O cinema português contemporâneo defronta-se com a questão de como representar a revolução, de como reactivar o tempo da revolução no presente, presentificando-a, arrancando-a ao distanciamento do passado e do arquivo e conferindo força política objectiva e crítica às imagens do 25 de Abril. Se a travessia da história constitui uma operação crítica por excelência e se o método historiográfico comporta necessariamente um processo de identificação com os acontecimentos do passado, para os cineastas portugueses, sobretudo para aqueles que cresceram ou nasceram depois do 25 de Abril, a existência de um tão vasto arquivo e de um corpus cinematográfico extraordinário coloca o problema mais além de qualquer historicismo.
Afroscreen
27.10.2013 | por Raquel Schefer
Nestes apontamentos atentar-se-á nas relações entre o curso da política e diversos planos das vivências religiosas em São Tomé e Príncipe desde o século passado. Levando em conta a história recente, avaliar-se-á o multifacetado papel da religiosidade na actual configuração política e social do arquipélago.
A ler
23.10.2013 | por Augusto Nascimento
Bisi Silva faz parte de uma geração de agentes culturais africanos que viveram grande parte da sua vida na diáspora (Reino Unido, EUA e França), e que recentemente optaram por regressar aos países de origem. É em Lagos que tem desenvolvido programas importantes no âmbito da arte contemporânea, e no fortalecimento de redes culturais no continente, programas educacionais que fazem do CCA um pólo importante de difusão da cultura contemporânea.
Cara a cara
23.10.2013 | por Marta Mestre
Esta nova obra abre com uma declaração poderosa que se assemelha a um Manifesto. «A Europa já não é o centro de gravidade do mundo», escreve ele; e «esta desclassificação abre novas possibilidades — mas também arrasta perigos — para o pensamento crítico». São estas possibilidades e perigos que Mbembe explora. A tese forte do livro tem a ver com aquilo a que o autor chama «o devir-negro do mundo»: o «nome Negro já não remete apenas para a condição atribuída às pessoas de origem africana na época do primeiro capitalismo». Hoje em dia, designa toda uma humanidade subalterna de que o capital já não necessita no momento em que se define mais que nunca pelo modelo de uma religião animista, o neoliberalismo. A temática da diferença racial é explorada até às suas últimas consequências.
Cara a cara
21.10.2013 | por Achille Mbembe
O padrão de ocupação do território resultante da rápida urbanização das cidades africanas não pode ser analisado nem à margem da globalização neoliberal tampouco fora do recente (e violento) processo de descolonização. Neste sentido, uma série de direitos têm sido constantemente negligenciados nas agendas nacionais, com forte impacto na configuração das cidades no continente.
Urge, portanto, problematizar conceitos como território, cidade e urbanidade, em tempos de globalização neoliberal, em especial para lidar com as urbanidades do continente africano e, porque não, latino-americano?
Cidade
18.10.2013 | por Andréia Moassab
Os sírios e libaneses não vieram para o Brasil expulsos pela fome, mas sim, em sua grande maioria, perseguidos pelo Império Otomano, por razões de crença religiosa, já que eram cristãos vivendo em território muçulmano. Assim, aportaram aqui famílias de classe média, com vocação urbana – o oposto dos italianos e alemães, pobres, camponeses, analfabetos. Destacam-se, em diversas gerações, nomes como Emil Farhat, Jamil Almansour Haddad, Salim Miguel, Mário Chamie, Manoel Carlos Karam, Jamil Snege, Carlos Nejar, Foed Castro Chamma, Waldyr Nader, Raduan Nassar, Nagib Jorge Neto, Milton Hatoum e Alberto Mussa.
