Exposição colectiva de BABU x SUEKÍ de nome “Pedras no Caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”

A exposição colectiva de BABU x SUEKÍ de nome “Pedras no Caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…” esta sexta feira, dia 2 de Dezembro de 2022, a partir das 18:00. 

Entrada é livre.

 

Segundo Dominick A Maia Tanner: “Em finais de 2021, ainda sob a ameaça da pandemia, os artistas angolanos Babu e Suekí participaram na terceira edição de uma residência artística na África do Sul com o apoio de organizações locais ´AVA´ e ´Worldart Gallery´, e do ´ELA-Espaço Luanda Arte´ à distância. Provou ser um momento difícil para ambos artistas,  cheio de imprevistos, e muitas vezes exacerbado pela familia distante e ansiedade por elas transmitida (que é normal). Mas as “pedras no caminho” e as obras que os artistas criaram, fruto das vivências frustradas e menos agradáveis vividas na Cidade do Cabo, provaram e continuam a provar que foram necessárias para se chegar a um lugar bom: esta exposição a dois. 

O ´ELA´ é um espaço de arte contemporânea com mais de 7 anos de existência, situado na Rua Alfredo Troni 51/57, na baixa de Luanda ao lado do Ministério das Relações Exteriores. 

Depois da inauguração, esta mostra poderá ser visitada entre terça e domingo, das 12h às 20h, até 25 de Janeiro 2023.

 

30.11.2022 | por catarinasanto | arte, BABU, Babu x Sueki, exposição, SUEKÍ

Império, Espaço e Propaganda e visitas conversadas ainda antes de acabar o ano

Império, Espaço e Propaganda e visitas conversadas ainda antes de acabar o ano

A corrente exposição inspira o debate: Império, Espaço e Propaganda será o tema da próxima Mesa Redonda, a acontecer já no próximo dia 24, pelas 18h30,  no auditório do Padrão dos Descobrimentos.
Neste encontro entre Cláudia Castelo, Gonçalo Carvalho Amaro e Miguel Bandeira Jerónimo, com moderação de António Camões Gouveia, foca-se a perspetiva histórica adjacente aos projetos, que ora não avançaram, ora avançaram a muito custo, muito tempo e muitas alterações depois. 

Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Confirme a sua presença para o 213 031 950 ou para o email comunicacao@padraodosdescobrimentos.pt 

21.11.2022 | por catarinasanto | debate, exposição, mesa redonda, Padrão dos Descobrimentos

Exposição Ampevu - Lubanzadyo Mpemba Bula

Exposição Ampevu, de Lubanzadyo Mpemba Bula a partir de 16.11 Arroz Estúdios 
Curator : Manuel Dias dos Santos 

Ampevu derivada da verbo mpevu, pode ser lida do kikongo língua muntu de Angola como vento leve, mas também  sopro fresco que as cores desta exposição  nos confrontam num formato intimista de um artista multidisciplinar que regressa a pintura, quando tem estado mais virado para a fotografia, video arte.

Uma viagem de luz encetada por Lubanzadyo Mpemba Bula, que utiliza as cores como âncora, mas também os suportes como elementos que realçam a luz que as cores em confronto contrastante produzem.

15.11.2022 | por catarinasanto | ampevu, arroz estudios, exposição, Lubanzadyo Mpemba

'O Estranho Caso da Praça do Império' e o 'Império, Espaço e Propaganda'

‘O Estranho Caso da Praça do Império’ e o ‘Império, Espaço e Propaganda’ em debate no Padrão dos Descobrimentos

No âmbito da programação paralela da exposição ‘Sombras do Império’. Belém, Projetos, Hesitações e Inércia, terá lugar, no dia 15 de novembro, às 18h30, a primeira de duas mesas-redondas: ‘O Estranho Caso da Praça do Império: desenho urbano e arquitetura’, com João Paulo Martins, Ricardo Agarez, Ricardo Bak Gordon e moderação de Helena Botelho.No dia 24 novembro, também às 18h30, ocorrerá a segunda mesa-redonda com o título ‘Império, Espaço e Propaganda’ e participação de Cláudia Castelo, Gonçalo Carvalho Amaro, Miguel Bandeira Jerónimo e moderação de António Camões Gouveia.Destaque ainda para a visita conversada de dia 20 de novembro, às 11h00, ‘Sombras do Império’, com os arquitetos João Paulo Martins e José Manuel Fernandes. 
Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Confirme a sua presença para o 213 031 950 ou para o email comunicacao@padraodosdescobrimentos.pt

09.11.2022 | por catarinasanto | exposição, Padrão dos Descobrimentos, projeto, Sombras do império

Exposição de Cássio Markowski & Lisbon Art Weekend

Inauburação da Exposição de Cássio Markowski & Lisbon Art Weekend. No periodo de 26 Novembro a 21 de Janeiro. 

07.11.2022 | por catarinasanto | arte, cássio markowski, exposição, Inauburação, lisbon art weekend

Lino Damião inaugura “De Lândana Ao Virei”

28 de outubro – 5 de novembro

Inauguração: 28 de outubro, das 18h30 – 21h

Horário: diariamente, das 11h às 00h

Entrada gratuita

“De Lândana ao Virei” inaugura no dia 28 de outubro. Será a última de cinco exposições apresentadas no âmbito das celebrações finais do Espaço.

O artista Angolano Lino Damião inaugura “De Lândana Ao Virei”, no dia 28 de outubro. Esta exposição conta com a curadoria de Lourdes Féria. Depois de ter já participado em diversas exposições individuais e coletivas, dentro e fora de Portugal, e com uma obra representada em várias coleções e dispersa por vários continentes, o artista mostra-nos agora o seu trabalho mais recente. Quanto ao Espaço Espelho D’Água esta será a última exposição que apresenta, chegando ao fim a 5 de novembro.

Lino Damião tem já uma relação de longa data com o Espaço. Aqui, participou em duas exposições coletivas: “Comuting: Os das Bandas”, 2016 e “Lelu Kizua”, 2020, esta última com curadoria de João Silvério e Inês Valle. Apresenta agora “De Lândana Ao Virei”, a sua primeira exposição individual neste local.

Ao visitar esta exposição, entre os dias 28 de outubro e 5 de novembro, poderá observar várias obras do artista, todas dedicadas à pintura abstrata. Para a curadora Lourdes Féria, a exposição distingue-se pelas “desinibidas pinceladas de cor lançadas na superfície dos quadros que sugerem geografias, rapsódias musicais, horizontes abertos, padrões de pensamento, evocando ao mesmo tempo o poder perturbante do silêncio nas paisagens vazias de figuras. Nesta itinerância mental funde-se o real com o imaginário.”

Luandense de nascimento, Lino Damião inspira-se nas memórias ganhas em viagens dispersas que fez entre 2009 e 2017, compondo um mosaico de estadias diversas entre Lândana e Virei, extremos geográficos do seu vasto pais de origem. Apresenta-nos aqui o seu modo muito característico de trabalho, baseando a pintura não apenas nas suas experiências pessoais, mas também no dia-a-dia dos outros. O seu percurso é feito de cruzamentos, entre tintas, telas, pincéis, exposições e concertos de jazz.

25.10.2022 | por Alícia Gaspar | de lândana ao virei, espaço espelho d'agua, exposição, inauguração, Lino Damião

O impulso fotográfico: (Des)arrumar o arquivo colonial

“O impulso fotográfico” alude à expansão da fotografia pelo mundo, e consequentemente à sua apropriação considerada fidedigna e realista.

