Ao longo dos anos, o movimento Funk tem se deparado com inúmeras pressões de desconstrução e o discurso pós-feminista tem se ampliado e fortalecido as subjetividades que se identificam com o feminino de maneira exponencial. No entanto, no que diz respeito as dissidências de gênero queer, me parece que ainda há um longo caminho pela frente. Algumas funkeiras surgiram afirmando o desejo lésbico, e a transexualidade. Mas sua ascensão na carreira, invariavelmente fizeram-nas migrar do funk Carioca a outros gêneros mas economicamente assimiláveis.
Palcos
17.10.2021 | por Felipe Ribeiro
Condição feminina, da condição da mulher no mundo atual, no mundo africano também e até europeu: a imposição do casamento, a imposição da obediência ao homem, que vem muito da religião católica, e isto está relacionado, por um lado, com a negação da mulher e, por outro lado, com a sua contribuição tanto num contexto extremo de guerra como no contexto social em geral.
Cara a cara
14.10.2021 | por Doris Wieser, Yara Monteiro e Paulo Geovane e Silva
A Quinta do Mocho tornou-se um bairro cool para os visitantes que buscam experiências alternativas ao turismo de massa.
Afroscreen
14.10.2021 | por Otávio Raposo
Trabalhar sobre este momento traumático para história da cidade implica focar vítimas e agressores, mas implica também falar da estrutura social. Num breve retrato: um país com o mais longo império colonial, saído há duas décadas de uma guerra de grandes proporções pela manutenção das suas colónias e com acentuados fluxos migratórios vindos dessas ex-colónias, num momento marcado pela assinatura dos acordos de Schengen e por uma série de políticas nacionais de criminalização das migrações, vê, num dia de revisitação solar do seu passado colonial, um linchamento racial de largas proporções ser motivado pelas comemorações da efeméride.
Cara a cara
11.10.2021 | por Filipe Nunes
Desde que cheguei a Portugal há quase meio ano, vinda de um Rio de Janeiro suado e exausto da pandemia, sinto que a adaptação não tem sido fácil, por vários motivos, mas a única coisa que consigo perceber por entre o atordoamento dos contrastes, é que me falta pele, aqui. E que isso tem a ver com tantas coisas, impossíveis de explicar a quem não vive no abraço constante do calor, nesse estado de ânimo violento dos trópicos, na exuberância imprevisível das falas, o taxista que inventou um refrão que fala do amor safado, a atendente que ri das atribulações da paquera, o perfume forte do abricó-de-macaco, a água sendo abençoada nas cachoeiras do Horto e o dengo na fila do supermercado. Faz-me falta a doçura, tão concreta no Rio de Janeiro. Mesmo que ela conviva hoje com outros demónios. Faz-me falta a doçura.
A ler
10.10.2021 | por Rita Brás
Coisas que incomodam. A transformação do escritor num etnógrafo da sua cultura. Não é que isso não se faça. Mas isso limita a relevância da sua obra ao seu povo. Isto é, Gurnah não recupera a experiência humana, mas sim a experiência local. Não estou a ser mesquinho. A documentação da experiência colonial e do refúgio só é digna de celebração se ela nos disser algo maior sobre a nossa humanidade comum. Já, agora, o que estes relatos dizem aos membros do comité Nobel sobre os valores da cultura europeia que estiveram por detrás da humilhação do povo tanzaniano? A segunda coisa é esta “inocência branca” – estou a usar um conceito da antropóloga holandesa, Gloria Wekker.
O pessoal lá do Comité não sabe o que foi o colonialismo? Não leu o que os historiadores escreveram? Precisava de ouvir isso dum escritor, ou há algo que o escritor está a trazer que transcende o quadro da historiografia e nos convida para outros tipos de reflexão? Porque são importantes os relatos dos horrores do colonialismo? Por serem documentos duma época, ou por nos convidarem a rever os nossos próprios valores? Os europeus estão a fazer isso? É nestes momentos que penso na profundidade duma afirmação de Toni Morrisson quando ela se indagava como um europeu deve se sentir sabendo tudo o que foi feito em nome da sua cultura? Não é possível atribuir um prémio destes a um africano sem responder a essa pergunta.
