GIZ, livro de poesia de Gisela Casimiro
Lançamento no próximo sábado, dia 29 de abril, em Lisboa, na Livraria Snob. Com a presença do editor, Wladimir Vaz, a poeta e dramaturga Maria Giulia Pinheiro, o músico Dino d’Santiago e a actriz Cirila Bossuet!
Capa de Ricardo Falcão e prefácio de Emicida.
Na capa, estão as duas filhas mais velhas do meu amigo Ricardo Falcão, autor da foto (já me cedera outra foto linda para a tradução do Erosão para mandarim). Somos amigos há muitos anos, falamos quase todos os dias. É uma pessoa com quem falo de todas as questões da vida, as raciais também, e que me ajudou imenso na pesquisa da “Casa com Árvores Dentro”, como antropólogo, investigador e mediador cultural. Certamente uma das pessoas que mais me influencia e admiro. Adoro a sua família, que me deu a conhecer o Senegal sem lá ter estado. Inspiro-me no seu activismo invisível, impactante e despretensioso, e no quanto escureceu a minha biblioteca. No seu filme Yoon e trabalho sobre a Mutilação Genital Feminina.
As meninas na foto são a Fátima e a Mariama. Também inspiraram a minha peça “Campeã Nacional de Dificuldade”, da exposição “Erro 417: Expectativa Falhada”. Fiz uma parede de escalada que não pode ser escalada, com cordas reais de escalada, maçanetas e espelhos (a peça onde entra a chave) como apoios, reflectindo nas questões da negritude, da black excellence, dos acessos e das mil formas como receamos quer o sucesso quer o fracasso, o preço a pagar por marcar o limite, mesmo quando se é the G.O.A.T.
Na 2a edição do Erosão a capa é um auto-retrato. Sempre quis ser capa. Por que não? Via as capas do Al Berto e achava que também ficaria bem. E fico. Na altura não havia mulheres negras nas capas dos livros que eu lia, sobretudo de poesia. Mal havia nas das revistas. Li a Alice Walker na mesma altura que li o Al Berto, mas a Alice também não estava na capa. O importante é que cheguei lá. Outro dia vi a minha amiga Paula Cardoso na capa de uma revista e foi como se eu (adulta e criança) estivesse na capa daquela revista. Entendem? Por isso estão a Fátima e a Mariama na capa do meu livro.
A Alice está num dos poemas do livro. Alice é, também o nome da irmã mais nova da Mariama e da Fátima.
O livro mais duro. É o meu único nome, são uns quantos diminutivos, é o que ficou depois de passar pela Erosão. O giz vem do calcário. É o resto de uma pedra enorme que carreguei e ainda carrego, apenas de outra forma. Paisagem e pó.
Uma matéria com que me entretinha na hora de almoço na escola, ocupando paredes e chão, infância e adolescência; na pedreira procurar fósseis e tentar não cristalizar em formas impostas e auto-impostas. É deixar que as coisas me pesem durante menos tempo, poder apagar e reescrever dores, memórias, hábitos, crenças e comportamentos de outra forma, mais leve. É poder segurar a barra e o meu peso durante o maior tempo possível, ficar suspensa no ar e deixar-me cair em segurança. É o contraste e a ausência e o decalque. Uma linguagem simples, directa, crua. É o que é, é o que eu sou, fui, serei, vou sendo. É o giz nas mãos como protecção antes da escalada.
Poemas, uma ou outra piada, o meu diário de sonhos 2023-2011. Todas ou muitas das minhas falhas e traumas, as preocupações que tenho com o mundo. Todas as coisas que acho bonitas. E muitas pessoas. Alguns nomes, muitas pessoas.
Inéditos, coisas que saíram aqui e ali ao longo destes anos, em antologias ou revistas, coisas que são muito novas e coisas que são muito antigas, coisas que já foram rejeitadas, coisas que dissequei e coisas que celebrei, coisas que não pensei passar de novo e que foram factor decisivo nesta criação, coisas de que me esqueci e coisas de que me vou lembrando. Coisas como eu. O giz parte-se tantas vezes, como eu. Mas continuamos a poder escrever mesmo com o pedaço mais pequeno.
Amizades falam da perda e da dureza mas de se sentirem acompanhadas no livro.
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Gisela Casimiro apresenta o livro Giz
A editora Urutau tem o prazer de anunciar a apresentação do livro de poesia “Giz” da escritora, artista, performer e activista portuguesa Gisela Casimiro, com prefácio escrito pelo renomado músico e escritor brasileiro Emicida. O evento acontecerá no dia 29 de abril, às 18 horas, na Livraria Snob em Lisboa, e contará com leitura e apresentação de Maria Giulia Pinheiro (poeta e dramaturga), Dino d’Santiago (músico) e Cirila Bossuet (actriz).
“Giz” é uma coleção de poemas que aborda temas como identidade, racismo, cotidiano e memória. Com sua escrita directa e poderosa, sobre ela, Emicida ressalta: “Certeira como Seh Dong hong beh, sua caneta pode ser uma navalha, ou uma folha que suavemente passeia junto ao vento. Dos sonhos que tem o peso das plumas, até as tragédias brasileiras recentes, nada escapa de seus olhinhos escuros e tudo se renova e se reapresenta, mas cuidado! Se existe um tipo de história que nos coloca para dormir, a poesia de Gisela nos desperta. Para dentro e para fora. Para onde importa, eu acrescentaria.”
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29 de Abril, às 18 horas
Snob - Livraria e Editora (Tv. de Santa Quitéria 32A)
Apresentação do livro “Giz”
Com a presença da autora Gisela Casimiro e leitura e apresentação de Maria Giulia Pinheiro (poeta e dramaturga), Dino d’Santiago (músico) e Cirila Bossuet (actriz)