Prova do Crime, Nkaka Bunga Sessa e Soraya Vasconcelos, 2021. A partir de imagem original da missão de delimitação de fronteira em Lourenço Marques [Maputo], 1890-91. UL-IICT-Col. Foto-MGG 4003Prova do Crime, Nkaka Bunga Sessa e Soraya Vasconcelos, 2021. A partir de imagem original da missão de delimitação de fronteira em Lourenço Marques [Maputo], 1890-91. UL-IICT-Col. Foto-MGG 4003

Quando: 26 de Novembro de 2022 a 31 de Maio de 2023

Onde: Museu Nacional de História Natural e da Ciência

“O impulso fotográfico” alude à expansão da fotografia pelo mundo, e consequentemente à sua apropriação considerada fidedigna e realista.

Nesta exposição, a expansão da fotografia associa-se à expansão científica colonial, e a uma certa vocação colonial da fotografia sob a forma de uma tecnologia usada pela ciência para medir, classificar e arquivar documentos de modo potencialmente infinito, reprodutível e difundido de modo massificado.

Partindo desta obsessão pela medição e classificação, mostra-se os modos como territórios e corpos africanos foram medidos e apropriados durante as missões científicas de geodesia, geografia e antropologia e como se difundiram as narrativas da ciência colonial. Mas também se mostra como resistiram, através de outras histórias (ficcionais ou não), desvendadas e criadas pelo sentido crítico da curadoria participativa de artistas e investigadores(as) e ativistas.

A exposição é o resultado destes encontros, dúvidas e questionamentos da equipa multidisciplinar que se envolveu em diferentes fases do projeto, desde a conservação e restauro à digitalização de fotografias e filmes, desde a investigação teórica à propostas artísticas, até à própria construção museográfica.

Qual o significado destas coleções de fotografias e objetos, no presente, para as diferentes comunidades?  Que marcas deixaram enraizadas na sociedade?

Esta é uma exposição concebida para questionar e ser questionada.

Site PhotoImpulse

Photo ImpulsePhoto Impulse

Photo Impulse visa contribuir para a história e a teoria portuguesas da fotografia e do filme científicos, trazendo para este campo as imagens produzidas em diversas expedições geográficas e antropológicas realizadas às então colónias portuguesas em Africa e na Ásia, entre 1883 e 1975. A maioria dessas missões foram promovidas pelas autoridades portuguesas através da Comissão de Cartografia e das instituições que lhe sucederam, a última das quais o Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Atualmente, grande parte do material em estudo pertence ao Museu de História Natural e Ciência, parceiro do projeto.

Pretendemos contribuir para a análise das especificidades políticas e comunicativas desses meios visuais, da sua cultura visual e contexto histórico, bem como das relações que as imagens desenvolvem com a produção dos saberes na Geografia e na Antropologia portuguesas.

Produzido principalmente no contexto da política colonial, o material de estudo abrange diferentes regimes políticos: a monarquia tardia (especificamente o período de 1890 a 1910), a Primeira República (1910-1926), a ditadura fascista (1926-1974) e a viragem para democracia (1974-1975).

Foco principal

O ponto de partida do projeto é a ideia de que a fotografia e o filme são formas de apropriação simbólica, uma apropriação que se tornou efetiva tanto no terreno como nos espíritos. São, também, formas de produção do espaço (Henri Lefebvre) e de o habitar (Heidegger).

Tomamos como princípio norteador e ideia inspiradora as relações entre mapas, fotografias e filmes nos seus sentidos mais latos: mapas como “fotografias” do território; fotografias como um tipo de mapa; filmes como histórias espaciais (De Certeau) e os atos de fotografar ou filmar como atividades de mapeamento (Denis Wood).

Consideramos que a fotografia e o filme fixam relações de poder no exato momento de tirar a fotografia ou de fazer o filme. Quer seja de forma consciente ou não, certas relações tendem a ser replicadas ao longo dos muitos usos das imagens. Diante do nosso arquivo colonial, além de procurar entender como as imagens eram utilizadas, pretendemos investigar como podemos descolonizar esse legado visual.

Porquê o nome “Photo Impulse”?

Photo Impulse é uma referência ao trabalho incontornável da historiadora de arte Svetlana Alpers, que identificou um “impulso cartográfico” na pintura holandesa do século XVII. No nosso contexto, as práticas fotográficas e cinematográficas aqui estudadas visavam a constituição de mapas geográficos mas também de um Atlas Colonial dos territórios e dos povos sob dominação portuguesa. Foram aplicadas metodologias para mensurar terras e corpos. Identificamos assim um “impulso fotográfico” que revela como estes media eram percebidos como instrumentos modernos e fidedignos.

 

Nota: Exposição criada pelo projeto O Impulso Fotográfico: Medindo as Colónias e os Corpos Colonizados, O arquivo fotográfico e fílmico das missões portuguesas de geografia e antropologia”, financiado pela FCT (PTDC/COM-OUT/29608/2017). Este projeto está sedeado no Instituto de Comunicação da Nova, da NOVA Faculdade Ciências Sociais e Humanas, e tem como parceiros o Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa e a NOVA.ID. da Faculdade de Ciências e Tecnologia.

12.10.2022 | por Alícia Gaspar | arquivo colonial, arte, colonialismo, exposição, fotografia, impulso fotográfico, pós-colonialismo

“Fictional Grounds” é a nova exposição do coletivo berru

Para ver, a partir de 20 de outubro, na Escola das Artes da Católica no Porto.

Simulações de solos de um território imaginado através das quais se pode procurar vestígios de minerais com potencial energético e apresentar amostras de terra provenientes de diferentes origens com composições variadas que são montadas em planos bidimensionais – é esta realidade ficcionada que se poderá assistir de perto na nova exposição “Fictional Grounds” do coletivo artístico berru criado no Porto, que venceu o prémio Sonae Media Art 2019, e que já expôs e foi responsável por instalações em instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, BoCA Biennial of Contemporary Arts, e The Old Truman Brewey (Londres). A exposição conta com curadoria de Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa.

A inauguração tem data marcada para 20 de outubro, às 19h00 na Escola das Artes. A entrada é livre.

A exposição será apresentada ao público através de planos bidimensionais e colocados no espaço expositivo como se de pinturas ou esculturas minimalistas se tratassem. Vista de uma forma crítica e movida pela urgência da catástrofe ecológica atual, a exposição estabelece uma relação subtil com o universo dos earthworks (trabalhos com terra) dos artistas pioneiros da Land Art como Robert Smithson, Richard Long ou com a famosa exposição de Walter de Maria quando em 1977 encheu uma galeria de Nova Iorque com 140 toneladas de terra.

Em ‘Fictional Grounds’ está bem patente a visão característica de berru, cujo trabalho que têm vindo a desenvolver é baseado numa ideia de exploração de mecanismos, conceitos e materiais muito diferenciados,” salienta Nuno Crespo, curador da exposição. O grupo trabalha indistintamente com imagens em movimento, escultura, som e new media, havendo sempre um elemento performático e muito dinâmico em todas as obras que desenvolvem. O elemento dinâmico acontece quer no momento da conceção das suas obras, quer na experiência que o público faz delas. ”A vita contemplativa dá aqui lugar a vita activa em que o público é convocado a acompanhar o processo dinâmico de desenvolvimento das suas obras.,” conclui Nuno Crespo.

Uma exposição a não perder, patente na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa no Porto até 17 de fevereiro. A entrada é livre e aberta a toda a comunidade. 

Datas

BERRU · 20 OUT · 17 FEV 2023    

Curadoria de Nuno Crespo

Entrada Livre · de terça a sexta · 14H30 – 19H00

Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa

Rua de Diogo Botelho, 1327, 4169-005 Porto

Sobre o coletivo berru:

O coletivo berru, criado no Porto em 2015, venceu o prémio Sonae Media Art 2019 com o projeto “Systems Synthesis” e já expôs e foi responsável por instalações em diferentes instituições, como a Fundação Calouste Gulbenkian, BoCA Biennial of Contemporary Arts, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, gnration (Braga), Galeria Municipal do Porto, Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas - Açores, The Old Truman Brewey (Londres), Culturgest, a Fundação Cecília Zino e o Centro Cultural Vila Flor. Em 2021, esteve na quinta edição da Instambul Design Biennial.

