O cinema tem um papel político em Moçambique, mesmo que os nossos filmes não sejam políticos. Foi criado como um instrumento político, teve uma influência regional enorme: os nossos documentários tiveram influência na África do Sul pós-apartheid, no Zimbabué, na Namíbia, em Angola, em todos os países da região. Foi uma ideia genial e extraordinária da Frelimo pós-independência, que trouxe para cá [Jean-Luc] Godard, Jean Rouch, Ruy Guerra e dezenas de outros cineastas e gente do cinema: cubanos, italianos, ingleses, franceses.
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11.10.2022 | por Lurdes Macedo
Desde o abalo provocado pelo Levante popular de junho de 2013, o Brasil vive uma crise política e social marcada por momentos históricos de grande complexidade, sobre os quais o cinema brasileiro tem elaborado diversas representações, especialmente na área do documentário, com um sentido de urgência próprio do trabalho jornalístico.
Partindo de um olhar arrojado, dezenas de títulos trabalham a subjetividade da trajetória brasileira em direção a uma situação cada vez mais análoga ao estado de exceção. No seu conjunto, constituem um dos momentos mais produtivos e marcantes do documentário político na história do cinema brasileiro; são um registo para a memória histórica e coletiva.
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15.09.2022 | por Anabela Roque
Suzanne Daveau traça o esboço de uma mulher aventureira que atravessa o século xx, até aos dias de hoje, guiada pela paixão da investigação geográfica. O filme circula entre os inúmeros espaços-mundo percorridos pela geógrafa e os reservados espaços-casa que acolheram a sua vida privada.
“Não há ciência, nem progresso no conhecimento, sem amor, sem paixão, sem identificação, mesmo quando se trata de um tema aparentemente desprovido de vida, como a evolução de uma vertente ou a génese de um aguaceiro. Pode-se, talvez, aplicar rotineiramente uma técnica com pura objectividade, não se pode com certeza, descobrir algo de novo sem que o investigador se implique por completo no tema que tenta elucidar”.
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01.07.2022 | por vários
Conhecida como música do gueto, um novo ritmo chamado "batida" (ou afro-house) tem marcado as pistas de dança em Portugal e no mundo. Os Djs da Quinta do Mocho foram precursores nessa nova estética cosmopolita, beneficiando-se do fenómeno da digitalização da música para reinterpretar estilos e fazerem-se visíveis. Este é o caso do Studio Bros, cuja sonoridade afrodiaspórica é capaz de pôr a dançar todos aqueles que vivem nas "margens" do planeta.
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01.07.2022 | por Otávio Raposo
Zoila é uma animação, que mescla colagem, fotografia e vídeo, e se desloca entre a ficção e o documental. Inspirada na minha pesquisa sobre diásporas negras, focaliza os elementos da passagem da segunda para a terceira diáspora. A videasta senegalesa Zoila é o elo que religa Goli e Almerinda nos dois lados do Atlântico. O argumento ficcional remete ao conceito de “dupla consciência” elaborada por Willian Du Bois, em ”As almas do povo negro” e retomada por Paul Gilroy, em “Atlântico Negro”.
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10.06.2022 | por vários
As palavras do líder e porta-voz do povo indígena Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, são amazónicas; estão no livro A Queda do Céu, estão nos filmes em que participou, acompanham a exposição retrospetiva da fotógrafa Claudia Andujar, estão nos meios de comunicação social e nas redes sociais. São palavras que transmitem um conhecimento profundo dos mitos ancestrais e de como estes podem atuar na contemporaneidade; são advertências e denúncias, que se transformam em manifesto e, por vezes, em profecia. Kopenawa dirige-as ao povo da mercadoria, mas não são para trocar por estas, sugerem uma inversão de sentido no pensamento dos não-indígenas em direção à Natureza e à Amazónia, em particular.
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06.06.2022 | por Anabela Roque
A história do Sr. Vítor encontra muitos paralelos com a de outros imigrantes, marcada pelo trabalho nas obras, as dificuldades em continuar os estudos e a habitação precária. A história da Quinta Mocho, onde vive o Sr. Vítor, tem muitas semelhanças com a de outros “bairros sociais” da periferia de Lisboa. O modelo de realojamento ali adotado não incorporou a opinião dos moradores e acabou por reproduzir as lógicas de silenciamento, imposição e exclusão entre aqueles que vivem em regime de subalternidade urbana.
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18.05.2022 | por Otávio Raposo
Durante os tours de street art o enfoque nas obras artísticas vai para “segundo plano” diante da curiosidade dos turistas pelo quotidiano multicultural da Quinta do Mocho. Nesse processo, o guia Kally promove uma “curadoria informal”, articulando em suas falas representações alternativas sobre o bairro com elementos estéticos que não raramente dialogam com o sonho de uma sociedade mais justa.
