Meu Padinho Padre Cícero - Em cada casa um oratório, em cada quintal uma oficina
Espaço Memória do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas
Campo de São Cristóvão s/nº. Pavilhão de São Cristóvão - São Cristóvão. RJ.
Abertura: dia 17 de junho - 11h30 – Missa in memoriam.
12h – Abertura da Mostra.
Visitação pública: de 19 de junho a 19 de agosto
Funcionamento: terça, quarta e quinta-feira, das 10h às 18h. Sexta, sábado e domingo, das 10h às 22h.
Classificação: livre.
Entrada franca.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Cultura, a RIOTUR, o Centro de Tradições Nordestinas apresentam a exposição “Meu Padinho Padre Cícero - Em cada casa um oratório, em cada quintal uma oficina”, no Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, a partir do dia 17 de junho, às 11h30. Nesse horário haverá uma missa in memoriam. A abertura da exposição começará ao meio-dia.
Com a curadoria de Emanoel Araújo, diretor-curador também do Museu Afro Brasil de São Paulo, a exposição, de caráter evocativo, retrata sobre a lendária figura de Padre Cícero em Juazeiro do Norte. A exposição apresenta ao público a saga de superação do povo nordestino e da liderança desse personagem religioso e também político. A devoção do povo, as estratégias criadas por Padre Cícero e os milagres integram a narrativa cultural da mostra.
A mostra, que será distribuída nos dois andares do “Espaço Memória”, faz uma narrativa da presença lendária do líder religioso e político do Ceará, reforçada no imaginário brasileiro por representações de artistas populares. A devoção popular ao Padre Cícero Romão Batista (1844-1934) é retratada em obras, ex-votos, objetos históricos, artísticos e visuais de Padre Cícero, sob a inventividade e ótica do sertanejo. Além dos objetos dos artistas e dos pertences do Padinho Padre Cícero, o visitante pode conferir ainda uma perspectiva histórica do líder regional, com relatos de contemporâneos através da exibição do documentário mostrando os feitos do Padre Cícero em Juazeiro do Norte e a grande comoção ao redor do seu nome. Nos primórdios da romaria a Juazeiro do Norte, aconteceu o milagre presenciado pela beata negra Maria de Araújo: ao receber a hóstia consagrada do Padre Cícero, esta se transformou em sangue.
O “Espaço Memória”, localizado no Pavilhão São Cristóvão, local considerado o mais importante pólo cultural nordestino na cidade, não poderia ser mais adequado para apresentar uma das sagas mais célebres do povo do Nordeste.
Entre os artistas expostos, encontram-se os escultores Nino e Manuel Graciano Cardoso, a ceramista Ciça (a qual, nos anos 60, esculpiu figuras de santos e cenas regionais como festas populares), o xilogravurista Francisco de Almeida e as Irmãs Cândido (autoras de peças inspiradas em personagens de TV, figuras de livros e revistas).
Folhetos de cordel, oratórios e esculturas complementam esse painel artístico, além da projeção de um documentário sobre a comoção em torno da memória do “Padinho”.
Ex-votos
Conhecidos popularmente como “milagres” os ex-votos (do latim: “por voto”, “por promessa”) são objetos variados (pinturas, objetos em cera, placas com inscrições, figuras esculpidas em madeira ou outros materiais) que representam a intenção votiva (promessa) e sua posterior cura. Eles são a própria materialização dessa cura. Ao expormos essa grande quantidade de peças, chamamos a atenção dos visitantes quanto à variedade, singularidade e poder de síntese, além da qualidade estética nas peças de uso prático, demarcando a presença do milagre.
Padre Cícero no imaginário dos artistas populares
(gravura, pintura, escultura)
Nino (Juazeiro do Norte/CE, 1920-2002)
Escultor. Trabalhou como cortador de cana e como ferreiro e não recebeu educação artística formal antes de iniciar suas atividades como escultor com a produção de brinquedos em lata e madeira, tais como veículos em miniatura. Passou depois à produção de figuras de macacos com partes móveis e caudas de corda, que ele chamava de “dezessete” (número do macaco no jogo do bicho). Por volta de 1980, após se filiar a uma cooperativa de artistas, o que garantiu demanda mais constante e diversificada, passou a aumentar as dimensões de suas esculturas, algumas das quais ultrapassaram um metro de altura.
