Aurora Negra
Certa vez, em entrevista, Maya Angelou disse evocar todas as pessoas que alguma vez lhe quiseram bem e foram gentis com ela, sempre que pisava o palco, dirigia um filme, fazia uma tradução ou dava aulas. Disse que isso lhe dava força e confiança, era o seu ritual para garantir que tudo correria bem. Imaginava-os, novos e velhos, negros, brancos, gays, família, amigos, colegas, vizinhos, e outros, a subirem ao palco com ela, a acompanharem-na sempre, o tempo todo, o tempo necessário. Uma prestação nunca era apenas sua. Era de todos eles.
Das suas muitas leituras de poesia, considero a também sua adaptação do poema de Paul Laurence Dunbar, We wear the mask, como a melhor. O poema de Dunbar termina com “But let the world dream otherwise,/ We wear the mask!”. A rendição de Angelou termina com “They kept my race alive / By wearing the mask! Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!”. Nesse dia, em 1987, creio que o palco tenha estado tão cheio quanto a plateia, cheio de heroes e sheroes, de ancestrais, como refere a autora.
O poema de Angelou é uma homenagem a uma mulher negra em Nova Iorque, uma mulher que observou durante nove meses, uma mulher que ria sempre. Angelou reparou que a mulher usava a máscara do riso como instrumento de luta, de resistência, de sobrevivência. A máscara como a única forma de ser-se visto num mundo que nos invisibiliza constantemente. Ora, uma máscara é precisamente a primeira coisa que vemos no palco quando entramos para assistir a Aurora Negra.
Ouvi falar de Aurora Negra pela primeira vez no Verão de 2019, na cerimónia de apresentação de temporada do Teatro Nacional D. Maria II. Ouviria falar dela (delas, as inconfundíveis - pun intended - Cléo Tavares, Nádia Yracema e Isabél Zuaa) muitas outras vezes, enquanto ia sendo delineada esta tão aguardada criação, nos encontros pelas ruas e jardins da cidade, teatros ou manifestações em que a sua presença sempre se fazia notar. Foi com o regresso de Isabél Zuaa do Brasil, há quatro anos, que ideias, vontades e necessidades individuais se aglutinaram e foram tomando forma, até que se iniciou o processo de pesquisa, criação e concretização do que agora conhecemos por Aurora Negra. Num equilíbrio entre arte, activismo e constelações (familiares e não só), a atribuição da Bolsa de Criação Amélia Rey Colaço permitiu-lhes ocupar a Sala Estúdio do TNDMII. Sentei-me com as três irmãs, como se tratam e consideram (e que poderiam bem ser as de Tchekhov), para uma conversa, alguns dias antes da estreia. Vozes que se unem, que se confundem, que são muito próprias, que se distinguem. Vozes que nos convidam e se combinam. Vozes que nos guiam.
