Após um ano de leitura coletiva de A queda do céu, livro de Bruce Albert e Davi Kopenawa, a Rede Internacional de grupos de pesquisa “Cosmoestéticas do Sul” convida ao Colóquio Internacional Sonho, mercadoria, mundo: três hipóteses para pensar A queda do céu, a decorrer nos dias 8 e 9 de novembro de 2021.
Mesa 1 - 14h às 16h Difrações preliminares sobre os desenhos em A queda do céu Luís Hirano
Mesa 2 - 16h às 18h Hipóteses para pensar A queda do céu: imagem Carla Damião, Gabriela Milone, Guadalupe Lucero Noelia Billi, Paula Fleisner, Pedro Hussak e Salomé Coelho
9 de novembro
Mesa 3 - 13h às 15h Entrevista com Mariana Lacerda sobre o seu filme Gyuri
Mesa 4 - 15h às 17h Hipóteses para pensar A queda do céu: diplomacia Carla Damião, Gabriela Milone, Guadalupe Lucero Noelia Billi, Paula Fleisner, Pedro Hussak e Salomé Coelho
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Evento de cooperação científica Brasil-Argentina
Universidad de Buenos Aires Universidad Nacional de Córdoba Universidad Nacional de las Artes CONICET Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Universidade Federal de Goiás
Sediados no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o projeto MEMOIRS – Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação e o projeto MAPS – Pós-memórias Europeias: uma cartografia pós-colonial, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, coordenados por Margarida Calafate Ribeiro, desenvolvem investigação pioneira sobre o impacto das heranças coloniais nas segunda e terceira gerações em Portugal, França e Bélgica, ou seja, nas gerações que não viveram diretamente os processos coloniais, mas os herdaram através das memórias familiares e da memória pública. O questionamento destas heranças está a diversificar o debate europeu, a renovar a literatura e a arte europeias, a museografia e a curadoria, e a enriquecer as formas de intervenção individual e coletiva.
Através da apresentação de resultados em vários suportes e de mesas redondas com investigadores, artistas, curadores e diretores de museus, este colóquio constituirá um espaço de debate internacional sobre este tema e anunciará uma das próximas etapas, a exposição internacionalEuropa Oxalá, que estará a decorrer em França (Marselha, MUCEM, outubro 2021 a janeiro de 2022) e, em 2022 e 2023, em Portugal (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian) e na Bélgica (Tervuren, Museu Real da África Central – AfricaMuseum), com curadoria de António Pinto Ribeiro, Aimé Mpane e Katia Kameli.
PROGRAMA
Manhã:
10h00 – Abertura
10h30 – 11h30 – Margarida Calafate Ribeiro (CES-UC) –– Pós-memórias: o passado colonial no presente europeu
11h30 – 12h30 – Fernando Cabral (Sistemas do Futuro) –– Apresentação da plataforma digital de artistas e obras na condição da pós-memória
12h30 – 13h00 – Lançamento de livros coleção Memoirs Pausa para almoço
Tarde:
14h30 – 15h30 – Mesa redonda –– Transmitir a memória
António Sousa Ribeiro (Diretor do CES-UC), Fátima da Cruz Rodrigues (CES-UC), Graça dos Santos (Universidade de Paris-Nanterre), Hélia Santos (CES-UC), Margarida Calafate Ribeiro (CES-UC)
Moderação: Sandra Inês Cruz
15h30 – 16h30 – Mesa redonda –– Representar a memória
Katia Kameli (artista visual), Aimé Mpane (artista visual), Paulo Faria (escritor), Zia Soares (atriz e encenadora), António Pinto Ribeiro (CES-UC e programador cultural)
Moderação: Vitor Belanciano
Intervalo
17h00 – 18h00 – Mesa redonda –– Expor a memória
António Pinto Ribeiro, Katia Kameli, Aimé Mpane; Guido Gryssels (Diretor do Museu Real de África Central/ AfricaMuseum, Tervuren); Miguel Magalhães (Diretor, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa); Jean François Chougnet (Presidente do MUCEM, Marselha)
Moderação: Liliana Coutinho
18h00 – 19h30 – Conferência de encerramento e debate
Michael Rothberg (UCLA-Universidade da Califórnia, Los Angeles) – Cidadania da Memória: Legados Polémicos do Colonialismo e do Genocídio
Em 2011, Yasemin Yildiz e eu publicámos o ensaio “Memory Citizenship: Migrant Archives of Holocaust Remembrance in Contemporary Germany” num número especial da revista Parallax sobre “Memória Transcultural”. Nesse ensaio, recorremos ao conceito de “atos de cidadania” de Engin Isin, especialista do tema da cidadania, para demonstrar como as performances da memória elaboradas pelos imigrantes podem transformar o modo de entender a pertença coletiva. A categoria de “cidadania da memória”, no entanto, permaneceu indefinida. Nesta conferência, vou desenvolver esta categoria em três momentos. Primeiro, irei acrescentar alguma precisão conceptual à noção de cidadania da memória, recorrendo ao trabalho adicional de Isin, bem como ao de Jenny Wüstenberg. Em seguida, irei fazer um levantamento do campo atual da cidadania da memória, com particular referência à Alemanha, mas apontando para as suas implicações transnacionais mais vastas. Na parte final, investigarei a natureza contestada da cidadania da memória, recorrendo ao vídeo da escritora Priya Basil Locked In and Out (2020), estreado na inauguração virtual do controverso Fórum Humboldt, em Berlim. O vídeo de Basil estabelece explicitamente uma ligação entre memória e cidadania numa constelação multidirecional, que envolve o Holocausto e o colonialismo. O vídeo oferece uma oportunidade para refletir sobre as possibilidades e os limites da cidadania como modelo para pensar políticas da memória.
A conferência final está a cargo de Michael Rothberg, da Universidade da Califórnia, um dos mais destacados investigadores da área de estudos comparados, de estudos da memória e do Holocausto e da representação da violência na literatura e na arte.
O colóquio decorre em português, em francês e em inglês. Tradução simultânea de português - francês e francês - português estará disponível.
Notas Biográficas
Aimé Mpane é artista visual e curador. Partilha o seu tempo entre Kinshasa e Bruxelas, e a sua prática artística alicerça-se nas viagens entre a sua África natal e a sua Europa de adoção. Estudou escultura no Instituto de Belas Artes e pintura na Academia de Belas Artes de Kinshasa e na École Nationale Supérieure des Arts Visuels de La Cambre, Bruxelas. A par da escultura, trabalha a instalação e a pintura. Em obras como Congo: Shadow of the Shadow (2005), Ici on crève (2006), J‘ai oublié de rêver (2017), o artista explora as marcas do colonialismo belga e o sofrimento do povo congolês, numa reflexão sobre as heranças do colonialismo e a relação África-Europa. Mpane apela à solidariedade do género humano e à consciência coletiva. As suas obras falam de dignidade humana, de esperança, de coragem, de empatia e perseverança.
António Pinto Ribeiro é investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Foi diretor artístico e curador responsável em várias instituições culturais portuguesas, nomeadamente da Culturgest e da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi comissário-geral de “Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017”. Os seus principais interesses de investigação desenvolvem-se na área da arte contemporânea, especificamente africanas e sul-americanas. Das suas publicações destacam-se: Novo Mundo. Arte contemporânea no tempo da pós-memória (2021), Peut-on décoloniser les musées? (2019) e África os quatro rios - A representação de África através da literatura de viagens europeia e norteamericana (2017).
António Sousa Ribeiro é diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e professor catedrático aposentado do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Germanísticos) da Faculdade de Letras da mesma universidade. Os seus interesses de investigação centram-se nas áreas das literaturas e culturas de expressão alemã, dos estudos sobre a violência, dos estudos de memória, dos estudos pós-coloniais e dos estudos culturais comparados. Tem publicado extensamente em áreas muito diversas. Destaque-se Representações da Violência (2013), Geometrias da memória: configurações pós-coloniais(2016);Einschnitte. Signaturen der Gewalt in textorientierten Medien (2016). Dedica-se também à tradução literária, tendo-lhe sido atribuído o Prémio Nacional de Tradução, 2017.
Fátima da Cruz Rodrigues é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, no âmbito do projeto Memoirs e MAPS. Doutorou-se em Sociologia pela Universidade de Coimbra (2013) com a tese Antigos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas: a Guerra Colonial como território de (re)conciliação, vencedora do Prémio Fernão Mendes Pinto 2014. É docente da Universidade Lusíada do Porto e da Faculdade de Direito da Universidade do Porto. É “vice-chair” da Ação COST: CA18228 - Global Atrocity Justice Constellations. Os seus principais interesses de pesquisa giram em torno de diversas problemáticas relacionadas com as guerras coloniais/guerras de libertação, memória e pós-memória e crimes cometidos em contextos de guerras.
