Entre o desespero, a raiva e a esperança: diário do último ano, por Noura Erakat
No passado dia 7 de outubro de 2024, Noura Erakat leu um diário do último ano, onde marca o genocídio em curso na Palestina como um momento de transformação sistémica à escala global e, simultaneamente, como parte dos mais de 76 anos de colonização sionista e de recusa palestiniana. Noura é uma ativista, professora e jurista palestiniana com um trabalho fundamental, tanto no que diz respeito à organização coletiva da comunidade palestiniana-estadunidense e da comunidade solidária com o povo palestiniano nos EUA, como na produção e partilha de conhecimento crítico sobre o contexto de colonização da Palestina e a sua relação com o direito e a diplomacia internacionais. Nascida na Califórnia, ela é filha do exílio palestiniano, um exílio que se materializou como realidade com a Nakba, em 1948, e que se prolonga como passado no presente e faz parte da experiência de todas as pessoas palestinianas, seja como refugiadas no seu próprio território, ou espalhadas pelo mundo e impedidas pelas autoridades coloniais de retornar a casa.
Estes vários lugares habitados por Noura permitem uma ampla identificação com o seu desespero, raiva e esperança, como algo partilhado, de diferentes formas, por pessoas palestinianas e pessoas solidárias com a luta do povo palestiniano por libertação, que organizam e se mobilizam coletivamente.
Durante o último ano, em todo o mundo, tiveram lugar as maiores mobilizações das últimas décadas em solidariedade com a luta do povo palestiniano. No contexto português não foi diferente, com a presença popular massiva nas ruas e praças de várias cidades, com a partilha e discussão em vigílias diárias ou semanais e em assembleias populares onde se traçaram estratégias e objetivos, não apenas para que as exigências de um cessar-fogo se materializassem imediatamente, mas como prática descolonizadora que tem a libertação da Palestina e de todos os territórios colonizados como horizonte.
Nestes espaços, as coligações foram pensadas como prática duradoura entre diferentes movimentos sociais que olham, como diria Angela Davis, para a liberdade como uma luta constante, como processo de libertação. Eu poderia ter dito também: coligações duradouras entre diferentes lutas. Contudo, aquilo que observo é que, de forma cada vez mais sofisticada, existe um entendimento coletivo de que as lutas travadas a partir das margens – produzidas como marginais e alvo de um projeto de permanente fragmentação por um sistema capitalista, colonial e normativo que explora, oprime, mutila, deprime, isola, mata e/ou contribui para uma morte lenta marcada pelo roubo da dignidade – são parte de uma mesma luta por libertação coletiva.
No período de uma ou várias semanas – que em alguns lugares ultrapassou um mês – em que estivemos reunidas nos acampamentos montados dentro das universidades, manifestou-se, na presença de todas essas lutas num mesmo espaço, a potência da organização coletiva partilhada em todo o mundo “como forma de mudar o curso da história”. A resposta obtida por quem pôs em prática a democracia como participação foi, apesar de tudo, o silêncio, o paternalismo e a violência como forma de manter intactas as hierarquias normalizadas dentro das diferentes instituições: entre patrões e trabalhadoras, entre administrações, professores e estudantes, entre governantes e governados, etc.
Mais importante do que isso, a violência ganha aqui uma dimensão corretiva e higienizadora, de remeter ao lugar determinado para si quem procura reencantar o mundo e recusa a ordem pré-estabelecida, mas, principalmente, a de destruir, através da força, a esperança alimentada pelo encontro entre as muitas que se recusam a aceitar e a calar enquanto as instituições de que fazem parte continuam a fazer negócio e a normalizar as ações daqueles que se veem como proprietários da Palestina, ao mesmo tempo que a destroem e procuram negar a existência à sua população indígena. Aqui ecoam as práticas dos impérios coloniais europeus, complementadas pelo extrativismo crítico de quem é apenas capaz de condenar os crimes do passado e se cala ou os alimenta enquanto são cometidos no presente. O colonialismo não é uma palavra ou património para quem o vive, na Palestina como cá. Está presente como violência quotidiana e estrutural (traduzida como ordem e progresso) nas margens e como genocídio (traduzido como autodefesa e democracia) na Palestina.
