A partir destas duas paisagens vividas de um Brasil que exclui da cidadania grande maioria da sua população, Geovani Martins e Ailton Krenak colocam todas as perguntas sobre a possibilidade de um outro Brasil que se aguarda. Um Brasil em que, na era dos computadores, um jovem favelado como ele não tenha mais de escrever um livro como este numa máquina de escrever que a mãe comprou numa feira de velharias. Mas este gesto – tal como o de Ailton Krenak, em 1987, na Assembleia Constituinte – revela-nos uma energia imparável, e a confiança que dela recebemos permite-nos acreditar na “comunidade que vem”, “apesar de você”, apesar de tudo.
A ler
04.03.2020 | por Margarida Calafate Ribeiro
É preciso salvaguardar uma possibilidade de futuro — essa poderia ser uma outra definição para bacuralizar, ou uma outra forma de descrever a atitude museológica que coloco como urgente. É preciso habitar Bacurau, aliar-se aos que caíram (João Pedro, Marielle) e aos que resistiram (Elizabeth Teixeira, camponeses, Eduardo Coutinho, Cabra marcado para morrer), convocar outros filmes e outras lutas para conjurar futuros. Como o pássaro-escriva-anjo-museólogo, é preciso convocar os mortos e caídos a esse cortejo fúnebre para, com eles, ir de encontro ao porvir. Esse cortejo não é mais que um museu. É possível que falhemos. Mas eles também falharam.
Afroscreen
04.03.2020 | por Patrícia Mourão
Num momento político em que a presença evangélica está tão demarcada e estabelecida em nosso país, precisamos aprender a lidar com esses corpos. Se pensarmos que também podemos usar a câmera para reagir a essa conjuntura que estamos passando, produzindo contra-narrativas discursivas e imagéticas, que nossos olhares sejam capazes de deslocar territórios já estabelecidos, (re)criando possibilidades outras de representação.
Afroscreen
13.01.2020 | por Lorenna Rocha
Como documentarista, tenho o privilégio de poder voltar às minhas imagens, e agradecer o olhar que estas pessoas me lançaram, uma e outra vez. Ao longo dos filmes, dos depoimentos e das paisagens, estes sorrisos e estas histórias me acompanham como uma prova de fé.
Mukanda
06.01.2020 | por Rita Brás
A figura quer conhecer-se ou receia fazê-lo? Resistência e tensão palpáveis. Mais um paralelismo com uma versão adulta mas que resume bem os anos de opressão capilar: Rodrigo ao espelho, máquina de cortar cabelo em riste, domando e inibindo, uma vez mais, o cabelo que não se permite conhecer. Ao ver o seu portfólio, encontro uma figura feminina de costas voltadas para um espelho.
Corpo
10.12.2019 | por Gisela Casimiro
Sou muito pequena, e sinto que vivo numa ilha sem país, tentando contato apenas com o mar. Platão dizia que existem três tipos de pessoas: as mortas, as vivas, e as que vão para o mar... Encho o copo de vinho, e penso que me identifico com a terceira estirpe, enquanto os meus amigos estão convencidos que o povo brasileiro é o próximo a ir para as ruas partir tudo.
A ler
07.12.2019 | por Rita Brás
Reflexão acerca da documentação pública arquivada pelo Estado Brasileiro: como ler esses arquivos? Como construir memória a partir deles? Como aprender coletivamente sobre a história do país e de seu povo, a partir de sua análise? Como preservar esses acervos e, como consequência, a memória dos processos civilizatórios que alicerçam a sociedade atual?
Vou lá visitar
03.11.2019 | por vários
Se a espécie humana se autodestruísse e desaparecesse do planeta, o Rio de Janeiro seria uma das primeiras cidades a recuperar o seu biótopo natural. Em poucos meses, a humidade racharia o cimento, permitindo a infiltração da água, e o tempo faria essas fendas se alargarem, favorecendo a irrupção de ervas. Se os esgotos fossem destruídos, antigos cursos de água reapareceriam e novos surgiriam. Não tardaria para que praças e ciclovias fossem invadidas por gambás, gaviões, cobras, capivaras e corujas. Em pouco tempo, a floresta ocuparia toda a região.
Cidade
29.10.2019 | por Rita Brás
Fruto da primavera secundarista, 16 corpos insurgentes deslocam para a cena a experiência que tiveram dentro das escolas ocupadas durante meses, criando uma narrativa coletiva e comum a partir da perspectiva de quem viveu o dia a dia dentro deste movimento que foi um dos grandes acontecimentos políticos dos últimos anos. A peça, que está na fronteira entre performance e teatro, é uma “dança-luta” coletiva construída a partir da experiência de luta e afeto de cada performer.
Palcos
12.09.2019 | por vários
Exigimos um posicionamento do Governo Português perante estes crimes contra a humanidade e o planeta. Apelamos ao boicote de todos os produtos provenientes do agronegócio brasileiro e ao cancelamento da vinda de Jair Bolsonaro a Portugal no começo de 2020. Defendemos a entrega incondicional dos territórios indígenas aos seus povos, demarcando as suas terras e fiscalizando essas demarcações contra as invasões ilícitas de madeireiros, garimpeiros e tentativas de grilagem!
