Dois livros e conversas com Conceição Evaristo

Canção para ninar menino grande Olhos d’água são os primeiros títulos da nova série de ficção das edições Orfeu Negro. O lançamento, marcado para o dia 12 de Outubro no festival FOLIO, em Óbidos, conta com a presença da autora brasileira Conceição Evaristo.
Há dezassete anos a publicar ensaios e outros trabalhos documentais em torno das artes contemporâneas, dos estudos de género, da teoria queer, do feminismo e da crítica decolonial, as edições Orfeu Negro inauguram em Outubro uma nova série dedicada à ficção. É no cruzamento destes vários territórios que se desenha o seu programa.

Os primeiros dois títulos a entrar no catálogo são um mergulho fundo na escrevivência de Conceição Evaristo, uma das mais influentes autoras contemporâneas do Brasil, até aqui inédita em Portugal. Olhos d’água, obra vencedora do Prémio Jabuti, reúne quinze contos que atravessam a pobreza e a violência urbana, convocando os dilemas sociais e existenciais das comunidades afro-brasileiras. Em Canção para ninar menino grande, o seu mais recente romance, Conceição Evaristo entra no território da masculinidade expondo as suas contradições e complexidades, e fazendo dele uma canção para mulheres livres. As ilustrações de capa têm a assinatura de Catarina Bessell e Susa Monteiro, respectivamente.


 

As duas obras são lançadas em simultâneo no festival literário FOLIO, em Óbidos, com a presença da autora. No dia 12 de Outubro, às 16h30, na Tenda Autores, Conceição Evaristo estará à conversa com Ana Paula Tavares, poeta e historiadora, numa sessão com apresentação e moderação de Gisela Casimiro, escritora e activista.
Conceição Evaristo é uma das convidadas em destaque desta edição do festival, no âmbito da programação FOLIO Mais, com curadoria de Candela Varas. Depois de abrir a sua participação, a 12 de Outubro, com o lançamento de Olhos d’água e Canção para ninar menino grande, Conceição Evaristo orienta a masterclass «Escrevivência: Espelhos e imagens ancestrais» no dia 13 de Outubro, às 14h30, na Casa da Música de Óbidos; e apresenta ainda trabalhos inéditos e escritos eróticos no Sarau de Poesia Erótica a 14 de Outubro, às 19h, em lugar a confirmar.

Participa ainda na conversa “Descolonizar a memória”, com a escritora Verenilde Pereira em torno da memória e de escrivências afro-brasileiras e indígenas, moderada por Carla Fernandes, que terá lugar no dia 15, às 15h, na livraria de Santiago.


 Conceição Evaristo é escritora, poeta e ensaísta, e uma das vozes mais expressivas da literatura afro-brasileira. Temas como a discriminação racial, de género e de classe são transversais em toda a sua produção escrita.

Foi distinguida com o Prémio Governo de Minas Gerais de Literatura em 2018, pelo conjunto da sua obra. Em 2019, recebeu o Prémio Jabuti como personalidade literária e, em 2023, o Prémio Intelectual do Ano, atribuído pela União Brasileira de Escritores. Tem participado activamente na valorização da mulher negra, da diversidade e da cultura afro-brasileira.

19.09.2024 | por martalanca | Ana Paula Tavares, Conceição Evaristo, Folio, Gisela Casimiro

Primeira Grande Marcha Cabral em Portugal

COMUNICADO MOVIMENTO NEGRO PANAFRICANO Unidade i Luta: Contra o fascismo, a xenofobia e o neocolonialismo

No dia 21 de setembro, o Movimento Negro e Panafricano em Portugal organiza a Primeira Grande Marcha Cabral, em homenagem ao centenário de Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo, filósofo político e um dos líderes das lutas pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Esta marcha visa celebrar o legado de seu pensamento, ainda atual, que nos desafia a dar continuidade, hoje, à luta pelas liberdades.

Afirmamos que o “25 de Abril nasceu em África”, e sabemos que os contributos de Amílcar Cabral foram fundamentais para que as portas desta revolução se abrissem. Por isso, no dia 21 de setembro, descemos a mesma avenida onde, todos os anos, milhares se juntam em celebração do fim da ditadura e do fascismo salazarista, para fazer uma segunda afirmação: Amílcar Cabral está na origem da Revolução dos Cravos, e o 25 de Abril continuará a ser uma celebração incompleta enquanto a sua ausência, assim como dos povos africanos que combateram contra o colonialismo, se perpetuar.

Foi a longa e dura luta dos povos africanos, mormente aquela liderada por Amílcar Cabral em Cabo Verde e na Guiné Bissau, que permitiu não apenas a derrota do fascismo salazarista como uma consciencialização que abriu os caminhos para a democracia em Portugal. Esta resistência unificada foi uma força fundamental, determinante. Sem ela, não haveria o 25 de Abril.

O reconhecimento e a inscrição concreta da figura de Amílcar Cabral na memória e na história da democratização de Portugal — nos manuais escolares, nas datas comemorativas, em monumentos etc. — são formas de reparar a própria história do país e honrar a memória e o trabalho por ele desenvolvido em Portugal.

Inspirados pelo vasto e riquíssimo legado de pensamento e prática de luta anticolonial deste combatente das causas dos povos oprimidos, convidamos todas as pessoas e coletivos em Portugal a participarem ativamente nesta inédita marcha internacionalista, panafricanista e anticapitalista.

Porque “é ainda fecundo o ventre que gerou a besta imunda” do fascismo, da xenofobia, do racismo e do colonialismo, numa União Europeia de Estados cada vez mais securitários e xenófobos, aversos à diferença e capitalistas, apelamos a todas as pessoas comprometidas com a fraternidade combativa entre os povos a juntarem-se ao movimento negro nesta grande marcha pela liberdade.

Porque as conquistas do 25 de Abril, fruto da luta dos povos africanos e portugueses, ainda não estão garantidas, diante do projeto de uma sociedade fascista almejada pela extrema-direita, desafiamos todas as forças vivas, anticoloniais e anticapitalistas, comprometidas com as causas justas, a fazerem desta marcha um lugar de encontro de ideias vivificantes que promovam a hospitalidade e a dignidade humana.

Marchamos contra as fomes, as guerras, a miséria e a injustiça. Marchamos contra o esquecimento, o apagamento e o silenciamento. Marchamos pela nossa história e pela nossa memória. Marchamos pelo direito de existir, circular e residir. Marchamos em solidariedade combativa com os povos resistentes do Congo, do Sudão, da Palestina, da Guiné-Bissau, e da Líbia destruída pela aliança imperialista e os seus cúmplices. 

Marchamos por Cláudia Simões, Bruno Candé, Daniel Rodrigues, Danijoy Pontes, Giovani 

Rodrigues, Múmia Abu Jamal e todas as pessoas que ainda hoje enfrentam a brutalidade dos

poderes capitalista, fascista, xenófobo, patriarcal, racista, afrofóbico e neocolonial. 

