Do dever de memória ao direito de não ser um perpetrador - "Memórias em Tempo de Amnésia" de Álvaro de Vasconcelos

Do dever de memória ao direito de não ser um perpetrador - "Memórias em Tempo de Amnésia" de Álvaro de Vasconcelos O autor oferece-nos um testemunho e uma reflexão sobre o fascismo em Portugal e sobre o colonialismo português, pelo dever de memória, a mesma responsabilidade que Primo Levi assumiu ao escrever sobre o holocausto. Porém, ao contrário do autor judeu, que foi juntamente com os seus familiares vítima dos campos de concentração nazi, Álvaro de Vasconcelos não foi vítima do colonialismo; como confessa, foi seu beneficiário. Além disso, a sua condição de homem, nascido num meio privilegiado permitiu-lhe, mesmo durante o fascismo, o acesso a uma liberdade com a qual a maior parte dos portugueses - e sobretudo portuguesas - não podia sequer sonhar. No entanto, Álvaro de Vasconcelos não lamenta “paraísos perdidos” nem no Douro da sua infância, nem na Beira da sua adolescência, nem na Joanesburgo da sua juventude.

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10.01.2023 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal Se outros sistemas económicos e sociais caíram no passado, porque é que o capitalismo não pode acabar, mais tarde ou mais cedo? Porque não levantar essas questões, geralmente declaradas como "impossíveis" de resolver? Por vezes, pensamos nas organizações económico-políticas das sociedades como estruturas imutáveis, as formações guerrilheiras não o fizeram, mesmo quando tudo podia parecer perdido. Sonhando e praticando sonhos, as utopias tornam-se realidade.

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23.11.2022 | por Francesco Biagi

Não estamos em Hollywood! Conversa com Licínio Azevedo e Gabriel Mondlane

Não estamos em Hollywood! Conversa com Licínio Azevedo e Gabriel Mondlane O cinema tem um papel político em Moçambique, mesmo que os nossos filmes não sejam políticos. Foi criado como um instrumento político, teve uma influência regional enorme: os nossos documentários tiveram influência na África do Sul pós-apartheid, no Zimbabué, na Namíbia, em Angola, em todos os países da região. Foi uma ideia genial e extraordinária da Frelimo pós-independência, que trouxe para cá [Jean-Luc] Godard, Jean Rouch, Ruy Guerra e dezenas de outros cineastas e gente do cinema: cubanos, italianos, ingleses, franceses.

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11.10.2022 | por Lurdes Macedo

Coleções “Jardim da Vitória”

Coleções “Jardim da Vitória” Ao longo de 10 anos uma equipa constituída por artistas visuais, antropólogos, arquitetos, designers, engenheira agrónoma, participaram e realizaram um conjunto de projetos artísticos, documentais e cinematográficos no bairro da Quinta da Vitoria, com o pressuposto de contribuir para uma representação mais inclusiva destas comunidades. Ao mesmo tempo que o bairro foi sendo construído pelos próprios moradores, foi crescendo uma barreira invisível que o delimita da cidade. Esta divisão crescente, preconceitos e representações abstratas, contribuíram para a exclusão social e cultural destas comunidades.

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10.08.2022 | por Sofia Borges

"Moçambique nunca conheceu momentos de paz”, entrevista a Paulina Chiziane

"Moçambique nunca conheceu momentos de paz”, entrevista a Paulina Chiziane Foi a primeira mulher a publicar um romance no seu país. E a primeira africana a ganhar o Prémio Camões, em 2021. Ser tudo isto levou-a a perguntar: “Porquê agora?” A resposta ocupa a conversa com o Expresso. Nela recua-se aos inícios, fala-se do rumo do continente africano, da autocolonização e da colonização da língua

Cara a cara

19.01.2022 | por Luciana Leiderfarb

A Guerra Guardada: fotografia de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (1961-74)

A Guerra Guardada: fotografia de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (1961-74) Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância. Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.