Para mais informações consultar:

https://artes.porto.ucp.pt/pt-pt/art-center/exposicoes/fictional-grounds-berru/apresentacao

10.10.2022 | por Alícia Gaspar | arte contemporânea, coletivo berru, Escola das Artes da Universidade Católica no Porto, exposição, fictional grounds, Fundação Calouste Gulbenkian, inauguração, porto

Minela Reis e Ivone Gaipi trazem Angola a Lisboa

A pintora Minela Reis e a escultora Ivone Gaipi apresentam os seus mais recentes trabalhos na exposição “No Desaguar dos Corpos” na Galeria Artistas de Angola, em lisboa. A mostra tem curadoria e mentoria de Olga Maria e Sousa. A inauguração será no dia 7 de outubro, sexta-feira, a partir das 17h, na Rua Sousa Lopes N.º 12A em Lisboa e ficará patente até 14 de novembro.

Para a exposição Minela Reis, pintora angolana, traz um combinado de trabalhos feitos a pastel seco, a óleo e aguarela, nos suportes de papel e tela, onde a figura humana é predominante. A presença e diversidade das cores fortes é a força que origina um conjunto de contrastes entre o claro e o escuro, e o quente e o frio. O corpo pintado e desenhado parece estar em movimento, tem textura, curvas, brilho e cheiro, os rostos e os olhares são profundos e vivos, sorriem e têm emoções.

Minela ReisMinela Reis

Na arte de Minela a presença da figura humana é uma constante, através da pintura consegue regressar a Angola, às cores, cheiros e aos céus africanos. Pinta com a emoção do que sente no momento.

Já a escultora Ivone Gaipi vai explorar o Alginato, o Gesso e as Resinas, onde a técnica de body casting é transposta para a escultura. Ivone viveu quatro anos em Angola, onde foi profundamente tocada pelo país. O calor, as cores, os ritmos, as gentes sorridentes e alegres, e a mistura ardente do cheiro a terra, formam a sua grande fonte de inspiração para as esculturas que integram esta exposição.  A nostalgia destas emoções, resultaram no reviver Angola materializada em expressões de Arte. É essa transmutação que transporta para o trabalho de escultura, numa linguagem que expressa a exploração do corpo através da sua desconstrução, conexão e simbiose com o que o rodeia.

Ivone GaipiIvone Gaipi

03.10.2022 | por Alícia Gaspar | angola, escultura, exposição, ivone gaipi, lisboa, minela reis, pintura

Time is a flat circle. David Brits na Galeria MOVART

De 15 set. a 13 nov. 2022

Galeria MOVART, Lisboa, Rua João Penha 14A, 1250 - 131 Lisboa, Portugal

Apresentando trabalhos fotográficos terminados entre 2010 e 2012, bem como uma série de novas esculturas feitas de fibra de carbono, Time is a Flat Circle, do artista sul-africano David Brits (n. 1987), evoca a batalha de Cuito Cuanavale, uma batalha mecanizada de tanques de grande escala que ocorreu no sul de Angola entre forças angolanas, cubanas, e sul-africanas, entre 1987 e 1988.

Tomando como ponto de partida um arquivo de imagens publicadas nas redes sociais de grupos de exrecrutas sul-africanos, muitos dos quais lutaram na batalha sul-africana conhecida como “Border War” na Namíbia e no Sul de Angola dos anos 1960 aos anos 1980, o artista intervém sobre as mesmas através do ato de rasura, raspar e apagar, incorporando assim as complexidades de trabalhar com a sua própria masculinidade e a história herdada de uma África do Sul pós-apartheid.

Acompanhada de esculturas que têm como principal arquétipo o “Oroboro”, uma palavra grega que descreve o símbolo da cobra a devorar/consumir a própria cauda, a exposição gera uma imagem cuja lógica se refuta e que, de alguma forma, suspende o tempo.

BIO

Nascido em 1987, David Brits formou-se na Escola Michaelis de Belas Artes (Pintura) na Universidade da Cidade do Cabo em 2010, É um artista premiado cuja prática experimental é dedicada a investigações no âmbito da escultura à escala pública. Igualmente impulsionado pela exploração de materiais e investigação arquivística, a prática de Brits abrange a instalação, a impressão, o desenho e o filme.

As principais comissões de escultura pública recentes incluem a Fundação Desmond Tutu HIV, o Spier Arts Trust e a Iziko South African National Gallery. Brits foi vencedor do Prémio de Artes de Impacto Social inaugural da Fundação Rupert, e o galardoado com o Prémio Barbara Fairhead para a Responsabilidade Social na Arte.

14.09.2022 | por Alícia Gaspar | Africa, angola, david brits, exposição, fotografia, galeria movart, Namíbia, time is a flat circle

Panorama #22

Exposições, sessões de cinema e concertos abrem ao público na Escola das Artes


Entre 16 e 17 de setembro, a Escola das Artes vai apresentar os projetos artísticos dos estudantes finalistas em exposições, sessões de cinema, concertos e conversas. Um momento de partilha onde também será apresentado o Anuário 21-22. A entrada é gratuita e as sessões vão decorrer em vários espaços da Escola das Artes da Universidade Católica no Porto.

O que une todas e todos é a forma como cada um dos projetos finais que agora apresenta, e que simbolicamente são o elemento de conclusão da sua passagem por esta universidade, expressam a diversidade, a liberdade e a permanente experimentação artísticas, que são valores axiais do projeto pedagógico e cultural da EA,” salienta Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes, reforçando que “O Panorama #22 não celebra unicamente o percurso que os finalistas fizeram na Escola das Artes da Universidade Católica, mas projeta-os no futuro.”

Entre concertos, performances musicais, exposições e talks, a comunidade da Escola das Artes da Universidade Católica irá mostrar os trabalhos dos seus estudantes finalistas nas mais diferentes áreas: Conservação e Restauro; Animação; Cinema; Fotografia; Indústrias Criativas; New Media Art; Sound, Art e Design; e Som e Imagem.

Mais informações.

13.09.2022 | por Alícia Gaspar | anuário, cinema, concerto, conversa, Escola de Artes, exposição, panorama, universidade católica do porto

Obra de Fernando Pessoa serve de inspiração à nova exposição “Aurora” de Yohei Yamakado

“Aurora” é o nome da mais recente exposição do artista japonês Yohei Yamakado, com curadoria de João Pedro Amorim, artista visual e investigador do CITAR da Escola das Artes da Universidade Católica no Porto. A exposição será inaugurada a 22 de setembro, pelas 18h30 na sala MoCap da Escola das Artes e ficará patente até 21 de outubro de 2022. “Autora” surge na sequência do projeto fílmico realizado pelo artista em 2021 a partir da leitura da obra “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa e conta com o apoio do programa Criatório, da Câmara Municipal do Porto.

Yohei Yamakado esteve em residência artística na Escola das Artes no final de 2019, período esse em que preparou o seu projeto fílmico a partir da leitura de “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa, filme que conta com o mesmo título da obra do poeta e que também será apresentado na inauguração da exposição. A exposição “Aurora” apresenta uma composição de obras visuais e sonoras que acompanharam o artista ou que surgiram durante a produção do filme “O Marinheiro” e inclui quatro movimentos:  uma instalação, um ciclo de cinema, um concerto e uma publicação. Inspirado na visão mutável de incerta/certeza do autor, “Aurora” materializa-se numa composição temporal e espacial, com a intenção de agenciar o conjunto das suas práticas artísticas. Trata-se de uma proposta que se debruça sobre a impossibilidade da palavra – o silêncio, isto é, a dimensão do indizível e da indeterminação, na linguagem.

