Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?
A ler
25.10.2022 | por Liz Almeida
Historicamente, África tem sido retratada numa perspectiva que não faz jus à verdadeira dimensão das suas conquistas em termos de desenvolvimento. Embora o seu território abranja mais de 30 milhões de quilómetros quadrados, a projecção de Mercator representou o continente africano com as mesmas dimensões que as da Gronelândia, que é 14 vezes mais pequena. A descrição cartográfica do mundo feita por Mercator, datada de 1569, tornou‑se uma das projecções mais influentes e amplamente difundidas ao longo dos séculos xix e xx. Houve quem defendesse que a intenção inicial era sobretudo proporcionar aos marinheiros uma ferramenta de navegação, devido à facilidade de assegurar a precisão dos formatos e dos ângulos, mas o certo é que esta descrição acabou por se tornar o mapa mundial mais reconhecido, aparecendo como pano de fundo nos jornais televisivos, na decoração de paredes das casas, em murais e na capa de muitos atlas.
Mukanda
22.08.2022 | por Carlos Lopes e George Kararach
É contra este desligamento, contra esta hierarquia da teoria sobre a praxis, por exemplo, que este livro opera. Não digo a que este livro se refere, digo “que este livro opera” porque, sentindo-se o que nos é informado numa nota na página final desta publicação, que se trata aqui de textos que derivam de publicações anteriores em artigos ou ensaios de jornal, sente-se também um pensamento que é feito acompanhando e entrelaçando-se, com a contingência, com as circunstâncias históricas atuais e com a práxis da vida quotidiana. É também de questões que reverberam diretamente dos dias que estamos a viver que este livro emerge, interpelando o nosso modo de os habitar.
A ler
31.05.2022 | por Liliana Coutinho
será que o leitor se referia ao seu aspecto físico ou à totalidade da sua percepção da realidade? Ao bairro onde Fidel vivia, ao seu quotidiano e indumentária, condição social, cor de pele, ou a outra condição limitadora? A Primavera não chegou para explicar a mim mesma por que razão as dores de Fidel, os seus medos, os amores de Fidel, os seus anseios, são dores, amores, anseios de segunda — anseios, medos, dores e amores com um grau inferior de generalidade ao da gente que costumamos encontrar dentro dos livros a que chamamos romances.
A ler
24.07.2020 | por Djaimilia Pereira de Almeida
O processo foi mil vezes intentado. Podemos recitar de olhos fechados as principais acusações. Seja a destruição da biosfera, o resgate das mentes pela tecnociência, a desintegração das resistências, os reiterados ataques contra a razão, a crescente cretinice das mentalidades, ou a ascensão dos determinismos (genéticos, neural, biológico, ambiental), as ameaças à humanidade são cada vez mais existenciais.
Mukanda
09.04.2020 | por Achille Mbembe
Como todos, estou numa espécie de filme de ficção científica onde temos alguma comida extra e vamos acreditando no que nos dizem na TV. Só saí de casa antes de ontem à tarde para ir buscar cigarrilhas e fiquei numa "bicha" de zombies na estação da BP. Muitos com máscara e eu sem mascara porque pus no meu Buda. Tenho medo que apanhe qualquer coisa e me passe a crença budista - isto nunca se sabe. Estou meio sensibilizado com tudo o que vou vendo, mas o que mais me chocou foi o Donald Trump a ofender os chineses dizendo que o vírus veio da China.
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21.03.2020 | por Adin Manuel
cada vez mais fico com a sensação de que um dos desafios que a condição pós-colonial coloca a pessoas como eu é de sermos melhores europeus do que os próprios europeus, pois estes, por deixarem que sejam seus porta-vozes pessoas sem noção do importante legado intelectual e moral que a sua nacionalidade implica, abdicam dum projecto normativo que, apesar de tudo, tinha (e ainda tem) tudo para dar certo.
Mukanda
05.02.2020 | por Elísio Macamo
Para Bhabha, face à incerteza do posicionamento de fronteiras – que são maleáveis e flutuantes – do período pós-colonial, emancipa-se o lugar que está para lá, permanecendo-se, porém, num perpétuo entre.
Esta des-referenciação, baseada na transformação cultural movida pela dinâmica de êxodos migratórios, pela deslocação de grupos étnicos, religiosos e ideológicos, pela itinerância de refugiados e de exilados políticos e pela re-definição de estatutos e fronteiras políticas, está assente na noção exploratória e expeculativa do beyond – para lá/paraalém de.
Jogos Sem Fronteiras
20.03.2019 | por Luísa Sol, Ana Teresa Ascensão, Manuel Aires Mateus e Vasco Tavares dos Santos
O trabalho de um artista, como o de qualquer trabalhador imaterial, implica portanto recusar o status quo, isto é, a obrigação de “fazer sem pensar, sentir sem emoção, se mover sem fricção, se adaptar sem questionar, traduzir sem pausa, desejar sem propósito, se conectar sem interrupção.” De forma a inverter esse processo, poderíamos começar por reclamar empatia com a imaginação não-humana e inumana dos mundos, tendo em conta que a aliança e a empatia fazem parte do processo enraizador da imaginação na política.
A ler
21.03.2017 | por Ritó aka Rita Natálio
portanto, a partir deste capítulo de desvinculação colonial tão “desconhecido” quanto contundente, da longa primavera da África (por relação aos acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio), e de um novo pensamento ideológico e cultural (o exemplo da “pedagogia da revolução” de Amílcar Cabral, nas palavras de Paulo Freire), que as responsáveis – Ligia Nobre e Cécile Zoonens – pela plataforma exo experimental org., em colaboração com Anne Sobotta, “imaginaram” uma aproximação renovada e necessária. Mas qual a importância contemporânea desta aproximação? O que alimenta esta necessidade hoje, em que o Brasil se assume como uma potência no mundo? O que existe para além da histórica descendência afro, de milhões de brasileiros?
Vou lá visitar
21.08.2013 | por Marta Mestre