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05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes

Floresta Colonial: a eucaliptização de Moçambique

Floresta Colonial: a eucaliptização de Moçambique Sob o pretexto do «reflorestamento», da «descarbonização» e a troco de «empregos», na última década, a expansão gigantesca da monocultura do eucalipto pela Portucel Moçambique tem levado ao fim das terras comunais e das machambas que garantiam a perene sobrevivência de comunidades rurais, condenadas a viver sem nada e impotentes perante o desenvolvimento do eucalipto.

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27.11.2021 | por Filipe Nunes e João Vinagre

O “tríbrido” cultural: uma breve digressão pessoal pela(s) identidade(s) — Parte II

O “tríbrido” cultural: uma breve digressão pessoal pela(s) identidade(s) — Parte II Assim, importa pensar numa condição que ultrapasse as “essências” identitárias que nos afastam e constroem muros entre nós. Nela não há fantasia, longe disso, já que, por si só, opera a síntese de toda a inflexão, que se concentra em pensar a interpenetração de culturas e imaginários. Deste modo, o Todo Mundo designa a nova copresença de seres e coisas, o estado de globalidade em que reina a relação. Seja na ética do passante, que visa evitar a necropolítica e a política da inimizade, seja na relação global, ambas podem-nos nos ajudar a pensar os direitos humanos como plataforma de luta em que a dignidade humana não seja relativizada.

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27.09.2021 | por José de Sousa Miguel Lopes

O “tríbrido” cultural: uma breve digressão pessoal pela(s) identidade(s) — Parte I

O “tríbrido” cultural: uma breve digressão pessoal pela(s) identidade(s) — Parte I Ao chegar a terras brasileiras foi ficando cada vez mais clara para mim a “presença” de Moçambique e da África em geral na consciência brasileira que se manifesta na religiosidade, nas cores, nas gestualidades, na forma de falar a língua portuguesa, nas danças, nas comidas. Muitos terreiros do candomblé (só no Maranhão são mais de 2000) são ilhas de África no Brasil. Em muitas circunstâncias, posso me sentir "fora de lugar". Diria que esse sentimento implica perdas e ganhos, mas é algo que me agrada. Não tenho certeza se tal atitude foi fruto de uma escolha livre que gradualmente se tornou um hábito, ou se foi, e ainda é, um meio de transformar uma necessidade em virtude.

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27.09.2021 | por José de Sousa Miguel Lopes

Organizações portuguesas e moçambicanas denunciam "The Navigator Company" quando chega a Portugal o primeiro carregamento de eucalipto moçambicano

Organizações portuguesas e moçambicanas denunciam "The Navigator Company" quando chega a Portugal o primeiro carregamento de eucalipto moçambicano O primeiro carregamento de toros de eucalipto que chegou a Aveiro proveniente do porto da Beira, em Moçambique, foi recebido com fortes críticas por grupos moçambicanos e portugueses, apoiados por coligações internacionais. A madeira provém de plantações de eucalipto exploradas pela Portucel Moçambique, subsidiária da empresa Navigator, e será utilizada nas fábricas de pasta e papel em Portugal.

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15.07.2021 | por vários

Restituição e Reparação na identidade pós-conflito

Restituição e Reparação na identidade pós-conflito Com base em estudos de caso e debates, a Associação Cultural Mbenga, em conjunto com a Oficina de História (Moçambique), pretendem reintroduzir conceitos de "restituição" e "reparação" no contexto contemporâneo da nossa história. Observando como estes conceitos emergem hoje em dia na cultura literária e artística, bem como na nossa investigação jornalística e académica, será desenvolvido um conjunto de temas em diversos formatos, tais como webinars, exposições e filmes. Com o objectivo de depurar a importância destes conceitos para uma identidade pós-conflito em Moçambique.

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02.06.2021 | por vários

"A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture" de Ângela Ferreira

"A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture" de Ângela Ferreira "A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture" expressa a decisão de “trabalhar de forma intuitiva e cumulativa para construir uma série de experimentações escultóricas que constituem uma proposta de uma visão mais inclusiva de um todo na arquitetura africana. Em direção a uma arquitetura panafricana”.