Fernando Cabral é diretor geral da Sistemas do Futuro − Multimédia, Gestão e Arte, Lda., empresa dedicada ao desenvolvimento de software na área da gestão do património cultural e natural desde 1995. É investigador do OCES – Observatório da Ciência e do Ensino Superior de Portugal e membro do Comité Internacional para a Documentação (CIDOC) do International Council of Museums (ICOM) e desenvolve projetos internacionais. Tem colaborado com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra em projetos de investigação envolvendo as humanidades digitais, como o projeto MEMOIRS – Filhos de Império e Pós-memórias Europeias (ERC) e MAPS - Pós-memórias europeias uma cartografia pós-colonial (FCT).
Graça dos Santos é professora catedrática da Universidade Paris-Nanterre, onde é investigadora e diretora do CRILUS (Centre de recherches interdisciplinaires sur le monde lusophone) e do doutoramento em Línguas, Literaturas e Civilizações românicas: Português. É também encenadora, atriz e professora de teatro. É cofundadora da companhia “Cá e Lá” (Compagnie bilingue français/portugais) e diretora de “Parfums de Lisbonne” – Festival d’urbanités croisées entre Lisbonne et Paris. Os seus trabalhos dedicam-se em particular a ditadura salazarista e à censura ao teatro. Tem publicado sobre as noções de corpo físico / corpo social, sobre as representações cénicas do corpo e do povo, a história do espetáculo português e europeu. Entre as suas atuais áreas de interesse, destacam-se os estudos culturais, os estudos pós-coloniais e os estudos sobre migrações.
Guido Gryssels é o diretor-geral do Museu Real da África Central-AfricaMuseum em Tervuren, na Bélgica. O RMCA é um museu e uma instituição científica federal de investigação e disseminação do conhecimento científico nos campos da biologia, ciências da terra, antropologia, história, agricultura e floresta da África Central. Guido Gryssels é doutorado em Ciências Agrícolas, desempenhou vários cargos direção na FAO, Nações Unidas. É membro do Conselho de Administração da Política Federal de Ciência, do Fundo Flamengo para Pesquisa Científica e do Fundo Holandês para Pesquisa Científica. É Presidente do Comité do Programa de Pesquisa em Alimentos e Negócios em Países em Desenvolvimento. É presidente do Consórcio Internacional da Biodiversidade do Congo, presidente do júri do prémio internacional Louis Malassis para a Alimentação e Agricultura e membro do júri do Prémio Internacional do Desenvolvimento Rei Balduíno.
Hélia Santos é investigadora e coordenadora do gabinete de gestão de projetos do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Tem mestrado em Sociologia, pelo Programa em “Pós-Colonialismos e Cidadania Global”, CES/Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra. Integra a equipa do projeto MEMOIRS na qualidade de estudante de doutoramento, com uma tese intitulada Paradoxos Coloniais: memória, pós-memória e esquecimento em narrativas de segunda geração. Tem vindo a publicar vários artigos sobre este tópico.
Liliana Coutinho é curadora e programadora de Debates e Conferências da Culturgest. Doutora em Estética e Ciências da Arte pela Universidade Paris 1, é investigadora do Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa. Escreve com regularidade, tendo coeditado o livro Paisagens Imprevistas (2020), e publicado, entre outros, “O delicado fio do comum”, in André Guedes, Ensaios para uma antológica (2016); “On the utility of a universal’s fiction”, in Gimme Shelter, Global Discourses In Aesthetics (2013). É Professora convidada na Pós-Graduação em Curadoria de Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.
Sandra Inês Cruz é licenciada em Jornalismo pela Escola Superior de Jornalismo do Porto. Integrou a redação da RTP Porto entre 1993 e 2000, e a da TVI entre 2000 e 2003, tendo, a partir daí, trabalhado como freelance na coordenação, apresentação e realização de vários programas de televisão e como autora de vários documentários. Foi docente de Televisão (ESJ - Porto) e de Teorias da Comunicação (Escola Superior Artística do Porto). Fez uma pós-graduação em Direito da Comunicação pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1999), é mestre em Literaturas e Culturas Africanas e da diáspora pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2010) e, atualmente, é estudante de doutoramento em “Pós-Colonialismos e Cidadania Global”, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. É autora de vários livros de ficção.
Katia Kameli é artista visual e curadora. As visitas à Argélia durante a infância e o contacto com a família do pai marcaram-na profundamente. É diplomada pela Escola Nacional de Belas Artes de Bourges e tem uma pós-graduação “Le Collège-Invisible”, na Escola Superior de Artes de Marselha. O seu trabalho encontra visibilidade e reconhecimento na cena artística e cinematográfica internacional, bem como em exposições individuais e coletivas. Expressa-se de forma interdisciplinar através do desenho, fotografia, instalação e cinema. Em obras como Nouba (2000) Bledi a possible scenario (2004), Le Roman Algérien (2016), Stream of Stories (2016-2020) a artista explora conceitos como hibridismo e uma identidade construída entre lugares, a revisitação e reescritura, e o cruzamento entre passado colonial e presente pós-colonial. Vive e trabalha em Paris.
Jean-François Chougnet é Presidente do Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo (MUCEM) em Marselha. É licenciado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Após os seus estudos na École Nationale d’Administration, foi nomeado para o Ministério da Cultura e, desde então, dedicou a sua carreira às políticas culturais. Foi diretor-geral do Parc et de la grande Halle de la Villette (Paris) de 2001 a 2006. De 2007 a 2011, foi diretor da Fundação Berardo, em Lisboa. Em 2011, tornou-se diretor-geral da Associação Marseille-Provence 2013, coordenando os eventos que promoveram a candidatura da cidade de Marselha a Capital Europeia da Cultura em 2013. Em 2014, foi nomeado Presidente do MUCEM, um museu dedicado à preservação, estudo, apresentação e mediação do património antropológico relacionado com a área europeia e mediterrânica.
Margarida Calafate Ribeiro é investigadora-coordenadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e responsável da Cátedra Eduardo Lourenço da Universidade de Bolonha/ Instituto Camões (com Roberto Vecchi). É doutorada pelo King ́s College, Universidade de Londres. Coordena os projetos de investigação MEMOIRS - Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias do Conselho Europeu de Investigação e MAPS – Pós-Memórias europeias uma cartografia pós-colonial (FCT). Das suas diversas publicações destaque-se: Uma história de regressos: Império, Guerra Colonial e pós-colonialismo (2004), e a co-organização de Geometrias da memória: Configurações pós-coloniais (2016), com António Sousa Ribeiro e Heranças pós-coloniais
Michael Rothberg é professor catedrático de Inglês e Literatura Comparada no Departamento Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, Los Angeles. Coordena a Cátedra de Literatura Comparada e a Cátedra 1939 Society Samuel Goetz em Estudos do Holocausto, na mesma universidade. Os seus interesses de investigação passam pelos direitos humanos, estudos culturais, estudos do Holocausto, estudos de memória e trauma, literatura contemporânea e teoria crítica. Entre as suas publicações destacam-se The Implicated Subject: Beyond Victims and Perpetrators (2019), Multidirectional Memory: Remembering the Holocaust in the Age of Decolonization (2009) e Traumatic Realism: The Demands of Holocaust Representation(2000). Co-organizou diversas publicações como The Holocaust: Theoretical Readings (2003), e números especiais de revistas como Trump and the “Jewish Question”(Studies in American Jewish Literature), Noeuds de Mémoire: Multidirectional Memory in Postwar French and Francophone Culture (Yale French Studies), Between Subalternity and Indigeneity: Critical Categories for Postcolonial Studies(Interventions),States of Welfare(Occasion) eTranscultural Negotiations of Holocaust Memory (Criticism). O seu trabalho está traduzido em diversas línguas e publicado em algumas das mais conceituadas revistas científicas.
Miguel Magalhães é Diretor do Programa Gulbenkian Cultura desde 2021. Esteva na Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França entre 2011 e 2021, assumindo as funções de diretor a partir de 2017. Licenciado em Direito (Universidade Católica Portuguesa), fez um Master em Arts Management (City University, Londres) e integrou o Advanced Management Program na escola de negócios INSEAD (Fontainebleau, França). Foi membro da comissão de mecenato da Fondation nationale des arts graphiques et plastiques (França) durante o biénio 2016-2017, sendo atualmente membro do Conselho de Administração da Fondation Mattei Dogan (França). Foi professor convidado em diferentes universidades em Portugal e integrou a equipa docente do Curso de Gestão/Produção das Artes do Espetáculo do Fórum Dança (Lisboa).