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12.05.2022 | por Otávio Raposo
Com igrejas evangélicas, adventista, católica e, inclusive, uma mesquita, a Quinta do Mocho é um lugar de fé. No coração do bairro, a sua praça principal serve de local de culto, em que manifestações rítmicas e corporais traduzem a vontade dos seus participantes de se comunicar no campo espiritual.
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04.04.2022 | por Otávio Raposo
O tempo tem os seus contrastes na Quinta do Mocho: da mãe que de emprego em emprego pouco tempo dispõe para estar com os filhos, às densas sociabilidades entre vizinhos que fazem da entrada dos seus prédios um ponto de encontro. Com tempo ou sem tempo, uma coisa é certa no bairro: a rotina deve ser quebrada.
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30.03.2022 | por Otávio Raposo
As ruas da Quinta do Mocho são locais de intenso convívio. Nelas, as tias vendem maçaroca na brasa, pastéis de milho, torresmo, frango no churrasco, e, claro, bebidas para acompanhar. O sorriso dessas mulheres sinaliza a simpatia que é comum a todo bairro.
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21.02.2022 | por Otávio Raposo
À boleia da street art, a Quinta do Mocho soube dar a volta aos estereótipos, ressignificando a vida no gueto para exaltar as qualidades do território e de seus habitantes.
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24.01.2022 | por Otávio Raposo
“Ainda somos escravizados na sociedade moderna, mas houve muitos grandes homens que morreram para hoje estarmos aqui a gozar dessa liberdade”, diz PekaGboom. Bráulio concorda, e evoca a importância do 25 de abril. As revoluções são ensinamentos e também uma urgência, pois o quotidiano de racismo, precariedade e salários indignos permanece. “Vida preta do negro” é o manifesto.
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22.12.2021 | por Otávio Raposo
No tabuleiro do rap haverá uma cor que identifique este estilo musical? As peças de damas de PekaGboom e Bráulio estão posicionadas, uma partida que inspira reflexões sobre as origens do rap, a identidade e a cultura.
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15.12.2021 | por Otávio Raposo
O lema é do bairro para o mundo. Por via da arte, os jovens da Quinta do Mocho constroem horizontes de oportunidades, projetando novas visibilidades sobre si próprios e o bairro onde vivem.
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01.12.2021 | por Otávio Raposo
Entre a música e a dança serve-se à noiva a refeição principal, à base de arroz, leite fermentado e óleo de palma. O tambor de água (ou tina) marca o ritmo do festejo, acompanhada pelo djembê, sikó, wafe e as canções tradicionais ligadas a esse ritual.
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16.11.2021 | por Otávio Raposo
Estou cansada de ver pessoas enaltecendo coisas que considero afetadas e pouco conscientes do mundo além-fronteira, ao mesmo tempo que assisto a pessoas talentosas e humildes serem maltratadas. Vejo o poder, em todas as suas formas de arrogância, em vez da potência, na sua forma de liberdade. Ando cansada dos egos dos artistas e sobretudo do meu, e a única coisa que me apetece é aquilo que ainda não sei fazer… cozinhar, plantar. Tratar de animais. Ver crescer coisas, tentar amar como deve ser.
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12.11.2021 | por Rita Brás
Gueto é a tradução de um bairro entre “guerra” e “paz”. Para aqueles que lá vivem, recusa-se o rótulo de “piores” e reivindica-se o direito à cidade. Das “assadas” ao “amor”, novos sentidos são dados a esses territórios de “memórias” que não querem estar reféns da segregação urbana.
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10.11.2021 | por Otávio Raposo
“Hoje em dia o meu bairro é um local turístico. Antigamente era um local problemático, um local que ninguém queria pisar”, diz Yuri G entre freestyles de rap. Mas a beleza da street art, continua ele, não pode servir de ornamento para disfarçar as condições degradadas que permanecem no bairro.
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03.11.2021 | por Otávio Raposo
Os quatro dias dedicados ao cinema experimental, em Arcos de Valdevez, ofereceram-nos uma panorâmica de diferentes práticas e realidades, vindas de distintas geografias, resultado de deslocamentos ou da diáspora individual das suas autoras. Este cruzamento de culturas foi ampliado pelos debates. De filme em filme, foi-se construindo o puzzle das convergências possíveis com O movimento das coisas, que também era o título do seminário. Manuela Serra manifestou uma grande satisfação ao ver o trabalho das cineastas convidadas. Destacou “o recurso ao formato em 16mm um modo de construir uma nova linguagem, onde está incluído o silêncio - ressaltando a sua importância - o que permite que a sensibilidade venha ao de cima. Temos que nos entender pela sensibilidade e não pela imposição da palavra.”
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27.10.2021 | por Anabela Roque