Cine Nimas 500
Gostaria de fugir às nostalgias coloniais mas o intelectualismo ficcionado (no sentido europeu da coisa) impossibilita-me. CINÉMA FRANÇAIS :«Les personnages» - Mademoiselle é um destino que nos persegue. Mesmo que abandonemos a memória, os monumentos e lugares carregam os seus fantasmas. Fantasmas? Souvenirs. Les Fantômes? – Non, Mademoiselle, não são esses fantasmas, estes só existem na Torre do Tombo. E o Nimas. O Nimas Sébastien!? RÊVE AVEC MOI. O Nimas é um fantasma da cinematografia, ou é um fantasma da filmografia (— Xé, pára só de filosofar!).
O Nimas 500, onde nós, os filhos do «império» assistíamos ao glamour do cinema com histórias arquitectadas por cineastas “amicíssimos” de Salazar. -Mademoiselle e vós nunca o d/escrevestes? O Cine Nimas 500 a titulo ilustrativo, nunca. O cine nada me dizia até anteontem… Enfim, por momentos acreditei na minha idoneidade moral. «Os bancos banhados a ouro (—Mademoiselle, ouro? Não engana só os leitores, yá!?). Sébastien, Mon Chéri, Glamour Glamour…!!! La magie du cinema, chéri!! LUZ, CÂMARA… ACÇÃO…, para tua mimadez descritiva acrescenta aí cobre, em vez de ouro. Os bancos vermelhos «maron». A tabacaria logo à entrada. Sébastien: “JORNAL DO LOBITO, JORNAL SEMANAL A X ESCUDOS, VENHA COMPRAR O JORNAL SEMANAL!! JORNAL DO OLUPITO, NOTÍCIAS FRESQUINHAS DA CIDADE DOS FLAMINGOS”. ( - CORTAAAAA! Não acha que devia abandonar os conceitos do «império», Mademoiselle tem a certeza que quer incluir o grito do jornaleiro? Sebastian o que seria de uma tabacaria colonial sem jornais? -Mademoiselle, entenda. Os leitores na sua divagues desistirão de lê-la. Não divague tanto. Sebastian Je suis un être errant!! (…) Capítulo XVI: “Oh escuridão bailunda, leva-me de vez em quando esta sensação de desassossegamento! Escuridão bailunda, caminho de rinoceronte. Salpica no chocalho o pó, lama e vetusto de caracóis. Oh, então, seu pisa cabrito vento importuno. Sabi, sabi,sassi, sassi. Salientamos que é escuridão bailunda. A meio gás é o pisa cabrito e o soba do mussecal…” – escrito em carvão nas paredes modernistas do cine, à volta os ratos devoram o que resta do camarim, uma moldura arranhada no chão, alguns vestidos pendurados e o espelho coberto de pó. Por entre as paredes degradadas grafiteiros fizeram daquele espaço morto poesia e estatística da memória- Ainda, cá dentro para além do ruído das personagens ouve-se o barulho do oceano!- conta a senhora «anónima». O restaurante. O bar. A boutique. GLORIEUX! PLATEIA: bilhete x escudos. BALCÃO e TRIBUNA: bilhete x escudos. E o porteiro, como sabe, era seu pai Sebastian, um homem alto de cerca de metro e noventa, corpulento. Ar de poucos amigos. Sem sombra de dúvidas seu pai. Observe como está aprumado no meu imaginário cinematográfico. “La magie du cinema, chéri!” - Mademoiselle ali o meu pai tinha que ser surdo, mudo e cego! Oh, o que se fez com a narração? (…)
Indira Grandê in Cine Nimas 500