Paulo Faria é escritor e tradutor literário. Licenciado em Biologia, dedica-se à tradução literária de autores como George Orwell, Jack Kerouac, James Joyce, Don DeLillo e Cormac McCarthy. Venceu, em 2015, o Grande Prémio de Tradução APT/SPA, com História em duas cidades, de Charles Dickens. Autor de crónicas publicadas no Público, revista Ler e Newsletter Memoirs, estreia-se no romance com Estranha guerra de uso comum (2016) um romance que constitui um exercício de resgate do passado paterno no conflito colonial em África. Esta busca continua, com uma viagem a Moçambique, no segundo romance, Gente acenando para alguém que foge (2020). Publicou recentemente Em todas as ruas te encontro (2021).
Vítor Belanciano é jornalista cultural, crítico de música e cronista. Está no jornal Público há mais de vinte anos. Tem formação em Antropologia e Sociologia. Viveu parte da infância em Niza, cresceu no Barreiro, vive em Lisboa, sente-se do Alentejo. Foi sendo, ao longo dos anos, ator, DJ, cientista social ou professor. Tem estado mais no jornalismo, mas não pratica imparcialidade e neutralidade. Acredita, isso sim, em escolhas, no rigor, na transparência, em expor pluralidade, na análise, no questionamento e na possibilidade de, através da cultura, misturar assuntos, atravessar linguagens, seja política, economia, sociedade, música, arte e ideias. É daí que nasce Não dá para ficar parado. Música afro-portuguesa − celebração, conflito e esperança (2020), onde tanto é observador distanciado como ator ciente. A música é o ponto de partida.
Zia Soares é atriz, encenadora e diretora artística do Teatro GRIOT. Foi uma das atrizes fundadoras do Teatro Praga, onde trabalhou de 1994 a 2000, como diretora, encenadora e atriz. Trabalha regularmente em Portugal, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. O seu percurso artístico passou pelo ballet e pela percussão com a Companhia Nacional de Ballet da Guiné-Bissau, pelas artes circenses, com a Amsterdam Balloon Company, e pelo teatro, com a Companhia de Teatro “Os Sátyros”, de São Paulo, Brasil. Em 2018 e 2019, criou e dirigiu as primeiras performances produzidas e interpretadas por mulheres negras em Portugal − “Gestuário I”, produção INMUNE (Instituto da Mulher Negra em Portugal), e “Gestuário II”, coprodução INMUNE/BoCA-Biennial of Contemporary Arts, as peças Luminoso Afogado e O Riso dosNecrófagos, e a performance MachimGang. Em cinema, trabalhou com João Botelho, Pedro Filipe Marques, Pocas Pascoal, Romano Casselis e Uli Decker. Colabora em projetos dos artistas visuais Kiluanji Kia Henda, Mónica de Miranda e Sofia Berberan.
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CURADORIA: Projeto MEMOIRS — Filhos do Império e Pós-memórias Europeias e MAPS - Pós-memórias Europeias: uma cartografia pós-colonial Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
MEMOIRS é financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC) no âmbito do Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação Horizonte 2020 da União Europeia (n.o 648624); MAPS é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT - PTDC/LLTOUT/7036/2020). Os projetos estão sediados no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
This panel discussion & exchange brings together refugee artists’ advocacy networks to discuss new models for resilient creative networks.
About this event
What are the strategies and challenges faced by refugee artists today? How can networks foster systemic change? How can we develop new frameworks driven by artistic vision created by refugee artists?
This panel discussion & exchange will bring together refugee artists’ advocacy networks to discuss new models for resilient creative networks, featuring grassroots organisations from the UK, France, Germany and Portugal.
This is an event for artists, scholars, cultural workers and policymakers, aiming to increase visibility and opportunities for refugee artists and groups, to share experiences and practices across geographic and cultural settings. The hybrid event will facilitate an open conversation on the role of networks in advocating change on various artistic and institutional levels, aiming to build alliances across research and the creative sector within and outside the UK.
This event is FREE to attend, and we welcome everyone who is interested in refugeedom and performing arts! Tickets are available to attend either in-person or online. Space for social distancing will be created for the live event. For those who attend in person, the event will end with a reception and networking opportunity lasting until 18:00. For those who choose to join us online, the link and details of how to join will be sent to you on the morning of the event(02/11/2021)
As conferências fazem parte das actividades realizadas no âmbito do projecto de investigação “Narrativa afroeuropeia no Portugal e na Itália pós-imperiais: a descolonização dos ‘colonialismos inocentes’ em Djaimilia Pereira de Almeida e Igiaba Scego”, desenvolvido por Alice Girotto na Universidade Ca’ Foscari de Veneza (Itália), que visa examinar, através da análise de dois pares de obras das duas escritoras, como a ficção afroeuropeia contribui para a descolonização do imaginário de Portugal e Itália, duas nações que são ao mesmo tempo marginais no campo dos estudos pós-coloniais e cuja auto-representação como antigas metrópoles benevolentes impede uma verdadeira reelaboração do passado colonial.
As três conferências enriquecem este tema com três olhares complementares sobre Portugal contemporâneo. Em particular, Patrícia Martinho Ferreira irá ligar a prosa poética da escritora contemporânea Djaimilia Pereira de Almeida à literatura africana anti-colonial da primeira metade do século XX. Enrique Rodrigues-Moura, por outro lado, centrará a sua atenção na construção da democracia portuguesa entre retornados, comemoração dos descobrimentos e lusofonia. Finalmente, Marta Lança irá oferecer uma perspectiva interessante sobre questões pós-coloniais no contexto artístico contemporâneo, problematizando alguns exemplos nos campos das artes visuais, artes performativas e cinema na última década.
Dias 21, 22, 23, 28,29, 30 de Outubro, às 19 horas, no Elinga Teatro. E dias 4, 5, 10, 11, 18, 19 de Novembro, às 19 horas.
Sinopse
Esta peça situa-se numa época de transição política e social, logo após a Independência de Angola, num quintal da zona antiga, dos primórdios da colonização da cidade de Benguela. São protagonistas algumas mulheres unidas por laços de família alargada tradicional. Celebram o regresso de um filho há muito exilado e confrontam-se com dramas individuais e colectivos de seres humanos expostos, na sua fragilidade, à inexorabilidade histórica.
Autora
ANA ANDRADE. Nasceu em Benguela e viveu a maior parte da vida em Luanda, onde actualmente reside. Estudou História, , trabalhou no Arquivo Histórico de Angola e em outras áreas do Ministério da Cultura como produtora cultural. No teatro trabalhou como atriz no Grupos de Teatro Tchingange, Teatro Xilenga, Teatro del Disgelo e Elinga Teatro de que é membro fundador. Fez adaptação de textos teatrais e realização para teatro radiofónico para a Rádio Nacional de Angola, traduções literárias e produção cultural para várias instituições. A sua obra “Largo da Peça” foi premiada pelo Concurso de Textos de Dramaturgia, do Projecto “Leituras Assistidas” do Centro Cultural do Brasil em Angola em parceria com o Clube de Leitura da Mediateca do Cazenga, em 2021.
Coordenação e produção
ORLANDO SÉRGIO. Nasceu em Malange. Estudou teatro no Conservatório de Lisboa e participou como actor em variadas peças teatrais de grandes companhias e em muitos filmes portugueses e angolanos. Em 2001 retoma a atividade teatral no Elinga Teatro de que é membro fundador e em outras associações, trabalha teambém em cinema e televisão como actor. Entre os seus trabalhos mais significativos como actor estão: “Othelo” de William Shakespeare como protagonista, Dir. de Joaquim Benite; Woza Albert”; “Disputa”—Marivaux ,Teatro Trindade Dir. João Perry; “A Missão” de Heiner Müller, Teatro Cornucópia Dir. Luís Miguel Cintra; “Quem me dera ser Onda”—M. Rui Monteiro, Elinga Teatro, Dir. Cândido Ferreira, Premio melhor peça do ano e melhor actor; as séries Conversas No Quintal, “Minha Terra
Minha Mãe” TPA; “Caminhos Cruzados” Óscar Gil Produções. No cinema, “O Herói”, de Zezé Gamboa; “Corte de Cabelo”, de Joaquim Sapinho. Para além de actor, Orlando Sérgio é também produtor.
Encenação
JOSÉ MENA ABRANTES. José Mena Abrantes nasceu em Malanje. Estudou Filologia Germânica em Lisboa, e em 1967 começou a fazer teatro com o luso-brasileiro Luís de Lima, o português Fernando Gusmão e o argentino Adolfo Gutkin. Com este último fez na Fundação Gulbenkian, em 1969, Cursos de Actuação e Direcção Teatral. Em Frankfurt/Main, dirigiu em 1973 o grupo La Busca, e foi assistente convidado do argentino Augusto Fernandez.