Marchamos pelo planeta, por todas as lutas e, acima de tudo, pela unidade de todas as

resistências da terra. Que esta marcha una todas as lutas, todas as causas. Celebrar Cabral é, sobretudo, relembrar os significados do mote “A luta continua” e ativá-lo na realidade que vivemos.

Cabral é nosso, Cabral é vosso, Cabral é do mundo, porque ele encarna todas as nossas revoluções.

KOLONIALISTA DIVIDI-NU PA KONKISTA-NU, MA CABRAL TORNA DJUNTA-NU (Os colonialistas dividiram-nos para nos conquistar, mas Cabral uniu-nos de novo) Juntem-se a nós neste dia histórico. Façamos povo!

12.09.2024 | por martalanca | Amílcar Cabral, Marcha Kabral

Aprender a desaprender - Diálogos para a descolonização da arquitetura

Apresentação do livro no Hangar, Lisboa, 12 setembro, 18h30.

O evento conta com uma Introdução por Paulo Moreira (editor da publicação) e André Tavares, e uma conversa entre Ana Balona de Oliveira (IHA / NOVA-FCSH), Marta Lança (Buala) e Yolana lemos (CITAD, BANGA Coletivo).O livro reúne arquitetos, artistas, críticos e autores do presente, e aborda vários temas: o papel das diásporas na história, procurando reescrever narrativas emancipatórias sobre a relação entre colonizado e colonizador; as escalas de ação das práticas espaciais; as histórias pessoais e os comentários pedagógicos. Tem contributos de Ibiye Camp, Margarida Waco, Luísa Santos, Mónica de Miranda, Banga Colectivo, Natache Sylvia Iilonga, Thais Andrade, Gabriela Leandro Pereira, Lara I. C. Ferreira, Anyibofu Nwoko Ugbodaga e Demas Nwoko.



10.09.2024 | por martalanca | descolonização da arquitetura, instituto, Paulo Moreira

Centenário de Amílcar Cabral

O concerto da cantora guineense Nené Pereira e o espectáculo “Amílcar Geração”, com Ângelo Torres, são os destaques da semana no programa das comemorações em Coimbra do centenário de Amílcar Cabral, organizadas pel’A Escola da Noite e pela Cena Lusófona em parceria com mais de uma dezena de entidades da cidade e do país. O ciclo inclui ainda filmes, apresentações de livros, exposições e vários debates.

Nené Pereira
Maria Eugenia Agostinho Pereira, nome artístico de Nené Pereira, é uma das vozes mais características e melodiosas no repertório de tina, gumbe, djambadon e singa, géneros tradicionais e ritmos mais vivos da música moderna da Guiné-Bissau. Compositora e intérprete, com uma carreira iniciada há mais de dezasseis anos, foi membro fundadora e vocalista principal do grupo cultural “Amizade ka facil”, do bairro de Quelele, bem como do Grupo “Corson de tina”. O sucesso do seu primeiro álbum gravado a solo, “Padida Fidalgo”, veio confirmar a identidade e a marca de Nené Pereira como uma das vozes mais apreciadas da música moderna e tradicional da Guiné-Bissau. A cantora apresenta-se em Coimbra no Salão Brazil na próxima quarta-feira, dia 11 de Setembro, pelas 21h30. A entrada custa 10 euros, sendo aplicável o desconto de meio bilhete para menores de 30 e maiores de 65 anos, estudantes, desempregados/as e profissionais das artes do espectáculo.

A cantora Nené Pereira A cantora Nené Pereira

Amílcar Geração
O espectáculo de teatro que dá nome ao ciclo de comemorações do centenário de Amílcar Cabral é um monólogo dramático em três actos que tem por tema a vida e o legado do fundador e líder do movimento de libertação da Guiné-Bissau. Construída a partir de factos e documentos históricos, mas também de entrevistas ao actor Ângelo Torres, a peça convoca a experiência pessoal do próprio intérprete, reflectindo o impacto da personalidade e do pensamento de Amílcar Cabral nas gerações que se lhe seguiram. Criado por Guilherme Mendonça e produzido por Nuno Pratas, em 2022, no âmbito do projecto Paralelo 20, o espectáculo apresenta-se agora com direcção de Ângelo Torres.
As sessões em Coimbra estão agendadas para 12 e 13 de Setembro, quinta e sexta-feira, às 19h00 e 21h30, respectivamente. Após cada sessão haverá conversas com o público e o actor. No primeiro dia, com a participação da investigadora Leonor Pires Martins e a moderação da actriz Ana Teresa Santos. No segundo dia, com as intervenções dos guineenses Abdulai Sila (dramaturgo) e Sumaila Jaló (investigador e activista) e a moderação do actor Igor Lebreaud. Na quinta-feira, os bilhetes têm o preço único de 5 euros. Na sexta-feira, a entrada custa 10 euros, com os habituais descontos de meio bilhete. À semelhança do que acontece com o concerto de Nené Pereira, cinquenta por cento das receitas de bilheteira revertem para a produção do documentário “Amílcar Cabral e a luta de libertação”, um projecto de Flora Gomes e Sana Na N’Hada.

Ângelo Torres em Amílcar GeraçãoÂngelo Torres em Amílcar Geração

Comemorações em Coimbra do centenário de Amílcar Cabral
Os dois espectáculos integram a programação desenhada pel’A Escola da Noite e pela Cena Lusófona para assinalar o centenário do nascimento de Amílcar Cabral e concretizada em parceria com um alargado número de entidades, que incluem bibliotecas, editoras, equipamentos culturais da cidade, centros de investigação, entre outras. Iniciado a 4 de Setembro e prolongando-se até dia 13, o ciclo incluirá ainda, nos próximos dias, as apresentações dos livros “Análise de alguns tipos de resistência” (11/09, 18h00) e “Textos da Luta” (13/09, 18h00), ambos com textos de Amílcar Cabral. Estão patentes ao público as exposições “Recordar Amílcar Cabral”, na Biblioteca Municipal de Coimbra, “Guiné-Bissau e Cabo Verde no Centro de Documentação e Informação da Cena Lusófona” e “Amílcar Cabral: fragmentos de uma luta”, no Centro de Documentação 25 de Abril, para além de quatro instalações, distribuídas pelo Teatro da Cerca de São Bernardo e pela Sala Jorge Pais de Sousa da Cena Lusófona. Todas estas actividades têm entrada gratuita.

10.09.2024 | por martalanca | Amílcar Cabral

Ver como um lobo, Bruno Caracol

Ver como um lobo é uma investigação plástica em torno ao uso de partes do corpo dos lobos na medicina popular. Procurando formas contemporâneas de reprodução de material biológico, Ver como um lobo consistirá na produção de uma série de objetos baseados em algumas destas partes de corpo do lobo (olhos, traqueias) e uma instalação sonora produzida a partir de sons recolhidos nas serras onde estes animais se abrigam e de uma composição construída em colaboração com Filipa Cordeiro e Academia das Artes de Chaves. Será também uma publicação resumo do processo, com as fotografias de Odair Monteiro. 