É um caminho em seis cenas. O prólogo é um ritual nosso, de fortalecimento, de nutrição. Pedimos uma aliança. Evocamos os nomes das mulheres que nos inspiram, desde as nossas mães a Angela Davis ou Nina Simone, que disse “O dever de um artista é questionar o seu tempo”. Questionamos primeiro quem detém a História e, a partir daí, o nosso próprio tempo. (NY) Buscamos uma empatia com a rainha D. Maria II, nas nossas três línguas: português, crioulo da Guiné e crioulo de Cabo-Verde. Mostramos que conhecemos a história dela e contamos a nossa, para que os nossos aliados, presentes e futuros, a conheçam. Damos a conhecer a nossa perspectiva. Pedimos que se coloque, que se coloquem no nosso lugar. (IZ) Da casa e dos seus problemas passamos para a infância, à qual somos transportadas quer pela música comum a todas, como o clássico festivo de Kassav’, Zouk La Sé Sel Médikaman Nou Ni, quer pelas criações originais de Yaw Tembe, Carolina Varela e Bruno Huca. Somos, ainda, confrontadas, na parte do casting, com situações que nos aconteceram. A casa também é nossa. Invadimos a casa para reconstruí-la por dentro. (CT)
A nossa primeira vontade foi ter um all black cast, na verdade, e apenas com mulheres negras, mas esperamos que isso seja possível numa Aurora II, III, IV, em que falaremos de outros temas. Esta equipa é feita de quem é como nós ou é por nós. Trazer para a sala o contraste de um fundo branco, um cenário e uma luz pensados para as peles e corpos negros, foi uma das grandes preocupações. Mas é importante lembrar que isto é criação e não terapia. (NY) Optámos por mergulhar nas nossas próprias experiências, sem estereótipos. Havendo-os, contudo, queremos brincar com eles. Queremos que as pessoas se vejam no palco de forma vertical. Trazemos a nossa história, que é também a de outros, ao Dona Maria. Um preto quando está no palco representa todos os pretos. Um branco quando está no palco não representa mais ninguém a não ser a si mesmo, não é dele ou dela esperado que represente todos os brancos. Nós queremos falar de outras coisas e não ficar rotuladas a nada. Exercer a nossa liberdade criativa de falarmos sobre o que nos apetecer e motivar. Mas tínhamos de começar por aqui. (IZ)
Quando medito sobre a sociedade medito sobre mim. Não posso desassociar o racismo estrutural do que aconteceu à Cléo que chegou ao aeroporto e teve de ir para uma sala esperar e ser interrogada antes de poder pisar o país. Quero falar de mim enquanto artista. Apesar de tudo, existe uma celebração, pois isto vem de um lugar de empoderamento. Retratamos ainda o que, não nos atingindo, atinge outras pessoas. Quem está do outro lado já teve atitudes preconceituosas ou foi alvo das mesmas. Mesmo quem nunca tenha pensado nelas ou passado por essas micro-agressões, que tantas vezes são parte do nosso quotidiano, tem lugar aqui. O riso e a ironia são dois dos instrumentos que usamos para ilustrar precisamente isso. São pequenas luzes, sem colocarmos sobre nós o peso da total responsabilidade social. (CT)
Elas cantam para quem está na sala, repetem o canto que abre o espectáculo. Se eu pudesse, ler-lhes-ia este excerto de Girl, Woman, Other, de Bernardine Evaristo, de que me lembraria ao assistir ao espectáculo e releria ao chegar a casa:
“can’t they see I’m a living goddess? (…)
Amma was shorter, with African hips and thighs
perfect slave girl material one director told her when she walked into an audition for a play about Emancipation
whereupon she walked right back out again
in turn a casting director told Dominique she was wasting his time when she turned up for a Victorian drama when there weren’t any black people in Britain then
she said there were, calling him ignorant before also leaving the room and in her case,
slamming the door
Amma realized she’d found a kindred spirit in Dominique who would kick arse with her
and they’d both be pretty unemployable once news got around”
O desequilíbrio da História, sobretudo em relação à língua, contribui para que nos sintamos estrangeiros no nosso próprio país, quando nos é imposta enquanto língua oficial. Trazemos as línguas dos nossos outros países e criamos esse desconforto em quem não as compreende. A troca não acontece quando chegamos aqui. É uma imposição unilateral. Pequenos códigos, pequenos segredos que Lisboa nos conta desde que prestemos atenção. (IZ)
Faz parte dessa herança que cada um tem, inclusive os que não escolheram estas viagens e encontros. Ela, a Isabél, nasceu cá, é portuguesa, é alfacinha de gema e fala, no entanto, crioulo da Guiné, de onde a família é originária. Eu nasci em Cabo-Verde e cresci aqui, tenho essa mistura em mim, sou o produto desses dois países, Portugal e Cabo-Verde. A Nádia Yracema nasceu em Angola e passou ainda pela Alemanha, mas cresceu, fez-se mulher em Portugal. Entre nós falamos várias línguas, também inglês, francês, alemão, italiano, polaco ou até manjaco. (CT) Tenho pena de não falar tchokwe, a língua materna da minha mãe. Talvez por ter vivido em tantos países, havia sempre a urgência de aprender a língua do próximo destino. Fica para a Aurora II. Podemos criar a nossa própria narrativa e contá-la com a nossa própria voz, existem outros lados, silenciados até agora, mas isso acaba agora, com este espectáculo. (NY)