De regresso a Angola, foi co-fundador do Tchinganje, primeiro grupo a apresentar uma obra de teatro na Angola independente (28/11/75), e do grupo Xilenga (1976-1980). Criou em 21/5/1988 o grupo Elinga-Teatro, que dirige até hoje. Publicou vinte peças de teatro (uma delas em co-autoria com o português Rui Zink, o cabo-verdiano Abraão Vicente e o brasileiro Ivam Cabral), três livros de ficção, três de poesia e vários estudos sobre o teatro e o cinema em Angola. Membro da UEA e membro fundador da Academia Angolana de Letras. Vencedor do Prémio Sonangol de Literatura de 1986, 1990 e 1994. Vencedor ‘ex-aequo’ do 1o Prémio de Poesia da Associação Chá de Caxinde e do 2o lugar do Prémio PALOP’99 do Livro em Língua Portuguesa (2000). Recebeu em 2006 o Diploma de Mérito do Ministério da Cultura de Angola pela sua “significativa contribuição ao desenvolvimento da dramaturgia em Angola”. Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2012, na categoria de Literatura.
ELENCO:
Personagens
Mãe Tai Michiko
Teresa Bombo
Filho
Cabral
Tropa 1
Tropa 2
Actores
Yolanda Viegas Luzolo Amor de Fátima
Luz Feliz Bernardete Mukinda
João Paulo Eleveny
Toke Esse Madaleno da Fonseca
Honório Santos
Equipa técnica:
Encenação e cenografia - José Mena Abrantes
Produção e Direcção de Actores - Orlando Sérgio
Iluminação e som- Paulo Cochat
Figurinos e maquilhagem - Anacleta Pereira
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Texto de Filipe Correia de Sá sobre a peça
Filipe Correia de Sá é escritor e jornalista e autor do livro “Tala Mungongo”, 1995, adaptado ao teatro pelo escritor e dramaturgo José Mena Abrantes e levada à cena pelo Elinga Teatro.
A propósito de “Largo da Peça”, de Ana Andrade….
O Largo da Peça é referido com tendo sido a primeira praça da cidade de Benguela. Para ali convergiam as caravanas dos negociantes de cera, marfim e borracha provenientes de zonas tão distantes como o Bié. Bordejada por casas comerciais e de habitação de considerado prestígio, centro comercial por excelência, foi também ponto crucial na defesa da cidade com a instalação, no século XIX, do canhão crismado de peça no local que depois virou jardim, já no século XX .
A tudo quanto sabemos sobre este Largo junta-se agora esta peça em 3 Actos de autoria de Ana Andrade. Benguelense, ela própria.
Aqui já dá para entender a fluidez deste trabalho literário, porque só alguém que tenha vivido profundamente imersa na realidade desta urbe podia colocar, assim, nas luzes da ribalta, um microcosmos que desfila perante nós uma época, que faz pressentir outras, e suas gentes, usando os ingredientes mais comuns do quotidiano, incluindo a multidimensionalidade das personagens que dão corpo a esta história. Fora de um tempo histórico, mas aflorando- o, definitivamente emergindo das águas profundas da arte da escrita.
Esta peça, subtraindo-se à história, vive do “garimpo” da prodigiosa memória da Ana Andrade, aliada a um evidente talento literário.
O termo “garimpo” tomei-o emprestado a Luandino Vieira que, numa entrevista ao jornal O Globo (17.11.2017) afirmava: “tenho as minhas memórias para garimpar”. A professora universitária e investigadora brasileira Adriana Mello Guimarães, que o cita, define Luandino como uma “espécie de mineiro do tempo interno da consciência”. Atrevo-me a tomar de empréstimo este conceito e a aplicá-lo a Ana Andrade.
“A vivência da infância só se tornou tema literário com a modernidade”. Foi Proust quem o celebrizou na sua monumental obra “Em busca do tempo perdido”. E, como recomenda a professora Adriana Mello Guimarães, no seu ensaio “ Luandino Vieira: O Mineiro Angolano da Memória” (Ensaios – União dos Escritores Angolanos) “cumpre entender como Agostinho e outros filósofos depois dele, e a exemplo de Bergson e de Husserl, que o tempo da consciência é um fluxo contínuo, uma correnteza em que pulsam, simultaneamente, o que foi, o que é e o que está vindo a ser. Daí o sentido da memória como modo de presença do que não mais existe, de coisas e factos vividos que, embora pertencentes ao passado, fazem parte (tanto quanto as coisas e factos previstos, sonhados, planeados ou apenas imaginados e que ainda não existem) do mundo real que experimentamos actualmente”.
Muita gente irá reconhecer o quintal desta peça, as personagens que nela figuram e recordará o manancial de histórias que a Ana vem contando aos amigos, quase como ensaio, pré-escrita do que temos aqui e agora. Gente que testemunhará que estas vivências vêm da infância e (a) foram seguindo ao longo da vida, se foram acumulando, e a foram construindo, transformando-se na longa mina onde a Ana Andrade foi garimpar para se transformar na autora desta obra literária.
E ao decidir transpor esse material para o papel depois de garimpado e lapidado, dele extraindo as partes mais preciosas ou adequadas à sua escrita, várias coisas aconteceram, entre as quais:
1. O Largo da Peça é de novo convocado ao campo da consciência, de forma inédita, e, com subtileza, devolvido ao tempo histórico, com a preciosa ajuda de um roteiro musical que nos devolve vozes como a de Milá Melo ou de Belita Palma, Artur Nunes e até Nelson Ned. E para mostrar como esse tempo histórico é respeitado, neste quadro de invocação de uma época, a palavra à autora:
“É comum, é quase obrigatório, que nos quintais de Benguela, esteja desde manhãzinha um rádio a tocar. Liga-se o rádio assim que se começa a regar o jardim, às 6 da manhã…
Então, haverá um rádio no quintal da peça que transmite o emissor provincial de Benguela, em 1976. Há a voz do locutor que apresenta o programa, que pode talvez ser de “discos pedidos” e passa a música que elas ouviam naquele tempo. (O estranho é que ainda agora ouvem quase as mesmas músicas… Benguela onde o tempo parou…). A emissão da rádio faz-se mais, ou menos audível ao longo da acção da peça. Há momentos em que é a protagonista principal.” Disse tudo.
2. Do Largo da Peça é extraída uma parte da sua geografia, um espaço que é também o mundo onde habitam os nossos fantasmas, não os que aterrorizam mas os que acalentam, avisam, aconselham, segredam ao ouvido, lá no fundo, queridos fantasmas, os seres que amámos e que povoam a nossa memória, com carinho e, às vezes, até, com revolta, porque nos abandonaram ou nos foram retirados, pela vida, pelo tempo.
3. As personagens deste quintal são cada uma delas um pouco de muitos dos muitos que tantos passos deram aqui, tantas histórias ouviram e contaram, tantas gargalhadas lançaram sob os ramos das árvores frondosas que davam sombra e frescura aos convívios, que tantas lágrimas secaram e engoliram, tantos olhares cruzaram, cúmplices, enamorados ou fugazes.
4. E este espaço e estas gentes, se atentarmos bem, são fibra de Benguela. Uma cidade aberta ao mundo, como nos sugerem de forma positiva os nomes de Tai e de Mishiko, a evocar lonjuras orientais e, de forma negativa, a ausência de Cabral geograficamente longe mas emocionalmente demasiado perto. Aliás, esta peça, para quem quiser garimpá- la, é rica em homenagens, que a autora também dedica sem dúvida a todos aqueles, e muitos serão, que com ela conviveram, e a quem desafia a entrar no jogo de descobrir o que está escondido ou à vista de todos, por exemplo, no nome de Mishiko ou no de Teresa Bombo. Se juntarmos todos os quintais como este do Largo da Peça, como num puzzle, reconstruiremos a cidade e, também, as nossas próprias memórias.
5. E muita atenção ao choque, à mudança, aos novos tempos, que levaram ao golpe de asa da autora, no final da peça, num desfecho a que ela dá corpo e segura com a firmeza da sua escrita, porque é inevitável, mesmo que parte de si possa parecer desmoronar com o muro do quintal ou assistir impotente ao desespero que se pressente na morte de Tai e no turbilhão dos ventos dos novos tempos que arrastam Aloísio, Camenino e arrebatam Mishiko.