Nos acampamentos, assim como durante o último ano descrito por Noura Erakat, ficou clara a dialética entre os que alimentam uma paz e um luto instrumentais, os que banalizam, patrocinam e põem em prática políticas de morte e aquelas que constroem comunidade, amor e “vida nas suas dobras”, entre os que produzem o mundo tendo como modelo a prisão – como espaço de reclusão e isolamento das populações consideradas excedentárias, onde o tempo lhes é roubado e onde são deixadas a apodrecer – e aquelas que veem a descolonização como abolição de uma infraestrutura carcerária global desenhada por fronteiras físicas e simbólicas: muros, postos de controle, securitização, sistemas de vigilância, atomização, produção do medo do “Outro” como “selvagem”, “indigente”, “abjeto” ou concorrente, controlo da informação, precariedade laboral, habitacional, alimentar, corporal, etc. Tudo tecnologias de individualização e fragmentação comunitária que procuram produzir seres dóceis e normativos e ocultar possibilidades de um outro mundo que existiu e pode ser resgatado para pensarmos um futuro alternativo e, para algumas pessoas, meramente abrir espaço para que o futuro possa ser uma possibilidade real.
Para todas nós é fundamental reconhecer a luta inabalável e em curso travada há mais de um século pela resistência palestiniana, que nos serve de orientação e inspiração. Dessa luta partilhada com tantas outras sociedades colonizadas e comunidades marginais retiro dois elementos fundamentais que têm impacte no modo como vemos a realidade e, principalmente, na ação coletiva pelo desmantelamento dos sistemas que nos oprimem.
A primeira é que a prática palestiniana de resistência vai muito além de um reflexo como parte da dialética entre forças antagónicas. Ou seja, uma Palestina livre não representa simplesmente o oposto do Sionismo, mas existiu antes do projeto sionista se ter materializado, continua a existir no tempo da colonização sionista e imagina coletivamente um futuro muito para lá do Sionismo. Ela não é determinada ou limitada por essa ideia de mundo, mas formula e pratica um mundo a partir dos seus próprios termos. R/existir é evitar as armadilhas que nos transformam num espelho, é a recusa em ser o contrário ou simplesmente aquilo que o colonizador não é. Muito antes do colonizador chegar, as pessoas palestinianas já viviam e pertenciam como comunidade àquele lugar. Elas são a prova que um mundo alternativo e que uma outra forma de ser comunidade não são apenas possíveis como já existiram e continuam a existir nas margens deste mundo.
A segunda está relacionada com primeira e diz-nos que a esperança não é opcional. No último ano, desespero e raiva terão sido, provavelmente, as palavras que mais ouvi em espaços de luta, por parte de quem não se conforma com a passividade e normalização de um genocídio que todas vemos em direito. Tudo isto desperta um medo permanente de desmobilização pelo cansaço, mas aquilo que temos experienciado é a permanente transformação do desespero, do medo e da raiva numa força coletiva de ação que agregou diferentes pessoas e movimentos sociais ao longo deste ano. Isto deve-se à incorporação de um trabalho partilhado de cuidado e apoio mútuo que, como o povo palestiniano demonstra há mais de um século, permite não apenas a sobrevivência de uma comunidade e da resistência, mas a sua permanente reinvenção. Esta é uma linguagem ininteligível para o colonizador, assim como para o grande proprietário, para o monopolista, para o burocrata, etc. Para eles tudo é propriedade, a terra é um bem disponível para extrair valor, e a comunidade é uma abstração composta por multitudes de indivíduos que vendem a sua força de trabalho e os seus corpos para poderem ser “livres” como consumidores.
