pelo desejo departilhar toda a riqueza destas terras com quem possa contá-la e mostrá-la ao mundo.

Ficha técnica
IDEIA E CONCEPÇÃO

Carlos Seixas e Luís Garcia

ORGANIZAÇÃO

Câmara Municipal de Évora/DCP

DIREÇÃO GERAL

Luís Garcia

DIREÇÃO ARTÍSTICA

Carlos Seixas

PRODUÇÃO

Câmara Municipal de Évora

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Gindungo Intenso

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO

Carla Dias, Francisca Lima, Marta Dobosz, Nuno Figueiredo

DIREÇÃO TÉCNICA

João Paulo Nogueira, Manuel Chambel, Pedro Bilou, Pedro Leston
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO

Adelino Rodrigues, Ana Duarte, José Bugalho, Maria de Jesus Tenda, Sónia Melro

COMUNICAÇÃO

Divisão de Comunicação CME, Joana Dias, João Pinho, Paula Santos, Raquel Bulha, vivóeusébio

TEXTOS

Gonçalo Frota

CONCEPÇÃO GRÁFICA

vivóeusébio

EQUIPAMENTOS E ESTRUTURAS

José Macau, Nelson Ribeiro, Nuno Urbano

VIDEO E STREAMING GMT

Produções Infimo Frame


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Vou lá visitar | 27 Maio 2021 | evento, festival imaterial, música, património