Nesta peça, o tempo é o presente, embora este espaço já não exista, acabou porque assim tinha que ser, mas também porque talvez tenha deixado de haver quem pudesse cuidar dele. Mas esta dúvida esvai-se porquanto este quintal, com tudo o que implica, humana e sociologicamente falando, persiste em ser presente porque a arte lhe dá corpo e alguém, afinal, decidiu cuidar dele, pela memória que a escrita garimpa.
O que passo a concluir é de minha lavra porque me aproprio do labor da autora:
- O “Largo da Peça em 3 Actos” é um aviso para que cuidemos do que amanhã vai ser passado, porque nada existe só no presente e porque o passado se torna por vezes tão presente que até dói.
- É uma homenagem de grande quilate à cidade onde nasceu e que a viu crescer.
- É uma magistral demonstração de que uma cidade, um largo, uma praça, um quintal e suas gentes que de tal modo inspiram alguém, como a Ana Andrade, merecem como gratidão, serem invocados pelo talento de quem cresceu no seu seio, como é o caso.
- À Ana Andrade toda a nossa gratidão por nos permitir perpetuar memórias, assim, através da literatura, mesmo quando as implacáveis mudanças inevitáveis parecem ameaçar a existência desses imensos espaços e tempos para garimpar.”
Filipe Correia de Sá Luanda, 1 de setembro de 2021
2e Conférence internationale des africanistes de l'Ouest, 1947, Bissau. @ Collection de photographies IICT, INV. ULISBOA-IICT-MAEG31921
Le projet de recherche Photo Impulse invite à participar à une série de webinaires débattant des cultures visuelles coloniales et post coloniales.
Prochain webinar 27 Octobre 14:30 Session en français
Ombres et images-écrans de la colonisation
Par Joseph Tonda
Mercredi, 27 Octobre 14: 30
Le professeur Joseph Tonda nous parlera sur la « rencontre coloniale » qui n’eut pas lieu entre humains. Ce sont des ombres et des images-écrans qui se retrouvèrent sur un non-lieu, une chimère connue sous le nom de « continent noir ». Car sur ce continent de nulle part, ombres et images-écrans furent des monstres dont l’activité contre-nature prit le nom de civilisation et de progrès.
Joseph Tonda est professeur de sociologie et d’anthropologie à l’Université Omar Bongo de Libreville, au Gabon. Il est notamment l’auteur de Le Souverain Moderne: Le corps du pouvoir en Afrique centrale (Congo, Gabon) [Karthala 2005] et L’Impérialisme Postcolonial – Critique de la Société des Éblouissements [Karthala 2015]. Il est également écrivain littéraire et a publié Chiens de Foudre (ODEM, Libreville 2013, épuisé) et Tuée-tuée Mon Amour (LA DOXA éditions, Paris, 2017).
Photo Impulse est un projet de recherche développé à ICNOVA - Instituto de Comunicação da Nova, de NOVA FCSH, Lisbonne, Portugal.
Dom, 24 out, 11:00-16:30, Teatro São Luiz, Entrada gratuita
No próximo domingo, o Teatro São Luiz e a EGEAC juntam-se à iniciativa PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian para promover um dia de conversas em torno da Arte Participativa. Diferentes agentes da comunidade artística – programadores, público, jornalistas, artistas profissionais e artistas não-profissionais – são convidados a debater as oportunidades, os desafios e os riscos que nos traz esta forma de arte partilhada.
Estas conversas acontecem a par da apresentação do espetáculo Meio no Meio de Victor Hugo Pontes, no Teatro São Luiz, que resulta de um projeto desenvolvido durante os últimos três anos com o apoio da iniciativa PARTIS.
A sessão terá interpretação em Língua Gestual Portuguesa.
A entrada é gratuita mediante levantamento de bilhete na bilheteira do Teatro São Luiz no próprio dia, a partir das 10:00 (até 2 por pessoa) ou online, na véspera, em bol.pt.
Programa
11:00 – 13:00 Novas vanguardas artísticas e sociais
Com Barbara Pollastri, Carla Flores, Madalena Victorino, Marco Martins, Mavá José, Victor Hugo Pontes / Moderação: Cláudia Galhós
14:30 – 16:30 Que lugar para a arte participativa na programação cultural?
Com Fátima Alçada, John Romão, Gonçalo Frota, Marta Lança, Marta Martins, Sara Ferreira / Moderação: Hugo Cruz
Ancorada no projeto da história atlântica, essa apresentação visa construir novas hipóteses a respeito da chegada à África de uma preparação indígena americana de milho chamada “chicha”, destacando o possível papel da diáspora africana na difusão desse conhecimento.
A chicha é um preparo usado na América Central e do Sul, feito a partir da fermentação dos grãos frescos de “maíz” americano. É uma bebida muito popular pelos benefícios nutricionais que possui e, em estados de alta fermentação, é usada para cerimónias como coroações ou funerais de reis.
De acordo com achados arqueológicos, o uso ritual da chicha na Bacia do Titicaca, Peru, data de 800-250 a.C. Dois mil anos depois, cronistas espanhóis do século XVI como Pedro Cieza de León, descreveram o uso vigoroso da chicha em rituais fúnebres em Nova Granada, Quito, Peru e Bolívia. Prontamente, os africanos, afrodescendentes e mestiços incorporaram essa bebida nas suas práticas cerimoniais, conforme demonstrado por vários julgamentos da Inquisição de Cartagena. Por exemplo, em 1647, a Inquisição acusou Anton Angola em Ocaña, Nova Granada (atual Colômbia), de adorar um crucifixo e oferecê-lo a uma chicha que bebia, enquanto dançava e cantava na sua língua angolana.
Curiosamente, do outro lado do Atlântico, na Ilha de São Tomé, uma narrativa de 1665 descreveu que os africanos produziam um vinho chamado chicha a partir do tipo de “milho” chegado das chamadas Índias Ocidentais. Mais intrigante é saber que a reconstrução genética do “maíz” de São Tomé, Togo, Benin e Angola feita em 2013, o ligou diretamente às variedades do norte da América do Sul e em particular a variedades colombianas.
Considerando que a Inquisição de Cartagena condenou muitos africanos a remar em galés que certamente voltaram aos portos africanos, a apresentação indaga como a diáspora africana retornada teria influenciado a difusão desta bebida, especialmente durante os séculos XVI e XVII, quando os navios escravistas privilegiaram a rota de São Tomé para Cartagena.
Nota biográfica da conferencista
Paola Vargas realiza o pós-doutoramento Newton da Academia Britânica no King’s College do Londres. A sua investigação concentra-se em compreender as resistências contra a escravidão e as contribuições culturais das mulheres e homens africanos e afrodescendentes nas minas de ouro de Antioquia, em Nova Granada (atual Colômbia), nos séculos XVI e XVII. É colaboradora do projeto Freedom Narratives (https://freedomnarratives.org/) dedicado a disponibilizar na internet as biografias das pessoas africanas que cruzaram o Atlântico durante o período do tráfico. Fez doutorado em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro com um ano de pesquisa no Centro de História da Universidade de Lisboa, e mestrado em Estudos Africanos no Colégio de México.
15 out. oct. 21h30 — 24h 16 — 17 out. oct. 15h — 20h Fábrica de Cultura de Minde
15 out. oct. 21h30 • Abertura / Opening
Recital Charales Chorus
Subterrâneo
Bruno Caracol
Fragment d’histoire future, de Gabriel Tarde, descreve uma humanidade solitária, que na extinção de todas as outras formas de vida, refugiada de um apocalipse climático no interior da terra, encontra o espaço para a construção de uma sociedade lúdica, aparentemente sem conflito. As grutas da Serra d’Aire e Candeeiros são profusamente habitadas por seres minúsculos, uma vitalidade sobre a qual o conhecimento avança no mesmo ritmo em que os seus ambientes são postos em risco. Servem também como esconderijo e cofre para as populações em tempo de guerra, para guardar armas em tempos revolucionários. Subterrâneo é uma instalação audiovisual que nasce destes contrastes.
Fragment d’histoire future, by Gabriel Tarde, describes a solitary humanity, which in the extinction of all other forms of life, refugee from a climatic apocalypse inside the earth, finds the space for the construction of a playful society, apparently without conflict. Serra d’Aire e Candeeiros caves are profusely inhabited by tiny beings, a vitality on which knowledge advances at the same pace as their environments are put at risk. They also serve as a safe and hiding place for populations in times of war, to store weapons in times of revolution. Subterrâneo is an audiovisual installation that is born from these contrasts.
A abertura da instalação contará com a participação especial do Charales Chorus.
The opening of the installation will feature the special participation of Charales Chorus.
“Sarar é sobre um lugar de vulnerabilidade onde todos nos podemos encontrar um dia. O corpo produz uma doença e a doença produz um novo corpo. A cura também produz um corpo. De corpo em corpo, não se para para estar doente, o mundo continua a girar. Como se organiza a vida quando a doença nos entra pela porta da frente?”
