A biblioteca da sala era composta por cinco livros: “Eva e a África” (?), “Portugal Amordaçado” (Mário Soares) , “O Barão Trepador” (Italo Calvino), “Lady L” (Romain Gary) e a Bíblia Sagrada. À direita ficavam os três álbuns de família; no lado esquerdo os pisa-papéis de água, com a Ópera de Sidney dentro, e as fotografias da família nas molduras e nos fundos da faiança, mandada gravar em Yokohama, por familiares embarcados, sinal de que haviam tocado um porto japonês (o Japão e o golfo Pérsico como última fronteira para os marinheiros crioulos).
Mukanda
12.04.2011 | por Joaquim Arena
Spoek Mathambo é Nthato Mokgata: músico, produtor, DJ e designer gráfico de 26 anos, líder de uma verdadeira vaga de inovação musical saída do continente africano. Divide-se entre vários projectos musicais, como Sweat.X e PlayDoe, mas é a solo que este homem dos mil ofícios nos visita, trazendo consigo a sua banda para invadir o Lux, em Lisboa, no dia 14 de Abril. Numa entrevista à FACT magazine, aqui partilhada com o BUALA, Spoek fala da inescapável hibridização de géneros e da entusiasmante mistura da herança rítmica africana com linguagens electrónicas.
Cara a cara
11.04.2011 | por FACT
Ao designar de proto-nacionalista a geração de seu pai, Mário de Andrade admitiu que as lutas fragmentadas pela dignidade dos filhos da terra tinham uma vertente que levaria a uma reivindicação de tipo nacional. Ele mesmo, filho, acabou integrando a geração que luta pelos direito à auto-determinação e independência, e fê-lo com a ideia de que a Nação era um instrumento utilitário para unificar lutas fragmentadas. Ou seja, era uma invenção social conveniente que ganhou forma com a contribuição dos próprios protagonistas. Nada de diferente em relação ao pan-africanismo, outra construção hipotética, inventada pela diáspora militante, que não dispunha de identificação territorial própria no continente.
A ler
11.04.2011 | por Carlos Lopes
Paulino Damião, repórter fotográfico, 35 anos de carreira, todos no Jornal de Angola. Estudou fotografia por correspondência no Instituto Universal Brasileiro e na Escola Álvaro Torrão, de Portugal. No auge do P&B teve estúdio e laboratório no Largo da Portugália, centro de Luanda. Sem saudosismos, gosta muito da instantaneidade da foto digital. Adora mostrar o resultado no visor de sua câmera. Em 80 foi enviado a Moscou para cobrir a olimpíada. Era o único fotógrafo negro credenciado para os jogos olímpicos, conta. Conhece quase toda a África subsaariana.
Cara a cara
11.04.2011 | por Greg Salibian
Mário Macilau é um fotógrafo (de fragmentos) do real. Macilau é um contador de histórias, e enquanto narra, através das suas imagens, medita acerca do ambiente social, político e económico do seu país e do mundo – para os quais olha de forma nua, crua, sem artifícios. Como o próprio afirma, não encena nem desenha o momento fotográfico. As suas imagens são instantâneas. Ele não as procura, encontra-as. Aproxima-se, com a sua câmara, das inúmeras personagens anónimas que povoam os seus registos – interessam-lhe o movimento do homem contemporâneo e a relação deste com o espaço. O corpo torna-se, assim, protagonista, sem artefactos, das realidades que captura.
Cara a cara
11.04.2011 | por Sílvia Vieira
Transformar o romance Chiquinho (1947), de Baltazar Lopes, em audiolivro foi até agora a tarefa mais ambiciosa da Boca. Desde logo pela grandeza da obra, fundadora da moderna literatura caboverdiana, e do seu autor, um dos mentores da revista Claridade e do movimento de emancipação cultural de que esta foi o órgão difusor e agremiador.
Palcos
08.04.2011 | por BOCA
A partir dos anos sessenta, há uma ebulição em muitos países africanos com a criação de escolas de arte. A par das primeiras exposições de autodidactas, acontecem os primeiros festivais de artes negras e até a fotografia de autores africanos se impõe em África, em países europeus e em alguns fóruns nos EUA. Está em fase de redacção a história do que foram estes movimentos artísticos, as suas escolas, os seus protagonistas, a sua difusão internacional, mas uma coisa já sabemos: ela foi desigual e heterogénea conforme os países, a natureza do ex-colonizador, a maior ou menor presença de artistas e escritores autodidactas, assim como a maior ou menor opção pela escolha da escrita em línguas universais ou em línguas locais, com diferentes impactos na comunidade literária internacional.
A ler
08.04.2011 | por António Pinto Ribeiro
Boémio por excelência, Marhulane conhecia a noite como ninguém. Dormia até o sol se pôr, e, quase que num impulso de mola, saltava para a vida com o nascer do cinzento que o crepúsculo trazia. Exímio guitarrista, desafiava os rasgados agouros das corujas com acordes de labor elevado que arrancava da sua caixa acústica, tão amada como a sua esbelta Margarida, que embora se lamentasse do noctívago homem, a ele não poupava atenções e carinhos. Nisso ela não era austera. E, assim, lá iam levando a vida.