A oposição entre as comunidades serranas de Trás-os-Montes, Minho e Beira Interior e a população lupina deriva da partilha de recursos, os animais de pasto (sobretudo em pasto livre como é tradição em algumas serras). O lobo ocupa o lugar simbólico da escassez, para além de predar carneiros nas histórias infantis, ameaça tomar as almas dos últimos filhos de famílias numerosas, obrigando a ritualização de certas relações para uma contenção da miséria. Esta oposição deve-se a uma certa horizontalidade interespecífica entre ocupantes das serras, num panorama de escassez de recursos.

Esta relação histórica encontra-se num ponto de charneira, tanto pela alteração profunda na demografia e economia regional, permitindo aos lobos ganharem terreno sem grande oposição, como pela emergência da conservação enquanto programa estatal para estes territórios. Esta conjuntura levou a relação a verticalizar-se, a população de lobos é gerida a partir de instrumentos cibernéticos, modelos matemáticos e instrumentos de localização e contagem, a partir dos grandes centros urbanos. Entre as populações locais existe ainda uma inimizade vestigial, também ela em transformação por via do crescimento uma economia em torno do turismo de natureza, a partir do qual a presença do lobo se pode transformar em recurso.  

Ver como um lobo trata de procurar paralelos possíveis entre os corpos destas duas espécies, cruzando-os com uma visão territorial construída a partir dos instrumentos da investigação científica. Cresce a partir de uma procura subjacente por uma precariedade discursiva, pelas explicações incompletas, pelas contradições, alimentada por um entendimento da confusão como lugar vital, uma vitalidade para a qual importa abrir espaço.

©Arquivo Francisco Álvares/Grupo Lobo©Arquivo Francisco Álvares/Grupo Lobo 

As próximas datas e locais de apresentação do projeto serão as seguintes:

21 e 22 setembro 2024 - Túnel, Porto 

26 e 27 outubro 2024 - Academia das Artes de Chaves, Chaves

6 e 7 fevereiro 2025 - Ecomuseu do Barroso, Montalegre (datas a confirmar) 

 

Bruno Caracol estudou Artes Plásticas na FBAUL e Ciências da Comunicação na FCSH-NOVA. Tem dedicado os últimos anos a trabalhar a partir de objetos ressonantes, de futuros ficcionais e da relação com o mundo não-humano.

 

Conceção e coordenação: Bruno Caracol 

Fotografia: Odair Monteiro

Composição de peça sonora: Laura Marques e Bruno Caracol

Sopros: Quinteto Transmontana Brass

Assobios, vozes, sons: Aurízia Dias, Carles Mas e Maria Carvalho

Comunicação: Marta Rema

Produção e gestão financeira: Ricardo Batista

Acompanhamento: Margarida Mendes

Parceiros: Academia das Artes de Chaves, Buala, Brass - Fundição Artística, Câmara Municipal de Montalegre, CIBIO, coffeepaste, Ecomuseu do Barroso, Oficinas do Convento, Redsky

Organização: efabula

Financiamento: DGArtes - República Portuguesa, Câmara Municipal de Montalegre

 

Publicação

Ensaio visual: Odair Monteiro

Fotografias de arquivo: Francisco Álvares

Imagens processo: Bruno Caracol 

Textos: Francisco Álvares, Godofredo Enes, Margarida Mendes

Design: Pedro Nora

 

Agradecimentos: Francisco Álvares, João Cardoso, Marcelo Almeida, Otelo Rodrigues, Luísa Queirós, Tânia Pereira, Aurízia, Maria Carvalho.

 

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10.09.2024 | por martalanca | bruno caracol, ver como um lobo

Encontros "Problemas do Primitivismo, a partir de Portugal" » 28 setembro, 14h00-19h30

Os Encontros em torno da exposição “Problemas do Primitivismo, a partir de Portugal” terão lugar no dia 28 de setembro. Reunirão autoras e autores indispensáveis para pensar os problemas levantados por esta exposição e debater a abordagem transdisciplinar do conceito de “primitivismo” a partir de Portugal. 

Este fórum debaterá a partir das palavras-chave da exposição — Civilização, Museu, Ingénuo, “Mar Português”, Extração, “Jazz-Band” — as relações entre arte e as ideologias dominantes do progresso, colonialismo e neocolonialismo, cultura visual e nacionalismo, propaganda, arte contemporânea e invenção da tradição. O museu, enquanto espaço ambivalente de inclusão e de segregação, espaço de transformação, mas também de produção estereotipada sobre o “Outro”, serve de caixa de ressonância a este debate. 
 
Os Encontros são abertos à participação alargada e têm como objetivo criar uma comunidade de reflexão em torno do museu.  

 

PROGRAMA 

14h00 
Mariana Pinto dos Santos e Marta Mestre 
Visita à exposição Problemas do Primitivismo, a partir de Portugal 

15h30-18h00 
Intervenções de: 
Elisabete Pereira, Ilídio Candja Candja, Jean-Yves Durand, Nélia Dias. 
Afonso Dias Ramos, Carla Cruz, Francisco Mendes, Joana Cunha Leal, 

Sónia Vespeira de Almeida. 

18h30
Françoise Vergès (via zoom) 
Apresentação de Decolonizar o museu. Programa de desordem absoluta (Orfeu Negro, 2024). O novo livro de Françoise Vergès propõe uma leitura crítica do chamado “museu universal” e reflete sobre a forma que poderia assumir um “pós-museu”, numa perspetiva decolonial. 

 

PARTICIPAÇÕES 

Elisabete Pereira

Coordenadora do projeto FCT “Transmat — Materialidades Transnacionais (1850-1930): reconstitutir coleções e conectar histórias” (2021-2025)
Historiadora / IHC – Universidade de Évora / IN2PAST

Françoise Vergès 
Cientista política, curadora, autora de Decolonizar o museu. Programa de desordem absoluta (Orfeu Negro, 2024)

Jean-Yves Durand 
Diretor do museu da Terra de Miranda entre 2010 e 2014
Antropólogo / CRIA - Universidade do Minho / IN2PAST

Ilídio Candja Candja 
Artista 

Nélia Dias 
Co-editora de Collecting, Ordering, Governing: Anthropology, Museums and Liberal Government (Duke Univ. Press, 2017) 
Antropóloga (CRIA – ISCTE / IN2PAST) 

Afonso Dias Ramos 
Co-editor de Photography in Portuguese Colonial Africa, 1860-1975 (Palgrave Mcmillan, 2023) 
Historiador da Arte / IHA – NOVA FCSH / IN2PAST 

Joana Cunha Leal 
Coordenadora do projeto FCT “Modernismos Ibéricos e o Imaginário Primitivista” (2018-2022)
Historiadora da Arte / IHA – NOVA FCSH / IN2PAST 