Sarar is about a place of vulnerability where we may all find ourselves one day. The body produces a disease and the disease produces a new body. Healing also produces a body. From body to body, the world keeps turning. How does one organise life when illness walks through our front door?
Sinopse Sarar é uma conferência performance sobre a experiência radical do corpo na doença e na cura. Trata o processo em que este se confronta com uma nova realidade, altera o seu modo de estar, se ajusta ao novo ser, reaprende e é reaprendido. Sarar é íntimo e público, privado e coletivo, fala do trauma e do inesperado. Em Sarar, o texto convoca gesto, imagem, som e luz para explorar os novos estados e tempos do corpo, os discursos sobre a pessoa doente e descobrir invisibilidades.
Sarar is a lecture performance reporting the radical experience of the body in disease and in cure. Healing is intimate and public, private and collective, tells about trauma and the unexpected. In Sarar, the text invites gesture, video, sound and light to explore the new states and rhythms of the body and unveil the invisible.
Datas:
Devir Capa (Faro) — 22+23 outubro
TBA (Lisboa) — 30 outubro
Biografia Sara Goulart nasceu em Tavira, em 1977. Estudou Literatura, Estudos sobre mulheres, Guionismo para cinema. É produtora, mediadora cultural, ativista e escritora. Foi curadora das exposições Viveiro, de Júlia Barata e Tochas, de Vasco Célio. Fez a produção dos percursos performativos Partituras para ir e A cada passo uma constelação, de Joana Braga, integrados no programa Matéria para escavação futura. Sarar é a sua primeira criação artística, para a qual convida Ana Rita Teodoro, Fernando Ramalho, Luísa Homem e Zé Rui.
Sara Goulart was born in Tavira in 1977. She studied literature, women’s studies and screenwriting. She is a producer, cultural mediator, activist and writer. She was the curator of the exhibitions Viveiro, by Júlia Barata and Tochas, by Vasco Célio. She produced the performances Partituras para ir and A cada passo uma constelação, by Joana Braga, part of the programme Matéria para escavação futura. Sarar is her first artistic creation, for which she invites Ana Rita Teodoro, Fernando Ramalho, Luísa Homem and Zé Rui.
Dados sobre a peça
Título: Sarar
De: Sara Goulart
Com: Ana Rita Teodoro, Fernando Ramalho, Luísa Homem e Zé Rui
Fella Ayala apresenta Boda de Kambas na Casa Independente Em formato vinil explora ritmos afro, brasil, funk e world. 9 Out * 23h-02h entrada livre * free entrance
Seminário aberto PACAP 5 com Dénètem Touam Bona e Emma Bigé
Forum Dança | Espaço da Penha
8 de Outubro | 14h-16h
[Seminário em francês e inglês]
Este seminário faz parte da programação do PACAP 5
SÓ POR RESERVA! A participação é gratuita mas porque a lotação é limitada a 15 participantes no máximo só é possível participar fazendo reserva prévia. Para reservar basta enviar o seu pedido para o nosso email.
“Nesses tempos sombrios em que proliferam os dispositivos de controle, as resistências devem ser furtivas, mais do que frontais. Atacar em terreno aberto é se oferecer como carne de canhão aos múltiplos poderes que tendem a nos sujeitar, expor-se a ser capturado, desacreditado, criminalizado. Trata- se então de resistir em modo menor, pois colocar-se como maior, maduro, responsável, significa obrigatoriamente ter de se render quando a polícia, os serviços secretos, as agências de segurança nos convocam para prestar contas de nossas vidas furtivas.
A marronagem, portanto, é menos uma forma de conquista do que de subtração ao poder. As táticas furtivas são táticas de des-captura: a qualquer tentativa de captura, opõem o vazio. É essa potência corrosiva da marronagem diante dos aparelhos de captura e dos simulacros produzidos que chamo de fuga.” — Cosmopoética do Refúgio, Cultura e Barbárie, 2020.
Dénètem Touam Bona é um filósofo e escritor, colaborador do Instituto Tout-Monde (centro dedicado à obra de Edouard Glissant). Autor de “Fugitif où cours-tu?” (Puf, 2014), “Cosmopoética do Refúgio (Cultura e Barbárie, 2020) e “La sagesse des lianes” (post éditions, 2021), livros que procuram investigar e celebrar as artes fugitivas da marronagem e as promessas metafísicas de uma filosofia centrada na espessura da folhagem e o entrelaçamento de lianas. Dénètem Touam Bona teve muitas experiências: oficinas de formação e redação na prisão, documentalista numa rede internacional de solidariedade, professor de literatura e filosofia na Guiana e Mayotte, etc.
Participation is free but because the capacity is limited to a maximum of 15 participants, it is only possible to participate by booking in advance. To book, just send your request to our email.
In these troubled times where control devices proliferate, resistance must be in stealth rather than frontal. To attack in open terrain is to offer oneself as cannon fodder to the multiple powers that tend to subject us, to expose oneself to be captured, discredited, criminalized. What we need, then, might be a kind of resistance in the minor, because to posit oneself as a major, mature, and responsible person, means necessarily having to surrender when the police, the secret services, and the security agencies summon us to account for our fugitive lives.
Marronage, therefore, is less a form of conquest than of subtraction from power. Tactics of the furtive are tactics of de-capture: to those who seek to capture their substances, they oppose emptiness. It is this corrosive potency of marronage in the face of the apparatuses of capture and the simulacra produced that I call fugue. — Cosmopoética do Refúgio, Cultura e Barbárie, 2020.
Dénètem Touam Bona is a philosopher and writer, a collaborator to the Tout-Monde Institute (a center dedicated to the work of Edouard Glissant). He is the author of Fugitif où cours-tu ? (Puf, 2014), Cosmopoética do Refugio (Cultura e Barbarie, 2020) and La sagesse des lianes (post éditions, 2021), books that seek to investigate and celebrate the fugitive arts of marronage and the metaphysical promises of a philosophy centered around the thickness of foliage and the intertwining of lianas. Dénètem Touam Bona has had many experiences: training and writing workshops in prison, documentalist in an international solidarity network, literature and philosophy teacher in Guyana and Mayotte, etc.
Horários: 7 e 8 Outubro das 18h-21h (Lisboa) e 9 de Outubro das 10h30 às 13h30 (Lisboa)
Preço: 75€ um módulo, 100€ dois módulos (O presente curso é composto por dois módulos, caso se inscreva em ambos os módulos o valor monetário será de 100€) Máximo de 20 participantes (Online)
O Estado Novo usou o cinema para impor, interna e externamente, a imagem de um país pluricontinental e multirracial. Muitas ideias propagadas nunca foram questionadas após o restabelecimento da democracia e após as independências dos países de língua portuguesa. Este curso livre discutirá como é que a propaganda – e a censura - do Estado Novo determinou as representações relativas aos países de língua portuguesa, incluindo os casos da “Ásia Portuguesa”. Debaterá ainda as evidências da (im)possibilidade de um outro olhar sobre as ex-colónias portuguesas em obras de autor do Cinema Novo que foram censuradas e proibidas e abordará os usos do cinema pelos diferentes movimentos políticos, durante as lutas de libertação em África.
Horários:30 Outubro das 10h30-13h30/14h30-17h30 (Lisboa) e 6 de Novembro das 10h30 às 13h30 (Lisboa)
Preço: 75€ um módulo Máximo de 12 participantes (Presencial)
Na sequência do curso livre “Re-imaginar o império. Projecções (anti-)coloniais no cinema” I, este segundo curso livre aprofundará os usos do cinema pelos diferentes movimentos políticos, durante as lutas de libertação africana e particularizará os casos de Goa, Macau e Timor. Analisará ainda a emergência de projectos de cinema nacional em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau e aprofundará os contributos de alguns autores. Fará uma panorâmica sobre as cinematografias actuais nos países africanos de língua portuguesa particularizando também os casos orientais. Mais informações sobre o curso em https://hangar.com.pt/workshop-reimaginar-o-imperio-projeccoes-anti-coloniais-no-cinema/
“Kubanga Kukatula” significa “montar e desmontar” em kimbundu, referindo-se à condição de transitoriedade do percurso de vida dos artistas Lino Damião e Nelo Teixeira, ambos ex-moradores do bairro da Chicala, em Luanda.
Seguindo um processo de exploração do arquivo “Observatório da Chicala” e períodos de residência entre Lisboa e Porto, a exposição apresenta um corpo de trabalho sobre a identidade e memória dos artistas.
A exposição é a segunda apresentação pública de um projeto de criação artística e pesquisa, centrado em residências, produção de obras e exposições.
