O cabelo já era vendido muito antes do capitalismo; a venda de leite humano era já comum na Antiga Roma e, durante a revolução industrial, essa foi mesmo uma fonte de rendimento para muitas mulheres. Mas nem nos primeiros casos se tratava de uma troca de mercadorias no sentido moderno, nem no último se tratava já de um reconhecimento das mulheres como verdadeiras autoproprietárias. A venda de sangue, permitida durante a maior parte do século XX, foi talvez uma das primeiras formas generalizadas em que a autopropriedade abandonou o “colete-de-forças” abstracto da força de trabalho e se estendeu a um elemento físico do próprio corpo, ainda que renovável, permitindo um rendimento suplementar ou de último recurso aos autoproprietários mais vulneráveis.
Corpo
18.09.2014 | por Bruno Lamas
Qual a relevância da obra de Ruy Duarte de Carvalho para se pensar a pós-colonialidade? É esta a questão que me parece quase óbvia, quando releio os seus textos, sobre eles reflicto, neles reencontro propostas que, escritas a partir de outros lugares ou de lugares idênticos – África, Europa, Brasil –, me suscitam interrogações semelhantes, formas de ler o passado e o presente em que me revejo mais facilmente do que em outros autores.
Ruy Duarte de Carvalho
16.09.2014 | por Manuela Ribeiro Sanches
Ruy Duarte de Carvalho descobriu e praticou uma antropologia pós-moderna e pós-colonial sem pagar o preço da etiqueta ou as quotas do partido. Antes de Ana a Manda, tese de doutoramento sobre o contexto muxiluanda, a sua produção literária fora da antropologia no sentido estrito já estava encaminhada e já revelava as possibilidades da multiplicação dos géneros e da sua hibridação – justamente uma característica da pós-colonialidade e uma das receitas agora tão repetidas para a invenção de novas textualidades e autorias.
Ruy Duarte de Carvalho
16.09.2014 | por Miguel Vale de Almeida
Aqui revisitamos a biografia de Iva Pinhel Évora (1893-1977) nas fronteiras da vida pública e privado. Por outro lado, propõe-se uma abordagem sobre a sua influência na formação do líder e teórico da luta de libertação da Guiné e de Cabo Verde.
A ler
16.09.2014 | por Eurídice Monteiro
Culturas não coincidem com linhas de nações e continentes. Culturas são formas vivas, mutáveis e transcedem fronteiras fazendo encontros. No Andanças sente-se África entre a Europa, a América, a Oceânia, a Ásia. A integração de ritmos, danças e instrumentos de origem africana é feita por pessoas que se ligam a África, não se centrando exclusivamente em identidades de cores da pele e heranças familiares, mas também nas vivências pessoais, nas dedicações ao estudo e à pesquisa, por vontade de mergulhar numa cultura, de descobrir e encontrar o outro.
Vou lá visitar
16.09.2014 | por Maria Prata
A City Called Mirage é o título da exposição individual do artista angolano KILUANJI KIA HENDA (Luanda, 1979). Inaugura no dia 18 de Setembro, quinta-feira, às 21h30, poderá ser visitada, na Galeria Filomena Soares, em Lisboa, até dia 29 de Novembro de 2014. É uma exposição complexa que traça vias originais sobre um tema recorrente nos últimos tempos: o das cidades entre a virtualidade e a desertificação. Kiluanji aposta na ficção (científica e mitológica) e na ironia como formas de transcender o pessimismo da hipercrítica e a estética da ruína. Através do humor adquire-se consciência do quão efémeras são as maiores construções humanas: todas as cidades voltarão a ser matéria-prima, tal como os metais retirados do subsolo voltarão a fundir-se na terra.
Cidade
11.09.2014 | por Lucas Parente
Numa parte significativa da sua obra cinematográfica de investigação etnográfica, Jean Rouch estuda exaustivamente o misterioso sistema cosmológico da cultura Dogon (no Mali), as batalhas fluviais dos pescadores Sorko com os hipopótamos (no Níger), as perseguições aos leões protagonizadas pelos caçadores Gaos (no Níger).
Afroscreen
03.09.2014 | por Rui de Almeida Paiva
Por mim, imaginava o agente Bernaaardo das secretas, vestido à dred, na Cova da Moura, a tentar espiar perigosíssimos meets, e a dizer aos transeuntes, enquanto batia com o punho no peito: "respect, niga."
Falando sinceramente, a histeria em relação aos meets diz mais do estado psicológico da classe média e de alguma comunicação social que da situação de miséria que vivem os subúrbios de Lisboa.
A ler
02.09.2014 | por Nuno Ramos de Almeida
«Casámo-nos com a língua portuguesa. A língua portuguesa usa capulana. Como é que se tira a capulana? Roda-se. A língua portuguesa permanecerá indefetivelmente propriedade de quem a fala.(...) A cor da pele identifica o opressor, o colonialista. É um processo que vai demorar o seu tempo, mas que precisa de ser feito. África tem de se encontrar, principalmente Moçambique. A história da Commonwealth é isto. É um processo, as novas gerações ainda vão sentir isto, não vai acabar já. São cinco séculos de colonização, são muitos anos. O algodão, o chá, o chicote ainda aqui estão. É uma forma de dizer “Eu existo”, é uma afirmação.