Sónia Vespeira de Almeida 
Co-coordenadora do projeto “History of Portuguese Anthropology and Ethnographic Archives (19th-21st century)” de BEROSE International Encyclopaedia of the Histories of Anthropology 
Antropóloga / CRIA – NOVA FCSH / IN2PAST 

Carla Cruz 
Artista 
Lab2PT – Universidade do Minho / IN2PAST 

Francisco Mendes 
Co-editor de Karl Marx: legado, críticas, atualidade (Edições Húmus, 2022) 
Historiador / Lab2PT – Universidade do Minho / IN2PAST 

Marta Mestre 
Co-curadora da exposição Problemas do Primitivismo, a partir de Portugal 
Diretora artística do CIAJG 

Mariana Pinto dos Santos 
Co-curadora da exposição Problemas do Primitivismo, a partir de Portugal 
Historiadora da Arte / IHA – NOVA FCSH / IN2PAST 

10.09.2024 | por martalanca | Problemas do Primitivismo

Habitar Siza Exposição

A exposição que nasce de uma investigação analisa o modo como as pessoas que habitam espaços desenhados por Álvaro Siza experienciam e interagem com a disposição espacial dos seus apartamentos, as micro-tecnologias da casa, os espaços públicos dos edifícios e o estatuto de atracção turística dos prédios onde moram. Esta procura preencher a lacuna de investigação existente sobre a obra de Siza, relativa à quase ausência de estudos sobre a recepção e apropriação da sua arquitectura por quem a habita. A experiência da arquitectura é aqui entendida num âmbito conceptual ligado ao modo como a materialidade e os elementos tecnológicos da habitação, além da mais clássica configuração espacial, co-constituem processos de adaptação e interacção com as pessoas, fazendo emergir o evento “casa”. 

O estudo debruça-se sobre três casos com populações com posições de classe diferentes, desde a população de baixos rendimentos para quem o Bairro da Bouça no Porto foi originalmente concebido, à população de classe média-baixa da Malagueira em Évora e finalmente à população de rendimentos muito altos dos Terraços de Bragança em Lisboa, não deixando no entanto de explorar os fenómenos de heterogeneidade social presentes em casos como a Bouça. A investigação analisa assim a ambição de Siza de projetar uma cidade ‘interclassista’ em locais concretos, procurando mostrar o processo de uma arquitetura vivida e seguiu uma abordagem etnográfica, com recurso a entrevistas aprofundadas com moradores, visitas a casa e solicitação fotográfica de olhar ‘o/a morador/a em acção’ com a sua casa. A natureza interdisciplinar da pesquisa está alicerçada na experiência e formação variadas da equipa, que vão desde a Geografia e a Antropologia à Arquitectura e a Fotografia.

Conversas: Habitar Siza e as geografias da arquitectura 10 de Setembro 2024 — 17h-19h

Apresentação (17h — 18h):
Eduardo Ascensão (CEG-IGOT, ULISBOA)
Ricardo Agarez (ISCTE-IUL)
Loretta Lees (Boston University, via online)

Fazer palavras com coisas (18h — 19h)

A política e a poética dos conjuntos habitacionais do atelier Elemental
Orador: Ignacio Farías (Humboldt University) 

Terraços de Bragança ©Eduardo AscensãoTerraços de Bragança ©Eduardo Ascensão

Trienal de Arquitetura de Lisboa mais infos.

10.09.2024 | por martalanca | Siza Vieira, Trienal de Arquitetura de Lisboa

Carcerário Negro

com Cristina Roldão, Flávio Almada, José Semedo Fernandes, Matamba Joaquim

Conversa co-organizada pelo Teatro GRIOT e Casa Independente

Casa Independente 28.09.2024 | 19H00 Entrada livre
Porque o que todo o homem ou animal teme, a essa hora em que o homem caminha no mesmo plano que o animal, e em que o animal caminha no mesmo plano que qualquer homem, não é o sofrimento, porque o sofrimento pode ser medido, e a capacidade de infligir e tolerar o sofrimento também pode ser medida; teme-se, sobretudo, a estranheza do sofrimento, ser-se levado a suportar um sofrimento que não se conhece.
Bernard-Marie Koltés, Na solidão dos campos de algodão
Carcerário Negro, conversa com a socióloga Cristina Roldão, o MC e ativista Flávio Almada, o advogado José Semedo Fernandes, o ator Matamba Joaquim e o público, pretende refletir, ainda, outra e uma vez mais e quantas mais forem necessárias, sobre as formas operativas da Justiça Portuguesa, que promove, reproduz e vai perpetuando um sistema judicial que é seletivo e abusivo para com os corpos negros, tanto nas ruas como no cárcere. Fá-lo-emos ainda, outra e uma vez mais e quantas mais forem necessárias, até que medidas efetivas sejam implementadas de forma a quebrar o elo entre discriminação racial e brutalidade policial.

©Neusa Trovoada©Neusa Trovoada

Cristina Roldão é socióloga e investigadora do Iscte-IUL e docente da Escola Superior de Educação de Setúbal (ESE/IPS). Questões como a segregação escolar, os manuais escolares, a recolha de dados étnico-raciais nos Censos e a história negra em Portugal têm sido centrais na sua participação no debate académico e público sobre o racismo na sociedade portuguesa.

Flávio Almada, conhecido como LBC Soldjah, é MC e ativista. É licenciado em Tradução e Escrita Criativa e Mestre em Estudos Internacionais. É autor de diversas publicações, sendo a mais recente “Fanon Today: Reason and Revolt of the Wretched of the Earth”. Foi coordenador geral da Associação Cultural Moinho da Juventude e integra vários colectivos. Tem editadas coletâneas de poesia e Hip Hop, a solo ou em colaborações nacionais e internacionais.
José Semedo Fernandes é advogado. Trabalhou no Gabinete Jurídico do Centro Nacional de Apoio ao Migrante, na Coordenação do Gabinete de Apoio à Integração de Refugiados - Alto Comissariado para as Migrações, atualmente é membro da Ordem dos Advogados Portugueses tendo no exercício dessa profissão procurado combater as manifestações do racismo na estrutura policial/judicial/prisional.
Matamba Joaquim é ator e autor. É membro fundador e ator residente do Teatro GRIOT, membro permanente da Academia Portuguesa de Cinema e da La Plateforme - Pôle cinéma audiovisuel des Pays de la Loire. Em 2018 foi distinguido pela GDA com o prémio Novo Talento na categoria de cinema pelo seu desempenho no filme “Comboio de sal e açúcar” de Licínio Azevedo.
Projeto financiado pela República Portuguesa - Cultura I DGARTES – Direção-Geral das Artes
Apoio: BANTUMEN, Câmara Municipal da Moita, Casa Independente, Polo Cultural Gaivotas Boavista, Teatro Ibérico
O Teatro GRIOT é uma estrutura financiada pela Câmara Municipal de Lisboa

10.09.2024 | por martalanca | justiça, racismo, teatro griot

“DES-OBRA” do artista guineense NúBarreto

O Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design - CNAD, sob asuperintendência do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, convidapara a inauguração da exposição “DES-OBRA” do artista guineense NúBarreto, no dia 12 de setembro, às 18h30, na Galeria Bela Duarte, no CNAD.