Fracture Empireé a primeira exposição do artista visual Samson Kambalu em Portugal e, ao mesmo tempo, a apresentação mais completa da sua obra até à data. O recém-vencedor do Quarto Plinto (Trafalgar Square, Londres), um dos prémios de arte pública mais famosos do mundo, estará na Culturgest, já a partir de 2 de outubro.
A inauguração terá lugar no dia 1 de outubro, das 22:00 à meia-noite, com entrada gratuita. No âmbito da exposição, o artista fará uma visita guiada, juntamente com o curador da exposição, Bruno Marchand (2 OUT 16:00), dará uma conferência sobre Cinema Nyau e a sua produção fílmica (17 NOV 18:30) e realiza-se ainda uma conferência centrada nas questões que a obra de Kambalu nos levantam (24 NOV 18:30).
INAUGURAÇÃO 1 OUT 2021SEX 22:00 - 24:00
EXPOSIÇÃO 2 OUT 2021 - 6 FEV 2022TER A SEX 12:00 – 19:00 FIM DE SEMANA 11:00 – 18:00
Apelidado de provocador, o artista visual do Malawi, Samson Kambalu, é um nome reconhecido internacionalmente e “um dos mais singulares tradutores da cultura sincrética africana para os olhos e para a razão ocidentais. É também um intérprete e um crítico da história conturbada destes dois blocos”, como refere Bruno Marchand, curador desta exposição, que marca a estreia de Kambalu em Portugal, ao mesmo tempo que é a apresentação mais completa da sua obra até à data, a nível internacional.
A escultura Antelope, de Samson Kambalu, projeto vencedor para estar em exibição no famoso pedestal da Trafalgar Square, em 2022, é uma reconstituição de uma imagem da era colonial. Retrata uma fotografia de 1914 do padre da Igreja Baptista, John Chilembwe, e do missionário europeu John Chorley.
Samson Kambalu refere que a fotografia original, na qual se baseou para fazer a escultura, o inspirou pela “aparência comum” que tem à primeira vista, “mas quando pesquisamos a fotografia, descobrimos que, na verdade, há ali subversão, porque naquela época, em 1914, era proibido que os africanos usassem chapéus perante os brancos”.
Em Antelope, Chilembwe tem uma escala enorme, enquanto Chorley permanece em tamanho natural. Ao aumentar a escala de Chilembwe, Samson eleva a sua história, revelando as narrativas ocultas dos sub-representados na história do Império Britânico em África e não só. Sobre o Quarto Plinto, Samson refere que a sua proposta seria “sempre um teste do quanto pertenço à sociedade britânica como africano e cosmopolita, e isso enche-me de alegria e entusiasmo, e quis propor algo significativo para mim, como um africano”.
O trabalho de Kambalu abrange várias vertentes, do desenho à pintura passando pela instalação e pelo vídeo. O humor, o excesso e a transgressão são constantes na obra deste artista que mistura bandeiras de vários países e obriga-nos a testar os limites pré-concebidos sobre história, arte, identidade, religião e liberdade individual.
No dia seguinte à inauguração da sua exposição na Culturgest, o artista e o curador Bruno Marchand, receberão o público para uma visita e uma conversa sobre as obras selecionadas e sobre as suas articulações no espaço. Questões como a noção de máscara e o papel que a indumentária representou em momentos-chave das lutas coloniais do último século, a ideia de oferenda e a sua importância na economia simbólica de várias sociedades africanas, ou a questão da autoria e da distribuição da arte no quadro de fenómenos como o situacionismo terão certamente lugar ao longo da conversa. Uma oportunidade para ouvir, na primeira pessoa, o desvelar de um particular universo intelectual e criativo.
Reconhecido internacionalmente, o seu trabalho foi já exibido em todo o mundo, incluindo o Festival Internacional de Arte de Tóquio em 2009, a Bienal de Liverpool em 2004 e 2016, a Bienal de Dakar em 2014 e 2016 e a Bienal de Veneza em 2015, Art Basel e Frieze. Nascido no Malawi, em 1975, uma década após a sua independência do Império Britânico, Kambalu estudou na Universidade de Malawi (BA Fine Art and Ethnomusicology, 1995-99); Nottingham Trent University (MA Fine Art, 2002-03) e Chelsea College of Art and Design (PhD, 2011-15) e ganhou bolsas de pesquisa na Yale University e Smithsonian Institution. É professor associado de Belas Artes no Ruskin College e membro do Magdalen College, Oxford University.
Em 2015, a par da sua participação na Bienal de Veneza, foi processado pelo trabalho que mostrou sobre o situacionista italiano, Gianfranco Sanguinetti, que um ano antes tinha vendido o seu arquivo à Biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale. Os críticos consideraram esta uma atitude contrária ao espírito situacionista de propriedade pública e doação de presentes. Assim, Kambalu fotografou todo o arquivo e expôs na Bienal de Veneza, com o objetivo de o devolver ao domínio público. A Sanguinetti processou Kambalu e a Bienal exigindo o encerramento da instalação, a destruição do catálogo da Bienal e uma taxa de 20.000 euros por cada dia de atraso. Sanguinetti não ganhou o caso.
CONFERÊNCIA SOCIEDADE SECRETA: CINEMA NYAU E A PROBLEMÁTICA DA OFERENDA COM SAMSON KAMBALU 17 NOV 2021 - QUA 18:30 PEQUENO AUDITÓRIO DA CULTURGEST Na sequência da abertura da sua exposição nas galerias da Culturgest, Samson Kambalu dará uma conferência no Pequeno Auditório, no dia 17 de novembro, às 18:30 (entrada gratuita sob levantamento prévio de bilhete) acerca da sua produção fílmica em relação ao uso de máscaras nos rituais da irmandade Nyau, uma sociedade secreta do Malawi onde a prática do dom é uma questão central. Olhando para o sincretismo da cultura deste país africano, que Kambalu estende para movimentos filosóficos e artísticos de origem europeia, como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Situacionismo, serão cruzados os trajetos de projecionistas de cinema ambulante na época colonial com as histórias de políticas emancipatórias, referindo algumas figuras radicais do pan-africanismo como John Chilembwe (Malawi) e Clement Kadalie (África do Sul).
CONFERÊNCIA SITUACIONISMOS, CINEMAS E OUTRAS HISTÓRIAS COM CATARINA LARANJEIRO, RAQUEL SCHEFER E RICARDO NORONHA 24 NOV 2021 - QUA 18:30 PEQUENO AUDITÓRIO DA CULTURGEST Os filmes e instalações de Samson Kambalu impelem-nos a olhar de forma cruzada para o pensamento, a produção de imagens e a história concebidas nos territórios africanos e europeus. Tendo como ponto de partida a exposição deste artista, três investigadores do Instituto de História Contemporânea (NOVA FCSH), juntam-se em conferência para refletirem e debaterem as questões que a sua obra nos coloca. Estarão presentes Ricardo Noronha, investigador na área da história social e económica, com uma pesquisa que passa também pelo Situacionismo, um movimento de referência para Kambalu; Raquel Shefer, realizadora e programadora, professora na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3, com investigação na área do cinema africano e da afrodiáspora e Catarina Laranjeiro, que terá também a cargo a moderação deste encontro.
FRACTURE TOWN, DE SAMSON KAMBALU, POR BRUNO MARCHAND
Samson Kambalu nasceu no Maláui, em 1975, numa família de oito irmãos. Uma das mais importantes posses da família durante a sua infância era um armário de livros ao qual chamavam “o díptico.” O díptico albergava uma seleção heterogénea de livros que, no seu conjunto, mapeavam uma parte nada desprezível do conhecimento e do pensamento universal – uma espécie de enciclopédia portátil de fontes primárias. Kambalu mergulhou naquela biblioteca não só como quem tem uma curiosidade inesgotável e uma apetência clara pelo pensamento abstrato, mas também como quem sabia que o mundo era muito maior do que o Maláui, mas que não tinha outros meios para o explorar.
No díptico, o jovem Kambalu encontrou mitos e religiões, ciência e filosofia, antropologia e ocultismo. Assombrou-se por Nietzsche e procurou respostas para as grandes questões da vida. Fundou uma religião – o Holyballism –, encontrou para ela o mantra perfeito – exercise and exorcise – e decidiu ser artista visual, mas apenas após perceber que ser artista marcial ou estrela Pop não estava ao seu alcance. Não que não tenha tentado: emulou, com sucesso, os movimentos de Bruce Lee e de Michael Jackson que via, escondido, em sessões de cinema ao ar livre. Foi aí que se deixou contaminar, também, por uma dada estética cinematográfica, feita de filmes projetados em condições rudimentares e fortemente editados para deixar apenas os momentos de ação. Foi aluno na Kamuzu Academy, a escola secundária de elite com que o “Life President”, Hastings K. Banda, quis imitar Eton em Chimphepo, e, aquando do regresso apoteótico do aluno brilhante à terra onde crescera, submeteu-se ao Gule Wamkulu, um ritual de passagem das tribos Chewa, governado pelas ideias de excesso, oferenda, máscara e jogo.
