_É chegada a minha hora,
balbuciou a velha, que se encontrava havia mais de três meses no seu leito, diga-se mais morta do que viva, com forças apenas para aquelas palavras, como se as tivesse poupado para, desse modo, dar por anunciado o fim da mulher mais beata que o mundo alguma vez conhecera, estranha pronúncia foi aquela, a penúltima, uma cabala de uma morte evidente, porque a última da morte ninguém sabe, mas todos sabiam que era sem dúvida o adeus esperado da mais abnegada pessoa que a igreja e a sociedade alguma vez baptizaram naquelas ilhas abandonadas...
Mukanda
17.09.2010 | por Mário Lúcio Sousa
Celebrar o centenário de Lubumbashi leva, por isso, a lembrar meio século de expansão colonial e industrial que andou de mãos dadas com uma forte segregação cujas marcas se encontram no urbanismo (vejam-se os trabalhos de Johan Lagae) e nas convulsões sociais que surgiram imediatamente após a segunda guerra mundial. Mas os últimos cinquenta anos marcam igualmente a “nacionalização”, depois das independências, da cidade pelos congoleses.
Vou lá visitar
15.09.2010 | por association PICHA
Argumentos que são resíduos da história recente do continente ditada e escrita pelo Ocidente. Esquecem-se que a população deste continente foi pioneira na história da humanidade em conceber estruturas sociais, económicas e políticas que possam garantir o máximo em termos de sobrevivência humana no contexto de uma natureza material e humana adversa. Estruturas estas ainda prevalentes e que fizeram com que África sobrevivesse à catástrofe do tráfico atlântico de escravos e à ocupação colonial.
A ler
14.09.2010 | por Aida Gomes
Posso talvez dizer que esta viagem aumentou a nossa percepção dos aspectos incontroláveis da natureza (o vulcão islandês serviu agora de aviso aos distraídos) e desvendou-nos a existência de populações que sabem conciliar uma organização social complexa e uma apropriação simples de recursos naturais, que só pode ser resultado de seu profundo conhecimento do território.
Ruy Duarte de Carvalho
11.09.2010 | por Cristina Salvador
Para falar de África é sempre preciso, primeiro, explicar África, o que é uma pena e muito redutor. Quando queremos falar de África, tratar determinados assuntos, temos que lidar sempre com a terrível culpa de não estar a fazer justiça a nada porque estamos a falar de uma coisa que não é verdadeiramente África mas aquilo que nós conseguimos perceber de África, que é muito pouco. A única maneira de lidar com isso é sacudir essa culpa e pensar que se falarmos de sentimentos e emoções universais, as nossas hipóteses de sermos injustos são mais reduzidas...
Afroscreen
10.09.2010 | por Margarida Cardoso
Se, aparentemente, o discurso da mulher do capitão, Helena, alcunhada de Helena de Tróia pela sua beleza, parece não ser mais do que a expressão do pensamento cruelmente racista do marido, a sua submissão não é total. E é nesse jogo de aparente adesão ideológica àquela guerra que Helena vai revelando os atropelos que os militares cometem e a cumplicidade do tenente Luís, marido de Evita, nos massacres da população autóctone.
Afroscreen
10.09.2010 | por Mariana Brito
A realidade dos portugueses que povoaram e viveram em Moçambique, no período anterior e posterior ao 25 de Abril e a representação é a informação que se guardou, que pertence ao passado, e se reconhece fundida com uma reflexão sobre esse passado, em que nos são transmitidas informações que se foram acrescentando em momentos posteriores, constituindo deste modo um filme visual e mental, feito de registos múltiplos, do que se sabe e do que se pensa que sabe.
Afroscreen
10.09.2010 | por Cristina de O Alves
Luanda 2005. Chegam alguns predadores possuídos pelos aminoácidos das oportunidades. É o início de uma série de projectos e negócios, desenha-se as regras com que o capitalismo selvagem se entranhará sem dó nem piedade. Paz consolidada, vontade e dinamismo, espírito de reconstrução.
Cidade
09.09.2010 | por Marta Lança
Neste seu trabalho, onde se alicerça todo um programa de prática e pesquisa, Rouch alia o lado brutal de uma arte em busca de empatia com as técnicas do gesto, à vocação de construir, acabar e inacabar – a montagem e a sonorização constituem aqui um verdadeiro tratado de acabamento.
Afroscreen
09.09.2010 | por Regina Guimarães
O seu ofício vem da experiência, de observar muito, mas é como se já lá estivesse antes. Para além disso, por repetidas vezes, Mwamby reivindica o sentido cultural para esta arte da costura, como um gesto quotidiano que remonta às origens da Humanidade: “A ideia divina ‘Adão coseu folhas e Deus coseu peles’. Costurar também é culturar. Em todas as famílias e sociedades nos deparamos com indivíduos com este forte elemento cultural, é como aprender a fazer pão caseiro.”
Cara a cara
08.09.2010 | por Marta Lança
De literatura emergente e de combate, a literatura angolana de ficção é hoje uma literatura com uma pujança e uma modernidade que a edição, a crítica, os estudos universitários e a fortuna de leitores têm vindo a solidificar e a confirmar. Jovem, é certo, se comparada com outras – mas literatura com estórias para contar. Estórias vivas – e muitas! –, cheias de gente dentro – com seus dramas, suas alegrias, seus casos e magias, seu(s) humor(es).