Mukanda
07.04.2011 | por Hilário Matusse
O mundo visto de baixo é infinitamente mais complexo e diversificado do que o mundo visto de cima. O Fórum Económico Mundial tem essa característica essencial, vê «de cima», enquanto o Fórum Social tenta abrir espaços de leitura do mundo para os que estão «por baixo»
Mukanda
07.04.2011 | por Mário Murteira
Foi apenas em 1861 que uma expedição dirigida pelo barão alemão Klaus von der Decken e pelo botânico inglês Richard Thornton conseguiu comprovar que o topo do Kilimanjaro possuía neve. Uns anos antes, em 1848, o missionário Joseph Rebmann avistou, e divulgou no ano seguinte, a sua descoberta, que no início pensou serem nuvens, e depois comprovou ser mesmo neve. Mas a sua descoberta foi então contestada. Hoje, as neves eternas do Kilimanjaro são um dos cartões de visita de África. A primeira ascensão ao cume aconteceu a 6 de outubro de 1889, por Hans Meyer, Ludwig Purtscheller e Johannes Kinyala Lauwo. A rota atualmente mais fácil de seguir em direção ao topo é via Marangu, Rongai ou Machame, e há vários programas promovidos por agências de turismo que permitem a sua escalada.
Vou lá visitar
07.04.2011 | por Miguel Correia
Entrevista realizada por chat, em vários momentos e dias diferentes, pontuada por quedas constantes da linha cibernética que desenha a triangulação transatlântica e ex-colonial entre Luanda, Angola – residência de Kiluanji Kia Henda, cidade onde nunca estive; São Paulo, Brasil – minha residência temporária, local do primeiro encontro entre mim e o Kiluanji, lugar próximo da origem da série que aqui se apresenta; Lisboa, Portugal – minha residência fixa, fonte do horário apontado pelo meu computador e ex-residência temporária do Kiluanji.
Cara a cara
07.04.2011 | por Lígia Afonso
Meio ambiente, democracia, economia, agricultura, pescas e política internacional foram discutidos durante seis dias na capital senegalesa, no Fórum Social Mundial, o maior evento antiglobalização do mundo. Este ano foi em Dakar.
Vou lá visitar
05.04.2011 | por Juliana Borges e Fernanda Polacow
Partindo do livro de Isabela Aranzadi, Instrumentos Musicales de las Etnias de Guinea Ecuatorial, publicado em 2009, em Espanha, numa edição da Apadena, empreendemos uma viagem com a autora que nos leva não só pelas tradições musicais equatoguineenses como nos mostra como as possibilidades de contacto acabaram por traçar novos rumos culturais. É importante referir, ainda, que este livro nasce em coordenação com um projecto museológico que se traduziu na mais completa exposição até hoje realizada sobre o tema, daí as diversas abordagens que introduz e as diferentes perspectivas pelas quais pode ser lido.
Palcos
05.04.2011 | por Cátia Miriam Costa
Na música, o que faz sucesso no Brasil também faz em Cabo Verde. Basta entrar num autocarro na cidade da Praia para comprovar que, não fosse o zouk, a hegemonia seria verde-amarela, em várias rádios crioulas. Das letras melodramáticas do que no Brasil se chama “brega” (irmão do “pimba” português), aos alegres pagodes cariocas e axés baianos, jamais esquecendo “o rei” Roberto Carlos nem os temas da novela do momento, música brasileira é o que não falta.
Palcos
05.04.2011 | por Gláucia Nogueira
Mokhtar sentou-se na esplanada de um café de aspecto sórdido, mas cujo rádio difundia uma melodia da cantora mítica que lhe fazia lembrar Malika, a sua mãe, que não podia ouvir este lamento de um amor perdido sem que os olhos se lhe marejassem de lágrimas. A esta hora matinal, para além de um jovem adormecido sobre um banco, como um destroço rejeitado pela noite, o local proporcionava uma calma, sem dúvida precária, mas por agora propícia à reflexão
Mukanda
04.04.2011 | por Albert Cossery
Em vez de surgir, subitamente, do nada, a revolução egípcia é o resultado de um processo que se foi gerando ao longo da década anterior.
A ler
04.04.2011 | por Hossam el-Hamalawy
Cheny Wa Gune toca a m'bira, a m'bila e o xitende, sendo acompanhado por um grupo, que integra guitarra baixo, bateria e percussões.
Palcos
04.04.2011 | por vários
Decidimos ficar a beber uma cerveja no final de um dia de rodagem do filme “O Herói”, dirigido por Zezé Gamboa. Estávamos na Ilha de Luanda onde tínhamos filmado em horário misto, das duas da tarde até à uma da manhã. Parámos o carro junto de uma barraca deixando a porta aberta para continuarmos a ouvir a cassete pirata que tocava no auto-rádio. No grupo, os angolanos bebem cerveja importada, Super Bock; os estrangeiros bebem cerveja nacional, Cuca, cada um saboreando a frescura exótica do seu ponto de vista, enquanto falamos à sombra da madrugada tranquila de dia de semana.
Vou lá visitar
03.04.2011 | por Nuno Milagre
Nasci em 1947 no Dundo, centro de uma das mais
importantes companhias coloniais de Angola, a Diamang.
Ali fui feliz. Ali aprendi o racismo e o colonialismo. Agora volto, porque o Dundo é a minha única pátria, a mais antiga das minhas memórias.
Afroscreen
03.04.2011 | por Diana Andringa
Apesar da atual subida dos preços não ter ainda alcançado os níveis de 2008, hoje os riscos são mais elevados para as populações fragilizadas sem condições de melhorar o seu poder de compra
A ler
02.04.2011 | por Nicole Guardiola