Esta história ficcional da autoria de Lídia Jorge, passada no Algarve durante o boom imobiliário dos anos 90, agora tornada filme, aborda várias dimensões da realidade portuguesa contemporânea: o desengano pós-revolucionário, a imigração cabo-verdiana, a herança colonialista e o racismo. 50 anos decorridos da Revolução dos Cravos, e num momento político em que os valores democráticos estão constantemente a ser postos à prova, este filme convida a uma reflexão sobre o discurso de Portugal como uma sociedade não racista e sobre o imperativo de respeitar todos os seres humanos independentemente das suas diferenças, quaisquer que elas sejam.
Afroscreen
12.06.2024 | por Patrícia Martinho Ferreira e Laura Caballero Rabanal
Diria que isto, pelo menos, é certo: tudo passa, em Portugal, pelo 25 de Abril. Se o querem desinscrever, cabe a nós o reinscrevermos. Mas, desta vez, finalmente, inscrevendo no 25 de Abril “o país da não-inscrição”, onde também habitam, com a sua Praça do Império, os espectros do extenso e complexo trilho da “presença histórica de Portugal no mundo” (e não serão eles que têm estômago para "antropofagizar" Salazar?). O que se confirma, por outras palavras, é a conclusão geral do Morte e Democracia de José Gil (2023): entramos na era da “espectrologia política”.
A ler
22.05.2024 | por Filipe Ferreira
A questão das reparações é complexa. Longe de ser um mero tema mediático ou discurso político-académico, é (deveria ser), uma ação que envolve muita gente, lugares, contextos e temporalidades. Não pode ser uma agenda que “Portugal deve liderar”, como diz o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Existem várias dimensões sobretudo geopolíticas que exigem dos “danados” uma agência e protagonismo inegociáveis. Por outras palavras, é preciso poder. O poder de exigir e de obter. Fora disto estaremos apenas a "apelar, ingenuamente, ao coração dos opressores”. No início deste ano, realizou-se uma conferência no Porto sobre a questão das reparações. Do encontro, resultou um documento intitulado “Declaração do Porto: Reparar o Irreparável” com 20 propostas concretas que resumem reivindicações de longa data dos movimentos e pessoas negras em Portugal.
Mukanda
02.05.2024 | por Apolo de Carvalho
Antes do 25 de Abril fui processado como fundador, também, da Assírio e Alvim, pela edição do livro “Portugal sem Salazar” e, depois do 25 de abril, pela edição do livro “Massacres na Guerra Colonial Tete” num processo movido pelo Estado Maior General das Forças Armadas que chegou, depois, ao 5º Tribunal Militar Territorial de Lisboa e o acusador público, o militar que fazia esse papel, pediu que o processo fosse integrado na chamada Lei da Amnistia, a Amnistia dos crimes de abuso de liberdade de imprensa.
Cara a cara
09.04.2024 | por Mariana Ribeiro Mota
E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolucão”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores da PIDE/DGS na cidade da Praia e na qual o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios e sessões de esclarecimento, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.
A ler
08.04.2024 | por José Luís Hopffer Almada
Depois de quinze anos de luta pela libertação e independência – numa guerra iniciada em Angola, que seguiu forte para a Guiné-Bissau e Moçambique -, dá-se o 25 de Abril como um desenlace que muitos esperavam. Em 1974 abre-se um novo capítulo, ainda que polémico, para o processo de descolonização. Como é que algumas personalidades angolanas viveram a Revolução portuguesa que pôs fim ao longo regime ditatorial fascista de Salazar e Caetano? Momentos de emoção ou de apreensão? O que foi dominante: a perplexidade, ou já era previsível? Em que circunstância se encontravam? Que implicações trouxe para a vida de cada um? Qual foi a percepção para o futuro do país? Conforme o lugar de enunciação, o 25 de Abril acabou com a guerra ou foi esta que o desencadeou? Recolhemos vários depoimentos que ajudam a construir este puzzle de memórias, pois para além da História que vem nos livros, interessa-nos as suas entrelinhas.
A ler
28.04.2022 | por Marta Lança
Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.
Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.
Vou lá visitar
05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes
“Ainda somos escravizados na sociedade moderna, mas houve muitos grandes homens que morreram para hoje estarmos aqui a gozar dessa liberdade”, diz PekaGboom. Bráulio concorda, e evoca a importância do 25 de abril. As revoluções são ensinamentos e também uma urgência, pois o quotidiano de racismo, precariedade e salários indignos permanece. “Vida preta do negro” é o manifesto.
Afroscreen
22.12.2021 | por Otávio Raposo
A Tugalândia é tão complicada que não consigo pensar bem, são tugas brancos a serem racistas, são tugas pretos a serem classicistas, são tugas assim-assim a serem assado-assado, e eu aqui apanhado em pensamentos confusos e contraditórios, querendo deixar esta tarefa inglória de estudar os tugas e voltar para Guiné, mas a Guiné está numa situação ainda mais merdosa.
