"O modo como as personagens morrem tem muito a ver com a traição entre pessoas na vida real. A meu ver, a sociedade moçambicana tornou-se muito gananciosa. O tempo dos favores já se foi, em troca veio o tempo do refresco. A corrupção aumentou, a prostituição também. Hoje em dia vende-se crianças, albinos são cortados aos pedaços, assassinam-se indianos, rapta-se portugueses, ricos, pobres. Tudo em troca de dinheiro."
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05.08.2019 | por Marta Lança
O que resta do Hotel Império, além de uma alegoria asiática com referência a Portugal? Não só um aglomerado de ruínas de um edifício que evoca a memória de um esplendor antigo e agora desbotado, que sobrevive só residualmente, mais como imagem estética do que como um fato documentável e reconhecido.
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06.07.2019 | por Roberto Vecchi
Uma das barreiras foi ter novamente o corpo negro no lugar do marginal, decidir construir a personagem Arriaga à volta da delinquência. Foi uma decisão difícil. Difícil por também eu ser Negro. Difícil por estar a entrar no campo do estereótipo. É difícil contornar a necessidade que tenho de escrever para atores negros e nesse caso trata-se de uma faca de dois gumes. Querer dar protagonismo a uma personagem que, do ponto de vista moral, vive na margem de decisões incautas.
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15.05.2019 | por Yolanda Kiluanji
- Mademoiselle é um destino que nos persegue. Mesmo que abandonemos a memória, os monumentos e lugares carregam os seus fantasmas. Fantasmas? Souvenirs. Les Fantômes? – Non, Mademoiselle, não são esses fantasmas, estes só existem na Torre do Tombo. E o Nimas. O Nimas Sébastien!? RÊVE AVEC MOI. O Nimas é um fantasma da cinematografia, ou é um fantasma da filmografia (— Xé, pára só de filosofar!). O Nimas 500, onde nós, os filhos do «império» assistíamos ao glamour do cinema com histórias arquitectadas por cineastas “amicíssimos” de Salazar. -
Cidade
25.03.2019 | por Indira Grandê
Nós, os humanos, aquilo a que chamamos Humanidade, “quando não estamos ocupados em predar uns aos outros, estamos a predar o planeta”. Então que Humanidade é essa? “Será que essa ideia não está na base de muitas escolhas erradas? Por exemplo, a de que os homens brancos tinham o direito de sair colonizando, de trazer os obscurecidos para uma luz incrível, que é o buraco que agora estamos fazendo?” Como se existisse um jeito certo, “uma verdade de estar aqui na terra”, um modo civilizador. “Hoje podemos pôr em questão essa Humanidade.” Questionar a “disposição para a servidão voluntária”, o domínio das corporações, as estruturas que tentam substituir “os estados-nação falidos”. “As corporações conseguiram comprar uma narrativa de que não tem mais História.”
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17.03.2019 | por Alexandra Lucas Coelho
A Mostra Ameríndia integra uma multiplicidade de experiências que nos retiram dos lugares convencionais de olhar e entender o cinema. Nestes filmes, os coletivos indígenas atuam em diferentes níveis. São cineastas no sentido ocidental, apontam a câmera para a sociedade colonial, para o quotidiano da sua aldeia, para os seus rituais, ou ainda para os avanços do agronegócio. Também colaboram com não-indígenas na produção e realização dos seus filmes.
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09.03.2019 | por vários
Mekas nos deixa em um momento sombrio, quando todas as forças parecem querer apartar os laços que unem uma mão à outra e autoridades celebram o exílio dos que ousam sonhar outros mundos. Que ele e seus filmes permaneçam como as “coroas da vida” de que falou quando escreveu sobre Richter; pontes sinalizando que, mesmo em tempos graves, é possível seguir adiante para (como diz o título de um de seus filmes) “ocasionalmente encontrar lampejos de beleza”.
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28.01.2019 | por Patrícia Mourão
Lucy está internada num hospício em Moçambique. Sonha com o seu filho Zacaria e o marido Pak, soldado numa zona de guerra ao norte do país.
Lucy toca um instrumento musical curioso: a própria cama. Aquela virtuosidade musical atrai a atenção das enfermeiras. Um dia a música passa num programa da Rádio Moçambique e Rosa Mário, pastora evangélica, vai ao hospital para conhecer a intérprete da canção.
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04.12.2018 | por vários
será bem vindo um filme que possa reestudar a escravidão e colonialismo brasileiro a partir de matrizes estéticas e conceituais que emergiram com mais visibilidade nos últimos anos. Mas o filme histórico carrega em geral uma barreira financeira muito complexa de ser dissolvida, custa dinheiro, arte, fotografia, locações. Isso toca aquela questão do “poder falar de tudo”
A ler
16.10.2018 | por Michelle Sales
O espírito do mundo sai-lhe pelos olhos. Lucrecia volta a emprestar o corpo ao mundo – desta vez radicalmente - e transforma-o em cinema. Em Zama, voltamos a encontrar-nos com uma coreografia de corpos e animais, de crianças e adultos, de oprimidos e opressores, de torrentes de água e de naturezas asfixiantes, onde a beleza é o lugar onde repousam os segredos, como atrás dos habituais longos e brilhantes cabelos, que sussurram desejos e histórias perdidas.