O sentido de comunidade que nos inspira é aquele connosco partilhado pelas pessoas palestinianas, não como uma abstração assente na memória seletiva ou em mitos bíblicos e civilizacionais, mas como parte de memórias praticadas e experimentadas em comum num (e com um) lugar por elas (e com elas) construído ao longo de várias gerações. Sei que enquanto escrevo este texto, alguém imagina Gaza não apenas reconstruída, mas também libertada. Não apenas Gaza, mas toda a Palestina da qual faz parte. Se as pessoas palestinianas, alvo de violência quotidiana e permanente há mais de um século, têm na esperança a sua maior força coletiva de sobrevivência, resistência e libertação, a nós cabe-nos acompanhar e fortalecer um processo histórico de descolonização que, como diz Franz Fanon, “se propõe alterar a ordem do mundo [como] programa de desordem absoluta”.
Continuaremos a construir o caos e espaços libertados nas margens da ordem capitalista, colonial e normativa que recusamos. A luta continua.
E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana
Chicho Science & Nação Zumbi, Da Lama ao Caos (1994)
— tradução de texto —
Dia após dia, durante um ano, o exército israelita levou a cabo uma implacável campanha de extermínio contra as pessoas palestinianas em Gaza. Dia após dia, pessoas de consciência tentaram impedi-lo.
É o dia 367 do genocídio. Habituei-me a assinalar os meus dias assim – sabendo de forma terrível que, hoje, a destruição à escala industrial das pessoas palestinianas na Faixa de Gaza continua, e com a absoluta determinação de que, hoje, essa destruição tem de acabar.
Adotei esta prática no dia 6, quando se descobriu que a única potência nuclear no Médio Oriente tinha lançado 6,000 bombas em menos de uma semana sobre uma população sitiada e constituída maioritariamente por pessoas refugiadas.
Mesmo antes desta revelação, sabíamos que este era um ataque sem precedentes. Sabíamos disso, apesar de a colonização da Palestina por parte de Israel ter estabelecido uma estrutura de eliminação que se mantém há quase oito décadas; apesar do seu empenho em várias agressões durante a Guerra de 1948, a Guerra de 1967, e a invasão do Líbano em 1982; apesar de ter encerrado Gaza com uma vedação militarizada desde 1993, de ter imposto um cerco total desde 2007 e de ter iniciado uma campanha de agressões sistemáticas desde 2008. Sabíamos que isto era diferente, em escala e forma. Impulsionado por um desejo fanático de vingança, juntamente com o oportunismo frio e calculista para completar a Nakba, Israel, apoiado por uma potência global, desencadeou uma campanha impiedosa destinada a punir e destruir um povo que se recusou a desaparecer.
Sabíamos de tudo isto no dia 6 – e então, por volta da meia-noite desse dia, os militares israelitas ordenaram que 1,1 milhões de pessoas palestinianas se deslocassem para sul, para lá de Wadi Gaza. No dia 7, o investigador em Estudos do Holocausto, Raz Segal, chamava a isto “um exemplo clássico de genocídio”. No dia 8, 800 juristas alertaram para o mesmo. No dia 10, o hospital Al-Ahli foi bombardeado. No dia 11, 400 ativistas judeus ocuparam o Capitólio dos EUA e no dia 12, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram para o genocídio.
No dia 27, ativistas em Oakland, na Califórnia, impediram que um barco identificado como transportando munições para Israel atracasse. No dia 28, 300,000 manifestantes exigiram, em Washington DC, um cessar-fogo imediato. No dia 31, ativistas em Tacoma, no Estado de Washington, impediram novamente a atracagem de um barco que transportava munições. No dia 33, três organizações palestinianas de defesa dos direitos humanos apresentaram uma petição ao Tribunal Penal Internacional, onde acusam Israel de genocídio. No dia 35, quase meio milhão de manifestantes exigiram, em Londres, um cessar-fogo e, no dia 37, o Centro para os Direitos Constitucionais processou o Presidente dos EUA, bem como os seus Secretários de Estado e da Defesa, como forma de pôr fim à sua cumplicidade com o genocídio.
Tudo isto aconteceu antes do primeiro e único cessar-fogo, que facilitou a troca diplomática de pessoas cativas, entre os dias 48 e 54.