Mukanda
21.12.2021 | por Marinho de Pina
Pertenço a uma geração em que se falou do 25 de Abril muito a correr. Aliás, estava nas últimas páginas dos livros de História. Falou-se essencialmente do Mário Soares - que era o que aparecia com algum relevo naquelas páginas. Conhecia a cara do Álvaro Cunhal, um bocadinho mais escondida. E depois quando se falava das colónias, era uma página. Então, a sensação que eu tinha era que aquilo tinha acontecido numa semana e que nós tínhamos sido expulsos de lá e acabou.
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03.10.2021 | por Bruno Sena Martins
A descolonização, iniciada com a resistência dos povos colonizados, teve no 25 de Abril uma data marcante. O golpe feito revolução resulta diretamente da derrota política na guerra. A ele se sucedeu o fim do império em África e um processo revolucionário do qual a democracia portuguesa é herdeira. Neste sentido, uma boa ocasião para debater e estimular novas políticas públicas da memória sobre o passado colonial será, certamente, o próximo ciclo comemorativo do 25 de Abril.
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19.07.2021 | por Miguel Cardina
Para desgosto dos mestres-jardineiros da outrora capital do império, a “inconstância da alma indígena” foi e será a autodeterminação de quem se quer recusar a ser talhado pelo poder colonial-racista. Vale lembrar que os cravos de abril não teriam existido sem essa preciosa determinação.
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22.05.2021 | por Bruno Sena Martins
É assim, os tugas disseram que o 25 de Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão, à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o Cristão Ronaldo o capitão.
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26.04.2021 | por Marinho de Pina
É um lugar-comum dizer-se que a produção de memória arrasta consigo, inevitável e concomitantemente, a produção de esquecimento. Há muitas formas de esquecimento, a mais insidiosa das quais é, sem dúvida, a rasura da memória, a reescrita do passado como parte de uma estratégia deliberada de intervenção no presente.
Jogos Sem Fronteiras
28.02.2021 | por António Sousa Ribeiro
A Pátria discutia-se a sério, pela primeira vez. Se antes o “Ultramar” parecia um tabu intransponível, tanto nas forças apoiantes do regime como mesmo nos diferentes campos ideológicos e políticos da oposição ao regime, agora a discussão sai da Assembleia Nacional e dos círculos restritos do regime para se tornar pública e inevitável.
Spínola anuncia uma “encruzilhada” do regime e do problema ultramarino.
Jogos Sem Fronteiras
22.02.2021 | por Luís Farinha
Depressa percebi o que era Abril. E hoje percebo ainda mais a sua necessidade e importância. A luta pelos direitos nunca foi nem nunca será garantida. É diária e extremamente instável. Precisa de vozes, de eco, de gritos. Precisa de inquietação. Abril foi e é também uma das razões pelas quais eu posso cá estar hoje. A ocupar este espaço que durante muito tempo não foi meu nem de nenhuma mulher. Um espaço pequenino, confinado, como uma quarentena obrigatória em que não era suposto sair à rua e muito menos reivindicar o que seria meu por direito. Em que não era suposto eu ter uma opinião e muito menos expressá-la num lugar qualquer, fosse ele político ou social, académico…
A ler
03.11.2020 | por Marta Dias
As independências não foram uma concessão deliberada e solidária do novo regime, foram uma conquista que resultou da coragem e determinação de homens e mulheres que lutaram pela libertação e soberania territorial dos seus países e enfraqueceram o regime colonial português até ao limite das suas possibilidades humanas e militares. Além disso, o movimento anti-colonial nunca foi assumido e articulado pelas agendas políticas portuguesas do novo regime (tanto as de esquerda como as de direita) de uma forma assertiva e consequente, e essa negligência histórica tem repercussões e continuidades até aos dias de hoje, no que diz respeito à segregação, exclusão e obliteração racial em Portugal.
Mukanda
26.04.2020 | por Núcleo Antirracista de Coimbra (NAC)
O cinema português contemporâneo defronta-se com a questão de como representar a revolução, de como reactivar o tempo da revolução no presente, presentificando-a, arrancando-a ao distanciamento do passado e do arquivo e conferindo força política objectiva e crítica às imagens do 25 de Abril. Se a travessia da história constitui uma operação crítica por excelência e se o método historiográfico comporta necessariamente um processo de identificação com os acontecimentos do passado, para os cineastas portugueses, sobretudo para aqueles que cresceram ou nasceram depois do 25 de Abril, a existência de um tão vasto arquivo e de um corpus cinematográfico extraordinário coloca o problema mais além de qualquer historicismo.
Afroscreen
27.10.2013 | por Raquel Schefer