Respiramos ar puro na serra de Oaxaca. Nas terras altas do sudoeste mexicano, uma camponesa com o dom da cura virou um hit do vórtice psicadélico e hippy dos anos 60 e 70. Carimbada como “produto indígena”, Maria Sabina, a sacerdotisa dos cogumelos alucinógenos, virou artigo de consumo de intelectuais, cientistas, artistas e de uma multidão sedenta de drogas. No seu transe, não entenderam nada.
A ler
29.07.2021 | por Pedro Cardoso
No Brasil, em outros contextos, parte da esquerda tentava opor classe e diferença e isso está muito preso no debate político nacional. O que, a meu ver, nos ajuda a pensar é o seguinte: a classe sempre foi preta, a classe sempre foi mulher, a classe sempre foi indígena. O conceito de multidão pode nos ajudar a entender justamente isto: como essas questões se colocam, ou seja, muitas vezes ficamos nos opondo a questões que estão muito mais conectadas. Inclusive, os adversários dos “de baixo” percebem isso.
A ler
28.06.2018 | por Jean Tible
Vejo o campo da arte como um espaço para se refletir sobre a nossa condição contemporânea, o passado e o futuro. Regimes estéticos implicam regimes políticos constituídos por disputas entre formas de in/visibilidade e apagamento, disputas sobre a criação de narrativas dissidentes de discursos de dominação. Neste sentido creio que o meu trabalho, assim como o seu, tem uma militância que opera no campo da imagem e das narrativas, ao complicarem a maneira pela qual entendemos o que convencionamos chamar de natureza.
Cara a cara
25.09.2017 | por Isadora Neves Marques e Paulo Tavares
O antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro esteve em Lisboa para o ciclo “Questões indígenas: ecologia, terra e saberes ameríndios” do Teatro Municipal Maria Matos, no qual também participou o líder indígena Ailton Krenak. De uma longa conversa para o BUALA ficam fios de reflexões sobre antropoceno, apocalipse, crise da antropologia, noções de humano, antropomorfismo, reindigenização da modernidade, devir índio, os povos por vir e os direitos da natureza.
Cara a cara
18.05.2017 | por Ritó aka Rita Natálio e Isadora Neves Marques
O Arquivo Fotográfico mostra Visão Yanomami, exposição no âmbito da Lisboa Capital Ibero Americana da Cultura 2017 que revela o quão intensa foi a ligação entre a fotógrafa brasileira e os ameríndios yanomami. É um namoro que já dura há mais de 40 anos.
Vou lá visitar
13.04.2017 | por Sérgio B. Gomes
Enfim, o fim do mundo não é um assunto multicultural, mas sim multinatural. Claramente, fé nos híbridos não é o suficiente. O mesmo se poderá dizer do elogio da diferença. Em contraste com os discursos do inhumano ou do anti-humano, será possível sugerir, como acontece em sociedades animistas, que tudo é humano? Será tal palavra sequer relevante para lá do sentido histórico que lhe foi atribuído a partir do Renascimento? Manter essa palavra implicaria não apenas uma humanidade para lá da espécie, mas também para lá da modernidade. Mas isso seria um oximoro: uma humanidade amoderna? Quem sabe no fim do dia estas sejam as perguntas erradas. Mas sejamos claros, reconhecer a agência dos não-humanos não faz de nós animistas. O animismo é simplesmente a palavra antropológica para a crença em uma humanidade outra à qual os modernos têm sido fieis. E, no entanto, as ontologias não são fixas, elas mudam e se transformam, confrontam-se e negociam-se entre si. É isto que, de um ponto de vista multinaturalista, o fim do mundo quer dizer: entrar na cosmopolítica.
A ler
18.10.2016 | por Isadora Neves Marques
O imigrante da ex-colónia (ou mesmo os seus descendentes, muitos dos quais hoje cidadãos europeus) muitas vezes não consegue escapar ao paternalismo e ao controlo por vezes exacerbado do Estado pós-imperial. No substrato da acção do agente do Estado, mormente os agentes policiais de segurança pública, ainda subsiste o olhar, secular e binário, que categoricamente classifica e ordena o sujeito pós-colonial vindo da ex-metrópole, ou como um nobre selvagem, uma tábua rasa sem cultura e sobre a qual a acção civilizadora e modernizante do Estado europeu deve recair, ou como um selvagem bruto.
A ler
29.12.2014 | por Abel Djassi Amado