A partir do momento em que começas a formular o pensamento, obténs essa nutrição e compreendes que as coisas pelas quais passas e que sentes têm nome, têm e sobrenome, são conceitos sobre relações desfavorecidas, à base de violência e exploração. (IZ) Só não tivemos possibilidade de publicar essas histórias, estudá-las por escrito. Mas elas chegaram até nós através dos griots. (CT) Também somos Portugal. Reclamamos esta casa como nossa, não em exclusivo. Não queremos excluir ninguém, mas como é que isto ainda é uma questão? Qual é a minha terra, aquela para onde me estão sempre a mandar? (NY)
Eu vivi numa pequena África, o bairro do Zambujal, em Loures, e sempre dancei e aprendi outras línguas que não o português, apesar das tentativas de impedimento, porque fui educada a pensar nos sonhos em segundo lugar e nos estudos em primeiro. Enquanto mulher negra, em Portugal, era meu dever, segundo a exigente educação que me foi dada, ser cinco vezes melhor do que os outros. Racismo e capitalismo unidos na comparação e na competição: outra forma de violência. Para uma mulher, as agressões são normalmente verbais, mas o meu pai passou por outras, mais pesadas e físicas, daí incutir-me essa vigilância, esse auto-policiamento permanente. (IZ)
Eu não expunha muitas dessas micro-agressões, mas a própria preparação, antes de saíres de casa, consistia em limitar a liberdade, cumprir a ideia que alguém tem sobre ti. Havia uma lista de coisas, de comportamentos que não podia ter. Tenho 32 anos e a última coisa que a minha mãe me diz ao telefone, ainda hoje, é “Força!” Existe uma relativização, um “Prepara-te, vai acontecer e tens de lidar com isto.” Não existe o conforto das novelas, em que os pais abraçam e consolam os filhos. Uma vez eu e a minha irmã fomos expulsas de uma loja porque algo caiu no chão e o dono acusou-nos de estar a roubar. Lembro-me de que aquilo me fez muito mal. Foi a única vez que vi a minha mãe mesmo zangada, foi connosco à loja resolver o assunto. Mas em casa não falávamos propriamente sobre racismo estrutural, não com esses nomes ou dessa maneira. (CT)
Durante muito tempo, o lugar possível era o lugar da preta única, da história única. Também nós já fomos inocentes em relação a estudar e a trabalhar nas artes. (IZ) Como é que eu, Nádia, actriz, posso usar e reinventar os lugares de violência como lugares de reflexão e mudar a casa a partir de dentro? Posso contar uma história que discuta os preconceitos. (NY)
No audiovisual as pessoas ainda estão muito presas a um pensamento condicionado, estereotipado do corpo negro. Eu pergunto às pessoas com quem trabalho: “Quantos autores negros leste?”. As que leram muitos, ou pelo menos leram autores negros, mesmo não sendo, elas mesmas, negras, são pessoas que trazem outras sensibilidades, mesmo que não venha da vivência. Ler autores negros é desconstruir o pensamento. Eu passei por Finanças no ISCTE, depois estudei na Escola Superior de Teatro e Cinema, e observei isso em ambas. Recebemos um guião, falam-nos numa “oportunidade” e, no entanto, a personagem é a mulher negra ou africana. Quando são papéis para outras pessoas, não-racializadas, a descrição é apenas “mulher” ou “médica”. (CT)
O teu afecto, aquilo que te afecta, a empatia… devem ser considerados. No meio histórico encontramos as justificações para o que falta. Mas quem escreveu esses dados? Porque do outro lado há outras pessoas que não compactuaram com esse pensamento estereotipado de outra épocas. Eu pergunto, e escrevi este espectáculo a partir disso, quem seria eu nos anos 70? Sei que essa pessoa existe. Quem seria eu no Séc. XVI? (IZ)
Se eu pudesse, cantar-lhes-ia To be young, gifted and black. Não que elas precisem. Também a elas a inspiração atingiu como uma luz, à guisa do que aconteceu à própria Nina Simone quando lhe surgiu este tema. Como fazer um espectáculo para todos? Um espectáculo para quem é actor ou actriz, para quem é público, para quem é cidadão? Afinal, para quem é este espectáculo, numa casa à qual nos são dadas as boas vindas do lado de fora, em letras que se leem a muitos quilómetros de distância? Para q uem é este espectáculo? Se, por um lado, Aurora Negra desperta um pouco mais as mentalidades não-racializadas, por outro não deixa também de escurecer (sim, escurecer) as outras, as racializadas, que isto da educação e do reconhecer-se enquanto membro da comunidade, com direito a voz e a lugar de fala é para sempre.
