Ao que nos levou o fracasso do Estado Social

Ao que nos levou o fracasso do Estado Social Há muito que sentimos que o Estado se distanciou das suas responsabilidades com a população, sobretudo a mais pobre e vulnerável. E engane-se quem pensa que os governantes não se aperceberam disso. Basta contarmos o número de vezes que o Presidente da República inaugurou torneiras com direito a fitas decorativas, champanhe e cobertura mediática em cadeia nacional. Um país no qual abrir fontes de água para uma comunidade faz manchete na imprensa nacional diz muito da sua realidade social e política. Há problemas sérios no acesso a serviços básicos, as pessoas metem os pés nos rios, ceifam excrementos de animais e tiram água para beber; percorrem quilómetros para ter acesso a serviços que funcionam no horário normal de expediente nas repartições e quase sempre faltam medicamentos; a electricidade para todos é uma miragem; a educação resume-se ao debate sobre salas de aulas (que são árvores), o livro escolar que nunca chega - e, se chega, tem erros graves - e a falta de pagamento aos professores. Podemos parar por aqui porque a lista é extensa.

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05.01.2025 | por Eduardo Quive

O que dignifica?

O que dignifica? Porque são eles invisíveis?, perguntaria a criança a seguir. Porque sempre existiram mas ninguém deu conta deles, não vestem adequado, não cheiram aos aromas de Paris, nem à moda milanesa, antes à contrafação chinesa ou nigeriana; sempre andaram aos gritos que só os arrepiava a si mesmos, porque quem os devia escutar cercou-se de vozes semelhantes, de igual poder e cheiros, cantando todos em uníssono as canções de embalar os saciados. O que ficou para estes, resquícios de uma solidão e angústia só sufocada nas promessas e nos sonhos vistos em ecrãs de smartphones de segunda mão, tal como as roupas, vindas de contentores para o descarte. Os pensamentos da mãe podiam continuar a escalar, não fosse a criança ir-se tornando incómoda, impaciente, um tormento para quem também tem os seus porquês da vida. Está na hora de responder à criança que não se cala, em coro com os inaudíveis.

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27.12.2024 | por Eduardo Quive