A ler
17.10.2013 | por Luiz Ruffato
Numa ilha no meio de um lago, onde uma fonte luminosa vinha dar um toque de modernidade, qual metáfora do empreendimento português em África, instalaram-se umas dezenas de guineenses, que viviam o seu quotidiano numa aldeia de palhotas, sob o olhar dos visitantes portugueses. O público da exposição podia assim ocupar, mesmo que temporariamente, o olhar e o lugar do colonizador. Um colonizador que, na segurança oferecida por um parque no centro do Porto, podia já beneficiar dos resultados das "campanhas de pacificação" em África
Corpo
14.10.2013 | por Filipa Lowndes Vicente
Para além do epistemicídio e do racismo institucional que tal postura desvela, a partir da violação de direitos constitucionais, acrescentamos a perversa relação que há entre as grandes editoras – capital privado –, seus catálogos e o apoio estatal evidenciado na lista da Feira de Frankfurt/2013. Por esses motivos, reafirmamos nossa posição contrária a qualquer ação ou evento que signifique e que resulte na exclusão da literatura negra nos anais culturais nacionais e internacionais.
Mukanda
11.10.2013 | por autor desconhecido
A escultura, por sua vez, evoca o construtivismo russo, nomeadamente o projeto nunca concretizado de Vladimir Tatlin para o monumento à Terceira Internacional, a associação internacional de partidos comunistas nacionais, fundada em 1919 na União Soviética. Ferreira “converte” o monumento de Tatlin numa escultura que “cita” explicitamente a sua característica mais distinta, a inclinação de 23,4º, que é uma referência à inclinação do eixo da Terra e simboliza o universalismo de todos os objetivos utópicos por alcançar.
Vou lá visitar
09.10.2013 | por autor desconhecido
Um dia na praia, antes das férias de Verão. Uma rapariga acabada de chegar que provoca curiosidade. Um rumor. Um desses dias que não acabam. Uma falha no sistema de distribuição de electricidade - um apagão - talvez se trate de um acidente, talvez seja só um pretexto para passar uma noite juntos.
Afroscreen
09.10.2013 | por autor desconhecido
De que forma as teorias feministas no contexto latino-americano “traduzem” e descolonizam a crítica pós-colonial? Que tipos de mediação são necessários nessas traduções feministas e latino-americanas do pós-colonial? Quais são seus limites? Estas são algumas indagações a respeito das tendências teóricas contemporâneas dentro do feminismo que explorarei a seguir na tentativa de mapear – necessariamente de forma abreviada – possíveis rumos para os estudos de gênero e feminismo no contexto latino-americano/brasileiro.
A ler
08.10.2013 | por Cláudia de Lima Costa
Viviam nos subúrbios brancos ou em bairros resguardados pelas áreas industriais e comerciais.
Um par de ruas principais ligavam o bairro ao resto do mundo e essas ruas podiam ficar vedadas pela polícia quando os pais do meninos começavam a fazer barulho a propósito dos direitos humanos e das condições de vida na zona. A julgar pela forma como a polícia se comportava, os episódios esporádicos em que perseguiam os pretos com cães, motocicletas e veículos anti-motim, por vezes, para as crianças, parecia ser uma brincadeira de crescidos. Fazia tudo parte da paisagem cultural urbana. Uma pequena comunidade branca de origem europeia tinha governado o Zimbabwe desde 1896 e ‘construído’ uma nova ‘nação’, chamada Rodésia, cultura incluída.Qual cultura e de quem?
Vou lá visitar
07.10.2013 | por Farai Mpfunya
Tu que passas e te esqueces de que todos nós aqui estamos de passagem, tu que segues em frente sem te virar para trás porque essa é a ordem que te gritam, tu, meu conterrâneo, meu contemporâneo, deves ser, podes decerto ser, filho, pai, neto, avô, vizinho, amigo, de um, dois, dez ou mais migrantes. És descendente ou progenitor, serás porventura antepassado, de alguém que, ao olhar o monte, ao olhar o oceano, quis, quer e quererá ir ver do outro lado. A terra portuguesa que pisas sempre foi terra de partidas. E de partidas dolorosas. Porque o pão-nosso de cada dia, implorado em rezas, conquistado pelo suor do rosto, aqui amiúde escasseou, aqui tem sido mal repartido. Porque fomos ilha orgulhosamente só e submissa, governada por tiranos de toda a sorte. Porque fomos desgovernados com o nosso cobarde consentimento.