“Aquilo que me espanta em O Marinheiro de Fernando Pessoa, esse drama sem drama, esse drama em alma, como diria o autor, é antes de tudo a qualidade da linguagem: as palavras. As personagens da peça – as três Veladoras, por exemplo – não são com efeito mais do que uma aparência, uma espécie de nomes, mas nomes vazios, onde todas as palavras estão enterradas,” refere o artista Yohei Yamakado.

A obra foi filmada na cidade do Porto e trata-se do seu terceiro filme e segunda longa-metragem. Já a exposição “Aurora” será a sua primeira exposição em nome individual.

Uma exposição a não perder, patente na Escola das Artes da Universidade Católica no Porto até 22 de outubro. A entrada é livre e aberta a toda a comunidade.

Inauguração

18H30 · Abertura da exposição

19H30 · Projeção do filme O Marinheiro (2022)

Curadoria de João Pedro Amorim

Entrada Livre · de terça a sexta · 14H00 – 19H00

Sala MoCap da Escola das Artes da Católica

10.09.2022 | por Alícia Gaspar | aurora, exposição, fernando pessoa, universidade católica do porto, yohei yamakado

"Factory of Disposable Feelings", de Edson Chagas

Inauguração: 23 setembro, 18h 

24 setembro a 5 novembro (quarta a sábado, das 15h às 19h)
entrada livre

Hangar - Centro de Investigação Artística.

Com curadoria de Ana Balona de Oliveira, esta exposição apresenta uma das mais recentes séries fotográficas do artista, realizada no bairro Cazenga em Luanda, entre 2017 e 2018. Tendo sido anteriormente mostrada a solo apenas na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2019, “Factory of Disposable Feelings” é apresentada agora pela primeira vez em Lisboa numa nova configuração, incluindo imagens inéditas.

Esta série dá continuidade às indagações que singularizam a obra de Chagas, nomeadamente a atenção às relações vivenciais e afetivas que os sujeitos estabelecem com objetos e espaços quotidianos, contrariando rápidos ritmos de consumo através de um olhar desacelerado que perscruta em proximidade matérias, formas e texturas descartadas. 

Contudo, a série marca simultaneamente uma espécie de viragem, na medida em que, ao contrário de séries anteriores realizadas em vários espaços públicos urbanos a Norte e a Sul, vagamente identificados (as ruas e praias de Luanda, Veneza, Londres e Newport, etc.), nesta série, pela primeira vez, o fotógrafo concentrou-se nos espaços interiores e exteriores de uma arquitetura específica. Trata-se da Fábrica Irmãos Carneiro no Cazenga, em Luanda, uma antiga fábrica têxtil fundada no período colonial, que, pertencendo a uma família luso-angolana, continuou a laborar após a independência de Angola e durante as várias fases da guerra civil (1975-2002), produzindo lençóis, fraldas e uniformes militares, etc. Mais recentemente, foi redirecionada para a produção de utensílios agrícolas, tendo sido parcialmente abandonada.

Através da sua própria experiência corpórea e afetiva do espaço e de conversas não só com os seus donos, mas principalmente com os seus antigos trabalhadores, muitos dos quais se tornaram seguranças do edifício após o encerramento da fábrica, Chagas compôs uma espécie de retrato em sequência aberta, simultaneamente íntimo e dialógico, de um espaço múltiplo: situado algures entre as particularidades desta arquitetura e as dinâmicas alargadas do bairro, da cidade e do país; entre a história coletiva e a memória individual; entre a objetividade concreta da matéria e da máquina (tanto a fabril como a fotográfica) e a subjetividade da experiência e do olhar. A intensidade das vivências partilhadas impregnou de memória os objetos e o espaço, que, embora evidenciando perda, se transmutaram em arquivos afetivos excedendo poeticamente os limites do visível e do documentável. Símbolo do próprio país em suspenso e dos vários projetos de suposta modernidade e modernização que atravessaram a sua história, a fábrica abandonada nunca deixou de ser reocupada, reapropriada e reativada por um ativo labor de memória e desejo, incluindo as futuridades passadas e presentes que falta cumprir.  

31.08.2022 | por martalanca | angola, arte contemporânea, Edson Chagas, exposição

Exposição "Desvairar 22"

27 de Agosto, a partir das 11h30, no SESC-Pinheiros, em São Paulo.

Curadoria: Marta Mestre, Eduardo Sterzi, Veronica Stigger

Sinopse:
“Desvairar 22” é uma exposição que interroga a imaginação do tempo no modernismo brasileiro e na “Semana de Arte Moderna” (1922). Esta interrogação surge através de uma “trama” de imagens, acontecimentos e produção literária ancorada numa imagem inesperada e extemporânea: o Egipto. Desvairando com os modernistas daquela época, a exposição constitui-se a partir de mais de 250 obras e de uma montagem “desierarquizada” que procura desordenar, com delírio, o modo como percepcionamos a história. “Desvairar 22” é uma contribuição especulativa para as leituras possíveis do modernismo, da modernidade e da modernização, desdobrando-se num prólogo e capítulos (1. Saudades do Egito; 2. Ossos do Mundo; 3. Meios de Transporte; 4. “Índios Errantes”).

Artistas:

Tarsila do AmaralVicente do Rego Monteiro
Flávio de Carvalho
Laerte
Haroldo Lobo e Antônio Nássara
V. Penansson
Lygia Pape
Vivian Caccuri
Graça Aranha
Menotti del Picchia
J. Pascal Sébah
Antonio BeatoFernando PessoaPagu
H. Délié & E. Béchard
Angelo Agostini
Antonio Garcia Moya
Marcel Gautherot
Glauber RochaPedro Neves Marques
Mário de Andrade
Alex CervenyJoão Modé
Blaise Cendrars
Cristiano Lenhardt
Ana Prata
Joãozinho da Goméia como Ramsés
Jorge de Lima
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Abdias do Nascimento
Luiz Gonzaga de Sousa
Darks Miranda & Pedro França
Claudia Andujar
Bernard Bouts
Johann Baptiste von Spix e Carl von Martius
Leonilson
Rosana Paulino
Regina Parra
Fernando Lindote
Denilson Baniwa
Fernand Léger

etc…

22.08.2022 | por Alícia Gaspar | Brasil, cultura, desvairar, eduardo sterzi, exposição, marta mestre, são paulo, veronica stigger

“Phantasmagoria” de Hugo Canoilas e “vis-à-vis” de Ana Santos no CAV até 25 de setembro

Hugo Canoilas. Phantasmagoria. PhotodocumentaHugo Canoilas. Phantasmagoria. PhotodocumentaPátio da Inquisição

10 3000–221 Coimbra

Terça a Domingo 14h–19h

Entrada Gratuita

No dia 09 de Julho abriram ao público, no CAV, duas novas exposições do ciclo “Museu das Obsessões”, concebido e programado para o CAV por Ana Anacleto, por um período de dois anos. “Phantasmagoria ” de Hugo Canoilas e “visà-vis” de Ana Santos dão continuidade ao ciclo iniciado em Fevereiro de 2020 e procuram aprofundar as premissas da proposta conceptual definida pela curadora.

O ciclo de exposições “Museu das Obsessões”, assente numa ideia de liberdade e de transversalidade, recupera um conceito criado por Harald Szeemann, no início dos anos 70, que pretendia albergar todo o tipo de iniciativas decorrentes das práticas artísticas suas contemporâneas, explorando de forma livre (fora dos constrangimentos institucionais) todas as suas possibilidades de apresentação.

