Já entendemos a predisposição cissexista e trans-exclusionária da larga maioria das instituições artísticas e culturais portuguesas. Somos capazes, confio, de reconhecer um recorte pelo qual corpas queer são constituídas enquanto autoras e estórias queer são constituídas enquanto obras, desde que se salvaguarde a distância crucial que separa “queer” de “trans”. Corpas e estórias trans importam, neste paradigma, como tópicos. Como objetos formais, figuras de estilo, artefactos ocasionais. Como elementos variáveis na produção do espetáculo, e na preservação do espetáculo da norma enquanto tal.
Corpo
19.06.2023 | por Salomé Honório
Gisela Casimiro conversa com Odete e Rafaela Jacinto: performers do teatro e do cinema, poetas, artistas premiadas e activistas pelos direitos LGBTQIA+, trans e queer, amigas e companheiras de palco, de lutas.
Palcos
14.12.2021 | por vários
Dividimos por uns meses um apartamento em Bayswater, Londres, que me lembro tinha um fotógrafo que morava em frente e nos tirava fotos pela janelas – todas elas despidas de cortinas, que é aliás algo de que gosto muito. A Monika, sendo sueca, andava nua pela casa quando lhe apetecia e eu, está claro, tuga vestido desde o duche da manhã – sem essas frescuras nórdicas. Fazíamos um casal de lésbicas muito bonito, por isso não nos tocávamos em público ou aquilo era logo uma matilha de lobos.
Corpo
30.05.2020 | por Adin Manuel
O Gay and Lesbian Memory in Action Project (GALA) surgiu nos anos pós-apartheid com o intuito de “recuperar” histórias dos homossexuais, lésbicas, transgéneros e bissexuais sul-africanos que, de acordo com os registos oficiais durante o apartheid, nunca teriam existido. GALA é simultaneamente um projecto reparador e activista. Ao compilar histórias de vidas precárias e desconhecidas, estas tornam-se –retrospectivamente – dignas de compaixão e valorizadas e erigem-se como base da reivindicação de direitos LGBTI no presente.
Corpo
19.05.2020 | por Sara Rosa
Descobri recentemente que Disforia temos todos, ou seja, um estado latente de várias condições não contempladas pelo estreito, bem estreitíssimo, traço imperialista dos Estados Unidos em modo regiões económicas, onde até a China se constipa de morte. Disforia Intelectual, Social, Económica, Moda e até Médica (foi a mais surpreendente). Disforias que nos deixam a braços com uma vida em teia de mecanismos de cope ou coping ou aguentamento lol. Um colossal trabalho de compensação imaginada, mas sentida e sofrida, ausência de um instrumento de adequação cultural que sabemos estar em falta desde sempre.
Jogos Sem Fronteiras
16.02.2020 | por Adin Manuel
Afinal descobri que sou uma lésbica que nasceu com corpo de um homem. Isto de identidade e desejo é muito estranho. Faz todo o sentido, tive anos para me preparar para isto, não foi fácil tinha tudo a perder o meu trabalho, a minha reputação, a minha família talvez, a minha conta bancária do Novo Banco, o Visa da American Express e pronto o resto dos lobbies que não vou divulgar aqui. Ganhei dinheiro indevidamente, pois sim, confesso que sim. Tenho um Off Shore na Island of Man (ela há coisas fantásticas) e hoje acho que ganha o Boris, por isso está seguro.
Jogos Sem Fronteiras
12.12.2019 | por Adin Manuel
Que ferida é esta que me consome e me deixa com o vento de mil cascos de cavalos em fuga adiante pelo horizonte. A miragem? A ferida que espuma de perda e desarranjo, de memória, de remorso, de... é tarde demais, escrevo, para a cura. Fraco demais para tanta batalha, tanta purga. Vou falando aqui e ali sobre o que é ter disforia de gênero uma vida inteira e não saber como me curar. Só em Atenas e ainda assim com toda a noite de Atenas.
Cidade
27.10.2019 | por Adin Manuel
O que peço ao feminismo é simplesmente radicalidade nas suas propostas: abolição da determinação da diferença sexual no nascimento e despatriarquização radical de todas as instituições e administrações. Se começarmos por aí, veremos o que resta da estrutura social patriarcal que conhecemos.
Corpo
16.10.2019 | por Paul B. Preciado
Assim, resta-me acrescentar que me gamaram nas andanças em que me meteu a minha empresa. O meu cartão do cidadão e, mais tarde, em sequência o meu laptop e docs oficiais que comprovam que por maluqueira sou do género masculino e tenho assim o direito de me chamar o que bem entender. Tal como a Pepper. Foi-se tudo e agora depois de ter da minha empresa respostas cada vez mais estranhas que implicam ficar nas mãos de sabe-se lá quem e onde.
Jogos Sem Fronteiras
10.10.2019 | por Adin Manuel
Estamos no mês em que todas as gaivotas que erram pelo mundo e seus marinheiros voltam para arrumar, cultivar o sonho de um retorno digno e justo a um país que só existe nos seus sonhos, agosto e Portugal, mas que importantes são precisamente por o imaginarem em tão graça e idílica visão. Os da babilónia têm em si mais amor pelo céu que seus habitantes.
Corpo
16.08.2019 | por Adin Manuel
Somos todos o mesmo, afinal ser humano é um exercício de paciência com os outros e nada nos pode salvar deste exercício a não ser a ermitagem que começo a considerar seriamente. Temos regras de limpeza que me parecem mais exercícios militares do que a alegre manutenção de um espaço de surrogate home, mas quem sou eu para explicar seja o que for aos doutores do espaço? Os modos de controlo deixam os inmates meio malucos e os doutores também, mas como o mundo está assim também não destoa.
Corpo
24.07.2019 | por Adin Manuel