Potência e Adversidade, arte da América Latina nas coleções em Portugal
A exposição apresenta uma seleção de cerca de 40 artistas e mais de 80 obras pertencentes a coleções públicas e privadas em Portugal, e tem como objetivo identificar alguns nexos históricos que ainda passam à margem das narrativas institucionalizadas sobre a produção artística da América Latina.
De forma a contornar a fragmentação intrínseca às diversas coleções existentes em Portugal, a exposição opta por um ângulo histórico circunscrito – a produção artística dos anos 1970 até hoje –, e percorre produções artísticas especialmente importantes para entender a vitalidade e originalidade artística de países tão diversos quanto a Argentina, Brasil, Cuba, Espanha, México, Portugal, Chile, Venezuela, Alemanha ou Colômbia.
Se por um lado se assume que a identidade, em particular para os artistas da América Latina, é uma condição problemática e instável, por outro, a exposição procura “performar” narrativas culturais, vetores políticos e matrizes económicas, que possam contrapor-se à ideia de preponderância dos cânones “ocidentais”.
Tendo por ponto de partida os anos “quentes” de lutas sociais, contra as ditaduras e a repressão no mundo, a exposição observa a década de 1970, marcada por uma produção cultural inédita, engajada em romper os lugares-comuns habitualmente associados à América Latina e em que se reivindica o fim das estruturas de violação do Estado, e se estabelecem conexões entre a produção artística e a formação política e ideológica, num misto de radicalidade e marginalidade. Intensificam-se, ainda nesta década, os trânsitos de artistas e intelectuais, muitas vezes relacionados ao exílio, e ampliam-se os espaços de contaminação, o que origina um cenário de efetiva flexibilização intercultural que faz despontar problemáticas “pós-modernas” e “pós-coloniais”, em debate hoje. Artistas seminais como Cildo Meireles, Artur Barrio, Horácio Zabala, Anna Maria Maiolino, Ana Mendieta, Lydia Okumura, Hélio Oiticica estabelecem um corpus diverso de poéticas experimentais iniciadas na década de 1970 que se desdobra nos trabalhos de um conjunto de artistas de gerações posteriores. Interessados em reacender as relações entre arte e política e estratégias visuais e discursivas para deslatinizar e destropicalizar os discursos sobre a produção artística do continente Paulo Nazareth, Damián Ortega, Jac Leirner, Ignasi Aballí, Magdalena Jiktrik, Rosangela Rennó, Detanico & Lain, Emmanuel Nassar, André Komatsu, Jorge Macchi, entre outros, atualizam o “legado conceitual”.
Diante da vontade em expressar a riqueza de pontos de contato com o trabalho de artistas “de fora”, a exposição integra também alguns artistas “europeus” cujo trabalho é atravessado aproximações poéticas ou referências culturais à América Latina: Ângelo de Souza, Leonor Antunes, Antoni Muntadas e Lothar Baumgarthen.
O título da exposição, que remete para a frase de Hélio Oiticica “da adversidade vivemos”, refere-se à ideia de existência enquanto espaço de confronto e de disputa, que inscreve a ideia de experimentação, habitualmente associada à América Latina. O mesmo título denuncia igualmente um tom de melancolia ou “fim de festa”, que sinaliza o presente desequilíbrio induzido pelo neoliberalismo consumista e pela retomada de poderes conservadores em vários países.
Significativa é também a intenção deste projeto em aferir alguns denominadores comuns, políticas de aquisição e idiossincrasias culturais, que acompanharam e acompanham o colecionismo referente às produções artísticas dos países da América Latina. Um ensaio paralelo à exposição, publicado em catálogo, analisa os diferentes momentos da aproximação de Portugal à arte da América Latina, desde a retórica do “multiculturalismo” até à necessidade, no presente, em estabelecer uma revisão pós-colonial dos acervos de arte em Portugal.
Exposição colectiva | artistas: Ana Mendieta, Ângelo de Sousa, Anna Maria MaiolinoAntoni Muntadas, Antonio Dias, Artur Barrio, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Horacio Zabala, Lydia Okumura.
Albino Braz, Ana Maria Tavares, Analia Saban, André Komatsu, Carmela Gross, Damián Ortega, Detanico & Lain, Emmanuel Nassar, Eugenio Dittborn, Gabriel Orozco, Ignasi Aballí, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Jorge Macchi, Juan Araújo, Juan Munõz, Leonor Antunes, Letícia Ramos, Lothar Baumgarten, Magdalena Jitrik, Manuel Álvarez Bravo, Manuel Ocampo, Marepe, Nelson Félix, Nicolás Robbio, Paulo Nazareth, Rosângela Rennó, Tunga, Waltércio Caldas, Mauro Restiffe, Tamar Guimarães.
ARGENTINA / BRASIL / CUBA / ESPANHA / MEXICO / PORTUGAL/ CHILE/ VENEZUELA/ ALEMANHA / COLÔMBIA
Curadoria: Marta Mestre
12 novembro a 7 de janeiro 2018 no Pavilhão Branco e Pavilhão Preto (no Museu da Cidade, Lisboa). Integra a programação da Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura.
A exposição pode ser vista de terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.