Quero um dia em que não se espere nada de mim
Appleton De 31 de março a 29 de abril, 2023 I Inauguração: 19h
Exposição integrada no programa Atlas da Solidão
Horário de abertura: terça a sábado, das 14H00 às 19H00
Encerra aos feriados e no dia 6 de abril, 2023
As coisas erradas são mantidas em segredo na sociedade e isso destrói-nos.
Nan Goldin
Inaugura no próximo dia 31 de março, pelas 19H00, na Appleton, em Lisboa, a exposição coletiva Quero um dia em que não se espere nada de mim. Integrada no programa Atlas da Solidão, reúne trabalhos de Bert Timmermans, Horácio Frutuoso, Isabel Cordovil, Joana Ramalho, José Carlos Teixeira, Luís Barbosa, Mag Rodrigues e Pedro Lagoa que procuram refletir sobre espaços e corpos solitários, configurando o tema da solidão como um estado pessoal, social, económico e político.
As implicações sociais e morais de se viver solitariamente foram vigorosamente debatidas no início da Europa moderna. Os benefícios de uma vivência solitária eram exaltados no contexto do estudo académico e em torno da prática devocional cristã, mas eram também entendidos como uma obrigação moral que encerrava uma autoridade. Os teólogos advertiam que o tempo longe da família e da comunidade poderia levar a episódios depressivos ou deixar-nos vulneráveis à tentação e a solidão estava escrupulosamente regulada por normas culturais e sociais: era aconselhada ou permitida. As representações de figuras solitariamente empenhadas em estudos, orações ou canções, representadas em obras de Rembrandt van Rijn, Jacob van Campen, Heyman Dullaert ou Cornelis Bisschop, proporcionaram oportunidades para uma exploração artística da interioridade humana e ajudaram a inspirar ideais de devoção e erudição. Por outro lado, essas imagens ajudaram também a definir conceções de género e de classe baseadas em distinções e privilégios que ainda hoje se sentem.
Cada um de nós pensa na solidão de uma forma única. Formamos as nossas opiniões sobre o assunto através de experiências diferentes, mas quão diferentes são as nossas experiências de solidão? Em que espaços e em que tempos, cada um de nós se sente sozinho? Como é que os nossos papéis sociais, laborais e familiares influenciam a nossa experiência da solidão? O que significa um momento de solidão para aquele que raramente a encontra e o que fazemos com esses momentos quando eles se proporcionam? Como é que imaginamos a solidão dos outros? Embora internamente a experiência possa ser muito diferente, há também a ideia, de resto muito contemporânea, de uma solidão partilhada. Existe algum tipo de ligação entre pessoas que se sentem sozinhas? Estas são diferenças que parecem ter sido ampliadas ao longo da pandemia, mas o que é a solidão historicamente? Quero um dia em que não se espere nada de mim pretende pensar o duplo potencial da solidão como força perturbadora e lugar de privilégio histórico. Compreendendo a solidão como um estado pessoal, social, económico e político, olhamos para as nossas humanidades complexas que os sistemas algorítmicos e neoliberalistas estão a alienar.