12 de setembro marca o centenário de Amílcar Cabral, o teórico e estrategadas lutas de independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau, o nacionalistarelutante. Enquanto figura central da revolução, Cabral encarna um(anti)herói que articula no seu pensamento práxis, pedagogia e ação(revolução) – um legado reivindicado por diversos grupos e de forma global:o Cabral feminista, humanista, pan-africanista, nacionalista, internacionalista,uma polifonia que serve de ponto de partida para uma reflexão mais amplasobre o seu legado hoje.
Nú Barreto é um artista multidisciplinar cuja prática incluí fotografia, vídeo,desenho, colagem e instalação e que se debruça numa constante observaçãodo seu tempo. Artista inquisitivo e provocativo, com uma produçãoabertamente política e politizada, Barreto explora a memória transafricana,aplicando um vocabulário que, de forma subjetiva, comunica as relações depoder e um mundo em constante transformação.
Em Des-Obra, Nú Barreto explora a complexidade de activar e preservar amemória colectiva – aquela que é transversal e transgeracional, em oposiçãoa amnesia colectiva. O artista actua como um poeta das liberdades e da autoafirmação, usando de diversas estratégias – apropriação, repetição,destruição, a abstração - para dar corpo e forma a uma política de memória.A exposição funciona como uma grande instalação, um ensaio entre opoético e o didático. Uma narrativa que se reinventa a partir de novasperguntas. Um antídoto ao esquecimento.

 

09.09.2024 | por martalanca | Amílcar Cabral, NúBarreto

Enciclopédia Negra I Porto

Curadoria: Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz
Sala de Exposições da Escola das Artes
20 JUN - 4 OUT 2024
14H às 19H - Entrada livre

Download folha de sala da exposição Enciclopédia Negra 

Um constrangedor silêncio invade os arquivos da escravidão, os livros didáticos e acervos de obras visuais. Neles, as referências acerca da imensa população escravizada negra que teve como destino o Brasil – praticamente a metade dos 12 milhões e meio de africanos e africanas que aportaram no país, desde inícios do século XVI até mais da metade do século XIX, são ainda muito escassas. Também são pouco mencionados o protagonismo de negros, negras e negres que conheceram o período do pós-abolição; aquele que se seguiu à Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a qual, longe de ter sido um ato isolado, correspondeu a um processo coletivo de luta pela liberdade, protagonizado por negros, libertos e seus descendentes. 

A exposição Enciclopédia negra faz parte de um amplo projeto, que se iniciou em 2016, e que pretende ampliar a visibilidade de personalidades negras até hoje pouco conhecidas. Ele contou com o apoio da editora Companhia das Letras, do Instituto Ibirapitanga, da Pinacoteca de São Paulo, do Soma e dos 36 artistas que aderiram ao chamado e deram a ele realidade. A mostra traz mais de 100 obras que se pautaram nos verbetes escritos para o livro homônimo de autoria de Flavio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, que apresenta 417 verbetes e mais de 550 biografias. 

Narrar é uma forma de fazer reviver os mortos e cada tela traz uma linda história: foram pessoas que se agarraram ao direito à liberdade; profissionais liberais que romperam com as barreiras do racismo; mães que lutaram pela alforria de suas famílias; professoras e professores que ensinaram seus alunos a respeito de suas origens; indivíduos que se revoltaram e organizaram insurreições; ativistas que escreveram manifestos, fundaram associações e jornais; líderes religiosos que reinventaram outras Áfricas no Brasil. 

A grande utopia é devolver imaginários e histórias mais plurais em termos de raça, geração, região, gênero e sexo. Essa é uma maneira de qualificar a democracia, deixando de discriminar setores da sociedade brasileira que correspondem, ao menos no Brasil, a uma “maioria minorizada” na representação social. 

Enciclopédia Negra pretende, também, contribuir para o término do genocídio dessa população. Pois tornar estas histórias mais conhecidas e dar rostos a estas personalidades colabora para a reflexão por trás das estatísticas, que nos acostumamos a ler todos os dias nos jornais, “naturalizando” histórias brutalmente interrompidas; seja fisicamente, seja na memória. 

Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz

Projeto Enciclopédia Negra
Parceria: Associação Pinacoteca Arte e Cultura de São Paulo e Companhia das Letras.
Apoio: Instituto Ibirapitanga / Colaboração: Instituto Soma Cidadania Criativa
Obras pertencentes ao acervo da Pinacoteca de São Paulo
Doação dos artistas, por intermédio da Associação Pinacoteca Arte e Cultura.

 

05.09.2024 | por martalanca | Enciclopédia Negra

TUNTUNHI

Venho enviar informação sobre o espetáculo TUNTUNHI que será apresentado no próximo dia 15 de setembro, às 16h, no Auditório da Escola Secundária de Camões, no âmbito do Festival TODOS.

A migração é o tema central do espetáculo. Neste novo capítulo, ao grupo de participantes original da zona de Almada, juntam-se agora participantes da zona de Arroios, pessoas da comunidade, alguns alunos da Escola de Camões, migrantes e descendentes de migrantes de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Haiti, Nepal, Venezuela, Paquistão e Portugal.

foto de José Fradefoto de José Frade

TUNTUNHI tem direção artística e coreografia de Filipa Francisco e foi criado no âmbito do projeto “Corre-Mundos – Transformação pela Art’Inclusiva”, que pretende capacitar o desenvolvimento pessoal, social e comunitário de migrantes e descendentes de migrantes através da arte. Este projeto foi promovido pela Associação Almada Mundo e apoiado pelo PARTIS & Art for Change (Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação “la Caixa”) e é agora dinamizado pela associação Mundo em Reboliço. 

Filipa Francisco tem desenvolvido um extenso corpo de trabalho coreográfico, muito ligado às questões sociais e à inclusão. Trabalhou, por exemplo, em projetos com jovens da Cova da Moura, com reclusos do estabelecimento prisional de Castelo Branco e com diversas comunidades migrantes. 

Procura aproximar a dança de diferentes públicos usando estratégias de envolvimento que passam pelo recurso a memórias e vivências ou por cruzamentos entre o reportório das danças tradicionais com o contemporâneo.

