Confronting the Gaze | Os olhares em confronto
Com curadoria de Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Ines Branco López, “Os olhares em confronto” é um ciclo que faz parte do programa da 14ª edição do Lisbon & Sintra Film Festival.
Organizado entre Lisboa e Sintra, de 16 a 23 de novembro, este evento consiste na exibição de vários filmes/documentários sobre temas como feminismo, emancipação feminina, sexualidade, etnia, pobreza, infância, negritude, identidade, memória coletiva e saúde mental.
“Como lutar contra o inconsciente que é estruturado como uma linguagem, quando ainda estamos presos à linguagem do patriarcado?” Noutras palavras, como podemos livrar-nos das obsessões e dos pressupostos da nossa sociedade patriarcal, e como evitar que as imagens cinemáticas os reproduzam? Os filmes Riddles of the Sphinx e The Watermelon Woman guiam-nos na busca por uma resposta a estas perguntas.”
- Ines Branco López
“Riddles of the Sphinx” – Laura Muley e Peter Wollen, 1977
Riddles of the Sphinx apresenta-nos toda uma nova perspetiva cinematográfica sobre a reconstrução do papel da mulher numa sociedade patriárquica.
Ao longo do filme assistimos à história de uma mulher que representou e representa muitas outras mulheres. Com problemas pessoais, com uma filha para criar sozinha, um emprego cansativo e uma sociedade que exige ao extremo de si, esta mulher não ficou parada e decidiu lutar pelos seus direitos. Deixou de ser “apenas” mãe, e procurou conquistar um bem maior para todas as mães na sociedade em que se inseria: igualdade.
Representa uma mãe solteira, com trabalho a tempo inteiro, mas não só, representa uma mulher divorciada que quis explorar a sua sexualidade com uma parceira negra, deixando para trás todo um conforto numa sociedade perita em fazer julgamentos morais.
Um filme inquietante e intenso, quer seja pela forma como foi filmado, focando o espaço em si, quer seja pela música que se enquadrava perfeitamente em todas as cenas. Ficamos ligados à história de uma mulher de 1977, que podia ser de 2020.
“The Watermelon Woman” – Cheryl Dunye, 1996
Cheryl Dunye gravou The Watermelon Woman com apenas 25 anos de idade. Interessou-se pela história de uma atriz negra e decidiu contá-la ao mundo, enquanto nos conta também as adversidades pelas quais passou, sendo ela própria negra e lésbica no século XX.
O que se destaca neste filme é a dificuldade que Dunye teve de contar a história de Fae (a atriz negra conhecida como Watermelon Woman) não existiam registos oficiais da mesma, era como se nunca tivesse feito filmes, ou até existido. Este facto pode levar-nos a pensar na representatividade negra, ou na falta dela, no cinema.
“(…) observamos a representação cinematográfica das mulheres negras: negada, tal como o direito ao olhar havia sido negado durante a época de escravatura.”
- Ines Branco López
O racismo encontra-se perpetrado na arte cinematográfica pelos crimes de colonização, desde sempre enaltecidos numa gloriosa historicidade. Dunye abre caminho para que a representatividade negra possa ser feita e também de maneira correta.