Fez um curso superior de artes visuais e etnomusicologia e abriu um ateliê onde recebia clientes e outros interessados na sua obra. Susan foi uma dessas visitas e, apesar de esta lhe ter matado o cão inadvertidamente numa marcha atrás, apaixonaram-se e decidiram viver juntos no Reino Unido em 2001. Escreveu um livro de memórias endossado por Gary Indiana e foi selecionado por Okwi Enwezor para a Bienal de Veneza de 2015. Foi processado por um famoso situacionista e ganhou, já em 2021, a última edição do Fourth Plynth. Samson Kambalu é um dos mais singulares tradutores da cultura sincrética africana para os olhos e para a razão ocidentais. É também um intérprete e um crítico da história conturbada destes dois blocos. Fracture Empire é a apresentação mais completa da sua obra até à data.
A história pós-Colombo assenta numa ideia de globalização e progresso unilateral, racista, antropocêntrica, capitalista, patriarcal e heterossexista. O pós 2ª guerra criou uma ilusão de fraternidade e igualdade, sem que a ordem do poder fosse disputada.
A ordem que até aqui reconhecemos parte do norte global, coloca-o e à sua linhagem no centro, esmaga e apaga a diversidade, distorce a sua presença histórica, confabula a normalidade e prescreve soluções competitivas de felicidade e de sucesso individual.
Este modelo colonial de sociedade e produtividade está em crise. A pandemia confronta-nos com a falência do trabalho, dinheiro e património como metas estruturadoras dos grandes propósitos de vida.
Enquanto sociedade preparamo-nos para um novo capítulo? É possível pensar um futuro inclusivo, justo e sustentável sem saber quem somos no espelho da história? Sem recuperar histórias e conhecimentos de outros centros e protagonistas? Haverá futuro fazível sem plurividência?
NESTA MICAR, PROCURAREMOS AS VOZES E CORPOS CUJAS MEMÓRIAS E VISÃO TÊM SIDO MANTIDAS NAS MARGENS. EXPLORAREMOS O LUGAR DE MULHERES, DE JOVENS E DA ARTE NA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL. PARA COM TODAS AS PESSOAS E ATRAVÉS DELAS RESGATAR O DIREITO À MEMÓRIA PASSADA, DESCOLONIZAR A ORDEM DO MUNDO E REIVINDICAR O DIREITO AO FUTURO.
Todas as sessões têm entrada gratuita, embora sujeita a levantamento prévio de bilhetes, os quais estarão disponíveis na bilheteira do Teatro Municipal do Porto — Rivoli.
O evento é promovido pelo SOS Racismo com apoio da Câmara Municipal do Porto e Teatro Municipal Rivoli e, ao longo das 8 edições consecutivas, com o suporte de diversos parceiros institucionais.
Durante os três dias do evento são exibidas obras cinematográficas que focam a temática do racismo, da imigração e das minorias étnicas; várias sessões são complementadas por um debate sobre o tema abordado, para os quais contam com alguns convidados especiais.
O Porto tem tradição de festivais de cinema de qualidade. Orgulham-se de participar neste movimento e juntar o melhor dos diversos públicos, para debater a questão do racismo na sociedade e promover o acesso dos cidadãos e cidadãs aos espaços culturais da cidade.
'como coisa real por fora'. Impressão Inkjet Epson Ultrachrome K3 s/ papel Hahnemühle Photo Rag 308gms.90 x 70 cm. 2020.
COMO COISA REAL POR FORA COMO COISA REAL POR DENTRO
«Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.» — A Tabacaria, de Fernando Pessoa
«como coisa real por fora, como coisa real por dentro» resulta de uma investigação teórica e formal de Jordi Burch, iniciada há cerca de 2 anos, sobre a fotografia enquanto linguagem e suporte, recorrendo ao exterior da própria imagem e ao fazer fotográfico que aqui se assumem como matéria criativa. Trata-se, no fundo, de uma reflexão sobre a Fotografia e suas fronteiras, sobre o que, por definição, provocação ou da sua prática, lhe é intrínseco.
“COMO COISA REAL POR FORA, COMO COISA REAL POR DENTRO”
Jordi Burch’s exhibition “como coisa real por fora, como coisa real por dentro” will open on the 25th of september. The images presented here contemplate about the expectation that photography must portrait a world outside of its own language. Therefore, these images reflect, not only, the exhaustion of the realist aesthetics, as well as the importance of the process and its gesture’s production. This brings the images closer to reconfiguration. It is not about creating representations with no language, it is about finding images that can be part of possible worlds.
Seminário Internacional de Cinema Doc’s Kingdom 2021 regressa a Arcos de Valdevez de 1 a 5 de Outubro
“O Movimento das Coisas” é o ponto de partida da presente edição do Seminário Internacional de Cinema Doc’s Kingdom, que regressa a Arcos de Valdevez de 1 a 5 de Outubro. O Seminário Doc’s Kingdom é organizado desde 2000 pela Apordoc — Associação pelo Documentário, também responsável pelo Festival Doclisboa.
O único filme realizado por Manuela Serra — “O Movimento das Coisas” (Portugal, 1986/2021), estreado comercialmente 40 anos depois das filmagens em Lanheses, no Alto Minho —inspira o programa da presente edição, que celebra o reencontro no cinema com a presença de Manuela Serra, Jeannette Muñoz, Jessica Sarah Rinland, Naomi Uman e Sílvia das Fadas, entre outras realizadoras a anunciar.
Com um programa secreto até ao início de cada projecção, o Doc’s Kingdom 2021 reúne gestos que nos convocam para uma experiência táctil do cinema, incluindo um programa inédito de sessões especiais em 16mm, a partir do diálogo entre obras e cineastas que imaginam o lugar da comunidade na fragilidade do encontro e na sensibilidade do contacto, aí encontrando a sua força e a sua forma singulares.
O Doc’s Kingdom arranca na tarde de sexta-feira, 1 de outubro, com a conferência “A Vez do Cinema”, organizada em parceria com o Cineclube de Arcos de Valdevez. A conferência reúne delegados de projectos — salas, laboratórios, escolas, livrarias ou residências artísticas — que são exemplares na sua dimensão simultaneamente local e internacional. Estão confirmadas, entre outras, as participações de Ao Norte (Viana do Castelo), Casa do Xisto (Barcelos), Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa (Porto), Filmaporto Film Commission(Porto), Laboratório da Torre (Porto), Numax (Santiago de Compostela), Rua Escura (Porto), para além do Flaherty Film Seminar (Nova Iorque, EUA) e La Vulcanizadora (Santa Marta, Colômbia).
Originalmente inspirado pelo seminário Flaherty, o Doc’s Kingdom mantém as mesmas características distintivas desde a sua primeira edição em 2000: ao longo de uma semana, o mesmo grupo vê filmes e conversa informalmente sobre eles; cada jornada inclui sessões de filmes de diferentes cineastas, propondo o diálogo entre os autores presentes e um debate coletivo aberto a todos os participantes, sem distinções hierárquicas entre realizadores, estudantes, professores, espectadores e organizadores; desde 2013, para encorajar a participação integral no seminário e intensificar a experiência de imersão total, o seminário não divulga antecipadamente o programa de filmes; ao longo do programa intensivo de projecções e debates, a experiência passa também pelo encontro com o lugar onde se realiza o Doc’s Kingdom, promovendo a relação com a comunidade local.
Contrariando a dimensão quantitativa dos festivais e a formatação do espaço académico, o que aqui se propõe é uma experiência de cinema e uma experiência humana global, que desejavelmente se tornem uma só coisa. Este encontro visa proporcionar um salto no conhecimento e na visão de quem nele participa. Por um lado, através da experiência concentrada de projecções e debates. Por outro, usando como catalisadores a própria vivência de grupo e a oportunidade de mergulho num lugar inspirador, que extrai os participantes aos seus diferentes contextos habituais, convidando-os para uma experiência de imersão total.
O seminário insiste na dimensão colectiva desta experiência, propondo um programa único para todos os participantes, sem eventos paralelos e sem alinhamento prévio: em cada sessão, o grupo entra na sala de cinema sem mapa, aliando a disponibilidade e o risco para cooperar numa experiência que não pode antecipar.