Assinalando o carácter de especialidade do CAV – enquanto espaço de apresentação, estudo e reflexão sobre as práticas artísticas ligadas ao uso e à criação da imagem (e particularmente da fotografia) – e valorizando grandemente a relação histórica que tem com os Encontros de Fotografia, pretende-se com o referido ciclo recriar um espírito de liberdade, promovendo o cruzamento entre as várias áreas disciplinares, dedicando especial atenção aos artistas cuja prática se afirma numa relação decorrente das questões da imagem mas cuja actividade se localiza num território de fronteira, com manifestações formais e conceptuais que vão para além das tipologias disciplinares (fotografia, vídeo, escultura, pintura, performance, etc).

Interessam-nos as particularidades, as idiossincrasias e as mitologias individuais, e é neste sentido que propomos um conjunto de exposições dedicadas a artistas (nacionais e internacionais) cuja prática se tem mostrado definidora de uma relação extraordinariamente idiossincrática tanto com a fruição da imagem quanto com a sua produção.

O ciclo de exposições “Museu das Obsessões” constitui-se então da apresentação de dez exposições subordinadas ao tema do Espectro e dez exposições subordinadas ao tema da Vertigem. Temas comuns à história da imagem, à história da produção fotográfica, ao pensamento imagético e ao próprio acto criativo.

Neste sentido, damos continuidade ao ciclo através da apresentação de duas exposições individuais de artistas de origem portuguesa – cujo percurso se tem desenvolvido também em contexto internacional – e que comungam de um interesse particular pelo estabelecimento de diálogos permanentes com a história da arte nas suas vertentes disciplinares mais tradicionais (a pintura e a escultura).

Na sala principal do CAV apresentamos a exposição “Phantasmagoria” de Hugo Canoilas que se constitui de uma grande instalação pictórica concebida especialmente para o contexto desta exposição, e que dá continuidade à mais recente investigação que o artista tem vindo a aprofundar em torno dos universos marinhos, das suas mitologias e dos seus ecosistemas enquanto metáforas de equilíbrio, sabedoria e partilha interseccional.

Na sala Project Room (espaço vocacionado para projectos especiais com um carácter mais experimental) contamos com a apresentação da exposição “vis-à-vis” de Ana Santos, concebida a partir de uma cuidada articulação entre um pequeno conjunto de obras escultóricas pré-existentes, inéditas em contexto nacional.

Ana Santos - vis-à-vis. Ana Santos - vis-à-vis.

Hugo Canoilas 

Phantasmagoria

A relação misteriosa que resulta do encontro entre duas imagens tem vindo a ocupar grande parte do pensamento produzido sobre arte e, mais recentemente, também os inevitáveis cruzamentos estabelecidos entre a prática artística e a investigação tecnológica e científica.

A percepção visual desenvolve-se em nós através de um mecanismo cumulativo. Vemos uma imagem a seguir a outra imagem, não sendo possível a activação de qualquer processo de simultaneidade. Já no caso do som ocorre o inverso. A percepção auditiva resulta de estados múltiplos de atenção e permite a sobreposição de inúmeras camadas sonoras num contínuo temporal. Ora, é justamente a consciência desta impossibilidade no campo da percepção visual, que nos leva simultaneamente a crer e a duvidar dos processos de entendimento das imagens em movimento (e muito particularmente do cinema e dos seus múltiplos mecanismos de ilusão).

Detenhamo-nos nesta ideia de percepção de movimento (ou de invenção deste em nós) para pensarmos no quanto o fragmento e a imagem fragmentária — e a sua percepção cumulativa — poderão ser responsáveis pela construção de experiências narrativas também elas em movimento. E pensemos, por momentos, no quanto o corpo, a sua deslocação e o vislumbre em fuga dessas imagens em acumulação poderão ser, de facto, responsáveis pela representação possível do movimento enquanto estado ele-mesmo.

Hugo Canoilas - Phantasmagoria. @PhotodocumentaHugo Canoilas - Phantasmagoria. @Photodocumenta

A grande instalação pictórica concebida por Hugo Canoilas para o CAV, e que ocupa e integra todo o espaço do r/c do edifício, com o título Phantasmagoria, decorre das suas mais recentes investigações e explorações plásticas, e anuncia claramente a sua filiação no território de questionamento das imagens, da sua produção e da sua percepção.

Com um trabalho absolutamente singular — que se distribui por explorações nos vários territórios tipológicos que constituem a actuação dos artistas contemporâneos — o artista tem vindo a desenvolver uma prática pontuada pela especulação em torno das relações entre arte e realidade, pela constante interrogação acerca das características e limites da pintura e por uma tónica no trabalho colaborativo enquanto promotor de uma interacção simbiótica e geradora, abraçando o caos, o acaso e o livre arbítrio enquanto processos fortemente catalisadores da actividade criativa.

Mais recentemente tem vindo a concentrar-se nas relações entre arte e natureza, ou mais propriamente, nesse campo de possibilidades que poderá resultar do encontro entre uma prática artística que valoriza o processo e o conhecimento extraído da observação dos fenómenos e organismos naturais.

A exposição Phantasmagoria sucede temporalmente (e quase de imediato) à exposição Moldada na Escuridão — que apresentou recentemente na Fundação Calouste Gulbenkian — e dá continuidade a um interesse pelo mar profundo enquanto território especulativo, capaz de gerar projecções de um futuro não colonizado, permitindo uma experiência tangível sobre novas formas de vida e sistemas de empatia e compatibilidade inter-espécies.

Tomando como ponto de partida uma imagem retida na sua memória (a raríssima lula gigante mantida em formol numa das salas do Aquário Vasco da Gama em Lisboa, mas também a lula gigante efabulada a partir das descrições de Jules Vernes no seu 20,000 Léguas Submarinas, ou ainda a lula gigante reproduzida nas imagens transmitidas pelos robots que hoje perscrutam o fundo dos oceanos), e fazendo justamente uso do fragmento enquanto ferramenta operativa de representação, Hugo Canoilas constrói uma pintura de dimensões imensas que se propõe ao espectador como um enorme desafio perceptivo.

Esta pintura que simultaneamente envolve, integra e produz espaço, cuja leitura depende em absoluto do deslocamento do corpo e da criação de intervalos de tempo decorrentes desse movimento do corpo, reforça a condição cumulativa da percepção visual de que falámos no início deste texto, parecendo querer estabelecer — através da sua condição cinemática — uma narrativa não-linear, próxima dos processos de sonho ou de imaginação.

Trata-se, de facto, de uma fantasmagoria. Uma imagem que radica a sua construção no seu próprio limite, que se revela também na história do seu processo, e cuja eficácia reside justamente na impossibilidade da totalidade da sua percepção.

Ana Anacleto · Julho 2022

Ana Santos 

vis-à-vis 

@Photodocumenta@Photodocumenta@Photodocumenta@Photodocumenta

Com os desenvolvimentos críticos operados no seio da Arte a partir dos anos 60 do século XX, verificamos que as tipologias disciplinares entendidas como tradicionalmente inquestionáveis — pintura e escultura — sofreram alterações profundas no que diz respeito ao estabelecimento das suas definições, dos seus limites e da construção do seu campo de actuação. Do cruzamento entre as suas preocupações e questões originárias e a adopção de novas questões — que promovem naturalmente novos modos de fazer, mas também (e sobretudo) novos modos de ver e pensar — surge aquilo que Rosalind Krauss denominou como ‘campo expandido’.

