IV Encontro de Cultura Visual - Reparações

IV Encontro de Cultura Visual - Reparações O IV Encontro de Cultura Visual: Reparações, organizado por Ana Cristina Pereira (aka Kitty Furtado) e Inês Beleza Barreiros, coordenadoras do Grupo de Cultura Visual da SOPCOM – Associação Portuguesa para as Ciências da Comunicação, terá lugar nos dias 23 e 24 de Junho, na mala voadora, no Porto. Este encontro, que terá uma conferência inaugural da politóloga, historiadora e ativista Françoise Vergès, “Imaginando um pós-museu”, juntará investigadores, artistas e ativistas para juntes pensarem o projeto de reparação do mundo estilhaçado em que vivemos como um programa de “contravisualidade”.

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19.06.2023 | por várias

48 horas, algures nos últimos quinze anos …

48 horas, algures nos últimos quinze anos … Onde tudo definhava já, o amarelo seco tornou-se num verde triunfante. As chuvas fustigam os milheirais em Nguer Malal, enquanto um chauffeur zeloso evita as crateras da estrada mal cuidada. Fico impaciente nos bancos de trás. Louga, terre des modou modou. Aviso: não me digas o que pensar! Ainda menos com o sufoco do ar húmido e quente. No Cavaleiro e a Sombra de Boris Diop, Khadija, a mulher corajosa, desaparecida há oito anos, manda missiva a Lat Sukabé. Lat tem pinta de otário excessivamente romântico e deixa tudo porque a morta afinal não está morta. Kebemer, a terra de Wade. Ngaye, a terra de todas as sandálias.

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19.06.2023 | por Ricardo Falcão

Direitos Humanos - Pré-publicação

Direitos Humanos - Pré-publicação A prática da desobediência não violenta no Sul da Ásia não trouxe resultados imediatos, mas a participação de tropas coloniais na Segunda Guerra Mundial e a onda de emancipação dos povos coloniais que se seguiu tornaram a posição britânica insustentável. A utilização da mesma estratégia da desobediência civil não violenta advogada por Martin Luther King nos Estados Unidos na luta pelos direitos civis da população afro-americana acabou igualmente por dar os seus frutos na década de 1960, face ao agravamento da Guerra Fria e ao incontornável argumento de os líderes do chamado mundo livre oprimirem a sua própria população. Esta estratégia tinha dois pressupostos: a firmeza da ação coletiva de desobediência e a sensibilidade de parte da maioria opressora ou do poder colonial. Tratava-se de envergonhar a parte dominante com um comportamento que não podia ser acusado de violento e que expunha as contradições do sistema de valores dos próprios opressores. Nos dois casos aqui mencionados, tanto a população norte-americana como o poder britânico tinham saído de uma guerra contra o imperialismo nazifascista, virando-se em seguida contra a emergência de regimes comunistas. Os valores de democracia e tolerância da suposta sociedade livre eram incompatíveis com a perpetuação de racismo e colonialismo, ou seja, com a opressão e a gestão de sociedades contra a vontade indígena. O próprio conceito de sociedade colonial governada por colonizadores alheios às populações locais tornara-se obsoleto.

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17.06.2023 | por Francisco Bethencourt

A luta anti-racista e o feminismo são luta de classes

A luta anti-racista e o feminismo são luta de classes Não há uma folha num caderno de notas, como diz também Stuart Hall, a dar-nos as respostas ao que fazer. Ramos de Almeida de alguma forma também o diz ao citar Marx quando este escreve que uma coisa é uma ferramenta para analisar e compreender o mundo, outra são as condições concretas ou conjunturais em que ele se nos apresenta. Proponho que se olhe atentamente então para os rios que correm (o movimento LGBTQIA+, o movimento antirracista, o movimento feminista, os movimentos pelo clima, os movimentos de indígenas que impedem a construção de um oleoduto). Eles já materializam a luta. Não se trata, portanto, de olhar para além destas agendas, trata-se de olhar com e através delas.