03.09.2024 | por martalanca | migração, teatro, TUNTUNHI

Exposição - Novos Territórios e Futuros Negros

Candidaturas:

Esta Open Call destina-se a artistas interessadxs em integrar uma exposição plástica multidisciplinar, cujo tema destaca uma área pouco reconhecida pelo panorama da produção artística contemporânea nacional. 
Na próxima edição do ciclo Afro-Portugal, decidimos re-direcionar os nossos recursos, discurso e foco curatoriais para o trabalho de artistas negrxs que recorram a diferentes elementos para abordar não só questões e problemáticas institucionais, mas principalmente invocar cenários alternativos, imaginar novas realidades e possibilidades futuras para os nossos corpos, onde a expressão das nossas subjetividades, na sua plenitude, seja possível e pautada exclusivamente por nós, pessoas pretas. 
Assim sendo, o nosso objetivo principal será explorar o potencial das expressões da vida negra muito para além das limitações de um pensamento intrinsecamente colonial e racializado, com suas hierarquias histórica e socialmente construídas pela institucionalização da supremacia branca. 


Perguntas e/ou conceitos-chave:

  1. Como pensar um novo e futuro território para a nossa negritude? Quais as suas dimensões? 
  2. Será esse um território geográfico, físico, corpóreo, interior ou virtual? Será esse uma viagem identitária? Uma relação que estabelecemos com os nossos corpos, ancestralidade…ou uma projeção num tempo que colapsa? Será que esse mesmo território não passará pela própria desterritorialização?

A quem se destina esta candidatura?

  • Esta destina-se exclusivamente a artistas negrxs, até aos 27 anos, com projetos na área das artes visuais – desde pintura, escultura, instalações e multimédia (fotografia, vídeo, manipulação digital interdisciplinar) – de cariz experimental ou até de pesquisa.

O que oferecemos?

  • Cachê-base de 500€ (incluindo valores de deslocação, se necessários); 
  • Condições para a apresentação pública do projeto: apoio técnico e assistência de produção;
  • Acompanhamento artístico pela equipa de curadores e produção;

Como te podes candidatar?

  • As propostas deverão ser submetidas até dia 2 de setembro de 2024, redigidas em português ou inglês, através deste formulário. Caso o teu projeto ainda não estiver não concretizado, não te esqueças de preencher a ficha de candidatura, disponível para download no link seguinte: https://docs.google.com/document/d/1lciLNzG8uMrk3QsjEnsnLjS01i8jf61rP_YfMSqQOKA/edit?usp=sharing. Submete o teu documento no final deste mesmo formulário ou envia-o devidamente preenchido e gravado com o teu nome para o e-mail: info.novosterritorios@gmail.com
  • Os resultados serão comunicados por e-mail, contacto telefónico até ao dia 27 de setembro de 2024.

Qualquer dúvida poderá ser esclarecida através dos seguintes contactos:
Babu: 

Carlos Tavares Pedro:

Madalena Bindzi:

30.08.2024 | por martalanca | exposição, futuros negros

Episódios de Fantasia & Violência, de p. feijó

Episódios de Fantasia & Violência, ensaio-poema autoteórico, estreou-se como leitura-performance em várias salas intimistas, entre Lisboa e Porto, e ganha aqui nova materialidade enquanto objecto-livro.

p. feijó fala-nos de um mundo violento para com o que não é binário ou, em geral, não encaixa na experiência masculina dominante. Rememorando alguns episódios, tenta entender o papel e a natureza da fantasia pornográfica violenta, obscena, errada, e presta atenção ao corpo em metamorfose que incita a fantasia e a transformação noutros corpos. Esse processo contagioso de experimentação somática voluntária e involuntária é também uma monstruosidade que anuncia o fim deste mundo. 

27.08.2024 | por martalanca | p. feijó

Festival Ibérico PERIFERIAS

DE 9 A 17 DE AGOSTO

  • Sessão de abertura no Castelo de Marvão, com projeção de Manga d’Terra, de Basil da Cunha e conversa com o realizador
  • Cerimónia de encerramento em Malpartida de Cáceres com entrega do Prémio Tejo/Tajo Internacional Reserva da Biosfera Transfronteiriça ao filme vencedor
  • Filmes ao ar livre, concertos, visitas guiadas: uma programação para todos

Foi anunciada a programação completa daquela que será a 12ª edição do Periferias - Festival Internacional de Cine(ma) de Marvão  e Valencia de Alcántara, que acontece entre 9 e 17 de agosto de 2024, em Marvão (Portugal) e Valência de Alcântara (Espanha).

A divulgação oficial aconteceu em Lisboa, no carismático espaço da Casa do Comum, no Bairro Alto, e contou com a presença de Paula Duque, directora do festival, e de Rui Pedro Tendinha, crítico de cinema, realizador da curta ‘’Periferias, um festival de afectos’’, que é também embaixador do festival.

Com uma agenda repleta de filmes para todos, de filmes para crianças, de visitas guiadas e um concerto, o Periferias reforça o seu estatuto enquanto referência na produção de filmes de autor focados na defesa e promoção dos Direitos Humanos, preservação do meio ambiente e impulso da arte cultural, contribuindo assim para uma efetiva descentralização da cultura no ambiente rural da Reserva da Biosfera Tejo Internacional, o que o torna um excelente embaixador da identidade sociocultural da fronteira hispano-lusa.

Por entre essenciais memórias do que foi, durante décadas, a recepção do cinema como experiência colectiva – em que ir ao cinema significava partilhar um lugar público de encontro – e a produtiva actualização da arte cinematográfica como instrumento de conhecimento interventivo, a 12ª edição do Periferias abarca cinematografias de uma diversidade de universos: Alemanha, Brasil, Espanha, Finlândia, Itália, Palestina, Portugal,

São Tomé e Príncipe, Tunísia. E em três diferentes expressividades: ficção, documentário, animação – nesta última dedicando mesmo oficinas práticas às crianças.

Sempre sob o signo da busca de novos possíveis (justiça, integridade, alegrias, exigência de harmonias na vida como um todo) num mundo material e ideológico que à nossa volta tende amiúde para fomentar depressões, desesperos, desistências. Contra estes profundos males da civilização que é a nossa, o cinema é – pode ser – uma contribuição poderosa para a abertura do espírito a imperiosas necessidades: as da superação de tudo quanto reduz os humanos a meros objectos de ambições.

Tal como outras actividades humanas, o cinema também tem inadiáveis responsabilidades éticas. É nestas que devemos fazer finca-pé.

Este certame cinematográfico, que começou em 2013 através de uma iniciativa cidadã, reúne o melhor da sétima arte internacional com uma seleção de títulos – filmes, documentários e animações -, em espanhol e português, bem como concertos, exposições ou roteiros e visitas guiadas.

Recorde-se que, este ano, o festival contou com três extensões, em antecipação,que se revelaram um sucesso e uma aposta ganhar: uma na localidade cacerenha de Piedras Albas, a 26 e 27 de julho, e duas em território português: Arronches, a 5 e 6 de julho, e Portalegre, dias 11 e 12 de julho, com o objetivo de expandir a influência e contribuição cultural do cinema independente.

SOBRE O PERIFERIAS

O festival teve a sua primeira edição em 2013 e é organizado anualmente, desde então, pela Associação Cultural Periferias, em Portugal, e Gato Pardo, em Espanha.