Ah, como elas falam. Elas falam (podiam ser mais guturais), calam, gritam (afinal, são mulheres negras, e vocês sabem que elas estão sempre zangadas), dançam, trançam (lá estás tu com o teu mau cabelo!), riem, ouvem, olham-nos nos olhos e, sobretudo, questionam. O que pode ser-nos devolvido que não esteja já em nós, quando falamos de algo imaterial? A caixa preta, que não foi feita para corpos negros, tem muitos nomes, chama-se Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga. Chama-se Nádia Yracema. Chama-se Isabél Zuaa. Chama-se Cléo Tavares. Chama-se o público que poucas vezes vemos, talvez porque poucas vezes alguém o convidou para esta casa.
A casa. A casa que também é nossa, delas e de todos. A casa à porta da qual todas as manifestações passam e se deixam ficar. A casa das manifestações e das boas intenções. A casa que é um dos meus lugares preferidos da cidade. A casa na fachada da qual se pendurou, ainda nem há dois meses, uma foto de Bruno Candé Marques, um dos muitos nomes ditos no manifesto. Dizer os seus nomes, de homens e mulheres, vivos e que já partiram, é resgatá-los do esquecimento. Foi breve a vida de Bruno Candé, que faria 40 anos no próximo dia 18 de Setembro, breves as horas em que o seu rosto esteve na fachada do Nacional. Durante algumas semanas, também os rostos das três actrizes poderão ser visto de fora. Quem passar, mesmo que não entre, saberá. Saberá que estamos a caminho. No parlamento, no palco, na escrita, no cinema, na medicina, no desporto.
Vídeos de Felipe Drehmer e figurinos de José Capela mostram as protagonistas em frente ao Padrão dos Descobrimentos, quais Pietàs, embalando os seus filhos. Um dos homens nessa fotografia é o actor Paulo Pascoal, que se emociona ao ver Aurora Negra. Nessa mesma manhã assisti ao último ensaio do seu próximo espectáculo, Inverted Landscapes, de André Teodósio, e que conta ainda com Ana Tang e Aurora Pinho no elenco. Uma das falas de Paulo Pascoal, que não me abandonou até então, é My black hurts. “Isto é criação, não é terapia”. Repito as palavras de Nádia Yracema. Isto é criação, não é vitimização. Isto é teatro e isto é válido.
Se eu pudesse, ler-lhes-ia Annie Ernaux, The Years:
“After the war, at the never-ending table of holiday meals, amidst the laughter and exclamations, our time will come soon enough, let’s enjoy it while it lasts, other people’s memories gave us a place in the world.
Memory was transmitted not only through the stories but through the ways of walking, sitting, talking, laughing, eating, hailing someone, grabbing hold of objects.”
