Durante muito tempo a gente tratou a arte como ilustração, a ideia de que era um produto do seu contexto. Mas e que tal se a gente inverter, uma vez que vivemos numa civilização da imagem, e pensar que a imagem não é produto, ela é produção, ela produz valores, ela produz concepções. E também quando você faz uma crítica interna a essa classificação da branquitude, nós podemos passar por várias questões: quais são as pessoas retratadas? São em geral, homens. Quem é que está nu? Basta ver o movimento Guerrilla Girls, as mulheres estão nuas nos museus. Há que se fazer uma política de acervos, há que se fazer uma política de reestruturação do cânone e das nossas agendas, dos nossos currículos básicos.
Cara a cara
19.02.2024 | por Marta Lança
O artigo descreve três obras artísticas audiovisuais ('Ilusão', 'Bustagate' e 'Eu Não Sou Pilatus', produzidas respectivamente pelos artistas Vitória Cribb e Welket Bungué, entre 2019 e 2020) para debater como elas tratam, cada uma à sua maneira, o tema da repetição da violência contra corpos negros no ambiente numérico das redes; invocando uma análise qualitativa e estética dos procedimentos empregados nos vídeos e também dos locais em que eles foram disponibilizados, explora-se a hipótese, seguindo Hui (2021), de que a arte joga luz sobre a irracionalidade do racismo viabilizado por algoritmos e assim pode constituir uma necessária aproximação ao sublime, ao não-racional.
A ler
17.12.2021 | por Eduardo Prado Cardoso
Joacine Katar Moreira a declamar, a discursar e a não gaguejar. Mudança, curta-metragem do luso-guineense Welket Bungué assume-se como filme-dança experimental mas por estes dias vai ser notado e comentado por ter a deputada Joacine como protagonista. Uma curta que foi selecionada para o Festival de Berlim, mais especificamente para a secção Forum Expanded, espaço para as obras de ensaio e de radicalismos extremos, já a começar online no começo do próximo mês e, depois, num segundo momento, em junho nos vários cinemas da capital alemã.
Palcos
22.02.2021 | por Rui Pedro Tendinha
'Cacheu Cuntum' apresenta em imagem o que nem a distância, nem o tempo, nos permitiram até hoje compreender, acerca da percepção que o povo bissau-guineense tem sobre o seu passado. Falo de um passado velado por inúmeras falsidades geradas pela ocupação territorial no período da escravatura e colonial. Esse passado quer-se resgatar através da impressão e fixação de um renovado registo vivo, daquilo que é o cotidiano atual e “metaficional” daquilo que poderia ser a reminiscência dos que resistiram à opressão ao longo de 4 séculos de ocupação e exploração desumanas.
Afroscreen
13.11.2020 | por Welket Bungué
Uma nova edição do Festival Internacional de Cinema Africano da Argentina chega totalmente online e gratuita. Esta versão permite-nos mais dias, mais filmes e abrange todo o território argentino. A Exposição Espelhos e Miragens estará disponível exclusivamente na Plataforma OctubreTv. Esta nova modalidade também abre um grande desafio: atingir novos públicos em mais cidades do país. Haverá 10 dias para ver mais de 30 filmes de 20 países diferentes. 32 filmes entre curtas, médias e longas metragens de diferentes géneros: ficção, cinema documental e experimental, organizados em 5 secções de modo a que cada espectador possa escolher o seu próprio percurso.
Afroscreen
13.11.2020 | por OctubreTv
Todas as peças destes Essenciais são também uma terceira coisa: autobiografia, retratos tocantes de todos os envolvidos numa altura crítica. Será talvez por isto, por assumirem uma subjectividade que é simultaneamente estética e política, que estes vídeos são “rascunhos” e estão “errados”: não são de todo a versão passada a limpo de uma “História dos vencedores”, é essa a sua verdade (frágil e resistente ao mesmo tempo).
Palcos
02.10.2020 | por Francisco Frazão
Se a imagem é potência, uma vez que fixa e revoluciona pela multiplicidade de interpretações que inocula do sentimento humano, já a palavra irá fixar problematizando, porque está veiculada a uma ideia de linguagem de dominação e de autoridade – isto é, porque só escreve e fala quem é soberano no sentido da legitimação social-política.
Afroscreen
17.03.2020 | por Marta Lança e Welket Bungué
Sobre dois mais recentes filmes: "Eu Não Sou Pilatus" e "Intervenção Jah". A violência é um espinho, ela não escolhe a quem tocar mas também não é qualquer pessoa que se aproxima dela, tem que estar de alguma maneira convencida, se certo ou errado, isso não sei. Nos meus filmes, sobretudo de realidade social, tento não desvirtuar a violência daquilo que é a sua génese, a meu ver, o sentido de justiça.
Afroscreen
26.07.2019 | por Marta Lança
Uma das barreiras foi ter novamente o corpo negro no lugar do marginal, decidir construir a personagem Arriaga à volta da delinquência. Foi uma decisão difícil. Difícil por também eu ser Negro. Difícil por estar a entrar no campo do estereótipo. É difícil contornar a necessidade que tenho de escrever para atores negros e nesse caso trata-se de uma faca de dois gumes. Querer dar protagonismo a uma personagem que, do ponto de vista moral, vive na margem de decisões incautas.
Afroscreen
15.05.2019 | por Yolanda Kiluanji