Jogos Sem Fronteiras
04.10.2013 | por Regina Guimarães
Quanto mais avançava na colonização do mundo exterior, tanto mais o homem branco precisava ajustar a si mesmo, e quanto mais assim se ajustava, mais precisava colonizar o mundo. Os senhores do autodomínio, que tinham vertido sangue no Novo Mundo, lançavam agora seu olhar abstrato e utilitário para o continente europeu. A colonização externa das culturas não-européias se reverteu directamente em colonização interna do próprio mundo. Na medida mesma em que promovia a capitalização da produção e a industrialização, o colonialismo também destruía o modo de produção agrário da antiga Europa e impelia a parcela empobrecida da população para as fábricas, então com jornadas de trabalho de 14 horas e bárbaro trabalho infantil.
A ler
03.10.2013 | por Robert Kurz
Implicou ainda a necessidade de construção de uma identidade panafricana ou negra como condição de ancoragem nacional ou local, o que incluiu o confronto com tradições existentes ou a reinventar – para além do “sangue e do solo”. São estas dimensões transnacionais que há que reequacionar na nossa contemporaneidade. Até que ponto serão os começos anticoloniais – essa tabula rasa que caracterizaria o ato de descolonização (Fanon) – ainda capazes de dar conta dos desafios com que o mundo hoje se depara?
Mukanda
02.10.2013 | por Manuela Ribeiro Sanches
A partir de 1966, a luta pela independência de Angola teve como um dos principais cenários a região que se estende pela Lunda-Sul, Moxico, Kuando-Kubango e parte do Bié. O MPLA abriu a Frente Leste em 1966, desdobrando-se progressivamente em regiões e zonas várias. A UNITA começou a sua acção no mesmo ano, estabelecendo-se principalmente no Moxico entre os rios Luanguinga e Lungué-Bungo. A FNLA também actuou, em menor escala, no Alto Chicapa.
Vou lá visitar
30.09.2013 | por Associação Tchiweka de Documentação
Pretendemos examinar o papel da mulher portuguesa na construção do Império Colonial Português através da análise da sua última obra, o romance O Mato (1972). Tendo em conta a centralidade e importância de uma das personagens femininas de O Mato - personagem esta que revela ambivalência em relação ao espaço colonial em que se move – é interessante abordar tópicos como o papel da mulher no espaço colonial e a relação entre mulheres brancas e africanos, bem como a alteração do papel tradicional da mulher no contexto colonial. Mais especificamente, o contexto colonial que nos interessa, o mato, pode ser considerado o espaço marginal do Império. Em última instância, queremos ampliar as perspectivas de se olhar o colonialismo português como um colonialismo predominantemente masculino e perceber a forma como a mulher foi instrumento fundamental na construção do projecto colonial.
A ler
30.09.2013 | por Sandra Sousa
Cheirava mal em toda a parte, um fedor ácido, e uma humidade pegajosa e abafada espalhava‐se pelo edifício. As pessoas transpiravam de calor e de medo. Havia um ambiente apocalíptico, uma expectativa de destruição. Alguém chegou com o boato de que se preparavam para bombardear a cidade durante a noite. Uma outra pessoa ouvira dizer que, nos bairros dos negros, se afiavam facas para cortar a garganta aos portugueses. A insurreição explodiria a qualquer momento. «Que insurreição?», perguntei, para poder informar Varsóvia. Ninguém sabia exactamente. Apenas uma insurreição, e descobriremos de que natureza é quando nos atingir.
Mukanda
27.09.2013 | por Richard Kapuschinski
Argumentamos no livro que os dois termos são impróprios, que a América "Latina" também é indígena, africana e asiática, da mesma maneira que a América supostamente "anglo-saxã" é também indígena, africana e asiática. O projeto de nosso livro é ir além dos estados-nação etnicamente definidos, para uma visão relacional, transnacional das nações como palimpsésticas e múltiplas.
A ler
25.09.2013 | por Emanuelle Santos e Patricia Schor
Andanças poéticas
Agora sento-me,
a música chega-me dos 4 pontos cardeais,
o corpo sossega do baile e contempla.
Acabo dormindo com os pés no regato, sono de floresta que era mato.
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10.09.2013 | por Maria Prata