 O projecto nasceu de uma iniciativa cidadã, apoiada pelo município de Marvão desde o primeiro momento, e cresceu graças ao apoio de vários patrocinadores e colaboradores.

Entretanto, um novo passo foi dado com a integração de Valencia de Alcántara (Espanha) no mapa do Festival, graças ao interesse e envolvimento do Governo local, Filmoteca de Extremadura e Diputación de Cáceres.

O Periferias quer contribuir para uma efectiva descentralização cultural; para tornar acessíveis bens e serviços tradicionalmente concentrados nas grandes cidades e que dificilmente chegam às populações rurais.

O festival assume a ambição de contribuir para implantar localmente uma cultura de cinema que, a médio prazo, permita a criação de um público mais consciente e dotado de um pensamento plural que promova o contacto com a arte, não só como um espaço de ócio, mas como uma plataforma de pensamento crítico que reflita e interaja com o mundo atual.

O SENTIR DO PERIFERIAS: O Periferias é muito mais do que cinema.

Após dez edições e de intenso trabalho, o Festival continua a querer mostrar a importante actividade de descentralização cultural que tem atrás de si.

O Periferias tem impulsionado o desenvolvimento das comunidades com as quais trabalha, procurando fomentar o acesso a uma oferta cultural relevante e aposta na criação de novos públicos, tecendo redes de cooperação e proximidade ao mesmo tempo que contribui para o debate e aprofundamento de temas vitais como o meio ambiente e os direitos humanos.

Um trabalho incrementado através do cinema, da música e das artes para reforçar o sentimento de pertença a um território onde hoje os sentimentos de vizinhança e união estão acima de qualquer fronteira.

Cenários

Marvão, Beirã, Valencia de Alcántara, La Fontañera, Castelo de Vide, Galegos e Malpartida de Cáceres são parte do mapa traçado pelo Periferias, fazendo aproximar-se um território vizinho onde a fronteira é apenas um desenho. Lugares únicos onde o cinema adquire importante protagonismo durante toda a semana e onde se fala e ouve indistintamente português e espanhol.

29.07.2024 | por martalanca | periferias

“Eu Não Sou Teu Negro”, de Raoul Peck

O projecto Cinéfilos & Literatus e a Embaixada Norte-Americana em Angola, em parceria com KinoYetu e Goethe-Institut Angola, promovem no dia 30 de Julho, terça feira, no Hotel Globo, às 18:30, a exibição do documentário “Eu Não Sou Teu Negro” (Dire. Raoul Peck, 2016, Estados Unidos da América), uma adaptação do manuscrito “Remember This House” do escritor James Baldwin, distribuição Big World Cinema. Com a curadoria de André Gomes e Sarah Estrela, a sessão vai acompanhar uma mesa de conversa constituída por Zola Álvaro (activista), Carmen Mateia (activista social), Isis Hembe (rapper) e Marcos Jinguba (curador) no papel de moderador. 

A sessão acontece dentro da parceria entre o projecto Cinéfilos & Literatus e a Embaixada Norte-Americana em Angola (Espaços Americanos). O filme “Eu Não Sou Teu Negro”, “explora relações étnicas durante a luta dos direitos civis dos Estados Unidos, tendo como principais ícones Martin Luther King, Jr., Malcolm X e Medgar Evers.” Cinéfilos & Literatus é um projecto artístico-cultural e social sem fins lucrativos que consiste na projeção de filmes adaptados de obras literárias nacionais e internacionais, seguido de uma conversa crítica sobre o livro e filme.Os Espaços Americanos “são projetados, configurados e equipados para promover o pensamento crítico, inovação e discussões ponderadas sobre questões importantes para o relacionamento dos EUA com Angola e com os interesses globais dos EUA. Os programas dos Espaços Americanos mostram a amplitude e a profundidade dos valores americanos, ideais, cultura e perspectivas sobre uma variedade de temas.” Com a entrada gratuita, sintam-se convidados! 

28.07.2024 | por martalanca | Raoul Peck, “Eu Não Sou Teu Negro”

SEM MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE, ESCRAVATURA MODERNA

Nova ação/nueva acción en Lisboa:

PT“Sem manifestação de interesse, escravatura moderna” é a nossa recente ação nas ruas de Lisboa sobre as novas políticas de imigração excludente em Portugal. Usamos os desenhos originais dos navios negreiros portugueses - que transportaram milhões de escravos durante séculos - para construir barcos que deixamos flutuar nas fontes do centro histórico de Lisboa, especialmente no eixo urbano Alameda-Martim Moniz. A Avenida Almirante Reis atravessa Arroios, freguesia com maior população imigrante no centro da cidade, que recentemente se recusou a emitir atestados de residência a imigrantes extracomunitários, travando o acesso a direitos fundamentais. Da mesma forma, a nossa frota tem formato de cartaz para colar nas paredes.Portugal tem a responsabilidade histórica de ter iniciado o tráfico transatlântico de escravxs, o maior deslocamento forçado de pessoas a longa distância na história, mais de 12,5 milhões de pessoas aprisionadas no continente africano e forçadas a trabalhar no outro lado do oceano.Com a recente supressão da “manifestação de interesse”, procedimento que permite a regularização dxs trabalhadorxs imigrantes em Portugal, dezenas de milhares de pessoas serão empurradas para a exclusão social, o trabalho clandestino, a exploração laboral e a negação de direitos.Com o fim da “manifestação de interesse” o Governo Português legitima e suporta novamente a escravatura moderna.–—CAS “Sem manifestação de interesse, escravatura moderna” es nuestra reciente acción en las calles de Lisboa en relación a las nuevas políticas de inmigración excluyentes en Portugal. Utilizamos los diseños originales de los navíos negreros portugueses, que transportaron millones de esclavos durante siglos, para construir barcos que dejamos flotar en las fuentes del centro histórico de Lisboa, especialmente en el eje urbano Alameda-Martim Moniz. La Avenida Almirante Reis cruza Arroios, la freguesía con mayor población inmigrante del centro de la ciudad, que recientemente se negó a expedir certificados de residencia a inmigrantes extracomunitarios, bloqueando el acceso a los derechos fundamentales. Asimismo, nuestra flota tiene formato de cartel para pegar en las paredes.Portugal tiene la responsabilidad histórica de haber iniciado el tráfico transatlántico de esclavos, el mayor desplazamiento forzado de personas a larga distancia de la historia, más de 12,5 millones de personas encarceladas en el continente africano y obligadas a trabajar al otro lado del océano.Con la reciente supresión de la “manifestação de interesse”, procedimiento que permite regularizar a lxs trabajadorxs inmigrantes en Portugal, decenas de miles de personas se verán empujadas a la exclusión social, el trabajo ilegal, la explotación laboral y la negación de derechos.Con el fin de la “expresión de interés”, el Gobierno portugués legitima y apoya una vez más la esclavitud moderna.