Mukanda
25.08.2019 | por Fórum Indígena de Lisboa
"Cabeça acústica", construída com bacias de alumínio, catalisa uma experiência acústico-perceptiva que, diferentemente do material que a constitui, não tem nada de trivial. Instalada como uma espécie de epígrafe à mostra “Marepe: estranhamente comum”, com curadoria de Pedro Nery, a obra encarna aspectos da poética do artista
Vou lá visitar
10.08.2019 | por Icaro Ferraz Vidal Junior
Do Haiti mobilizado esse semestre todo pela destituição do seu presidente às jovens do Extinction Rebellion interpelando a Europa rica. E nas lutas pela vida de corpos coletivos no Brasil, que sobrevivem à guerra colonial em curso (Canudos é reencenada desde sempre, clama Zé Celso no barco pirata em Paraty), lutando e criando, resistindo e construindo, em territórios livre e libertos, permanentes e fugazes.
Mukanda
23.07.2019 | por Jean Tible
No presente, porém, essa população miscigenada de forma forçada e violenta não encontra respaldo, nem reconhecimento por parte da elite política e econômica do país, que ainda reproduz comportamentos enraizados de discriminação dos afro- descendentes, sem esquecer que o primeiro grande contingente de escravos trazido a Portugal
A ler
11.07.2019 | por Miguel de Barros
A Mostra Ameríndia integra uma multiplicidade de experiências que nos retiram dos lugares convencionais de olhar e entender o cinema. Nestes filmes, os coletivos indígenas atuam em diferentes níveis. São cineastas no sentido ocidental, apontam a câmera para a sociedade colonial, para o quotidiano da sua aldeia, para os seus rituais, ou ainda para os avanços do agronegócio. Também colaboram com não-indígenas na produção e realização dos seus filmes.
Afroscreen
09.03.2019 | por vários
Éramos 3500 a desfilar na Mangueira “a história que a História não conta”. E connosco estava o país que resiste desde 1500 até Bolsonaro. A Mangueira não ganhou só o Carnaval. Deu uma nova bandeira ao Brasil. O morro desceu para a História.
Vou lá visitar
08.03.2019 | por Alexandra Lucas Coelho
Fazia sentido focar numa dança que se originou no contexto colonial, através de um processo de troca e influência acomodado por um sensível engajamento físico, mas também dentro de um sistema de exploração global e local. Lundu é uma dança de sedução e prazer que se desenvolveu devido ao intercâmbio entre africanos, espanhóis e portugueses no Brasil dos séculos XVII e XVIII.
Palcos
16.01.2019 | por Camila Sposati e Falke Pisano
uma necessária reflexão sobre os modos de absorção coletiva de fatos históricos traumáticos e de como revisões, inclusive bastante deformantes, podem acontecer através de releituras. Um reuso é uma reinscrição de uma imagem do passado na moldura de uma determinada, provavelmente outra, ideologia que tem interesse em evocar determinado passado para criar a sua contra imagem com pretensões hegemónicas e de impacto na opinião pública.
A ler
19.12.2018 | por Roberto Vecchi
Marchas, grupos, associações, festas, hortas, ocupações, ações e criações mil constituem a irrupção singular de novas subjetividades preta, LGBTQ+, trabalhadora, periférica, feminista, indígena, múltiplas que desperta medo (todos os levantes brasileiros foram seguidos de uma brutal repressão – a revolta do malês de 1835 como um dos inúmeros exemplos). O golpe (que segue) como uma peculiar contra-revolução, desencadeada pelo temor da exuberância vital dos corpos livres, insubmissos, descolonizados, não domesticados. Daí as reações identitárias (branca, masculina, heteronormativa) que pululam e os ataques constantes às principais esferas de atuação (cultura e educação) dessas emergências.
A ler
12.12.2018 | por Jean Tible
"No Intenso Agora" João Moreira Salles questiona a memória, seja ela pessoal ou coletiva, e fá-lo a partir da perspectiva da pós-memória. Uma das principais questões do filme é a busca do narrador para entender como sua mãe foi feliz e viveu intensamente num dado momento de sua vida, quando viajou para a China em 1966 integrada numa delegação variada, para testemunhar transformações produzidas pela Revolução Cultural. Em vez de constituir um "interlúdio", pode-se dizer que o foco naquela viagem e as filmagens que sua mãe trouxe consigo poderiam ser uma, ou a, parte central de todo o filme. Mas isso também seria impor uma estrutura que o filme recusa.
A ler
01.12.2018 | por Paulo de Medeiros
A luz negra, que havia encarnado em tudo com toda intensidade, foi aos poucos escorregando por entre os cantos do labirinto, banhando nosso corpo e se cravando outra vez no profundo. Estivemos ali por muito tempo, cozinhando junto com a terra. Pouco a pouco, à medida que nossos corpos foram recuperando o acesso às pernas, decidimos nos separar e mover pelo labirinto de túneis, a tentar captar as repercussões do nosso ataque, e estudar as implicações do que havíamos feito.
Corpo
26.11.2018 | por Jota Mombaça