Esse território alargado, que permite a integração de inúmeras outras tipologias discursivas de trabalho e simultaneamente o acomodar de matérias e lógicas de pensamento (fora até da própria matéria), deixa a tradicional escultura numa espécie de limbo, de ausência ontológica, que se define a partir da sua nãoidentidade (da exclusão, da oposição, da negação, daquilo que ela não é, ou deixou de ser).

Ana Santos tem vindo a desenhar e inscrever o seu percurso neste ‘campo expandido’ da escultura … ou, mais concretamente, da produção de objectos. A sua prática assenta, em primeira instância, na procura de um muito particular estado de atenção. Esse modo de observar que distende o tempo, que se fixa no detalhe, que perscruta o espaço, e que, para além de óptico é também háptico.

A exposição vis-à-vis, apresentada no Project Room do CAV, decorre desse originário estado de atenção e evoca — desde logo no título — duas questões fundamentais no processo da artista e operativas na tentativa do estabelecimento de uma relação com o seu trabalho: por uma lado uma ideia de posicionamento espacial (frente-a-frente) e por outro uma ideia relacional comparativa (em relação a …, quando comparado com…).

Foquemo-nos, para já, na segunda questão para melhor aprofundarmos o seu processo de trabalho. Promovendo o recurso à sensibilidade e à intuição como instâncias que permitem sublinhar a unicidade do acto criativo, a artista observa e reconhece, em determinados materiais ou objectos encontrados ou adquiridos, certas características formais, funcionais, morfológicas ou cromáticas que lhe permitem começar a desenhar e testar relações de proximidade ou afastamento. Interessa-lhe perceber que energia ou estado da matéria pode ser gerado a partir da junção de dois elementos pré-existentes, cuja proveniência ou familiaridade é naturalmente distinta. A partir de um léxico de acções mínimas (e muitas vezes quase invisíveis) — dobragem, colagem, pintura, deslocamento, corte, sobreposição, aproximação apenas — e com enorme sofisticação, a artista constrói universos que põem em evidência uma articulação possível entre pensamento especulativo e pensamento operativo, permitindo aos objectos estabelecerem-se como instâncias que sinalizam um equilíbrio tenso e definem a sua própria condição evocativa. O atelier é o lugar onde estes processos ocorrem e decorrem, uma vez que o tempo (a passagem do tempo) e a espera são elementos que contribuem para que esta terceira instância possa manifestar-se em plenitude.

Retomemos agora a primeira questão enunciada no título, que convoca uma ideia de posicionamento espacial e que decorre de uma ideia de presença, de manifestação física dos volumes no espaço e do próprio espaço no seu entorno. Este é o segundo momento de teste e reconhecimento a que os seus objectos são sujeitos. Colocados no espaço expositivo é agora necessário encontrar-lhes o lugar, a devida posição. À semelhança do que acontece no atelier, também no espaço expositivo nos parece ocorrer a promoção de um processo colaborativo: a artista ‘está’ e os objectos e ‘estão’. A disponibilidade para o reconhecimento das necessidades relacionais dos objectos entre si, e entre estes e o espaço, é fruto de uma comunicação não-verbal, impenetrável e intraduzível, mas que se efectua afirmativamente nos dois sentidos. Tudo parece concluir-se no momento em que estas relações presenciais se projectam para fora de si, para fora do objecto, numa condição imanente que potencia a activação do próprio espaço e altera em absoluto a sua condição originária. Espaço e objectos passam agora univocamente a produzir um resultado, propondo-se ao espectador como veículos de acesso a um universo profundamente subjectivo cuja experiência, diríamos, poderia aproximar-se de uma ideia de transcendência.

Ana Anacleto · Julho 2022

12.08.2022 | por Alícia Gaspar | ana santos, CAV, exposição, Hugo Canoilas, phantasmagoria, vis-à-vis

Exposição “Nirivalele hi kuxwela” para visitar em Maputo

A exposição está patente no Centro Cultural Franco-Moçambicano, entre 5 de Julho a 20 de Agosto de 2022.

Pode visitar a Exposição “Nirivalele hi kuxwela” de Hugo Mendes até o dia 20 de Agosto no Centro Cultural Franco-Moçambicano de Maputo.

“Nirivalele hi kuxwela” é uma alegoria para o tempo que a pandemia nos tirou – foram dois longos anos de incertezas e ansiedade – e também brinca com o facto de artistas terem sobre si a conotação (não totalmente infundada) de serem imprevisíveis e com problemas com deadlines.

“Com obras de arte resultantes das reflexões durante o tempo de isolamento causado pela pandemia, e que tencionam representar aspectos do quotidiano, referindo-se à história colectiva dos Moçambicanos.”

Hugo Mendes é um artista visual que nasceu e cresceu em Maputo. Sendo Moçambique um país com uma cultura muito rica e diversa, e com uma forte tradição no artesanato e escultura em madeira, Hugo inspira-se nesses processos. Através do seu trabalho, tenta representar os aspectos do quotidiano, referindo-se à história colectiva dos Moçambicanos, aos seus sonhos, e procurando explorar elementos mais íntimos, relacionados com o lado mais obscuro do seu próprio imaginário.

09.08.2022 | por Alícia Gaspar | arte, centro cultural franco-moçambicano, exposição, hugo mendes, Maputo, Nirivalele hi kuxwela, pandemia

Mundo de Aventuras de José Fonte Santa I Évora

Curadoria de José Alberto Ferreira

Fundação Eugénio de Almeida I Centro de Arte e Cultura, Piso 2


Horário

MAIO - SETEMBRO
De terça-feira a domingo, 10h00-13h00 / 14h00-19h00

OUTUBRO - ABRIL
De terça-feira a domingo, 10h00-13h00 / 14h00-18h00

Entrada livre

João Fonte Santa é um dos artistas mais representativos da sua geração. O seu trabalho aborda a incessantemultiplicação de instâncias produtoras de imagens, a sua circulação na cultura de massas e a legibilidadeideológica destes processos. Fonte Santa apropria-se habitualmente de imagens — da banda desenhada aosjornais, da pintura à fotografia, da iconografia popular ao cinema — a partir das quais interroga sentidos,filiações, sensibilidades e identidades.As imagens e os seus modos de circulação integram as formações discursivas que produzem narrativasde poder e de saber. Por elas tanto se mitificam identidades como se caucionam relatos históricos ouhegemonizam discursos. É talvez por isso que elas são o campo privilegiado de questionação e de desafio,análise, desconstrução ou insubmissão por parte de muitos artistas. E é seguramente por isso que estesgestos de apropriação, transformação, re-significação e leitura instalam o acto de criação num territórioonde se cruzam crise e crítica, ética e estética, arte e sociedade.No percurso artístico de João Fonte Santa, a problematização das mitologias nacionais e a desconstruçãoda história, como acontece neste Mundo de Aventuras, tem sido uma constante. Nesta exposição, comefeito, interrogam-se narrativas identitárias em torno de três núcleos. No primeiro, aborda-se a identidadenacional, entre o Berço da nação e A portuguesa, duas peças que tensionam o tempo histórico atravessandoo espaço expositivo.Num segundo núcleo, abordam-se as imagens publicadas no relato dos exploradores portuguesesHermenegildo Capelo e Roberto Ivens, De Angola à contra-costa. As grandes telas que abrema exposição representam imagens daquele livro, originalmente publicado em 1886. Elas evocam a leituraaventurosa desta Descrição de uma viagem através do continente africano compreendendo narrativasdiversas, aventuras e importantes descobertas, como reza o subtítulo encantatório da obra, onde a faunae a flora são analisadas, fotografadas e reproduzidas ilustrando cada passo da travessia continental.Na exposição, é a fauna africana que domina as escolhas do artista, cujas telas de cores fortes e traçopreciso convidam a ler a evidência do mundo natural, submetido pelas armas e pela caça aos exploradoreshumanos. Não um paraíso, mas um paraíso selvagem que as armas domesticam e ordenam.É nesse contexto que se inscreve o terceiro núcleo, no qual o artista trabalha sobre um original debanda-desenhada português anónimo, sem título, datado de 1977, no qual se mitifica o herói branco emação numa África em guerra. A análise, apropriação, re-produção (isto é, literalmente, produção de novo)de vinhetas deste objecto contraria abertamente o eufórico mundo de aventuras que dá título à exposição.Em rigor, desafia-nos a mergulhar nos 31 desenhos da série, em chave serial, iterativa, elíptica e traumática.A exposição apresenta-se como um exercício de desmontagem das imagens de dominação, no queMarie-José Mondzain caracteriza como «descolonização do imaginário». Num mundo fortemente dominadopela imagem, o gesto de criação de (mais) imagens só pode recusar a lógica da acumulação e verter-se emanalítica do imaginário, desafiando-nos a reler as narrativas à luz das suas e das nossas contradições.É este o mundo de aventuras que lhe propomos.