A ler
08.10.2021 | por Elísio Macamo
Está anunciada a programação da 19ª edição do Doclisboa, que decorre entre 21 e 31 de Outubro, nas salas habituais do festival – Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e Cinema Ideal, às que se juntam ainda o Cinema City Campo Pequeno, Museu do Oriente e Museu do Aljube.
Afroscreen
07.10.2021 | por vários
Sabemos que há eleitores imunes às sondagens – são os que votam sempre… e sempre no mesmo partido (ou sempre em branco/nulo), e os que ficam sempre em casa. Todos os outros serão em alguma medida influenciáveis pelas sondagens direta ou indiretamente. Ou seja, concordo inteiramente com o autor quando diz que as sondagens não são neutras quanto às suas consequências. Se é ou não lícito aceitá-las como parte do jogo político democrático, é algo que vale sempre a pena discutir e acrescento aqui algumas notas.
A ler
06.10.2021 | por João Homem Cristo António
A revista materializa algumas conexões entre gesto e digital, algumas ligações tácteis e técnicas, expandido qualquer entendimento de um gesto por defeito, pois nas pontas dos dedos também se escrevem e activam códigos. Convocámos assim à participação nas diferentes secções da revista — Ensaio, Interfaces, Laboratório e Entrevista — e colhemos múltiplas contribuições que procuraram também refletir sobre potenciais dispositivos imagéticos e discursivos que se adequassem ao modelo desta revista nativamente online, fazendo uso das capacidades de conectividade da própria rede.
A ler
06.10.2021 | por Aida Castro e Maria Mire
A Quinta do Mocho é conhecida não apenas por ser uma das maiores galerias de arte urbana da Europa, mas também pela simpatia dos seus habitantes. Tia Ducha é um dos “rostos” do bairro, vendendo no restaurante “Mulambeira”, improvisado numa das esquinas, deliciosos quitutes.
Afroscreen
05.10.2021 | por Otávio Raposo
A escola é vista como um dos primeiros espaços de socialização, um espaço no qual depositamos a nossa confiança e crescemos, aprendendo lado a lado com os nossos colegas, no entanto, o sistema educativo não é nem nunca foi verdadeiramente igualitário. O problema faz-se notar quando tentamos implementar mudanças e existe uma forte resistência por parte do espaço escolar, quando a confiança se perde e quando ouvimos os professores que nos ensinaram a nós, e agora a outros jovens dizer que não concordam com o que está a ser discutido porque “os brancos também sofrem racismo quando vão a África”, “sou só um peão no meio disto tudo”, ou que “o tema é abordado dependendo da sensibilidade do professor” quando se debate a descolonização.
A ler
03.10.2021 | por Alícia Gaspar
Pertenço a uma geração em que se falou do 25 de Abril muito a correr. Aliás, estava nas últimas páginas dos livros de História. Falou-se essencialmente do Mário Soares - que era o que aparecia com algum relevo naquelas páginas. Conhecia a cara do Álvaro Cunhal, um bocadinho mais escondida. E depois quando se falava das colónias, era uma página. Então, a sensação que eu tinha era que aquilo tinha acontecido numa semana e que nós tínhamos sido expulsos de lá e acabou.
A ler
03.10.2021 | por Bruno Sena Martins
E o Jazz foi uma das armas de combate dos negros norte-americanos, do Harlem ao longo do século XX. Nina Simone, é apenas um dos vários exemplos. E na vizinha África do Sul, Hugh Masekela, Miriam Makeba, Dollar Brand, Caifás Semenya, Letta Mbulu, Jonas Gwangwa, são outros nomes que usaram este este género musical contra o Apartheid. O Jazz entrou no país pela Casa Grande, desde logo consumido por uma elite intelectual, entre os quais Ricardo Rangel e José Craveirinha que o levaram a periferia.
Palcos
02.10.2021 | por Leonel Matusse Jr.
Um polícia a cavalo, chicote na mão, chapéu à cowboy, persegue um migrante haitiano que corre no deserto do Texas. Ele, o corpo negro, acelera, finta os arbustos rasteiros da terra árida e tropeça. A imagem é real, a indignação nem tanto. Nos últimos dias, milhares de migrantes do Haiti aglomeram-se na fronteira entre o México e os Estados Unidos. A verborreia que tenta justificar a violência contra os ilhéus é muita e cansa. Refugiamo-nos na poesia, canto seguro e transparente. O Haiti migrante e resistente entrelaçado nos poemas de René Depestre.