Mukanda

17.06.2023 | por Josina Almeida

Priceless: recuerdos do presente: o museu é Portugal

Priceless: recuerdos do presente: o museu é Portugal Estas imagens mimetizam a "negrita" da marca, à excepção de que Gisela e ROD nos olham de frente e não se mostram de perfil. Tornam-se, de repente, um objeto para os/as brancos/as observarem (Kilomba), mas agora causam desconforto, da mesma forma que ser servida uma chávena de café desta marca por uma mulher negra me causa mal estar. Numa loja de recuerdos de um museu fictício, onde nenhum dos objetos pode ser comprado, Gisela Casimiro e ROD nomeiam o seu trabalho Priceless, trocando a língua colonial pela língua imperial, a língua em que se faz comércio global e se tomam decisões políticas. Ambos se apropriam desta língua para dizerem, em última análise: "é assim que nos representam e não é esta a representação que queremos”.

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15.06.2023 | por Laura Falésia

Zezé Gamboa homenageado em Dakhla

Zezé Gamboa homenageado em Dakhla O cinema angolano e o realizador Zezé Gamboa foram homenageados no Festival Internacional de Cinema de Dakhla, que decorreu de 2 a 8 de junhom na cidade marroquina. Zézé Gamboa foi reconhecido na cerimónia do Festival pela “força visionária por detrás da câmara, um talento criativo que transcende fronteiras e remodela paisagens cinematográficas. Com as suas narrativas inspiradoras e filmes visualmente impressionantes, teve um impacto significativo sobre o mundo do cinema, nomeadamente no domínio do cinema africano”.

Afroscreen

14.06.2023 | por vários

E o céu mudou de cor - excerto

E o céu mudou de cor - excerto Eu tinha medo de que o Mateus descobrisse que eu andava a mexer nas coisas dele. Mas, mesmo assim, não recusei o desafio. Despedimo-nos e fomos cada um para o seu caminho. A caminho de casa, dei por mim, mais do que uma vez, a pensar naquela ligação que o Marley tinha feito. Estava dividido. Parte de mim estava desmoralizada com a ideia de que o castelo do texto “As Belezas da Cidade-Baixa” podia não ser aquilo que eu imaginava. E a outra parte preferia acreditar que o castelo descrito na carta não era o mesmo castelo da Cidade-Baixa. Esta última, defendia que não se tratava de nada mais do que a fértil e sempre conspiradora imaginação do meu primo a armar mais uma das suas. Já na minha rua, curvei-me para amarrar os atadores e deparei-me com o Didi. Ergui a cabeça. Cheirava a cigarro, cerveja e não dizia coisa com coisa. – Tens aí cem kwanza? – chutou, enquanto andava num passo descoordenado.

Mukanda

09.06.2023 | por Israel Campos

Sem assumir a responsabilidade por atos concretos de abusos cometidos, não há autocrítica

Sem assumir a responsabilidade por atos concretos de abusos cometidos, não há autocrítica É difícil aceitar como desculpa a ignorância ou a falta de noção, depois de tanto livro escrito; tanta palestra, tanta aula, tanta oficina, tanto fórum sobre o heteropatriarcado. O texto acaba por provar como Boaventura vem aprendendo seletivamente, e de acordo com seus interesses, as lições das lutas sociais feministas e por direitos humanos. Não aprendeu, por exemplo, o que significa responsabilização. Uma autocrítica vazia de responsabilização é apenas mais um passo de quem tem poder para controlar a narrativa.

Mukanda

08.06.2023 | por várias

O si-mesmo como sujeito imperial Literatura colonial dos anos 1920: o caso de Moçambique - INTRODUÇÃO

O si-mesmo como sujeito imperial Literatura colonial dos anos 1920: o caso de Moçambique - INTRODUÇÃO Os textos em estudo mostram como as noções de «luta de raças» e de seleção das comunidades mais aptas contribuem para a elaboração de uma «estratégia da crueldade» e para o desencadear de fluxos de morte de grande intensidade. O duplo processo de desterritorialização das populações pelas conquistas e da sua reterritorialização com a transformação social do espaço pelo capitalismo colonial tem lugar num contexto político totalitário. A instauração da ditadura racial e a generalização do terror geram a redução dos colonizados a uma condição de servidão económica e sexual. O desejo colonial permite também a emergência de formas de hibridismo social ou cultural e o questionamento da autoridade discursiva, imediatamente contrariados pelo desenvolvimento de uma política de domesticidade colonial.