Cidade

22.05.2021 | por vários

Cabo Delgado: “A prioridade tem de ser o povo, não os investimentos”

Cabo Delgado: “A prioridade tem de ser o povo, não os investimentos” Cídia Chissungo coordena a campanha nacional #CaboDelgado_também_é_Moçambique. A jovem ativista moçambicana falou sobre esta iniciativa e sobre as expetativas dos jovens em relação à resolução do conflito e ao desenvolvimento económico e social do país. Em entrevista, Cídia Chissungo explicou que, por mais que lhes ”contem a história da radicalização”, os jovens sabem “que este conflito tem a ver com o controlo das áreas em Cabo Delgado e com a questão da exploração dos recursos”.

Cara a cara

16.05.2021 | por Mariana Carneiro

Octopus e Miopia, de Ilídio Candja Candja

Octopus e Miopia, de Ilídio Candja Candja Face a uma degradação progressiva que representa a evolução das atitudes actuais mascaradas da globalização relativamente às culturas e, consequentemente, relativamente às religiões africanas e outras não europeias, tal culminou na negação absoluta da religiosidade das populações dessas imensas regiões ou no reconhecimento dessa religiosidade, embora seja um reconhecimento tímido, mesmo nos nossos dias.

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06.05.2021 | por Rafael Mouzinho

"A moçambicanidade está em construção", entrevista a José de Sousa Miguel Lopes

"A moçambicanidade está em construção", entrevista a José de Sousa Miguel Lopes Falar de moçambicanidade é ao mesmo tempo falar do Estado e da Nação, na medida em que ela constitui o seu complemento, vértice de suporte, enquanto estereótipo representativo de base hegemónica da diversidade étnica, racial, linguística, cultural, religiosa, identitária, etc., que foi construído para gerar o sentimento de semelhanças e a partir das quais se pode pensar Moçambique e sentir-se moçambicano. A moçambicanidade está em construção. Nesse sentido, afirmar a moçambicanidade no contexto contemporâneo equivale a afirmar, por identificação ou mapeamento, uma cultura que represente o mosaico nacional não apenas no seu elemento racial, como também nas dimensões multiculturais iniciadas pela empresa colonizadora e que constituem o Moçambique atual.

Cara a cara

04.05.2021 | por Alícia Gaspar

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 7)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 7) É assim, os tugas disseram que o 25 de Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão, à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o Cristão Ronaldo o capitão.

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26.04.2021 | por Marinho de Pina

O embarque do meu irmão para a guerra em Moçambique no ano de 1969

O embarque do meu irmão para a guerra em Moçambique no ano de 1969 Não existia muito diálogo entre nós, não discutíamos os nossos problemas comuns perante a tropa e a previsível mobilização para uma guerra que ambos detestávamos. Só assim se compreende que ele nunca me tenha falado sobre o assunto, ou tenha sequer esboçado uma tentativa de encontrar uma solução (uma eventual deserção?) para evitar a guerra, apesar de ele saber bem quais eram as minhas ideias sobre a guerra e sobre o regime fascista.

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30.11.2020 | por Fernando Mariano Cardeira

Epidemias em Moçambique durante os tempos coloniais

Epidemias em Moçambique durante os tempos coloniais O caso do combate da pandemia de 1907, em Maputo, apresenta um exemplo de como a resposta a uma crise sanitária se transmuta – ou é usada como desculpa – para a consolidação de medidas de segregação e exclusão racial.

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17.06.2020 | por Matheus Pereira

José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem

José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem O filósofo Severino Ngoenha questiona em que momento teria surgido a arte e literatura moderna moçambicana e sugere influências do Movimento do Renascimento Negro. Este artigo dá seguimento a este exercício a partir da obra de José Craveirinha.

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15.04.2020 | por Leonel Matusse Jr.

Reinata Sadimba

Reinata Sadimba Reinata Sadimba, artista do povo, artista popular, artista tradicional, artista de elite, artista que se situa entre uma e outra categoria, artista sincrética, onde cabe a individualidade, a novidade e a vitalidade de Reinata? São precisas estas categorias para apreender as qualidades das formas expressivas do seu trabalho? Como interpretar a liberdade de que goza o trabalho de Reinata, a forma como combina diversos elementos culturais, do mundo rural e da cidade, ou dá resposta às profundas transformações sociais?

Cara a cara

27.02.2020 | por Alda Costa