Jogos Sem Fronteiras
01.10.2021 | por Pedro Cardoso
Portentoso cartapaço de 416 páginas, Safras de um triste Outono é um livro de esconjuro e de catarse, arquitectado sobre uma vasta panóplia de motivos, ritmos, imagens e recorrências estilísticas, num jogo polifónico de meditação inquiridora sobre a finitude e a morte, ou os desvairados processos da própria criação poética, mas também de celebração da Vida e suas contingências em permanente estado de Humor rejubilante e libertário, nos seus múltiplos cambiantes. Socorrendo-se A.V. da fábula, da parábola, do poema dramático, do epicédio, da sátira e do poema lírico, onírico ou fescenino, num rigoroso equilíbrio harmónico − posto que, como assevera o próprio poeta, «entre o veneno e o remédio / a dose faz toda a diferença» −, é de sublinhar e saudar o facto nada despiciendo de se não encontrar um poema bambo, excrescente, excessivo ou a embotar este longo e monumental poema fragmentário, verdadeira epopeia do Riso inteligente e transgressor.
A ler
01.10.2021 | por Zetho Cunha Gonçalves
A vinte e nove de setembro de 1502, naus portuguesas avistaram na costa indiana um barco com centenas de pessoas que regressavam de Meca para Calecute. Vasco da Gama procurava há dias atacar peregrinos muçulmanos que ali passavam e tinha um plano sanguinário para os que se encontravam a bordo desta embarcação: «andando algumas das nossas naus em procura das que vinham de Meca, a S. Gabriel se encontrou com uma de Calecute que dali voltava com duzentos e quarenta homens, sem falar nas mulheres e crianças, que eram bastantes, e que todos voltavam daquela peregrinação: deu-lhes logo caça, e tendo disparado alguns tiros de bombarda, para logo se renderem»
A ler
29.09.2021 | por Pedro Varela
Kally e Ema percorrem as ruas da Quinta do Mocho para mostrar aos visitantes as obras que inauguram o neo-renascimento do bairro.
Afroscreen
28.09.2021 | por Otávio Raposo
Assim, importa pensar numa condição que ultrapasse as “essências” identitárias que nos afastam e constroem muros entre nós. Nela não há fantasia, longe disso, já que, por si só, opera a síntese de toda a inflexão, que se concentra em pensar a interpenetração de culturas e imaginários. Deste modo, o Todo Mundo designa a nova copresença de seres e coisas, o estado de globalidade em que reina a relação. Seja na ética do passante, que visa evitar a necropolítica e a política da inimizade, seja na relação global, ambas podem-nos nos ajudar a pensar os direitos humanos como plataforma de luta em que a dignidade humana não seja relativizada.
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27.09.2021 | por José de Sousa Miguel Lopes
Ao chegar a terras brasileiras foi ficando cada vez mais clara para mim a “presença” de Moçambique e da África em geral na consciência brasileira que se manifesta na religiosidade, nas cores, nas gestualidades, na forma de falar a língua portuguesa, nas danças, nas comidas. Muitos terreiros do candomblé (só no Maranhão são mais de 2000) são ilhas de África no Brasil.
Em muitas circunstâncias, posso me sentir "fora de lugar". Diria que esse sentimento implica perdas e ganhos, mas é algo que me agrada. Não tenho certeza se tal atitude foi fruto de uma escolha livre que gradualmente se tornou um hábito, ou se foi, e ainda é, um meio de transformar uma necessidade em virtude.
A ler
27.09.2021 | por José de Sousa Miguel Lopes
A história de consumo do Outro, foi fulcral para garantir à igreja um plano estratégico de massacre da carne negra, uma carne amaldiçoada pelo olhar diabólico do mundo europeu com a marca de Caim que só seria expurgada através do trabalho servil, da entrega de si ao serviço do outro. Um corpo carne, um corpo máquina, um corpo deforme, um corpo de talho, pronto para um consumo voraz. Um corpo que serviu de suporte para manter toda a produção da sociedade europeia. Um corpo que ainda serve como cargueiro forte para elevar prédios, construir mansões ou servir de deleite sexual. Um corpo que é ainda é alvo, Um corpo sem política. Um não-corpo.
Mukanda
23.09.2021 | por Rodrigo Ribeiro Saturnino (ROD)