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12.06.2018 | por Cláudia Varejão
“Falar das trajetórias das mulheres negras no cinema brasileiro é remontar uma história de invisibilidade e apagamentos. Até por isso, o que é impactante na produção atual é a sua coletividade e a pluralidade de projetos e obras. Uma série de iniciativas das próprias cineastas marcam esse cenário de transformação e afirmação, propondo novas formas de viabilizar e divulgar o cinema feito pelas mulheres negras.
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27.11.2017 | por vários
Gostaríamos de convidar-vos para uma viagem. Não para atravessar o oceano, mas para examinar a sua superfície. Esqueçam a história sólida e luminosa dos continentes e os seus faróis que desfazem a noite com as suas certezas deslumbrantes. Em vez disso, entrem na sombra macia das profundezas, do outro lado do espelho opaco da água, numa paisagem infinitamente mutante que ignora as velhas fronteiras e os limites do corpo. Movimento líquido de subversão, ondas de vozes e ondas de rádio, telepatia. Space is the place. Este não é lugar para monumentos, para além dos ossos daquelas que são atiradas borda fora. Migrantes que têm como única bússola o desespero, mulheres grávidas que fertilizam as profundezas do oceano.
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20.08.2017 | por vários
A expansão da Literatura para o meio digital, porém, representa um processo diferente, no qual decorre a mecanização e alteração de objeto e não necessariamente de percepção. O cinema e a fotografia, cada qual a seu modo,possuem tempos diferentes que, para serem compreendidos, necessitam de percepções diferentes.Será o livro digital apenas uma alteração de formato ou também de significado?
A ler
11.04.2017 | por Maria Isabel Machado
Things Fall Apart foca especialmente o cinema como um meio para desenvolver uma estética militante, uma estética orientada para imaginar um futuro independente das potências coloniais, bem como para criar elos internacionais entre os países africanos e os mundos comunista e em desenvolvimento.
Vou lá visitar
21.12.2016 | por vários
Ainda que desde o seu surgimento a fotografia tenha sido considerada uma forma de se guardar a realidade, está hoje claro que esta se aproxima do real tanto quanto qualquer outra modalidade artística. No texto, somos capazes de sentir a cumplicidade da criação, assim como na fotografia: nem tudo está dado à partida. Nos é permitida a colaboração criativa por meio da imaginação e da subjetividade; da sensibilidade que cabe à cada um, e que nos permite enxergar um mundo (ou vários) pertencente a um outro alguém, mas que ajudamos a construir. Por isso a construção da memória da metrópole e a industrialização possuem um retrato tão forte para a mente humana, pois encontramos registros em diferentes tipos de arte que influenciam umas às outras.
A ler
20.10.2016 | por Maria Isabel Machado
Simone conseguiu evocar glamour, apesar de tudo o que era dito sobre as mulheres negras como ela. E por isso desfrutou de um lugar especial no panteão da resistência. Não se deve apenas às suas letras ou à sua musicalidade, mas à sua aparência. Simone é mais do que um Bob Marley feminino. Não é simplesmente a voz: foi o mundo que fez aquela voz, toda a mágoa e dor da difamação forjou algo de outro mundo.
A ler
23.03.2016 | por Ta-Nehisi Coates
Desconstruindo de forma sistemática os relatos de viagem e diários dos exploradores, cientistas ou comerciantes europeus que deambulavam pela África tropical no final século XIX, prova-se que os documentos são muitas vezes idealizados ou imprecisos e que na maior parte do tempo estes europeus estariam num estado permanente de êxtase provocado pela doença, altas dosagens de quinino, álcool, opiáceos e outras drogas.
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14.03.2016 | por António Pinto Ribeiro
Do seu conhecimento sobre música popular angolana e caboverdiana resultaram duas Antologias que são discos fundamentais para compreender a História e a cultura de ambos os países. Ainda no interesse de divulgação musical (do samba ao semba passando pelas várias fusões musicais urbanas) realizou documentários.
Cara a cara
28.12.2015 | por Marta Lança
Afrique 50 é um documentário assumidamente anti-colonial que procura revelar a verdade de um regime colonial francês que baseia a sua supremacia no primado da força e da violência, na exploração capitalista da mão-de-obra negra assalariada, na negação da liberdade dos povos africanos e na falsa ideologia do progresso e da superioridade da cultura europeia.
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21.12.2015 | por Joaquim Pedro Marques Pinto
para além da ideia de constituir um ensaio estético sobre o valor da arte negra, Les Statues Meurent Aussi visa sobretudo uma discussão crítica sobre a prática da “(…)museologização dos objectos extraídos a uma cultura onde não há museus e, por consequência, sobre as relações de poder – económico, político e simbólico – entre a cultura europeia e as culturas africanas, sob a organização colonial”.
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28.11.2015 | por Joaquim Pedro Marques Pinto