José Alberto Ferreira, curador



Programa Inaugural

Sábado, 9 de julho | 16h00

Alice Geirinhas e José Alberto Ferreira conversam com João Fonte Santa sobre a exposição, seguindo-se uma visita guiada

Entrada livre, limitada à lotação do espaço

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João Fonte Santa

Estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade Clássica de Lisboa. Começou por se dedicar à produção de banda-desenhada underground no contexto do surgimento de fanzines. Lentamente, contudo, o seu trabalho afirmar-se-ia no campo da pintura. Trabalhando a partir de um extenso fundo de imagens e referências de cultura pop, edificaria uma obra que tem tanto de visualmente atraente como de pertinente no modo como apresenta uma visão do mundo particularmente crítica.  

Expõe regularmente desde meados dos anos 90. Das suas exposições individuais, destacam-se: 

Frozen Yougurt Potlash, Galeria VPF Cream Art, Lisboa;

O Aprendiz Preguiçoso, Festival Sonda, Atelier-Museu António Duarte, Caldas da Rainha;
Do Fotorrealismo à Abstração, Salão Olímpico, Porto.
Pintura Para Uma Nova Sociedade, Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira;
TODOS OS DIAS A MESMA COISA – CARRO – TRABALHO – COMER – TRABALHO – CARRO – SOFÁ – TV – DORMIR – CARRO – TRABALHO – ATÉ QUANDO VAIS AGUENTAR? – UM EM CADA DEZ ENLOQUECE – UM EM CADA CINCO REBENTA!, Galeria VPF Cream Art, Lisboa;
O Colapso da Civilização, VPF Cream Art, Lisboa;
Bem-vindos à Cidade do Medo, MAAT, Lisboa

Algumas exposições coletivas:

Zaping Ecstazy, CAPC, Coimbra
Plan XX!, G-Mac, Glasgow
Terminal, Fundição de Oeiras, Oeiras
Gabinete Transnatural de Domingos Vandelli, Museu de História Natural da Universidade de Coimbra, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Café Portugal
, Design Factory, Bratislava; FEA, Évora
Glocalização ou Colapso, Obras na Coleção MG, espaço Adães Bermudes, Alvito
Portugal Portugueses, Museu Afro-Brasil, São Paulo
Utopia/Dystopia, MAAT, Lisboa
Studiolo XXI, FEA, Évora
A Incontornável Tangibilidade do Livro ou o Anti-Livro, MNAC, Lisboa
Cosmo/Política #7, Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira;

José Alberto Ferreira
Docente convidado da Universidade de Évora, onde leciona disciplinas da área da história e teoria do teatro. Tem colaboração dispersa em vários jornais e revistas, nacionais e internacionais.  Dirigiu e produziu o Festival Escrita na Paisagem (2004-2012), no âmbito do qual programou projetos e criações de artistas nacionais e internacionais na área do teatro e do transdisciplinar. Foi o curador português do projeto INTERsection: Intimacy and Spectacle, integrado na Quadrienal de Praga. Dirigiu e programa Ciclos de São Vicente, em Évora (2011-2017). É o Director Artístico do Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida desde 2018. 

Publicou, além de textos dispersos por catálogos e revistas, Uma Discreta invençam (2004), sobre Gil Vicente, Por dar-nos perdão (2006), sobre teatro medieval, Da vida das Marionetas, sobre os Bonecos de Santo Aleixo (2015). Editor e coeditor de vários títulos, de que destaca Escrita na paisagem (2005), Autos, passos e Bailinhos (2007), Tradução, Dramaturgia, Encenação  (2014), Perpectivas da investigação e(m) artes: articulações (2016), Teatro do Vestido. Um dicionário (2018). Colabora com várias organizações ministrando cursos e seminários.

08.08.2022 | por Alícia Gaspar | banda desenhada, cinema, Descolonização, exposição, fotografia, joão fonte sana, jornais, mundo de aventuras

Visita o Aljube!

30 de julho de 2022 - 10H30
Museu do Aljube Resistência e Liberdade

Vem conhecer a exposição longa duração do Museu do Aljube Resistência e Liberdade, e as histórias da resistência à ditadura em Portugal até à revolução do 25 de Abril de 1974.

A exposição de longa duração do Museu apresenta aos visitantes no piso -1 uma mostra arqueológica com vestígios encontrados aqui.

No piso 0, o memorial de homenagem aos presos políticos, a história do edifício e a exposição temporária “Adeus Pátria e Família”.

No piso 1, a caracterização do regime ditatorial português (1926-1974), os seus meios de repressão e opressão (a Censura, as polícias e os tribunais políticos).

No piso 2, a resistência das oposições (semi-legais e clandestinas), a prisão, a tortura, os curros de isolamento.

No piso 3, a luta anticolonial e os movimentos independentistas de libertação, o derrube da ditadura e o 25 de Abril de 1974 e no piso 4, a exposição temporária “A Sagrada Família”.

Duração aproximada: 1h

Entrada livre, sujeita a inscrição em: inscricoes@museudoaljube.pt

27.07.2022 | por Alícia Gaspar | 25 de abril, cultura, exposição, museu do aljube, visita guiada

Não há cura

Alice Marcelino / Carlota Bóia Neto / Daniela Vieitas /  Gabriela Noujaim / Indira Grandê / Pamina Sebastião / Sofia Yala

 21 de julho - 3 setembro

Performance “Na Porta ao Lado” de Daniela Vieitas.

Sessões | 19h-20h-21h

DJ Mistah Isaac apresenta“Wako Kungo Sessions” Hosted by Diaza 18h-22h

Galeria MOVART em Lisboa apresenta uma nova interpretação da exposição NÃO HÁ CURA, a coletiva que há um ano inaugurou no Instituto Camões em Luanda. A exposição é agora transportada para uma outra cidade, num outro país e continente. Embora num contexto sócio-político diferente, NÃO HÁ CURA reúne um conjunto de obras que refletem sobre problemáticas universais, e que fazem sentido serem agora mostradas no espaço lisboeta da Galeria MOVART.

A conversa e a desconstrução são os pontos de partida desta mostra que questiona a imposição dos espaços, das diretrizes curatoriais e das convenções sociais. Um diálogo, por ora, sem fim à vista, que se propõe redescobrir e resignificar o eu, o corpo e a mulher, procurando relançar e repensar radicalmente o papel da arte.

A exposição, inicialmente comissariada por Keyezua, conta com a participação de Alice Marcelino (Angola), Carlota Bóia Neto (Portugal), Daniela Vieitas (Portugal), Gabriela Noujaim (Brasil), Indira Grandê (Angola), Pamina Sebastião (Angola) e Sofia Yala (Angola) que irão apresentar obras inusitadas entre instalação, performance, fotografia, video e colagem.

