A epidemia que mais mata no mundo roubou-lhes os pais, deixando-as entregues a si próprias ou ao cuidado de terceiros. Lutam contra o estigma, discriminação, desapropriação de bens, maus tratos físicos e psicológicos, abusos sexuais, trabalho forçado, abandono escolar e gravidez precoce. Enfrentam a doença e a morte. São apenas crianças – mas há as que se erguem dos escombros para quebrar o ciclo da desesperança. Para essas, SIDA rima com Vida.
A ler
19.04.2011 | por Cristiana Pereira
Apesar de abolida em 1836, persistem nas sociedades contemporâneas formas cruéis de escravatura e exploração. Hoje chamam-lhe tráfico de pessoas e é um lucrativo negócio ilícito que movimenta anualmente até 32 mil milhões de dólares – o mais rentável a seguir à droga e às armas. Moçambique não só é país transitário nos movimentos migratórios, como um importante abastecedor da indústria do sexo, trabalho doméstico e exploração infantil na vizinha África do Sul. Para além dos vivos, existem os mortos que nunca chegam a conhecer o seu macabro destino: extracção de órgãos para feitiçaria.
A ler
15.04.2011 | por Cristiana Pereira
Mário Macilau é um fotógrafo (de fragmentos) do real. Macilau é um contador de histórias, e enquanto narra, através das suas imagens, medita acerca do ambiente social, político e económico do seu país e do mundo – para os quais olha de forma nua, crua, sem artifícios. Como o próprio afirma, não encena nem desenha o momento fotográfico. As suas imagens são instantâneas. Ele não as procura, encontra-as. Aproxima-se, com a sua câmara, das inúmeras personagens anónimas que povoam os seus registos – interessam-lhe o movimento do homem contemporâneo e a relação deste com o espaço. O corpo torna-se, assim, protagonista, sem artefactos, das realidades que captura.
Cara a cara
11.04.2011 | por Sílvia Vieira
Graça Simbine, viúva de Samora Machel e esposa de Nelson Mandela. A referência aos seus dois «maridos e heróis», como ela gosta de os chamar, bastaria para fazer desta moçambicana de 63 anos uma figura ímpar da história africana contemporânea. Mas Graça Machel é muito mais do que a mulher de dois homens excepcionais. Ela sabe-o melhor do que ninguém, e nunca quis ser apenas «primeira-dama».
Em Novembro 2008, no secular salão nobre da Academia de Ciências de Lisboa , o antigo presidente da África do Sul e Prémio Nobel da Paz foi proclamado seu sócio de honra. A ausência física foi substituída pela voz e pela presença de Graça Machel que recebeu também a distinção de sócia correspondente estrangeira, e o apresentou despido do mito.
Cara a cara
23.03.2011 | por António Melo
EVA é a história documental de duas culturas que poderão ter mais coisas em comum do que à partida se imagina. Eva ou Evas... uma menina que vive na EUROPA, num país que poderá ser PORTUGAL, e outra menina que vive em ÁFRICA, num país que poderá ser MOÇAMBIQUE, iniciam em lados opostos do livro uma viagem para o encontro! Eva é um livro que celebra a diversidade e a pluralidade do mundo com os seus encontros e desencontros. Eva é também um livro que apresenta uma expressão visual desafiante para o leitor.
Mukanda
18.03.2011 | por Margarida Botelho
Em Moçambique as pessoas necessitam do mais básico para viver: o teatro! O teatro em Moçambique faz-se com as ruas (o palco) e os outros (interlocutores). As ruas estão ao rubro, o teatro é por todo o lado, algazarra, desorganização organizada, dança, constante representação. Tudo razões para uma actuação gloriosa.
Palcos
08.03.2011 | por Frederico Bustorff Madeira
As próprias letras das canções e os respectivos vídeo-clipes são um culto da ostentação oca e bacoca. Meninos de fatos italianos, cheios de penteados (a mostrar que lhes pesa mais o cabelo que a cabeça) e com dourados a pender dos dedos, dos dedos e do pescoço (a mostrar que precisam apenas de mostrar), meninos que cantam pouco e se repetem até à exaustão, fazem o culto deste vazio triste...
Mukanda
16.02.2011 | por Mia Couto
Depois de décadas de devastação causada pela guerra, há uma nova batalha a ser travada no palco da Gorongosa: a da sobrevivência. Num esforço de conservação fortemente aplaudido, o projecto de restauração de um dos mais belos parques naturais do mundo está – pouco a pouco – a reavivar o ecossistema que em tempos deslumbrou celebridades de Hollywood e políticos mundiais. Graças à bolsa generosa de um filantropo americano, o Parque Nacional da Gorongosa está cada vez mais perto de recuperar a sua velha glória.
Vou lá visitar
23.01.2011 | por Cristiana Pereira
Ao contrário do contexto da África francófona, onde dominou o interesse pela criação literária e uma concepção de negritude que passava pela apropriação mais ou menos conflitual da modernidade europeia, alguns mediadores situados mais a sul interrogavam a evolução possível das culturas locais e das grandes tradições artísticas próprias, com independência da subordinação aos modelos europeus de modernidade, que quanto à situação das artes visuais e não só eram vistos de modo crítico. No quadro da morte inevitável da arte tribal própria da sociedade tradicional - mesmo na via da sua cópia turística -, procuravam-se sem qualquer essencialismo nativista (nos casos de Beier, Guedes e Beinart) novas formas populares e espontâneas de produção artística, e também sofisticadas formas sincréticas, no caso da "síntese natural" proposta na Escola de Zaria por Uche Okeke.