Ciça ou Cícera Lira (Cícera Fonseca da Silva) (1935, Juazeiro do Norce/CE)
Foi por incentivo de um tio que a fez ingressar na arte da cerâmica já aos 10 anos de idade produzindo pequenas pecinhas que eram vendidas em algumas feiras, dentre as quais a feira de Juazeiro do Norte. Durante os anos 60, esculpiu figuras de santos e cenas regionais como festas populares e aspectos da cultura cearense. A pedido de um folião, no carnaval de 1972, Ciça confecciona as máscaras pelas quais ela passou a ser reconhecida como uma das grandes artistas populares do Brasil.
Francisco de Almeida (Crateús/CE 1962)
Xilogravurista. Começou a desenhar cedo observado o pai, que era ourives. Mudou-se para Fortaleza aos 15 anos, onde estudou Xilogravura com Sebastião de Paula e frequentou cursos de pintura na Universidade Federal do Ceará e na Universidade de Fortaleza. Participou de exposições em Fortaleza, Sobral, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Argentina e Espanha, com destaque para sua participação no Panorama da Arte Brasileira do MAM (São Paulo, 2005), na Bienal de Valência (2007) e na VII Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2009). Especializou-se em xilogravura e realizou experimentos técnicos para a produção de obras de grandes dimensões e xilogravuras fragmentadas, capazes de produzir variações com a mesma matriz. Sua produção se debruça principalmente sobre a religiosidade nordestina.
Manuel Graciano Cardoso (Santana do Cariri/CE, 1923)
Partiu com a família para Juazeiro do Norte (CE) em 1929. Já aos dez anos trabalhava na madeira esculpindo pilões, gamelas e brinquedos. Depois de casado, começou a produzir ex-votos e presépios e trabalhou na agricultura. Foi o xilógrafo cordelista Abraão Bezerra Batista que o revelou ao público mais amplo, mas isso não o impediu de continuar trabalhando como agricultor familiar. Possui obras no acervo do Museu de Folclore Edison Carneiro (RJ). Participou das exposições Brésil, Arts Populaires (Paris, 1987) e Mostra do Redescobrimento (São Paulo, 2000). Sua escultura, em madeira policromada, é composta de conjuntos de personagens humanos permutáveis e de composições em monobloco de madeira, nas quais prefere figuras animais. O artista prepara suas tintas a partir da anilina misturada a breu e álcool, aplicando as cores à imburana de cambão ou aroeira, madeiras que emprega. Para Lélia Coelho Frota, “tem um veio de humor que pode crescer até o mais flamejante expressionismo em muitos dos seus trabalhos.”
As Irmãs Cândido - Juazeiro do Norte (CE)
Maria de Lurdes Cândida (mãe) 1939
Tendo tido onze filhos, transmitiu às filhas mulheres o ofício local “feminino” de trabalhar no barro. Filhos homens como José Cícero Fonseca da Silva, o “Zé Ciço” também seguem a tradição familiar. A pedido do xilógrafo Stênio Diniz, Dona Maria de Lurdes variou o tema de sua produção artesanal de boizinhos, panelinhas, bonecos humanos para placas de tabatinga policromada, com cenas do cotidiano da praça da cidade, temas religiosos católicos ou do candomblé em alto-relevo.
Maria Cândida Monteiro 1961 - Juazeiro do Norte (CE) e Maria do Socorro Cândido 1971 - Juazeiro do Norte (CE)
As Irmãs Cândido assinam seu nome pelas iniciais MCM e MSC para distinguirem-se entre si. Além da temática tradicional desenvolvida pela mãe, elas também produzem peças cuja inspiração se apropria de personagens de TV, figuras de livros e revistas, etc.
“A exposição dedicada ao Padre Cícero remete a quem visita o seu santuário na cidade cearense de Juazeiro do Norte. A mística que envolve a cidade, as pessoas, as igrejas e o próprio santuário faz deste universo um espaço do sagrado. Essa atmosfera de pura religiosidade vem atraindo romeiros pelos milagres do santo padre, essa grande figura que persiste por mais de 150 anos na idolatria de muitos nordestinos, atraídos ainda pela hóstia transformada em sangue da beata Maria de Araújo e do caldeirão do beato José Lourenço (1872-1946), destruído em 1937 por um bombardeio aéreo”, afirma o diretor-curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo.
Para Araújo, “esta é a luta entre a religiosidade e os domínios dos latifundiários que, de certa maneira, sempre tiveram conflitos nessa região sagrada. Padre Cícero Romão Batista foi como todos sabem um homem, um padre, um político, amigo de muita gente, inclusive de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Essa exposição, portanto, revive um dos mais interessantes episódios da vida cearense de Juazeiro do Norte”.