Das ruas de Kinshassa até Sines: KONONO Nº 1 meets BATIDA (dia 29)
A tarde começou com um concerto de Filho da Mãe, no auditório do Centro de Artes de Sines, que nos impressionou pelas prodigiosas sequências de dedilhados, com uma guitarra que nos hipnotiza e prende até ao fim.
Pelas 19h Vitor Tavares, mais conhecido como Bitori Nha Bibinha, acompanhado pelo cantor Chando Graciosa e pelos músicos Danilo Taveres (baixo), Toy Paris (bateria) e Miroca Paris (percurssões e coros), que logo puseram os corpos colados a dançar funaná. Bitori nasceu em Cabo Verde e é considerado um dos pais do funaná tradicional. Em conversa com o BUALA, Vitor Tavares contou-nos que começou a tocar gaita (acordeão diatónico) desde que trabalhava com pedreiro. “Nos intervalos do trabalho arranjava sempre tempo para tocar… A música é a minha alma.” Depois começou a cortar cabelos para ganhar dinheiro, “não era possível viver da música, claro”.
A tarde seguiu-se com um concerto dos colombianos LOS PIRANAS, grupo musical de Bogotá, que pega em cumbias e chichas para as expandir numa proposta psicadélica e tropical. Mais tarde o jazz e o hiphop encontraram-se num concerto com DAVID MURRAY INFINITY QT. FEAT. SAUL WILLIAMS. De seguida, o percussionista tunisino IMED ALIBI que nos mostra um som de fusão baseado em ritmos do Magrebe e Médio Oriente.
Pela 1 da manhã o palco do Castelo recebe “KONONO Nº1 meets BATIDA”, que leva o público numa viagem hipnótica através de 40 anos de áfrica eletrónica-analógica. Unidos por uma experimentação musical baseada no uso de aparelhagens eletrónicas auto-construídas ao lado de instrumentos tradicionais africanos, o grupo propõe uma genial re-mistura das sonoridades do Congo e de Angola (país do qual são originários alguns dos Konono, assim como o Pedro Coquenão, Luso-Angolano mais conhecido como Batida).
À conversa com o BUALA, Pedro Coquenão (BATIDA) contou-nos que o encontro com os KONONO Nº1 começou no WOMEX (World Music Expo): “estava lá a dar um concerto e estavam várias pessoas próximas dos Konono a assistir que acharam que havia ali um ponto qualquer de contacto entre o que eu faço e a banda deles. Além de ser muito lisonjeiro terem pensado nisso, eu identifico-me muito com o que a banda faz e com essa ideia de música africana urbana e experimental que eles fazem e que já tem tanto tempo e que continua a ser sempre actual.” Mais tarde decidiram então encontraram-se, “fui ter com eles, jantámos – comer junto é importante – e foram todos muito simpáticos, o sentimento foi de amizade, de proximidade, e quisemos voltar a estar juntos”.
O próximo encontro ficou marcado para Lisboa, no final da tour dos Konono: “O plano era procurarmos um estúdio onde iríamos gravar mas acabámos na minha garagem porque era o único sítio que estava livre. Eles disseram logo que era ali que queriam gravar. E não era uma proposta, era uma decisão. Eu pensei logo que ia dar uma “trabalheira do caneco”, depois usar o som da garagem… porque é um som de garagem… mas depois acabei por aceitar porque era uma sensação de orgulho, foi quase como recordar a minha infância, dividir o quarto com os primos. Éramos cinco, sete, dentro de uma garagem, com o aquecedor no máximo e chocolate quente. Gravámos o disco inteiro em 2 dias. E depois começámos a experimentar coisas diferentes. À medida que iam tocando eu ia mexendo na bateria. Depois gravámos com esses elementos novos.”
A noite continuou com os portugueses FUMAÇA PRETA, autores de uma peculiar combinação de sonoridades latinas-africanas e psicádelicas, e acabou com ISLAM CHIPSY & E.E.K., trio do Cairo, que fez gritar o público em delírio total até às 6h de manhã, com os ritmos implacáveis do conjunto de duas baterias a acompanhar os virtuosismos histéricos do teclado eletrônico através de escadas musicais árabes.