Mukanda

29.05.2023 | por João Manuel Neves

Nereida Carvalho Delgado prepara um solo sobre abuso sexual de crianças em Cabo Verde

Nereida Carvalho Delgado prepara um solo sobre abuso sexual de crianças em Cabo Verde   Nereida Carvalho Delgado conta-nos um pouco do seu percurso no teatro que começa em 2004 com a companhia Fladu Fla, na Praia, sua terra natal. Muda-se para São Vicente, onde vai estudar Biologia Marinha e onde fica por nove anos, dando continuidade a formações de teatro numa associação italiana, na comunidade onde vivia, Ribeira de Craquinha. Está em Loulé, no contexto do Festival Tanto Mar, a fazer uma residência artística sobre um tema muito difícil mas com a urgência total em ser falado: a violência e abuso de crianças e adolescentes que, em Cabo Verde, dá-se muitas vezes no seio da família.

Cara a cara

27.05.2023 | por Marta Lança

Mediar os imaginários, promover trocas de saberes e práticas, a Mediateca Abotcha inaugura em Malafo

Mediar os imaginários, promover trocas de saberes e práticas, a Mediateca Abotcha inaugura em Malafo Contrariando a ideia do que vem de fora, dos negócios offshore, defendem uma Mediateca Onshore, na terra, e Abotcha, no sentido de “ir para o chão”, valorizar a humildade e a perseverança. Trata-se de uma rede de conhecimento a nível local, entre Sul-Sul e o mundo através das artes performativas, dos meios digitais, da arte, da agro-ecologia, dos saberes tradicionais. Uma Mediateca que se inscreve numa ideia de justiça social, económica e ambiental. Tudo isto envolto na paz e hospitalidade da tabanca de Malafo, maioritariamente balanta, uma das cerca de vinte etnias do país, conhecida precisamente por sua hospitalidade e mestria no domínio do arroz e das construções.

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22.05.2023 | por Marta Lança

Exumações das muitas nomeações da dignidade e das muitas execrações da infâmia

Exumações das muitas nomeações da dignidade e das muitas execrações da infâmia Entretecidos /com o afirmativo com o pró-activo black power das celebrizadas estrelas afro-americanas do gospel dos negro spirituals do hambone do jazz do pattin'juba do rythm and blues do funk da soul music do disco do ragtime do rock‘n roll do tape dance do moon walk das suas vozes roucas dos seus timbres estridentes da sua trovejante pujança da sua psicadélica incandescência

Mukanda

21.05.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Antes do Fim

Antes do Fim A repetição também dos dias e a eficiência turístico-económica até tinha feito desaparecer os contadores de estórias e os dactilógrafos desses mercados. Já não eram necessários. Agora servia-se café em cápsulas e chá em saquetas industriais. O progresso tinha chegado até ali e os turistas sentiam-se bem com isso, mais perto de casa. Sem paciência para negociar, cansados do jogo do gato e do rato, do comprador e do vendedor, dessa táctica que molda a cultura de um país, a esses turistas vendia-lhes o pior, mas sempre com a cordialidade mentirosa, conveniente para perpetuar o mito da simpatia marroquina. Uma batalha em forma de diálogo: especulação, silêncios, (des)confiança. Os turistas até achavam pitoresca toda aquela forma arcaica de funcionar de uma economia artesanal com gestos largos e encenados.

Mukanda

17.05.2023 | por Francisco Mouta Rúbio

Chiziane, Lisboa e Conversas!

Chiziane, Lisboa e Conversas! Terminada a pausa, regresso aos meus pais e à sua relação com a língua. Foi-lhes ensinado que não era civilizado falar em umbundo: “uma pessoa que estudou ou que é civilizada não pode mais falar essas nossas línguas, é preciso falar o português”, era essa a frase que o meu pai repetia quando me contava sobre as proibições do seu tempo. Tal como o meu pai e a minha mãe, os meus tios e tias, os seus amigos, e toda a sua geração nascida e criada antes das Independências, foram nalgum momento excluídos, humilhados e segregados quando não falavam o português do modo como lhes diziam que deveriam. Meu pai conta vários episódios de humilhação por causa disso. O que sucedeu na vida dessas pessoas após a Independência é que as feridas não foram saradas, os estragos causados pelo colonialismo não foram solucionados no 11 de novembro, e nós ainda temos conversas por ter e feridas por sarar.