Cara a cara
27.08.2014 | por Doris Wieser
É utopia pensar que podemos fazer essas coisas sem pensar como vamos financiar os nossos projectos. E nós temos de desenvolver essas ideias para financiarmos os nossos próprios projetos, porque se não acontece o que tem acontecido até aqui,que é nós queremos fazer projetos, mas depois estamos dependentes daquelas pessoas com as quais não nos identificamos.
Vou lá visitar
26.08.2014 | por Carla Fernandes
Nascido no interior da porção nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do país, Nelson Triunfo iniciou sua carreira artística como dançarino de soul e funk na década de 1970, época da efervescência do movimento negro pelos direitos civis nos Estados Unidos e de outros acontecimentos culturais e políticos que, exaltavam o orgulho negro na época.
Cara a cara
22.08.2014 | por Gilberto Yoshinaga
O défice habitacional em Cabo Verde é elevado e essa carência materializa-se na multiplicação de bairros informais, que desfiguram o perfil paisagístico das cidades e condicionam a qualidade de vida das populações. Como chegamos a este ponto? Que vantagens trazem as soluções apontadas e quais as suas vulnerabilidades? Como resolver esta problemática?
Cidade
22.08.2014 | por Andréia Moassab
Em si, o título – Do Colonialismo como Nosso Impensado -- é já uma rebeldia contra toda uma tradição que vigora, tanto na academia portuguesa como no sistema político-partidário, e que insiste em ignorar que o colonialismo – em especial, o português – não é objecto prioritário de estudo nem de política nacional e internacional.
A ler
18.08.2014 | por António Pinto Ribeiro
Em África, o mercado agro-alimentar representa mais de 35 mil milhões de dólares: a “revolução verde” já começou. Além do papel da mulher na investigação agro-alimentar, Moçambique tem sido também um “estudo de caso”, exemplo do que se tem passado a nível de investimento, corrida à concessão de terras e aumento da produtividade agrícola.
A ler
29.07.2014 | por Raquel Ribeiro
Duas horas com Mia Couto numa envolvente conversa que atravessa vários aspectos dos seus interesses e percursos. Como chegou até aqui, as suas geografias afectivas, Moçambique e os duros momentos de violência, a utopia da Independência, a diversidade de povos e seus modos de vida como inspiração para as histórias, o ambiente e o modelo de desenvolvimento a descobrir.
Cara a cara
17.07.2014 | por Marta Lança
A elite conservadora de direita portuguesa sustentou e suporta, ainda hoje, todas as teorias do lusotropicalismo e de angolanidade de Mário António, só desta forma consegue defende a ideia de um Portugal historicamente virado para o Atlântico ou mar, recusando, por conseguinte, valorizar o papel político de Portugal na Europa.
Mukanda
09.07.2014 | por Plataforma Gueto
No contexto, diferenciado e linguisticamente multifacetado, o crioulo foi e continua a ser o principal signo identitário e, por isso mesmo, ainda que em alguns casos somente em potência, o principal elo de ligação, de identificação e de comunicação entre os caboverdianos de todos os tempos e lugares, situados nas ilhas e nas diásporas, localizados nos lugares do passado, do presente e do futuro do nosso povo disperso pelo mapa-mundo da sua alma migratória e dos pés andarilhos do globo dos seus filhos emigrantes e da sua demanda de sempre de uma vida cada vez melhor.
A ler
07.07.2014 | por José Luís Hopffer Almada
O prédio da Lagoa no centro de Luanda (Largo do Kinaxixi), carcaça deixada por acabar em 1975 e ocupada por refugiados da guerra a partir de 1992, é um musseque (bairro da lata) em altura que acabou por transformar-se involuntariamente em símbolo da capital angolana — 17 andares sem água, nem luz, nem saneamento básico, sem varandas, sem corrimãos —, um prédio carente das mínimas condições de habitabilidade transformado em abrigo para gente deslocada.
A ler
20.06.2014 | por António Rodrigues
São três nomes, três cantores e compositores cujas circunstâncias acabaram por ditar que sejam citados normalmente em conjunto: Artur Nunes, Urbano de Castro e David Zé. Todos eles desapareceram depois do golpe de Nito Alves a 27 de Maio de 1977. Dos três, Artur Nunes era o mais novo – ainda não cumprira 27 anos quando morreu.
Cara a cara
01.06.2014 | por António Rodrigues
O início da lenda do ‘Conjunto África Negra’ é oficialmente atribuído ao ano de 1974, quando a formação original da banda mais amada e conhecida além-fronteiras de São Tomé e Príncipe sentiu que tinha chegado a hora de começar a tocar ao vivo no circuito dos ‘fundões’ da capital São Tomé. Os fundões eram os bailes ao ar livre que juntavam as diferentes comunidades locais: os mestiços, descendentes de colonialistas portugueses e escravos africanos, os Angolares, descendentes de escravos angolanos naufragados que se fixaram em comunidades piscatórias na zonal sul, e os descendentes de trabalhadores contratados Cabo-verdianos e Moçambicanos que tinham vindo trabalhar para as plantações de café e cacau da ilha.
Palcos
27.05.2014 | por Filho Único