A ler
06.09.2010 | por Zetho Cunha Gonçalves
Que verdade pretende o texto de Pepetela ao desnudar questões fundamentais relacionadas ao projeto de reconstrução da nacionalidade? Que verdade lê seu leitor? Fazemos aqui um parênteses para destacar um outro núcleo de que se compõe, ainda, a novela O Cão e os Caluandas, uma narrativa em paralelo à história levantada pelo autor-personagem: o diário de uma menina, dona e amiga do cão pastor-alemão. Esse diário descreve uma buganvília crescendo sem parar e sufocando tanto quanto a nova ordem e os valores que se instalam entre os caluandas no período pós-independência.
A ler
05.09.2010 | por Edna Bueno
Felizmente, a literatura caboverdiana logrou superar, e com inegável sucesso, as reais e supostas crises de identidade que marcaram o processo da sua emergência, da sua autonomização e da sua consolidação como sistema literário, aliás concomitantes com a constituição histórica do povo que lhe vem servindo de esteio e com o processo, ainda em curso, se bem que acelerado, da sua plena consolidação como nação crioula soberana, sendo notáveis a pluralidade de estéticas e de estilos que caracterizam a nossa contemporaneidade literária e o pleno e descomplexado exercício da liberdade de criação que esse estado plural das coisas estéticas vem propiciando ao labor dos escritores caboverdianos.
A ler
04.09.2010 | por José Luís Hopffer Almada
Tratando-se de dois objectos cinematográficos impressionantes e construídos sobre pressupostos ideológicos comuns, 'África 50' de René Vautier é um filme militante sobre a necessária libertação, enquanto que 'Notas para uma Oresteia africana' de Pier Paolo Pasolini, é um ensaio político sobre a invenção da liberdade. São dois filmes que nascem de questões sócio-culturais afins, mas representam movimentos de natureza intelectual e de exigência estética distintos.
Afroscreen
04.09.2010 | por João Sousa Cardoso
O projecto é de S. Francisco. Yego Moravia e Emeka Alams vêem na herança cultural e ascendência africanas matéria substancial para reforçar o movimento “black and proud”. Desta aposta nasceu a "21st Century Maroon Colony: roupa com raça".
A ler
03.09.2010 | por Carla Isidoro
Agora mais crescidos, com mais truques de produção musical, continuam a questionar a sua Angola. A ela vão buscar a inspiração: o calão mangolé que eles, como tão bem sabem, usam para a rima, os absurdos da sociedade consumista, como a ostentação dos novos ricos (riqueza do berço ou o poder da fortuna?), novas imigrações e velhas emigrações, o tempo do socialismo recheado de histórias de professores cubanos, lendas do caixão vazio, namoradinhas do conjunto e traquinices dos candengues. O sangue dos N’gola Ritmos ainda corre nas veias dos rappers e o disco é um documento de uma certa juventude angolana.
Palcos
02.09.2010 | por Marta Lança
Um Seun Kuti cheio de atitude e o ritmo forte e contagiante da banda “Egypt 80” (o conjunto dos anos 80 do seu pai, grande Fela) mostraram o que é animação. Seun herdou o jeito leopardo de se mover e a expressividade de Fela. E o Afrobeat é aquela mistura bombástica: jazz com rock psicadélico, música yorubá com funk, percussão africana e vários estilos vocais, uma batida energética com movimentos repetitivos, letras num acentuado pidgin inglês. Tudo isso encheu o público carioca de boas vibrações!
Vou lá visitar
02.09.2010 | por Marta Lança
O escândalo da arte africana não estar, à época, representada no Museu do Louvre (onde as grandes tradições artísticas não-ocidentais foram incluídas), mas no Museu do Homem, resulta num documentário que, mais do que sobre a “arte negra”, reflecte sobre a museologização dos objectos extraídos a uma cultura onde não há museus e, por consequência, sobre as relações de poder – económico, político e simbólico – entre a cultura europeia e as culturas africanas, sob a organização colonial.
Afroscreen
01.09.2010 | por João Sousa Cardoso
Estas identificáveis manifestações de identidade são traduzidas através do poder das autoridades endógenas, cujas Ekula ndombe e Akokoto ovimbundu constituem os potenciais instrumentos de suporte ideológico dos quais pretendemos abordar, por se achar que um conhecimento mais aturado de estruturas, sistemas, funcionamento e influências das instituições do poder político endógeno, permite desenvolver uma análise mais realista.
Vou lá visitar
01.09.2010 | por Armindo Jaime Gomes
O texto consiste em uma análise de "O outro pé da sereia", de Mia Couto, focalizando o diálogo entre a história e a ficção, no intuito de mostrar o tratamento dado pelo autor às principais questões do mundo contemporâneo: a identidade, o sentido de pertencimento, o pós-colonialismo e o choque entre culturas. Ao fazê-lo, Mia busca desconstruir os arquétipos acerca da África e seus povos.
A ler
31.08.2010 | por Shirley de Souza Gomes Carreira