Galeria MOVART,  Rua João Penha 14A, 1250 - 131 Lisboa

18.07.2022 | por Alícia Gaspar | alice marcelino, arte, Carlota Bóia Neto, cultura, Daniela Vieitas, exposição, feminismo, gabriela noujaim, Indira Grandê, movart, NÃO HÁ CURA, Pamina Sebastião, Sofia Yala

"Mirages and Deep Time" exposição de Mónica de Miranda

Mónica de Miranda inaugura a 21 de julho nas Galerias Municipais - Galeria Avenida da Índia : “Mirages and Deep Time”

Exposição reúne obras inéditas e estrutura-se em torno de A Ilha, um vídeo inspirado na “Ilha dos Pretos”, uma denominação de tradição oral dada no séc. XVIII a uma comunidade de pessoas de origem africana que se fixou junto ao rio Sado 

Mirages and Deep Time (Miragens e Tempo Profundo)

de: Mónica de Miranda

curadoria: Azu Nwagbogu

 

Galerias Municipais - Galeria Avenida da Índia

21 julho a 25 setembro 2022

terça a domingo: 10h -13h e 14h -18h

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Inaugura no dia 21 de julho a nova exposição individual de Mónica de Miranda nas Galerias Municipais - Galeria Avenida da Índia, intitulada “Mirages and Deep Time” (Miragens e Tempo Profundo), com curadoria de Azu Nwagbogu.

A exposição, reúne obras inéditas de Mónica de Miranda, cuja prática informada pela pesquisa investiga as convergências entre política, identidade, género, memória e lugar através de geografias de afeto, arqueologias urbanas, narrativas pós-coloniais e estratégias artísticas de subversão. A exposição estrutura-se em torno da obra vídeo “A Ilha” (2022), inspirada na “Ilha dos Pretos”, uma denominação de tradição oral dada no séc. XVIII a uma comunidade de pessoas de origem africana que se fixou junto ao rio Sado. 

Mirages and Deep Time de Monica de Miranda circunscreve os problemas com os tropos decoloniais, é uma busca contínua e não mitigada, que requer hiper-vigilância e sugere uma compreensão dos limites da história aprendida. Mirages and Deep Time dá espaço aos aspetos espirituais e metafísicos sobre o reenquadramento da história e identidade negra na história portuguesa. Também avança a conversa em direção à natureza e a novas formas de conhecimento na abordagem do maior desafio do mundo contemporâneo em relação as alterações climáticas na era do Antropoceno.

A exposição é também composta por trabalhos fotográficos, que, em diálogo com o filme, exploram várias relações entre feminilidade, natureza e histórias esquecidas por um sistema hegemónico. Expondo um olhar oposto para a história colonial e patriarcal, as obras avançam importantes questões sobre pertença e sobre a construção da identidade na era contemporânea.

As esculturas apresentadas, cobertas por terra e plantas, exploram a metáfora da ilha, a artista vê a terra ou o território como um detentor de memória, história, uma reciprocidade entre presente, passado e futuro. A terra contém dentro dela o tempo e o espaço, visto como matéria que está sempre a mudar, que não é estática.

O filme “A Ilha” apresenta a história de um lugar utópico, que reside no espaço entre a ficção e a realidade, onde as potencialidades para reescrever histórias e pensar o futuro são reunidas através das personagens e das suas viagens. O nome deste lugar, situado entre ficção e a realidade, e uma reapropriação das histórias locais de uma aldeia portuguesa (São Romão de Sádão) que foi pejorativamente chamada “a ilha dos Pretos” durante os séculos XVII e XVIII. As histórias desconhecidas de gerações de populações escravas em Portugal são procuradas e reescritas nestes espaços onde viveram, participaram ativamente e contribuíram para o desenvolvimento das sociedades que as escravizaram e discriminaram. A viagem à Ilha requer uma viagem física e interior para cada uma das personagens, a um estado superior que exige a redenção do passado e a capacidade de imaginar um futuro. A mulher, que escapa às memórias do passado ao confrontar os seus carrascos. A arqueóloga que investiga a memória a fim de compreender o presente e para que erros semelhantes não se repitam na Ilha. O homem capitalista que, na sua eterna insatisfação, reflete sobre como se tornou o opressor, o colonizador. As crianças, que com a sua força pura e vital energizam todas as outras personagens através da sua fantasia e sonhos.

A narrativa visual de Mónica de Miranda gira em torno de um motivo central: o espelho. Concreto (através do objeto feito) ou natural (por reflexão na água), os espelhos aparecem repetidamente na representação da ilha. Revelando verdades invisíveis e desejos mais profundos, o espelho na obra de Miranda torna-se um intrincado nó polifónico: tanto dobra como desdobra uma narrativa de várias camadas. Através de um filme e uma série de fotografias, de Miranda utiliza o espelho como um dispositivo estruturante que lhe permite sondar, em toda a sua complexidade e multiplicidade, ideias de identidade (eu e alteridade) e história (passado, presente e futuro potencial). Enquanto o espelho, como motivo, é um tropo bem estabelecido na história da arte, com este projeto de Miranda empreende uma re-apropriação do espelho como uma poderosa forma metafórica contemporânea. De facto, de Miranda ‘recupera o espelho’ e atualiza os seus valores simbólicos à luz das suas posições descoloniais, feministas e ecológicas.

De Miranda não só “recupera o espelho” como um aparelho, mas também subverte o seu significado, recusando-se a olhar para o outro lado, dando origem a uma história contada pelas forças dominantes, o espelho torna-se um epítome de agência. “Há poder no olhar”, como os ganchos dos sinos afirmaram - de facto, para Mónica de Miranda, o olhar no espelho rebelde é uma estratégia de olhar e ser olhado com uma agência de pertença.

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Bio

Mónica de Miranda (Porto, 1976) é uma artista portuguesa de origem angolana que vive e trabalha entre Lisboa e Luanda. Artista e pesquisadora, seu trabalho é baseado em temas de arqueologia urbana e geografia pessoal. Trabalha de forma interdisciplinar utilizando desenho, instalação, fotografia, filme, vídeo e som em suas formas expandidas e dentro dos limites entre ficção e documentário. Mónica é cofundadora do Hangar (Centro de Investigação Artística, Lisboa 2014) e em 2019 foi nomeada para o Prémio EDP Novos Artistas (MAAT, Lisboa) e em 2014 para o Prémio Novo Banco de Fotografia. A sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas, nomeadamente: Calouste Gulbenkian, MNAC, MAAT, FAS, Nesr Art Foundation e Arquivo Municipal de Lisboa. Entre as suas exposições mais recentes destacam-se: Europa Oxala (CAM, Lisboa; Mucem, França, 2022)  , Thinking about possible futures,(Biennale del Sur,2021), African Cosmologies, Houston Fotofest (2020), Taxidermy of the future (Biennale Lubumbashi,2019), Architecture and Manufacturing, at MAAT in Lisbon (2019), Tales from the water margins, (Biennale Internationale de l’Art Contemporain de Casablanca,2018); Daqui Pra Frente, Caixa Cultural (Rio de Janeiro and Brasília, 2017-2018); Dakar Biennial in Senegal (2016); Bienal de Casablanca (2016), Addis Photo Fest (2016); Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (2017), Bamako Encounters – African Biennale of Photography (2015); MNAC (2015); 14th Biennale di Architettura di Venezia (2014); São Tomé e Príncipe Biennale (2013); Estado Do Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian (2008), entre outras.
www.monicademiranda.org

11.07.2022 | por Alícia Gaspar | A ilha, arte, cultura, exposição, ilha dos pretos, Mirages and Deep Time, Monica de Miranda, negritude, rio sado