Estamos no mês em que todas as gaivotas que erram pelo mundo e seus marinheiros voltam para arrumar, cultivar o sonho de um retorno digno e justo a um país que só existe nos seus sonhos, agosto e Portugal, mas que importantes são precisamente por o imaginarem em tão graça e idílica visão. Os da babilónia têm em si mais amor pelo céu que seus habitantes.
Corpo
16.08.2019 | por Adin Manuel
Ouvi um ruído e, assim que abri os olhos, percebi que estava rasgando os lençóis. Acordei o meu marido e ele disse: ‘não se preocupe, deve estar na sua cama’. Então eu disse-lhe: ‘não estou assustada, mas todos os lençóis estão estragados e rasgados.'
Cara a cara
14.08.2019 | por Sinem Taş
Cattelan questiona, a partir da inserção do corpo na política de elisão corporal do capitalismo financeiro, justamente a possibilidade de democracia frente ao sistema que vive bem ali na Piazza Affari em Milão: A sociedade de controle por si. Um questionamento da possibilidade de concretização da concepção agambeniana de que o nomos de nossa sociedade contemporânea é o campo de concentração.
Corpo
14.08.2019 | por Allende Renck
"Cabeça acústica", construída com bacias de alumínio, catalisa uma experiência acústico-perceptiva que, diferentemente do material que a constitui, não tem nada de trivial. Instalada como uma espécie de epígrafe à mostra “Marepe: estranhamente comum”, com curadoria de Pedro Nery, a obra encarna aspectos da poética do artista
Vou lá visitar
10.08.2019 | por Icaro Ferraz Vidal Junior
Tornar as masculinidades negras como categoria nas teorias de gênero, não de forma isolada ou contrária à ascensão dos movimentos feministas negros ou LGBT, mas como mais uma particularidade do discurso que põe em causa o patriarcado branco. A hegemoneidade das masculinidades brancas são uma das principais facetas do conjunto de dominação, controle e repressão do aparato colonial que funda as sociedades ocidentais da contemporaneidade.
Afroscreen
08.08.2019 | por Marco Aurélio Correa
"O modo como as personagens morrem tem muito a ver com a traição entre pessoas na vida real. A meu ver, a sociedade moçambicana tornou-se muito gananciosa. O tempo dos favores já se foi, em troca veio o tempo do refresco. A corrupção aumentou, a prostituição também. Hoje em dia vende-se crianças, albinos são cortados aos pedaços, assassinam-se indianos, rapta-se portugueses, ricos, pobres. Tudo em troca de dinheiro."
Afroscreen
05.08.2019 | por Marta Lança
Algumas destas histórias também revelam que esses “regressos” a Angola por pessoas da geração de Nuno podem, na realidade, ser derivações críticas, quando, após o regresso a Portugal, originam atitudes críticas sobre a persistência colonial na sociedade portuguesa. No contexto europeu, poderia o caso português representar uma alternativa: algo que, através de viagens pós-coloniais, levasse a uma sociedade mais igualitária que aceite uma nova narrativa pública plural do passado?
A ler
29.07.2019 | por Irène dos Santos
Aqui, a visão da catástrofe está a olho nu. João Louro contrapõe imagens do teatro de guerra com tabelas periódicas dos elementos, expõe colagens e palavras não já impressas, mas sim bordadas. O artista recria, com grande clareza, a forma como os dadaístas se interessaram por outras culturas, sobretudo a africana.
Vou lá visitar
29.07.2019 | por Marta Rema
Desfrisos, chapinhas, mises, tranças, postiços, aplicações fio fio ou bainha… Perucas a x euros. Entrei. Recebo um sorriso caloroso. Tirava todos os “protocolos”, sentia-me em casa. Matava ali as saudades. Um cabeleireiro africano em qualquer outro continente é uma "embaixada de abraços e confraternizações". Um abraço periférico.
Cidade
29.07.2019 | por Indira Grandê
manifesta a contestação à imagem “extrovertida” que a política assimilacionista e colonialista nos legou da dita “Guiné Portuguesa”, isolada, exótica e inexistente como fato histórico, antes da presença dos europeus. Essa visão lusocêntrica estabeleceu fronteiras entre “civilizados” e “indígenas” e tentou ocultar as dinâmicas internas da sociedade guineense, anteriores a essa chegada.
A ler
27.07.2019 | por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira
Sobre dois mais recentes filmes: "Eu Não Sou Pilatus" e "Intervenção Jah". A violência é um espinho, ela não escolhe a quem tocar mas também não é qualquer pessoa que se aproxima dela, tem que estar de alguma maneira convencida, se certo ou errado, isso não sei. Nos meus filmes, sobretudo de realidade social, tento não desvirtuar a violência daquilo que é a sua génese, a meu ver, o sentido de justiça.