19.07.2024 | por martalanca | ação

Viúvas da Seca, de Israel Campos

Na região sul de Angola, muitas mulheres viram-se abandonadas pelos seus maridos devido à seca que afeta a região há anos. Agora, sozinhas, enfrentam os desafios da seca para se manterem vivas.

Esta reportagem venceu a  primeira edição do prémio angolano  liberdade de imprensa, promovido pelo Sindicato de Jornalistas Angolanos e o MISA ANGOLA. 

 

16.07.2024 | por martalanca | Israel Campos, Viúvas da Seca

Inauguração - Ateliê Mutamba

Acontecerá na próxima quinta-feira(11), a inauguração da 3• edição  do Ateliê  Mutamba.   
O evento integrará  a programação do Festival,  “O Futuro já era”, no CINE SÃO PAULO.  
Esta mensagem é um convite para que se faça presente  e participe da  conversa com o curador desta edição, Hugo Salvaterra e os artistas Edmar Moon, Graciana Chamba e Nark Luenzi 
Contamos com sua presença!

09.07.2024 | por martalanca | ateliê mutamba

Lançamento de 'Umbigo do Mundo, dia 8 na Travessa Lisboa

Lançamento do livro Umbigo do Mundo, da antropóloga indígena Francy Baniwa. Dia 8 de julho às 19h, na Livraria da Travessa, com um debate entre a autora e a poetisa indígena radicada em Braga, Ellen Lima Wassu.

Umbigo do mundo é um acontecimento literário e antropológico que merece ser celebrado. Fruto “de uma conversa do narrador com sua filha mulher”, conforme as palavras da autora, Francisco e Francy nos conduzem por uma trilha cosmológica pelas paisagens do Noroeste Amazônico, convidando-nos a sintonizar a sensibilidade e a imaginação em entidades, bichos, plantas, lugares e acontecimentos de um tempo ancestral — e que continua a reverberar. O ciclo de vinganças entre eenonai e hekoapinai, os cantos e benzimentos, as ações e transformações de Ñapirikoli, Amaro, Kowai, Kaali e Dzooli, tudo isso compõe o quadro de uma verdadeira epopeia amazônica, pela voz dos Baniwa ou Medzeniakonai. Ao longo destas páginas, o multilinguismo da região se faz presente no modo como o nheengatu e o baniwa se trançam ao português, em doses, trazendo ao leitor uma amostra da complexidade da arte verbal dos narradores rionegrinos. Umbigo do mundo, assim, é uma confluência entre diferentes rios de saberes, aproximando-se dos livros da constelação Narradores indígenas do Rio Negro a partir da transdisciplinaridade da constelação Selvagem, como um capítulo especial da florescente antropologia indígena. Com originalidade, Francy Baniwa alterna as vozes de narrador, de personagens e de etnógrafa, compartilhando, por meio de sua generosa e corajosa escrevivência, afetos e conhecimentos de seus parentes, do rio, da roça e da floresta. As ilustrações que acompanham o texto, do artista Frank Baniwa, irmão da autora, exprimem aquela modalidade da arte indígena contemporânea que tem registrado em cores e formas as ações e personagens de narrativas tradicionalmente orais, compondo uma singular obra verbo-visual, povoada de sensível intimidade com a mata e seus seres. Seguir este selvagem roteiro é como embarcar em uma floresta de mundos, ou como pôr lentes para mirar o mundo como floresta. Umbigo do mundo é a proclamação, desde o Alto Rio Negro, de que o centro do mundo se encontra mesmo na Amazônia, ou ainda, de que o centro está em toda parte, de todo modo, de que os formigueiros urbanos não são a exclusiva morada dos acontecimentos que atravessam a vida humana e mais que humana.

Idjahure Kadiwel

FRANCY BANIWA: Mulher indígena, antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, clã Waliperedakeenai, nascida na comunidade de Assunção, no Baixo Rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Engajada nas organizações e no movimento indígena do Rio Negro há uma década, atua, trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, organizações indígenas, conhecimento tradicional, memória, narrativa, fotografia e audiovisual.
É graduada em Licenciatura em Sociologia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É mestra (2019) e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS-MN/UFRJ). É pesquisadora do Laboratório de Antropologia da Arte, Ritual e Memória (LARMe) e do Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi) da UFRJ, e do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) da UFAM.
Foi coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (DMIRN/FOIRN) entre 2014 e 2016. Coordenou o Projeto de Cooperação Técnica Internacional “Salvaguarda de Línguas Indígenas Transfronteiriças”, produzido entre uma parceria UNESCO-Museu do Índio, intitulado “Vida e Arte das Mulheres Baniwa: Um olhar de dentro para fora” entre 2019 e 2020; e que prossegue em 2023 para catalogar e qualificar as peças do primeiro acervo indígena da instituição, editar um catálogo de fotografia, produzir uma exposição virtual e finalizar a produção de 3 documentários, sobre cerâmica, tucum e roça. É diretora do documentário ‘Kupixá asui peé itá — A roça e seus caminhos’, de 2020. Atualmente coordena o projeto ecológico pioneiro de produção de absorventes de pano Amaronai Itá – Kunhaitá Kitiwara, financiado pelo Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN/FOIRN), pelo empoderamento e dignidade menstrual das mulheres do território indígena alto-rio-negrino.

04.07.2024 | por martalanca | amazônia, Ellen Lima Wassu, Francy Baniwa, Umbigo do Mundo

Residência Negralvo, Alice Marcelino

Localização:

ACOLÁ — Freguesia do Torrão

Alice Marcelino é uma artista luso-angolana radicada em Londres. Labora entre Londres, Lisboa e Luanda. Seu trabalho visual explora noções de pertença, num mundo global complexo e em constante mudança. A sua residência artística no Torrão associa o entender do passado às aspirações das gerações futuras. Marcelino pretende descobrir histórias e narrativas esquecidas, especialmente ligadas às nuances históricas e culturais da comunidade afro-portuguesa na região do Sado. 

detalhe de KINDUMBA, 2015, impressão em placa de cobre, 30×20 cm.detalhe de KINDUMBA, 2015, impressão em placa de cobre, 30×20 cm.

A residência, parte do programa NEGRALVO incluirá a criação de retratos de estúdio – ver Malick Sidibe, Sanlé Sory, Rachidi Bissiriou. O ato de criar retratos de estúdio torna-se um processo colaborativo e dialógico, uma oportunidade para os indivíduos participarem ativamente na representação de suas próprias narrativas. Trata-se de capacitar a comunidade para se apropriar da sua história visual, garantindo que as suas experiências não são apenas vistas, mas também compreendidas e celebradas. 

“Pretos do Sado” de Isabel Castro Henriques funciona como obra catalisadora para esta exploração da memória colectiva e do património, constituindo um roteiro para o navegar pelas complexidades da identidade e da preservação cultural. Em pano de fundo, a artista assume um compromisso: promover a compreensão, a empatia e um apreço renovado pelas diversas narrativas que contribuem para o mosaico cultural da comunidade afro-portuguesa.

28.06.2024 | por martalanca | alice marcelino