E isso é uma herança do passado colonial. O estereótipo do negro, do negro que não sabe falar bem, do negro que não se veste bem, do negro que não se comporta bem, do negro que não tem estudos, que não lê, não escreve, não pensa. Isto ficou. Essa herança do passado ficou. E eu sou esse passado. Eu nasci por causa desse passado; sou filha desse passado. Sei disso. Mas sinto que não faço parte dele.
Mukanda
26.09.2018 | por Ariana Furtado
A proposta museológica passa pois por utilizar a memória como ferramenta reflexiva que permita ressignificar esse passado-presente e que abra espaço para modos partilhados e plurais de contar o acontecido, um elemento que se evidencia percorrendo a exposição permanente Medellín: Memorias de Violencia y Resistencia e - de forma ainda mais evidente – nos processos participativos de construção das exposições Geografías de la Verdad (que esteve patente ao público até agosto) e Medellín ES (atualmente visitável e que terá uma segunda parte inaugurada em final de setembro). Museologia viva em conexão com as comunidades, o MCM tem no recurso à expressão artística um eixo fundamental do seu labor.
Vou lá visitar
25.09.2018 | por Miguel Cardina
O que se guarda no espaço íntimo e privado são imagens efetivas ou simbólicas de vivências pessoais, de experiências agradáveis ou dolorosas. A sua evocação remete sempre para a relação discursiva e vivencial, afetiva e familiar entre gerações, guardada e alimentada na esfera doméstica onde os gestos, os afetos, os símbolos, são até mais importantes do que a ordem e o fundamento do discurso.
A ler
01.09.2018 | por Roberto Vecchi
Aprender da História significa sabermos quando um acto não pode ser repetido e, se for, quando devemos torcer o nariz; não significa ter sensibilidade para as circunstâncias temporais e culturais que justificam certos actos. Significa, isso sim, ter uma ideia bem clara das razões que devem levar todo o indivíduo sensato a condenar uma acção ainda que ela, aos olhos de quem a praticou, ou do tempo em que ela foi praticada, faça todo o sentido. Aprender da História significa reforçar o compromisso com o que sabemos hoje distanciando-nos do que aconteceu ontem.
Mukanda
10.07.2018 | por Elísio Macamo
A vontade de se discutir criticamente a história francesa é ainda minoritária. É possível observar discussões sendo feitas no mundo universitário, com encontros e congressos, mas a memória coletiva precisa de um debate público de qualidade que é ainda muito incipiente e genericamente desinformado, apesar do dito desejo do governo atual de reparar os destroços. As fraturas estão expostas e ainda não foram tratadas, apenas remediadas.
A ler
29.06.2018 | por Fernanda Vilar
A ausência das nossas perspetivas nas instituições nacionais e nas discussões públicas está naturalizada e normalizada, rasurando-nos enquanto sujeitos históricos e enquanto contribuidores por excelência para a edificação da sociedade portuguesa nas suas diferentes vertentes. Excluídos do corpo nacional, assistimos a uma disputa pela memória que reforça a glorificação da ideologia colonial e reifica o lusotropicalismo, que continua bem presente, apesar da derrota política do fascismo e do advento da democracia, com a “revolução dos cravos” de 1974.
Mukanda
27.06.2018 | por vários
A um, que estava muito ferido, eu disse: “A tropa não te pode fazer nada, o que queres antes de morrer?” Ele pediu água, eu disse ao soldado para ir buscar água mas fiz-lhe um sinal para não ir, não seria necessário. Peguei na espingarda-metralhadora FBP, que não era fiável, fiz um disparo para o matar, mas saiu ao lado. Disse ao soldado: “Ó 235, mata o indivíduo”. O soldado encostou-lhe a Mauser à testa e matou-o. A partir daqui, fiquei a pensar que não o devia ter feito, mas por outro lado o indivíduo não se podia safar, morreria à mesma…
Mukanda
24.06.2018 | por Vasco Luís Curado
Os atos sexuais que geraram aqueles filhos são tendencialmente vistos como despojados de violência ou interesse; o tom de pele mais claro, denunciador de atos sexuais com o colonizador, foi motivo de ostracismo social e frequentemente familiar; do lado de cá, os pais tentam maioritariamente esquecer ou resistem aos contactos, ciosos dos impactos da descoberta na sua família.
A ler
10.06.2018 | por Miguel Cardina
A família é o objeto opaco e indecifrável o que torna os estudos das memórias privadas um desafio problemático. De fato, como se pode perfurar o diafragma espesso que protege e encobre os passados subjetivos, privados, denegados, afundados como cárceres de grupos afetivos nas regiões mais escuras e profundas do perímetro familiar?
A ler
12.05.2018 | por Roberto Vecchi
Tomara que "O Canto do Ossobó" seja amplamente visto. Primeiro porque a história da escravatura praticada sob o império e colonialismo “à portuguesa” precisa de ser conhecida na sua complexidade, contrapondo a realidade dos factos ao persistente mito lusotropicalista dos brandos costumes. Depois, por ser a voz de um santomense que perscruta a dor de “homens e mulheres esgotados pelo peso do trabalho”.