Afroscreen
26.07.2019 | por Marta Lança
Há três anos, com Esse Cabelo, apresentaram-na como representante de uma literatura acerca de raça, género, identidade. Voltou agora com Luanda, Lisboa, Paraíso e diz que quer apenas participar na longa e antiga conversa sobre literatura. Enquanto procura escrever o seu livro ideal, totalmente inventado, uma mancha de texto sem capítulos que resista a discussões acerca do presente.
Cara a cara
25.07.2019 | por Isabel Lucas
Este artigo pretende demonstrar como essa trajetória se reflete na sua produção literária desenvolvida a partir do final da década de 1990 e compreender as bases sobre as quais se construiu o diálogo entre esses campos. A análise sobre como as diferentes expressões e linguagens se inserem no texto de Carvalho dá o arranque a uma reflexão sobre as relações entre antropologia e literatura, e os questionamentos acerca de autoria e narração, que sustentam o projeto literário desenvolvido na trilogia Os filhos de Próspero.
Ruy Duarte de Carvalho
25.07.2019 | por Christian Fischgold
Se a agressividade do pensamento reaccionário ocorre num país cujos cidadãos ainda há 50 anos eram vítimas de racismo por toda a Europa dita desenvolvida, se tudo isto ocorre num país cujo poder de governo é ocupado por forças de esquerda, é fácil imaginar o que será quando voltarmos (se voltarmos) a ser governados pela direita.
Mukanda
25.07.2019 | por Boaventura de Sousa Santos
Inserido no contexto atual em que vozes negras ou afrodescendentes reclamam um lugar de fala e o direito de autorrepresentar-se em Portugal, o filme O canto do Ossobó levanta uma série de questões de cunho político e social para a imagem. Tal reivindicação tem como lastro as lutas anti-coloniais, os escritos pós-coloniais no contexto anglo saxão, o “giro decolonial” na América Latina, e as novas formas de pensar e fazer cinema no Terceiro Mundo que emergiram em lugares tão distintos como Vietnã, Senegal e Brasil.
Afroscreen
24.07.2019 | por Michelle Sales
Somos todos o mesmo, afinal ser humano é um exercício de paciência com os outros e nada nos pode salvar deste exercício a não ser a ermitagem que começo a considerar seriamente. Temos regras de limpeza que me parecem mais exercícios militares do que a alegre manutenção de um espaço de surrogate home, mas quem sou eu para explicar seja o que for aos doutores do espaço? Os modos de controlo deixam os inmates meio malucos e os doutores também, mas como o mundo está assim também não destoa.
Corpo
24.07.2019 | por Adin Manuel
Do Haiti mobilizado esse semestre todo pela destituição do seu presidente às jovens do Extinction Rebellion interpelando a Europa rica. E nas lutas pela vida de corpos coletivos no Brasil, que sobrevivem à guerra colonial em curso (Canudos é reencenada desde sempre, clama Zé Celso no barco pirata em Paraty), lutando e criando, resistindo e construindo, em territórios livre e libertos, permanentes e fugazes.
Mukanda
23.07.2019 | por Jean Tible
enquanto que muitos dos nossos antepassados continuarão silenciados e anónimos para sempre, des-lembrados nos livros de História escritos pelo mesmo tipo de homens que era o seu ‘dono’, tenho sorte agora, como sua descendente, de ser capaz de ajudar a contar o futuro da sua história”. São histórias como estas que nos dão esperança de que outros ventos possam em breve soprar para varrer esses resquícios de Império para o caixote de lixo da História onde pertencem, ou para o monte de destroços que Benjamin imaginou para nós.
A ler
20.07.2019 | por Paulo de Medeiros
Ao distanciar-se de qualquer apego a um possível messianismo, não raro presente em concepções literárias que emergem nas periferias, o sentido da escrita que o movia levou-o sempre a encarar impasses que mais interferem na formulação de perguntas do que no oferecimento de respostas. O gosto pela interrogação, não como estilo, mas como método de reflexão dominou o seu itinerário, condicionou a ruptura das formas cristalizadas e a prática do diálogo com os contextos em que se vê inserido como duas das marcas centrais da obra de Ruy Duarte de Carvalho nas quais se enraíza a força da sua complexidade. Desse modo, situando-se no terreno da radicalidade, o seu projeto intelectual pautava-se pela eleição de parâmetros fundamentais para propor a transformação que entendia necessária.
Ruy Duarte de Carvalho
17.07.2019 | por Rita Chaves
O entrelaçar de mensagem lírica (“mudaram os tempos, mudaram as leis, de certa forma ainda estou nessa roça”) e frases imagéticas como “black lives matter”, sintonizam indivíduos no anseio da libertação. Em Waters é possível identificar referências do movimento, do teatro imagem e físico, de alto contraste. Tudo isso num jogo de imagens entre presente e passado.
Palcos
17.07.2019 | por vários