É o ano em que todas as máscaras se tornam visíveis. Em palco, há uma que nos acompanha o tempo todo. Vemos através dela. A pandemia não nos permite tirar as nossas. As do racismo vão caindo. As pretas ocupam a casa. Irrompem caixa preta adentro. Falam com os seu fantasmas e os nossos, confrontam-nos. Confrontam-nos a nós, público. Aqui, o público é parte do problema e da solução. Não se iludam: Aurora Negra diz e faz o óbvio, o que é esperado, o que é desejado. O que foi solicitado. Por quem? Para quem? Recordo-me de uns versos de José Tolentino Mendonça: “também eu me recuso a dizer apenas o que pode ser dito.” Foram vocês que pediram um espectáculo de pessoas negras a falar de questões negras? Ei-lo. Não é o primeiro, não são as primeiras. Nesta casa, talvez.
Podemos fazer um espectáculo para todos, se nem todos sabem que existe um lugar, e que é uma casa que está, verdadeiramente aberta? Se nem todos têm dinheiro, transportes, tempo para ir assistir a um espectáculo que é sobre e para todos? Quantos manifestantes terão estado, tantas vezes, à porta do Nacional, sem nunca terem entrado para assistir a um espectáculo? Se eu pudesse, assistia de novo. Se eu pudesse, levava comigo todas as pessoas que lamentaram não terem conseguido bilhetes. Mas o teatro é, ainda, um lugar de privilégio. Mesmo um teatro que fica no Rossio. Mesmo um teatro com mensagens de esperança. Privilégio de estar em palco e não a limpar o palco. Privilégio de ser uma maquilhadora ou um figurinista negros a trabalhar com outros artistas negros. Ou não, que o mundo, afinal, não é a preto e branco e precisamos uns dos outros. Privilégio de assistir a um espectáculo, seja ele qual for. Privilégio de pensar e escrever sobre ele. Privilégio de ser tão negro.
AURORA NEGRA I CRIAÇÃO E DIREÇÃO ARTÍSTICA CLEO TAVARES, ISABÉL ZUAA, NÁDIA YRACEMA
Projeto vencedor – 2ª edição Bolsa Amélia Rey Colaço, Teatro DMariaII
com Cleo Tavares, Isabél Zuaa, Nádia Yracema cenografia Tony Cassanelli figurinos José Capela conceção de figurinos Maria dos Prazeres, Marina Tabuado direção técnica, desenho de luz e mapeamento de vídeo Felipe Drehmer composição original e sonoplastia Carolina Varela, Yaw Tembe desenho de som Tuff Estúdios – João Santos adereços e styling Eloísa d’Ascensão, Jorge Carvalhal apoio à dramaturgia Sara Fonseca da Graça, Teresa Coutinho apoio ao movimento Bruno Huca apoio à pesquisa Melánie Petremont apoio à criação Bruno Huca, Inês Vaz direção de produção Maria Tsukamoto assistência de produção Filipa Garcez administração e produção Cama A.C Daniel Matos, Joana Duarte produção Cama A.C coprodução Teatro Nacional D. Maria II, Centro Cultural Vila Flor, O Espaço do Tempo, Teatro Viriato apoios Alkantara, Casa Independente agradecimentos Beta Barreto, Carlos Duarte, Chico Abreu, Cleida Sofia Tavares, Cristina Roldão, David Pires, Eduardo Pinto, Fernanda, Jacinto e família Geraldine Moureau, Ilda Figueiredo, Inês Valdez, Joana Costa Santos, João Cão, João Martins, Kenzo Pereira, Lourena Tomé, Manuel Maria Cristo, Maria da Luz Tavares, Maria Matos Figueiredo, Nilton Matos Cristo, Nilvano Matos Cristo, Nina Silva, Ricardo Martins, Rita Alves, Rita Bernardes , Rosa Tito Pinto, Sessa, Tiago Moura, Vito Paulo Martins, Yasmim Camará, Zenaida Ramos, UMAR, UBUNTU, SOS Racismo, Inmune Todos os atores e atrizes que fazem parte do vídeo. Aos nossos sobrinhos e a todas as mulheres que nos inspiram. equipa TNDM II direção de cena Andreia Mayer operação de luz Luís Lopes operação de som Tiago Alves