Quatro semanas depois, no dia 83, a República da África do Sul submeteu uma petição, onde acusava Israel de violar a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. A petição aproveitou uma onda de mobilização global, por parte de pessoas que não precisavam de um tribunal para nomear o que estavam a testemunhar em direto. Estas pessoas não precisavam de precedentes legais para condenar a destruição de 60 por cento dos edifícios residenciais em Gaza, a demolição de todas as principais universidades, a incapacitação de 36 hospitais e o ataque a uma mesquita com 1,400 anos de idade e à terceira igreja mais antiga de Gaza. Elas não precisaram de um painel judicial para concluir que a morte de uma média de 247 pessoas palestinianas por dia, incluindo duas mães por hora, e a amputação de um ou mais membros de 10 crianças por dia, não era o resultado de um grotesco combate em meio urbano. No entanto, muitos dos Estados-membros da ONU precisavam que o seu principal órgão judicial os recordasse das suas obrigações e deveres, para que fossem obrigados a restringir as ações genocidas de um Estado e dos seus patrocinadores.
No dia 111, 15 dos 17 juízes do Tribunal Internacional de Justiça consideraram plausível que Israel estivesse a cometer genocídio. Concordaram que a lei proibia aquilo que o sal da terra condenava: que a destruição de um povo – seja para atingir um objetivo político, seja para expandir domínios territoriais ou para afirmar a soberania incontestada dos colonos, ou por qualquer outra razão – nunca é aceitável. Mas esta decisão retumbante embateu numa realidade problemática, ao deixar a descoberto que não existe nenhum mecanismo para a sua aplicação no sistema internacional – isto é, à exceção do Conselho de Segurança da ONU, cujos cinco membros permanentes exercem um poder de veto que poderia e que, de facto, subverte a vontade do mundo inteiro.
Mesmo assim, uma comunidade global inabalável continuou na batalha feroz pela decência básica. Se as instituições internacionais não pudessem ser adequadamente mobilizadas para impedir um genocídio, as nacionais sê-lo-iam. No dia 121, vários fundos de pensões dinamarqueses desinvestiram de empresas israelitas; no dia 122, o governo da Valónia, na Bélgica, suspendeu duas licenças de exportação de armas; no dia 129, um tribunal de recurso holandês proibiu o envio de peças para os jatos F-35; e, no dia 246, a Colômbia impôs um embargo energético. Em Inglaterra e nos EUA, as ativistas contornaram o governo e forçaram o encerramento das fábricas da Elbit – a maior fabricante privada de armas de Israel – em Tamworth, Oldham e Cambridge.
No dia 193, estudantes universitárias estadunidenses, que se manifestavam contra a cumplicidade das suas instituições no genocídio, despertaram a atenção nacional ao montarem um acampamento na Universidade de Columbia. No dia 209, foram montados mais de 150 acampamentos em universidades por todo o mundo. As estudantes permaneceram firmes na sua luta, enquanto as suas próprias instituições as puniam brutalmente por ousarem opor-se às piores atrocidades que podem ser cometidas por Estados – e por corporizarem o potencial da organização coletiva como forma de mudar o curso da história. Estudantes de jornalismo preencheram estoicamente o vazio deixado pela sua classe profissional e estudantes de pós-graduação produziram e partilharam conhecimento sobre a Nakba que as publicações de elite tentaram, e não conseguiram, censurar. No dia 228, comunidades espalhadas por todo o território dos EUA aprovaram 175 resoluções municipais de cessar-fogo e, no dia 235, 100,000 pessoas formaram um cordão humano em torno da Casa Branca que representava a linha vermelha que a administração Biden recusou impor à invasão de Rafah.
Tudo isto é apenas uma pequena fração do trabalho que tem sido feito em todo o mundo para travar o genocídio – sem falar, sequer, da frente palestiniana indomável em Gaza, sem a qual a solidariedade não faria sentido. Mas nada disto foi o suficiente para pôr fim ao genocídio.