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14.05.2023 | por Leopoldina Fekayamãle

A minha bandeira

A minha bandeira É com este espírito que continuarei a minha caminhada, agora enquanto emigrante de dupla condição: o que regressa mas sobretudo o que parte em busca de uma vida melhor. O que parte também no ensejo de um dia voltar. Se ca bado ca ta birado, como profetiza Eugénio Tavares no seu poema-canção, que hoje evoco, nesta hora di bai. E nada é mais crioulo do que isso.

Mukanda

05.05.2023 | por João Branco

Amo o português quando o Ronaldo tem a bola

Amo o português quando o Ronaldo tem a bola O Ronaldo joga como os poetas falam e escrevem, sem gravatas, sem dizeres, nem lances oficiais, os outros jogam com mecânica como se escrevessem documentos oficiais.

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05.05.2023 | por Fernando Carlos

Kuiam bastante!

Kuiam bastante! Cabo Verde e Guiné-Bissau já nem entram na categoria de rebeldes, são mesmo BANDIDOS! Esqueceram tudo e se entregaram de corpo e alma no kriolo! Conheci um assimilado que um dia me perguntou: mas kriolo não é português mal falado? Ai nha mãe!forti gana dal dôs bafatada… só pá dôdo… Não, kriolo não é português mal falado, kriolo é resistência, reinvenção, subversão e resiliência. Kriolo é a prova de que os antepassados estavam muito a frente mentalmente, apesar de todas as vozes que dizem o contrário.

Mukanda

02.05.2023 | por Aoaní d'Alva

Cholitas Escaladoras, o cume é para todos

Cholitas Escaladoras, o cume é para todos Um grupo de mulheres indígenas bolivianas, as cholitas, desafia, há oito anos, as montanhas geladas do país. A persistente escalada entre pedras e glaciares levou-as já aos picos mais altos da América. A conquista das alturas converteu as “Cholitas Escaladoras” num símbolo potente de resistência cultural, de luta contra a discriminação e de denúncia da violência que as segrega e mata.

Jogos Sem Fronteiras

30.04.2023 | por Pedro Cardoso

Manifestamo-nos por mundos despatriarcais e deshierárquizantes

Manifestamo-nos por mundos despatriarcais e deshierárquizantes A Academia (com A maiúscula e no singular) é para nós um campo de disputa e aí estamos, sem dúvida, posicionadas(os) todos e todas nós que ousamos entrar nele, dialogar com ele, desafiá-lo, habitá-lo e/ou co-construí-lo a partir da prática cotidiana. Muitas(os) de nós ocupamos este espaço por decisão e convicção e sabemos minuto a minuto o que estamos enfrentando. É por isso que o manifesto “Todos sabemos” nos ressoa e interpela quando afirma que o extrativismo epistêmico é estrutural e não apenas um evento isolado na academia. Quando afirma que a Academia é hierárquica e hierarquizadora e que promove a acumulação de poder por aqueles que estão no topo. Muitos deles, nos últimos tempos, têm sido acusados de abuso e assédio moral e sexual.

Mukanda

28.04.2023 | por várias

Djam Neguim artista cabo-verdiano: “Só é possível um futuro em que todes existam de todas as formas”

Djam Neguim artista cabo-verdiano: “Só é possível um futuro em que todes existam de todas as formas” Náná é o sufixo de Funaná, uma dança e música com origens na ilha de Santiago, música forjada, sobretudo por homens no mundo rural onde as mulheres têm um lugar passivo. A proposta de Djam Neguim consiste numa distorção destas "normatizações" da cultura cabo-verdiana, ainda muito rígida. “Com o meu trabalho tento romper com estas representações folclóricas e turísticas”, refere na nossa conversa que aconteceu pelas plataformas digitais.

Cara a cara

28.04.2023 | por André Castro Soares