O trabalho e a prática de Freire inspiraram o que se tornou um movimento pedagógico crítico mundial. Cabral é uma influência centralmente importante, embora em grande parte não reconhecida, desse movimento. No último livro escrito antes de sua morte, intitulado Cartas a quem ousa ensinar, a influência de Cabral sobre Freire parece ter permanecido central, pois ele insistiu que o livro era “importante para lutar contra as tradições coloniais que trazemos conosco”.
Jogos Sem Fronteiras
22.09.2021 | por Curry Malott
O colonialismo não é uma máquina pensante. Nem um corpo dotado de aptidões racionais. É a violência no seu estado natural e só sucumbirá quando for confrontada com uma violência maior.
As palavras são de Frantz Fanon, constam do seu livro “Os Condenados da Terra”. Em Concerning Violence, ganham sonoridade pela voz da cantora, compositora e ativista Lauryn Hill. O realizador Göran Olsson conduz-nos por nove cenas de autodefesa anti-imperialista. Muitas delas são-nos familiares. Viajamos pelos palcos da Guerra Colonial em Angola ou Moçambique. Encontramos, inclusive, soldados portugueses, na Guiné, reunidos à volta do corpo dilacerado de um conterrâneo. A acompanhá-los, a canção de Luís Cília O canto do desertor: Vai dizer à minha mãe que eu não vou p’rá guerra
A ler
20.12.2020 | por Mariana Carneiro
Curar-nos-emos? Sim. A violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar as feridas que abriu. Hoje, estamos presos, humilhados, doentes de medo: estamos muito em baixo. Felizmente isto não chega à aristocracia colonialista: ela não pode concluir a sua missão retardatária na Argélia, sem colonizar antes os franceses. Cada dia retrocedemos frente à contenda, mas podem estar certos de que a não evitaremos: eles, os assassinos, precisam dela; seguem revoluteando em redor de nós e espancam a multidão. Assim, acabará o tempo dos bruxos e dos feitiços: terão que ser espancados ou apodrecer nos campos. É o momento final da dialéctica: condenam essa guerra, mas não se atrevem, todavia, a declarar-se solidários com os combatentes argelinos; não tenham medo, os colonos e os mercenários obrigá-los-ão a dar este passo. Talvez, então, encurralados contra a parede, desenfreareis por fim essa violência nova suscitada pelos velhos crimes acumulados. Mas isso, como costuma dizer-se, é outra história. A história do homem. Estou certo de que já se aproxima o momento em que nos uniremos a quem a está fazendo.
A ler
04.10.2016 | por Jean-Paul Sartre
Esta aparente versão benigna das relações coloniais traduzida pelo termo paternalismo, na qual o poder se exercia a partir de uma pretensa proximidade afectiva, continua hoje a servir para relatar a experiência colonial portuguesa e o seu ilusório excepcionalismo. Este paternalismo, desprezível em sim mesmo, só operava, no entanto, perante a possibilidade última da violência. Inúmeras vezes esta possibilidade passou do estado latente para o manifesto, pela acção do Estado colonial, da empresa privada e dos particulares, tanto no espaço público como doméstico. Pela força destas imagens de arquivo e pelo ritmo que lhes é dado pelas palavras de Fanon, inseridas no ecrã, Olsson introduz-nos neste universo concentracionário que importa por demais voltar a discutir.
Afroscreen
21.09.2016 | por Nuno Domingos