Até hoje, dia 366, quase 42,000 pessoas palestinianas – que tenhamos conhecimento – foram mortas, incluindo mais de 20,000 crianças enterradas, desaparecidas e detidas. Os nomes das menores de 1 ano preenchem as primeiras 14 páginas de um documento com 649 páginas elaborado como homenagem às pessoas assassinadas. Até agora, 902 famílias inteiras foram apagadas do registo civil. Como resultado de uma estratégia calculada de eliminação pela fome, doenças e destruição das condições básicas para a sobrevivência, a publicação The Lancet estima que, em meados de junho de 2024, o verdadeiro número de pessoas palestinianas mortas era já 186,000 e que esse número atingirá as 335,500 pessoas até ao final deste ano.
“Estamos a ficar sem chão para enterrar os nossos mortos”, escreveu o jornalista Hossam Shabat no final de setembro. Atenta a um público apático, Hind Khoudary implora, “Acorda mundo, as nossas crianças estão a ser massacradas”, enquanto Mahmoud, com 11 anos de idade, explica:
O meu desejo
É viajar
Para chegar a um hospital
E pôr braços protéticos.
Para conseguir segurar uma bola com as minhas mãos
Para conseguir brincar.
Para conseguir escrever.
Para conseguir comer.
E, contudo, agora mesmo, Israel está longe de ter terminado. No dia 355, intensificou a sua campanha com um ataque terrorista em solo libanês, transformando seres-humanos em bombas ambulantes. Continuou a bombardear indiscriminadamente bairros residenciais, utilizando a mesma retórica racista sobre “escudos humanos” que deveria ter sido enterrada sob os 26 milhões de toneladas de escombros que outrora foram a infraestrutura civil de Gaza. Depois da resposta iraniana, com o envio mísseis, ter aterrado em Israel, no dia 359, o risco de uma guerra regional e potencialmente global paira a uma distância que vai diminuindo.
Hoje, no dia 367, é quase impossível não desesperar. “A Catástrofe não está no futuro, a Nakba não é passado”, diz-nos a historiadora palestiniana Sherene Seikaly. Não estamos à beira do apocalipse; temos construído vida nas suas dobras. No seu tratado sobre a formulação de um outro mundo, Octavia Butler recorda-nos, “Tudo aquilo em que tocas, transformas. Tudo aquilo que é transformado, transforma-te.”
O nosso esforço coletivo teve um impacte permanente: os EUA e Israel estão isolados no mundo, a sua influência está reduzida ao uso da força coercitiva nua e crua, desprovida de qualquer tipo de persuasão legal ou ética. A sua destruição sem limites só é igualada pela sua falência moral, agora mais evidente para aquelas pessoas que a queiram ver.
Nós também fomos transformadas para sempre: os nossos olhos foram abertos, educados para desconfiar da autoridade mediática, social e política que nos tenta intimidar e transformar em zombies ambulantes obcecadas pelas distrações da cultura pop; fomos expostas ao fato de o imperialismo moldar os mais ínfimos detalhes das nossas vidas quotidianas, de o Sionismo ser uma ideologia racista, e de uma Palestina livre ter o potencial de nos libertar a todas.
Devemos reconhecer o nosso desespero e nomeá-lo como tal, para assim evitar que a sua escuridão sem fundo transforme os nossos espaços de ativismo em lugares tóxicos que nos magoam. Devemos lembrar-nos que desistir não é uma opção e que a história é mais do que apenas uma época. Devemos ver nas pessoas palestinianas uma fonte de orientação e inspiração – elas, que ao longo de mais de 76 anos, foram alvo de violência permanente e que sempre se levantaram como uma fénix que se reconstituiu e continua a forjar um futuro com o fogo do sacrifício e com a certeza da vitória coletiva. Um genocídio ameaçou apagar a Palestina, mas garantiu que a Palestina vive agora em cada uma de nós, imortal. Nada, nenhuma de nós, voltará a ser como antes.
Noura Erakat, 7 de outubro de 2024