Afroscreen
15.04.2018 | por Marta Lança
Fazemos parte desta coisa incrível que é este lugar. E cativos ficamos. Ninguém sai daqui alheio a assobiar. Bate uma tristeza, uma melancolia, uma saudade antecipada, porque este lugar… mesmo sendo uma madrasta cidade, tantas e tantas vezes, tem um encanto que reside na curva desse lado “Atlântico” que nos fez assim (...) Esse povo bom que lapida a vida sem ferramenta própria, capricha, encara e faz batota a rir.
Mukanda
13.03.2018 | por Isabel Baptista
Onde se encontram o comum e o estranho? Como combinar a perspectiva sócio-histórica da memória com a experiência singular e individual? É possível retomar fatos da história e, ao mesmo tempo, recusar a monumentalização do passado? Em Museu do estrangeiro, o artista Ícaro Lira interpela a narrativa histórica brasileira, em específico o debate sobre os fluxos migratórios no país, envolvendo uma multiplicidade de sujeitos, espaços e tempos em sua montagem poética de materiais coletados.
A ler
13.03.2018 | por Eduarda Kuhnert
Tudo isso junto é presente e futuro, é dignificação dos retirados da história, é tributo aos netos dos escravizados, é política aqui e agora, relevante para todos os que vivem juntos, de todas as cores e tons. Dará força a quem está vivo hoje, sobretudo aos que diariamente são alvo de indignidades, discriminação.
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19.11.2017 | por Alexandra Lucas Coelho
É entendendo que a guerra foi uma guerra, mas foi também o desfecho sangrento de um processo historicamente mais amplo, que em Portugal se poderá avançar no questionamento das imagens reconfortantes sobre o seu passado colonizador.
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18.10.2017 | por Miguel Cardina
A partir da escultórico-performatividade de Hilário Nhatugueja abre-se um espaço de negociação de significados e mnemónicas associadas aos objectos da Guerra Civil, fazendo emergir contra-memórias coadas pela experiência traumática dos artistas que procuram provocar o dissenso tendo em vista a resistência e agência cultural.
A ler
05.09.2017 | por Sílvia Raposo
Questionando os discursos sobre a unidade e a paz na Europa que omitem voluntariamente o Outro, aquele que provém da historia extraterritorial da Europa e que foi decisivo para sua construção, faz-se um exercício de memória, onde a articulação com uma reflexão pós-colonial permitiria fazer justiça e reconstruir a narrativa da relação da Europa com os seus diversos Outros.
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28.04.2017 | por Fernanda Vilar
Numa cidade aparentemente especialista na monumentalização e memorialização, o passado colonial da Alemanha, e por extensão a história por detrás do Quarteirão Africano, esteve até recentemente ausente da consciência pública.
Cidade
11.04.2017 | por Ana Naomi de Sousa
O mapa ou a cartografia resultante não pode, então, constituir-se senão como um desmapear, um descartografar, um baralhar das coordenadas actuais a partir dos três andares do Globo, das várias camadas de história e memória – colectiva e individual; colonial, anti-colonial, pós-colonial, pós-Marxista, pós-guerra civil – que estes albergam e que o relato sonoro de Almeida, contíguo à instalação vídeo, convoca em permanência. Este desmapear só pode compreender-se, também, a partir do desejo de inscrição de memória no presente e para o futuro que o projecto de requalificação e restauro nunca concretizado, posicionado diante do vídeo, evoca.
Vou lá visitar
08.11.2016 | por Ana Balona de Oliveira
Vendidas como escravas em São Luís do Maranhão. A embarcação portuguesa naufragou na costa da África do Sul, e 223 cativos morreram. Visitantes - na sua maioria negros americanos - caminhavam em silêncio pela sala que simula o porão de um navio negreiro, entre lastros de ferro do São José e algemas usadas em outras embarcações (um dos pares, com circunferência menor, era destinado a mulheres ou crianças).
Vou lá visitar
07.11.2016 | por João Fellet
Ainda que desde o seu surgimento a fotografia tenha sido considerada uma forma de se guardar a realidade, está hoje claro que esta se aproxima do real tanto quanto qualquer outra modalidade artística. No texto, somos capazes de sentir a cumplicidade da criação, assim como na fotografia: nem tudo está dado à partida. Nos é permitida a colaboração criativa por meio da imaginação e da subjetividade; da sensibilidade que cabe à cada um, e que nos permite enxergar um mundo (ou vários) pertencente a um outro alguém, mas que ajudamos a construir. Por isso a construção da memória da metrópole e a industrialização possuem um retrato tão forte para a mente humana, pois encontramos registros em diferentes tipos de arte que influenciam umas às outras.
A ler
20.10.2016 | por Maria Isabel Machado