A ler
17.12.2010 | por Alexandre Pomar
Para sustentar a acção na perspectiva do desenvolvimento, é preciso alimentar o debate e criar pensamento em torno do modelo vigente e estratégias alternativas para o crescimento socioeconómico. É essa a função do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), que lança este ano três publicações subordinadas ao tema “Padrões de Acumulação Económica e Dinâmicas da Pobreza em Moçambique” na sequência de conferência homónima realizada em Maputo, em Abril de 2010.
A ler
17.11.2010 | por Cristiana Pereira
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recente: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada.
Mukanda
03.11.2010 | por Mia Couto
Ao lado da cidade-ostra que alberga a «Pérola do Índico», ergue-se uma outra de chapa onde o descontentamento reverbera no zinco que a cobre. Bairros de areia, muros de caniço, telhados de metal e fogo de carvão. Crianças muitas e um prato de feijão. Entre o tecto de chapa e o chapa do transporte, há um enlatado de pobreza e cansaço que não mais se quer conter. Porque quando a fome aperta, a consciência desperta.
A ler
02.11.2010 | por Cristiana Pereira
Em Maputo, um homem penteia-se como Batman e vários homens vagueiam nus. Arminda acabou nas ruas da Baixa, com todo o seu enxoval. No caniço, Bitula vende feitiços debaixo de uma árvore. Além do fotógrafo Mauro Pinto, sucessor do mítico Ricardo Rangel, ninguém parece vê-los. Um percurso pela capital de Moçambique, onde hoje há eleições autárquicas.
Cara a cara
21.10.2010 | por Alexandra Lucas Coelho
Entrevista ao realizador Joaquim Lopes Barbosa, autor de "Deixem-me ao menos subir às palmeiras…", filme rodado em Moçambique, proibido antes do 25 de Abril de 1974, que nunca teve estreia comercial, só raramente foi projectado, permanecendo quase desconhecido e pouco referenciado em termos de história do cinema. Um cineasta para quem “o cinema deve ser uma frente de guerrilha, actuando o mais positivamente possível, contra os tabus, as morais duvidosas e os lugares-comuns bafientos e anacrónicos”.
Afroscreen
03.10.2010 | por Maria do Carmo Piçarra
Guerra Manuel foi um dos primeiros jornalistas negros em Moçambique. Entrevistou Malagantana, Ricardo Chibanga e Lindo Lhongo na década de 60. Todos eles jovens no início das carreiras. Ao entrevistar estes jovens pretendia dar a conhecer ao mundo o talento e a capacidade artística dos moçambicanos, numa época em que estes não eram valorizados e nem havia espaço na imprensa colonial.
Cara a cara
30.09.2010 | por Rui Guerra Laranjeira
A estória começa quando Menino e Tio, fatigados de andar pelas estradas de terra batida do interior Moçambicano, correndo para uma periferia longe do ruído das minas e das bombas, encontram um machibombo, um autocarro perdido e carbonizado depois de ter sido pilhado por marginais.
Afroscreen
20.09.2010 | por Rui Manuel Vieira
Para falar de África é sempre preciso, primeiro, explicar África, o que é uma pena e muito redutor. Quando queremos falar de África, tratar determinados assuntos, temos que lidar sempre com a terrível culpa de não estar a fazer justiça a nada porque estamos a falar de uma coisa que não é verdadeiramente África mas aquilo que nós conseguimos perceber de África, que é muito pouco. A única maneira de lidar com isso é sacudir essa culpa e pensar que se falarmos de sentimentos e emoções universais, as nossas hipóteses de sermos injustos são mais reduzidas...
Afroscreen
10.09.2010 | por Margarida Cardoso
O conceito de literaturas emergentes surgiu nas últimas décadas como consequência das chamadas teorias pós-coloniais e alargou-se, por influência da poderosa academia norte-americana, tanto às denominadas literaturas de minorias (étnicas, de género, de orientação sexual), como às literaturas formadas no interior dos processos de colonização e descolonização, independentemente das características destes.
A ler
06.07.2010 | por Fátima Mendonça
Os Monstros tiveram um impacto bastante grande entre a juventude negra a nível das mentes. A sua auto-estima e os seus índices de confiança melhoraram bastante, pois, ao cantar Soul Music, música do negro norte-americano, estes passavam a mensagem de luta dado que aqueles eram conhecidos pelo uso da música como instrumento de luta, de denúncia e contestação ao sistema. Isto era feito de uma forma tão subtil e com uso de linguagem metafórica, que o poder colonial não se sentiu em nenhum momento confrontado, daí que o grupo tenha sido largamente aceite pelo establishment.
Palcos
05.07.2010 | por Rui Guerra Laranjeira
Em Moçambique, como em vários outros países de diferentes continentes, os “médicos tradicionais” ou “curandeiros” assumem um papel central quer na prestação de cuidados de saúde, quer na regulação da incerteza e dos problemas sociais dos seus utentes.
Esses terapeutas são normalmente chamados tinyanga (sing. nyanga) no sul do país e, de acordo com as teorias locais, devem os seus poderes curativos, divinatórios e de eficácia ritual ao facto de serem possuídos por espíritos de defuntos, que com eles formam uma simbiose profissional e ontológica (Honwana 2002).
A ler
25.06.2010 | por Paulo Granjo